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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 5 – Capítulo 1

O País Sagrado de Millis

Meu nome é Rudeus Greyrat.

Na minha vida anterior eu era um homem adulto, mas atualmente, sou um belo garoto de onze anos. Magia é meu campo de especialização. Posso lançar feitiços personalizados sem a necessidade de um encantamento, esse é um truque que me rendeu um pouco de reconhecimento.

Cerca de um ano e meio atrás, fui teletransportado para um lugar amigável conhecido como Continente Demônio, graças a um desastre mágico de grande escala. Infelizmente, o Continente Demônio, por acaso, quando comparado com minha terra natal, a Região de Fittoa do Reino Asura, fica do outro lado do planeta. Para voltar, seria necessário viajar meio mundo.

Na mesma hora me tornei um aventureiro e comecei a longa e difícil jornada de volta para casa.

Desde então passaram-se dezoito meses. Nesse tempo, atravessei o Continente Demônio… e agora, também passei pela Grande Floresta.


Millishion é a capital do País Sagrado de Millis. O acesso pela Estrada da Espada Sagrada oferece aos viajantes uma vista espetacular de toda a cidade.

A primeira coisa a chamar a atenção é o Grão Lago – um corpo de água azul brilhante, alimentado pelo Rio Nicolaus, que desce das Montanhas Wyrm Azul. Bem no centro do lago, o grande Palácio Branco parece flutuar sobre suas águas.

Mais adiante, nas margens do Nicolaus, dá para ver dois outros marcos distintos: a radiante catedral dourada da cidade e a reluzente sede de prata da Guilda dos Aventureiros.

A cidade que circunda esses edifícios notáveis é organizada de maneira tão precisa quanto os quadrados em uma folha de papel quadriculado. Em suas bordas externas, poderia notar sete torres imponentes, com vastas planícies verdes se estendendo além delas.

Era um lugar rico não apenas em sua majestade, como também em sua perfeita harmonia com a natureza. Não havia nenhuma outra cidade tão bonita no mundo.

Trecho de “Peregrinando pelo Mundo” do aventureiro Kant Sangrento.

Bem, esse era o tipo de cidade que se esperaria encontrar em um mundo de fantasia. Eu nunca tinha visto uma grande metrópole com tanto azul e verde antes, e as ruas ficavam dispostas em uma grade lindamente limpa que lembrava Sapporo ou a velha Edo. A visão dessas coisas me comoveu de um modo que nunca havia acontecido em Rikarisu. Isso era lindo.

— Ah, uau…

A garota sentada ao meu lado – atualmente boquiaberta com a vista – chamava-se Eris. Eris Boreas Greyrat, para ser mais preciso. Ela era a neta de Sauros, lorde de Fittoa. Por algum tempo, servi como seu tutor pessoal.

A natureza dela era extremamente feroz. Embora geralmente fizesse o que eu dizia, era o tipo de garota que daria um soco na cara de um Presidente se ele a irritasse demais. E a simples menção a veleiros era o bastante para fazê-la tremer. Isso por possuir a tendência de sofrer enjoos terríveis.

— Hmmm.

O cara de pele clara com a cabeça raspada, também olhando para a cidade com admiração, era nosso companheiro demônio: Ruijerd Superdia. Ninguém poderia dizer no momento, mas sua cor natural de cabelo era um tom vívido de esmeralda. Era uma característica que ele tinha em comum com todos os outros membros da infame raça Superd. Para a maioria das pessoas deste mundo, demônios de cabelo verde eram sinônimos de morte e destruição. Mas, embora ele pudesse definitivamente ser perigoso e impulsivo às vezes, era basicamente um velho gentil com excepcional carinho por crianças, ao menos na opinião minha e de Eris.

Eu nunca pensei nos dois como pessoas particularmente românticas, mas pelo visto podiam reconhecer uma coisa bonita quando as viam bem na cara.

— É realmente incrível, não é?

O último membro de nosso pequeno grupo era um homem chamado Geese, que tinha uma forte semelhança com um macaco. Era um aventureiro de profissão e um inútil de coração; o tipo de cara que era jogado na prisão por trapacear no jogo. Ele não era um membro do nosso grupo nem nada, mas pediu para nos acompanhar até Millis, então estávamos viajando juntos desde a Grande Floresta.

Poderia ter perguntado por que estava se gabando desse lugar como se o tivesse construído, mas era compreensível agora que tinha admirado a vista. Eu teria feito exatamente a mesma coisa no lugar dele.

— Sim, isso com certeza é alguma coisa. Mas aquele lago é enorme… isso não causa todos os tipos de dores de cabeça durante a estação das chuvas?

Bem, na verdade, eu só estava tentando descontrair. Não queria que o homem ficasse presunçoso demais. Ainda assim, isso realmente se tornou uma questão em minha mente. Aquele lago ficava bem no centro da cidade, e na Grande Floresta, logo ao norte, sofriam com três meses seguidos de chuva torrencial todo ano. Isso com certeza influenciava no clima local.

— Heh. Ouvi dizer que no passado isso realmente era um incômodo — respondeu Geese. — Mas agora eles têm o clima totalmente sob controle, graças a essas sete torres mágicas. Não tem como aquele castelo no meio do lago afundar. Viu que não tem muros externos nem nada assim? Isso porque as torres o protegem com uma barreira mágica.

— Fala sério. Então, teria que derrubar essas torres primeiro se quisesse cercar a cidade, hein?

— Uh, nem mesmo brinque sobre isso. Os Cavaleiros Sagrados jogariam você na prisão se te ouvissem.

— Entendi. Vou tomar cuidado.

Geese explicou que, enquanto as sete torres permanecessem de pé, a capital ficaria protegida de desastres naturais e até epidemias de doenças. Eu não conseguia imaginar como isso funcionava, mas com certeza parecia conveniente.

— Vamos lá! Vamos logo!

Incitados por uma Eris excitada, nossa carruagem voltou a avançar.

A cidade de Millishion era dividida em quatro distritos:

Ao norte ficava o Distrito Residencial, onde a maioria dos quarteirões era repleta de casas de famílias. Havia algumas diferenças entre as áreas onde vivia o povo comum e aquelas onde residiam as famílias dos nobres e cavaleiros, mas virtualmente todos os edifícios do distrito eram alguma espécie de casa.

A leste ficava o Distrito Comercial, onde se localizava a maioria das principais empresas da cidade. Poderia até encontrar algumas lojas de varejo por ali, mas tendiam a ser operações de pequena escala; o distrito era dominado principalmente por empresas maiores. Era nele que poderia encontrar os ferreiros e casas de leilão de Millishion.

Ao sul ficava o Distrito dos Aventureiros, com a sede da Guilda bem no seu centro. Estava cheio de pousadas, bares e lojas que atendiam a caçadores de fortuna profissionais. Também tinha alguns salões de jogos e favelas onde viviam aventureiros fracassados, então era necessário tomar cuidado. Por alguma razão, o mercado de escravos da cidade ficava ali, e não no Distrito Comercial.

A oeste ficava o Distrito Divino, lar de muitos membros de algum escalão da Igreja Millis. Nele se encontraria a enorme catedral municipal, bem como um cemitério gigantesco. Os Cavaleiros Sagrados de Millis também ficavam sitiados no lugar.

Geese repassou tudo isso para nós com detalhes surpreendentes enquanto nos aproximávamos dos portões.

Acabamos circulando pelos arredores de Millishion antes de entrar no Distrito dos Aventureiros. De acordo com Geese, os forasteiros que entram por um distrito diferente eram normalmente vistos com alguma suspeita e submetidos a inspeções mais demoradas. Pelo visto, a cidade possuía algumas peculiaridades irritantes.

No momento em que passamos pelos portões, nos encontramos rodeados pelo caos.

Millishion parecia deslumbrante à distância, com certeza, mas por dentro não parecia tão diferente de qualquer outra cidade. Havia estábulos e pousadas baratas aos montes perto da entrada da cidade. Um pouco mais adiante, mercadores com barracas ao ar livre anunciavam seus produtos em voz alta para toda a multidão. Eu podia ver lojas de armas ainda mais longe ao longo da avenida central. Provavelmente encontraria pousadas um pouco mais agradáveis nas ruas laterais e mais calmas. Além disso, a brilhante sede prateada da guilda era grande o suficiente para ser visível mesmo dos portões.

Primeiro, deixamos nossa carruagem em um estábulo próximo. No final das contas, estavam dispostos a entregar nossa bagagem na pousada de nossa escolha sem nenhum custo extra. Isso nunca foi uma opção em qualquer outra cidade que visitamos, mas em uma grande como esta, acho que era necessário se diferenciar da multidão se quisesse sobreviver nos negócios.

Assim que saímos do estábulo, Geese se virou para nós e fez um anúncio abrupto:

— Tudo bem então, pessoal! Eu já sei para onde vou a seguir, então acho que isso é um adeus!

— Hã? Você já vai? — Foi um pouco surpreendente. Eu esperava que ele fosse ao menos até a pousada conosco.

— Qual o problema, chefe? Vai sentir minha falta?

— Bem, sim. É claro. — Eu sabia que Geese estava apenas brincando, mas respondi honestamente. Não nos conhecíamos há muito tempo, mas ele com certeza não era um cara mau. Um companheiro de viagem com quem se dava bem era algo valioso em viagens longas como essa. Por algum tempo, minha vida ficou menos estressante graças a ele.

Sem mencionar que, sem o homem, nossas refeições voltariam a ser muito menos saborosas. Isso sim ia ser uma merda.

— Aw, não fique assim, chefe. Provavelmente vamos nos encontrar pela cidade algum dia desses, sabe? — Com um pequeno encolher de ombros, Geese se abaixou e me deu um tapinha na cabeça. Mas quando se virou para sair, Eris bloqueou seu caminho.

— Ouça, Geese! — Ela assumiu sua pose de sempre – braços cruzados, queixo erguido. —Da próxima vez é bom que você me ensine a cozinhar, entendeu?

— A resposta ainda é não, mocinha. Mas que persistente… — Coçando a nuca, ele passou por Eris e olhou para Ruijerd. — Ei, cuide-se também, chefe!

— Boa sorte para você também. Não faça muitas travessuras, entendeu?

— Sim, captei.

Com um ligeiro aceno, Geese finalmente se juntou à multidão. Mas que adeus mais casual. Ninguém jamais pensaria que passamos dois meses inteiros juntos, viajando pela estrada.

— Ah, claro. Uma última coisa, chefe! — Pouco antes de ele desaparecer de vista, sua cara de macaco se voltou para mim por um momento. — Não se esqueça de dar uma passada na Guilda dos Aventureiros, viu?

— Hm…? Ah, claro! — Eventualmente passaríamos pela guilda, já que precisaríamos levantar algum dinheiro. Mas por que ele estava tocando nesse assunto?

Não tive a chance de fazer nenhuma pergunta extra. Assim que ouviu minha resposta, Geese desapareceu na multidão.


Mas nossa maior prioridade era encontrar uma pousada. Esta sempre era nossa prioridade ao chegarmos a uma nova cidade.

A maioria das pousadas em Millishion parecia estar localizada a alguma distância das avenidas principais, então acabamos vagando um pouco por ruas laterais até que encontramos um pequeno aglomerado delas. Depois de uma rápida olhada ao redor, me acomodei em um lugar chamado Pousada Luz D’Alvorada. O local não ficava muito perto das principais ruas da cidade, mas ficava bem longe das favelas. A área parecia bastante segura. Ofereciam todas as comodidades que eu procurava e parecia ter um preço para atrair aventureiros de rank C ou B. A principal desvantagem era que não parecia receber muito sol, mas eu poderia viver com isso.

Assim que escolhemos nosso quarto, o próximo passo seria desfazer as malas e nos organizar, depois disso partiríamos para visitar um dos locais mais importantes da cidade – a Guilda local, para ser mais exato. Se sobrasse algum tempo, faríamos alguns passeios turísticos e depois voltaríamos para nossa pousada para uma reunião de equipe. Bem, de qualquer forma, era essa a nossa rotina padrão.

— Não poderíamos ter ficado em um lugar mais barato? — perguntou Eris, olhando ao redor da pousada com curiosidade.

Teria que admitir, ela tinha razão, especialmente porque eu estava sempre dando um sermão nela e em Ruijerd sobre como devíamos ser cuidadosos com nosso dinheiro. No momento, porém, tínhamos algum conforto financeiro e poderíamos relaxar. Tínhamos sido bem pagos pelos três meses que passamos de guarda para os Doldia, e o guerreiro chefe do povo-fera, Gyes, também nos deu uma boa gorjeta. Nossos fundos somavam pouco mais de sete moedas de ouro Millis. Precisaríamos eventualmente levantar mais dinheiro, mas a curto prazo, poderíamos pagar por alguns luxos modestos.

— Não custa nada dar uma melhorada de vez em quando, certo? — Às vezes seria bom dormir em uma cama que fosse realmente macia.

Um rápido olhar para Eris revelou que ela não estava totalmente convencida. De qualquer forma, fui em frente e abri a porta de nosso quarto.

Era um espaço pequeno e arrumado. Apreciei que já tivessem nos fornecido uma mesa e cadeiras no canto oposto do cômodo. A porta tinha uma fechadura funcional e as janelas possuíam venezianas. Não era muito comparável aos hotéis de negócios do Japão, mas para os padrões deste mundo, era definitivamente um dos mais agradáveis.

Agora que havíamos chegado ao nosso quarto, tínhamos algumas coisas para resolver.

Primeiro, nosso equipamento precisava de sua manutenção regular. Segundo, precisávamos fazer um balanço de nossos suprimentos descartáveis e anotar tudo o que estivesse acabando. Em seguida, cuidar de nossas camas, lavar os lençóis e passar, varrer e limpar. Tudo isso era nossa simples rotina, então começamos a trabalhar sem trocar palavras.

Quando terminamos, o sol estava se pondo e começava a escurecer do lado de fora. Isso fazia sentido, já que só tínhamos chegado a Millishion no início da tarde. Ainda assim, não teríamos tempo para passar pela Guilda no mesmo dia…, mas não era como se isso realmente importasse.

Depois de um jantar rápido no bar ao lado da pousada, nós três voltamos direto para o nosso quarto. Assim que nos acomodamos no chão e formamos um círculo, limpei a garganta e coloquei as coisas em andamento.

— Certo, eu convoco uma reunião de ordem do Fim da Linha. Pessoal, este é o nosso primeiro encontro desde que chegamos à capital de Millis! Vamos torná-lo inesquecível!

Eu tive que dizer “Aplausos, por favor”, e bater minhas mãos algumas vezes antes de Eris e Ruijerd seguirem o exemplo enquanto hesitavam. Sinceramente. Os dois nunca falhavam em me decepcionar.

— Então… Finalmente chegamos até aqui, pessoal. Isso sim é uma conquista de verdade.

Havia alguma emoção real em minha voz quando disse essas palavras. Tivemos um longo e complicado trabalho para chegar a este ponto. Havíamos passado mais de um ano no Continente Demônio e uns bons quatro meses na Grande Floresta. Agora, finalmente, havíamos alcançado a região deste mundo onde a humanidade residia. A parte mais perigosa de nossa viagem já havia ficado para trás. Desse ponto em diante, as estradas estariam bem conservadas e o terreno quase todo bom e nivelado. Comparado ao que passamos anteriormente, deveria ser uma verdadeira moleza.

Claro, em termos de distância absoluta, ainda tínhamos uma longa jornada pela frente. A distância entre Asura e Millis era cerca de um quarto da circunferência do planeta. Por mais boas que fossem as estradas, não conseguiríamos fazer isso em apenas uma semana. Na verdade, provavelmente teríamos outro longo ano de viagens pela frente.

Diante disso, nosso maior problema a longo prazo provavelmente seria de natureza financeira.

— No momento, acho que devemos ficar nesta cidade por um tempo para economizar algum dinheiro.

— Por quê? — perguntou Eris, franzindo a testa.

Era uma pergunta razoável. Tentei responder o mais claramente que pude.

— Bem, nós atravessamos o Continente Demônio e a Grande Floresta muito bem, mas as coisas tendem a ser muito mais caras em território humano.

Pensei na pesquisa de mercado que fiz ao longo de nosso caminho. Nunca tive a chance de sair fazendo orçamentos em Porto Zant, mas ainda me lembrava de como a maioria das coisas funcionava em várias partes do Continente Demônio e na pequena cidade em que paramos além das Montanhas Wyrm Azul. A maioria das coisas era mais cara em Millis e no Reino Asura. A tarifa noturna da pousada seria completamente fora da realidade para os padrões do Continente Demônio.

Era óbvio que os humanos eram gananciosos. Nós nos importávamos muito mais com dinheiro do que qualquer uma das outras raças.

— O valor da moeda Millis é muito alto. Apenas as moedas Asuranas valem mais, pelo que eu sei. Isso significa que tudo aqui é caro, mas também indica que as tarefas na Guilda local pagarão muito bem. Em vez de parar por uma semana em cada cidade, como fizemos no Continente Demônio, acho que será mais eficiente ficarmos aqui por cerca de um mês e economizar muito dinheiro de uma só vez.

Assim que tivéssemos uma boa pilha de valiosas moedas Millis em nossos bolsos, o resto da viagem seria muito mais tranquilo. Percorreríamos um longo caminho para atravessar as regiões ao sul do Continente Central.

— E também, não sabemos quanto vão cobrar pela passagem de barco de um Superd para o Continente Central, certo? — falei.

Eris fez uma careta ao ouvir a palavra “barco”. Nossa viagem marítima anterior era uma de suas memórias mais miseráveis. Para mim era bem diferente, é claro. Minhas lembranças de consolá-la enquanto estava enjoada continuaram a ser uma fonte de grande prazer.

— Considerando todas as coisas, acho que devemos nos concentrar em ganhar algum dinheiro em Millishion e, depois, ir direto para o Reino Asura. Podemos não ser capazes de fazer muito para melhorar a reputação dos Superds por um tempo… Isso está bem para você, Ruijerd?

— Claro — respondeu, assentindo levemente.

Eu realmente não esperava que ele se opusesse. Nesse ponto, só estava ajudando porque queria.

Pessoalmente, teria ficado feliz em me estabelecer no lugar por um tempo e dedicar algum esforço real para mudar a opinião do público sobre seu povo. Seis meses ou um ano de trabalho diligente em uma grande cidade como esta poderiam ter um enorme impacto.

Dito isso, já havíamos gasto um ano e meio apenas para chegar até onde estávamos. Não queria arrastar esta jornada ainda mais do que o necessário. Digo, neste momento já estávamos “desaparecidos” por dezoito meses, não? Paul e Zenith provavelmente estavam muito preocupados.

Imagino o que estão fazendo agora… Ah, opa. Nunca cheguei a mandar uma carta para eles, certo?

Queria fazer isso, mas os eventos sempre conspiravam para me distrair. Isso já devia ter escapado da minha mente uma meia dúzia de vezes. Bem, nada como o presente…

— Então tá bom. Amanhã vamos tirar uma folga, que tal?

Este não era um conceito novo para nós. Eu já havia anunciado vários “dias de folga” no passado. No início, era por preocupação com Eris, mas, em algum momento, comecei a usá-los principalmente para meu próprio bem. A garota nunca mostrava qualquer sinal de fadiga, e Ruijerd era o homem mais resistente que conheci. Eu era, com certeza, o mais fraco do grupo.

Claro, estava muito mais forte do que em minha vida anterior. Não dava para comparar meus dois eus, mas estava apenas no nível de um aventureiro típico. A exaustão física geralmente não era um problema.

Mas e quanto à exaustão mental? Essa era uma história diferente. Por um lado, ainda tinha alguns problemas para matar coisas vivas. Quanto mais matávamos monstros, mais estresse se acumulava dentro de mim.

Entretanto, este “dia de folga”, em particular, não era por causa da fadiga. Só queria ter certeza de não voltar a esquecer de escrever aquela carta. Se passássemos o dia seguinte reunindo informações, verificando a lista de empregos da Guilda e lidando com todas as outras coisas em nossa lista de tarefas pendentes, isso iria voltar a ficar de escanteio. Desta vez, usaria um dia e, finalmente, cuidaria disso.

— Você está se sentindo mal de novo, Rudeus?

— Não, isso é um pouco diferente. Preciso de um tempo para escrever uma carta.

— Uma carta?

Balancei a cabeça para Eris.

— Devíamos deixar todos de casa saberem que estamos bem, certo?

— Hmm… bem, tá bom. Então acho que vou deixar isso com você.

— Sim. Cuidarei disso.

No dia seguinte finalmente faria isso. Tomaria meu tempo, pensaria em meus dias em Buena Village e escreveria para Paul e Sylphie.

Na época em que ele me despachou para servir como tutor de Eris, meu pai me avisou para não mandar nenhuma carta… mas, nessas circunstâncias, com certeza não se importaria.

Entretanto, as chances de as cartas serem entregues não eram lá muito boas. Na época em que Roxy e eu estávamos trocando correspondências entre Asura e Shirone, parecia que uma em cada sete cartas que enviávamos realmente chegava, então sempre tínhamos que enviar várias cópias da mesma mensagem. Desta vez teria que fazer o mesmo.

— Aliás, o que vocês dois vão fazer? — perguntei.

Eris pronta e energeticamente respondeu:

— Vou matar alguns Goblins!

— Goblins?

Espera, espera. Goblins? Seriam Goblins iguais aos que eu conheço? Tipo… caras verde-amarelados, talvez com metade do tamanho de um humano, com clavas rústicas? Aqueles que sempre aparecem como destaque em jogos pornográficos de fantasia?

— Sim. Vi alguém dizendo que há muitos deles aparecendo por aqui. Esse é exatamente o tipo de coisa com que aventureiros deveriam lidar, não é? — respondeu Eris alegremente.

Para ser totalmente honesto, ouvi um pouco sobre eles durante nossa jornada. Neste mundo, os Goblins eram basicamente vistos como uma espécie de verme. Se reproduziam rapidamente e causavam todo tipo de problema para as pessoas. Eram inteligentes o suficiente para se comunicarem verbalmente, então podiam ser tecnicamente classificados como demônios, mas a grande maioria deles vivia como animais selvagens. Então, quando seus números começavam a ficar fora de controle, eram exterminados.

— Tudo bem então. Ruijerd, você pode ir junto com ela e…

— Ah, vamos lá! Eu posso lidar com alguns Goblins sozinha! — Eris interrompeu indignada. A expressão em seu rosto sugeria que estava mais do que um pouco ofendida.

O que eu deveria fazer?

Ela era uma lutadora muito competente. E Goblins eram monstros de rank E – não eram inimigos lá muito desafiadores. Não viviam no Continente Demônio, então eu nunca tinha visto um, mas pelo que ouvi, até uma criança que aprendesse algumas habilidades básicas de esgrima poderia lidar com eles, sem nem suar.

Talvez, obrigar que levasse nosso guarda-costas juntos seria um pouco de superproteção. Afinal, a garota poderia lidar com monstros de rank B…, mas ainda assim. Quando uma garota aventureira fosse derrotada por um Goblin, o monstro instantaneamente a transformaria em uma escrava sexual, certo? Eu não sabia muito sobre os Goblins deste mundo, mas esse era definitivamente o problema deles no meu. E, digo, se eu fosse o Goblin sortudo que conseguisse deixar Eris inconsciente, certamente me sentiria no direito de fazer o que quisesse.

Se algo tão terrível acontecesse com Eris no momento em que eu tirasse meus olhos dela, nunca seria capaz de voltar a encarar Ghislaine ou Philip…

— Está tudo bem, Rudeus — disse Ruijerd, tirando-me do meu devaneio. — Deixe que ela cuide disso sozinha.

Isso era incomum. Normalmente, ele ficava fora desse tipo de discussão. Durante o último ano e meio, Ruijerd deu aulas a Eris sobre como lutar contra todos os tipos de monstros e inimigos diferentes. Seus métodos educacionais eram um pouco obscuros para eu seguir, mas ela claramente aprendeu muito com ele. Se o homem estava convencido de que a garota poderia fazer isso, provavelmente ficaria tudo bem.

— Então tá bom. Eris, não se descuide só por serem fracos.

— É, eu sei!

— E também se assegure de estar bem preparada antes de ir.

— É claro!

— Se as coisas ficarem complicadas, apenas dê meia-volta e corra, entendeu?

— Tá bom, tá bom! Certo!

— E se o pior acontecer, apenas agarre a coisinha nojenta pela mão e grite: “Este Goblin é um molestador!” a plenos pul…

— Ah, já chega! Posso me virar com alguns Goblins sozinha, Rudeus!

Ops. Acabei deixando-a estressada.

Para ser honesto, ainda estava um pouco ansioso com isso, mas só teria que colocar minha fé no julgamento de nosso guerreiro veterano.

— Nesse caso, não direi mais nada. Boa sorte, Eris.

— Obrigada! — disse, balançando a cabeça satisfeita. — Não se preocupe, eu cuido disso!

— E você, Ruijerd? O que vai fazer amanhã?

— Acho que vou dizer olá a um conhecido meu.

Essa devia ser a primeira vez que o ouvi usar a palavra conhecido.

— É mesmo? Eu não sabia que você… tinha algum, na verdade.

— Bem, é claro que tenho.

Pelo que eu sabia de sua história de fundo, Ruijerd estava vagando por aí sozinho por um bom tempo… mas depois de quinhentos anos, acho que provavelmente encontrou algumas pessoas ao acaso. Parecia um pouco estranho que uma daquelas pessoas estivesse morando logo em Millishion. Então, novamente, esta era uma cidade enorme, então talvez fizesse um sentido grotesco.

— Que tipo de pessoa que é?

— Um guerreiro.

Ah. Provavelmente alguém que ele, no passado, resgatou na selva do Continente Demônio ou algo assim, hein? Bem, de uma forma ou de outra, eu não estava disposto a bisbilhotar. Não era seu pai e não sentia necessidade de interrogar sobre com quem andava nas horas vagas.


Na manhã seguinte, Eris e Ruijerd saíram em seus respectivos caminhos, e eu fui à cidade comprar papel, canetas e tinta. Achei que poderia aproveitar a oportunidade para vagar pelas barracas ao ar livre por um tempo, até ter um bom senso de quanto custava a maioria das coisas em Millis.

No final das contas, a comida era na verdade um pouco mais barata do que no Continente Demônio. Claro, a variedade também era muito, muito melhor. Havia bastante carne e peixe fresco disponíveis, e até uma boa variedade de vegetais.

Entretanto, a maior das surpresas com certeza foram os ovos. Havia muitos deles, todos recém-botados e eram incrivelmente baratos. Eu tinha visto ovos à venda algumas vezes no Continente Demônio, mas aqueles eram botados por monstros ao invés de pássaros. A ideia era fazer com que eclodissem, deixasse a criatura bebê o marcar e, então, treiná-la como quiser. É claro, ninguém comia aquelas coisas. Eram muito caros para se transformar em uma omelete.

Aliás, existiam galinhas neste mundo. Havia até algumas pessoas que as criavam em Buena Village e, ao que parece, a avicultura também era uma indústria importante em Millis.

De repente, fiquei morrendo de vontade de voltar a comer ovo com arroz. Eu sei, eu sei… isso é algo bem básico. Mas, vamos lá! É uma refeição nutricionalmente completa!

Infelizmente, embora eu tivesse muitos ovos disponíveis para mim no momento, não parecia haver nenhum arroz ou molho de soja para usar como acompanhamento. O pão era aparentemente a grande base da dieta em Millis, assim como em Asura.

O arroz existia neste mundo, mesmo não estando à venda no mercado local. Era o alimento básico nas regiões norte e leste do Continente Central, e Roxy certa vez mencionou que também estava disponível no Reino Shirone. Geralmente o usavam como base para algo como arroz frito ou paella, com muita carne, vegetais e frutos do mar. Infelizmente, parecia que não faziam criação de aves em Shirone, então os ovos eram, pelo visto, uma mercadoria rara. Talvez o clima não fosse adequado para a criação de galinhas.

Quanto ao molho de soja, nunca tinha visto nada assim neste mundo. Certa vez, notei algo que parecia muito com soja enquanto folheava um dicionário de plantas, mas parecia possível que até o momento ninguém tivesse tentado fermentá-las e transformá-las em molho.

Não, não. Não posso ser pessimista! Existiam ovos e arroz, certo? Nesse caso, também deveria haver molho de soja em algum lugar. Eu só precisava procurar direitinho.

Algum dia, juntaria todos os ingredientes e tornaria meu sonho em realidade. Mesmo se os ovos fossem um pouco anti-higiênicos, a magia de desintoxicação poderia lidar com um pequeno envenenamento alimentar.

Assim que terminei minha pesquisa rápida no mercado local e comprei um conjunto básico de artigos de papelaria, comecei a voltar para a pousada enquanto tentava descobrir exatamente o que escrever na carta.

Esta seria a primeira vez que eu escreveria para Paul ou Sylphie. Deveria começar com meus anos na casa dos Boreas…? Não, o importante era deixar que soubessem que eu estava em segurança. Seria melhor começar com nosso teletransporte para o Continente Demônio.

Pensando bem, eu tinha muito o que contar a eles. Comecei a viajar com um lendário guerreiro Superd, conheci o Grande Imperador Demônio e até passei três meses inteiros em um vilarejo do povo-fera.

Hmm. Será que acreditariam nisso?

Bem, de qualquer forma, eu só contaria a verdade. Mas parecia improvável que alguém lá de casa comprasse minha história sobre receber um olho mágico da própria Kishirika Kishirisu.

Falando em gente-fera… Seria bom saber se Ghislaine estava bem. Ela provavelmente também tinha sido levada para algum canto aleatório do globo. Supondo que não tivesse caído no meio de um vulcão ou algo assim, acreditava que estaria bem. Afinal, a mulher era uma força da natureza ambulante.

Afinal, quantas outras pessoas tinham sido teletransportadas? A parede de luz surgiu da Cidadela de Roa, então parecia possível que todos na propriedade dos Boreas tivessem sofrido o mesmo destino que Eris e eu. Hmm. Ou seja: Philip, Sauros, Hilda, Alphonse (o mordomo)… e todas as criadas, isso só para começar. Senti que o Velho Sauros poderia abrir seu caminho pela vida muito bem, não importa onde fosse parar, mas ainda assim…

— É, agora estou preocupado… — Murmurando comigo mesmo, virei para uma rua estreita. Bem, Millishion também tinha algumas dessas. O layout da cidade, de longe, parecia limpo e organizado, mas conforme os prédios antigos eram derrubados e substituídos, vielas sujas como essa tendiam a se abrir entre eles.

Claro, tudo ainda estava alinhado em uma quadra, então não precisava se preocupar em se perder em algum labirinto sinuoso. Era por isso que decidi tomar um caminho diferente no retorno à pousada. Não custaria nada explorar um pouco as ruas da cidade. Se tivesse sorte, poderia tropeçar na alameda de algum amorzinho encantador ou algo assim. Nossa ruiva tinha uma personalidade algo violenta, mas parecia que também era capaz de apreciar um pouco de beleza de vez em quando. E se ficássemos na cidade por um mês inteiro, provavelmente teríamos tempo para um “encontro” ou dois. Poderia ganhar alguns pontos bônus de afeto se encontrasse alguns lugares legais para levá-la.

Quando estava me perdendo em pensamentos, notei um grupo de cinco ou mais homens se movendo rapidamente em minha direção, bem do outro lado do beco. Não pareciam aventureiros, à primeira vista, mas apenas simples punks vagabundos. Suas roupas pareciam intimidadoras. Bem, provavelmente não passavam de um bando de crianças bagunceiras. Ainda assim, era meio rude ficar rondando em grupos nesses becos estreitos. Um pedestre educado sempre deixava espaço para alguém que seguia na outra direção. Uma criança como eu não precisava de tanto espaço, é verdade, mas nesse ritmo íamos dar um encontrão. Deveriam estar se aproximando de mim em fila única e desviando os olhos…

— Mova-se, moleque!

Imediatamente me pressionei contra a parede do beco.

Mas não entenda errado. Só queria evitar qualquer problema desnecessário. Quer dizer, pareciam estar com muita pressa! E eu não estava. Não era como se tivesse saído do caminho deles porque pareciam meio assustadores ou algo assim. Sério, juro! Não tenho medo de nenhum delinquente! Juro pela minha alma.

Bem, de qualquer forma, pense nisso. Não se pode julgar um livro pela capa, certo? Pareciam um bando de punks vagabundos, mas pelo que eu sabia, um deles era na verdade um famoso espadachim.

Se tivesse ficado muito confiante e contestado a grosseria deles, poderia ter me visto sendo cortado em pedaços pelo Nobre da Fúria, ou algo assim. Digo, este era um mundo onde uma garotinha prestes a morrer de fome na rua poderia se tornar um Grande Imperador Demônio, certo? Não havia nenhum motivo para sair brigando por aí.

Bem, essa foi ao menos minha primeira impressão. Mas, quando passaram por mim, percebi que dois caras no meio do grupo carregavam um saco de estopa. E havia uma mãozinha saindo daquilo. Parecia que estavam carregando uma criança – dentro de um saco, nada menos.

Sequestradores de novo?

Pelo visto este mundo estava cheio deles. Os criminosos pareciam agarrar as crianças na primeira chance que encontravam. Também não era uma questão regional; acontecia em todos os lugares, desde o Reino Asura até o Continente Demônio, a Grande Floresta e o País Sagrado de Millis.

Pelo que Geese me disse, o sequestro costumava ser uma linha de trabalho muito lucrativa. O mundo estava quase todo em paz, com exceção de alguns conflitos menores aqui e ali. Apenas alguns escravos chegavam ao mercado das regiões central e norte do Continente Central, e isso era tudo. E muitas, muitas pessoas queriam escravos. Isso era uma verdade particular para os países mais ricos, como Millis e Asura, onde as classes altas estavam constantemente procurando comprar pessoas. Resumindo, a oferta não era grande o suficiente para atender à demanda. Vítimas de sequestros tinham altos preços no mercado e, enquanto isso fosse verdade, o problema nunca iria desaparecer. Para acabar com a prática, pelo visto seria necessário começar uma ou duas guerras massivas.

Em qualquer caso… e agora?

Dado o número de homens, provavelmente estávamos falando de um crime premeditado. Não seria surpreendente se a criança naquele saco fosse filho ou filha de alguém relativamente importante do local.

Para ser honesto, eu não queria nem me envolver nisso. Da última vez que resgatei crianças de uma gangue de sequestradores, acabei sendo tomado como um dos criminosos e jogado em uma cela de prisão. E isso foi há apenas alguns meses, então a memória ainda estava dolorosamente fresca.

Eu iria simplesmente deixar a criança ser entregue ao seu destino?

Não, não. Claro que não. Sequestradores sempre existiriam, é claro. E isso estava trazendo de volta algumas memórias desagradáveis. Mas nada disso é motivo para apenas virar a cara.

A primeira regra do time Fim da Linha era: “Nunca abandone uma criança em perigo”. E a segunda regra do time Fim da Linha era: “Nunca, jamais abandone uma criança em perigo”.

O Fim da Linha era um grupo de mocinhos. Permanecíamos firmes diante do mal; resgataríamos crianças sempre que tivéssemos a oportunidade. E pouco a pouco, espalharíamos a boa palavra sobre Ruijerd e os Superds.

Me virei e segui os cinco homens com o saco de estopa em silêncio.


Minhas habilidades furtivas pelo visto acabaram melhorando em algum momento. Acho que seguir Eris e companhia lá nos Doldia foi uma boa prática. Os sequestradores chegaram e entraram em seu destino, um armazém escondido, sem sequer olhar na minha direção. Era um bando bem desleixado. Para começo de conversa, evidentemente precisavam de melhorias no olfato.

O armazém em questão estava localizado em um canto tranquilo do Distrito dos Aventureiros, mais afastado da multidão do que a pousada em que estávamos hospedados. Não se podia ver o lugar da rua; a única maneira de alcançá-lo era se espremendo por um beco estreito. Não havia como uma carruagem puxada por cavalos chegar até ali. Nem seria possível carregar nada volumoso para fora. Me perguntei por que diabos alguém colocaria um depósito em um local tão inacessível. O armazém provavelmente foi construído algum tempo antes dos edifícios que agora o cercavam. Às vezes, os engenheiros podem realmente ferrar qualquer um, hein?

Mas não era como se isso importasse. Assim que me senti confiante de que o grupo não estava apenas passando, me movi para a parte de trás do prédio e usei magia da terra para ficar elevado ao chão, o que me permitiu entrar no prédio por uma janela relativamente alta. Me abaixei até o chão, me arrastei até uma pilha bagunçada de caixas de madeira, me escondi dentro de uma, então cuidadosamente olhei para fora para ver como era composto todo o terreno.

Os cinco sequestradores estavam parados do outro lado do armazém mal iluminado, conversando sobre alguma coisa. Pelo que pude perceber, tinham muitos amigos bebendo no bar ao lado, e alguém precisava ir informá-los de que o “trabalho” estava feito.

Eu tinha duas opções básicas neste momento. Poderia tentar derrubar os cinco antes que unissem toda a gangue, ou poderia ficar parado, dar uma olhada cuidadosa no rosto de seus amigos e simplesmente fugir com a criança quando tivesse a chance. A última abordagem parecia muito mais atrativa, então decidi me acomodar em minha caixa e ficar confortável.

Mas o que havia nela, afinal? Graças à iluminação ruim, eu realmente não tinha dado uma boa olhada em seu conteúdo. O que quer que fosse, definitivamente era feito de tecido. Mas as coisas eram muito pequenas para serem camisas ou calças. E, por alguma razão, ficar deitado em uma pilha disso me fez sentir estranhamente… tranquilo.

Estendi a mão e peguei uma das coisas. A forma e a textura eram familiares – um pedaço de tecido cuidadosamente costurado com alguma profundidade definida e três orifícios distintos. Em uma seção específica, o tecido era duas vezes mais grosso; achei que pudesse sentir um toque da poderosa energia mística quando toquei naquela parte.

— Uau! Espera aí, são calcinhas!

— Quem está aí?!

A-ah, merda, me ouviram! Droga… Nunca esperei que montassem uma armadilha tão diabólica!

— Mas que infernos? Há alguém nas caixas?

— Apareça!

— Ei, vá falar com o chefe! Precisamos de todos aqui!

Bem, isso definitivamente não era bom. Enquanto eu estava sentado, já estavam chamando a cavalaria. Era evidente que já chegara a hora para uma mudança de planos. Só teria que agarrar a criança e fugir de uma vez, certo? Parecia a melhor opção. Espere, não… assim veriam meu rosto.

Ah, em que eu estava pensando? Eu tinha uma máscara perfeitamente adequada à mão.

Woooo! Sou um pedaço ardente de êxtase, baby!

Brincadeirinha.

Por um momento, parei e considerei tirar meu robe para esconder melhor minha identidade, mas então me lembrei que nem estava o usando. Também não tinha meu cajado. Afinal, tinha saído apenas para fazer compras.

Então tudo certo. Vamos nessa!

— Nossa!

— Cara, e-ele está usando uma calcinha na cabeça…

— Que aberração…

Os homens ficaram momentaneamente perplexos com minha aparição repentina e dramática. Aproveitei a oportunidade para iniciar um monólogo.

— Ouçam-me, canalhas gananciosos! Como ousam tomar crianças inocentes de suas famílias? Que vergonha! Vergonha! As pessoas chamam isso de… sequestro!

O público não pareceu apreciar minha interpretação de Rom Stol. Talvez não tivessem assistido ao velho anime de mechas.

— Q-quem diabos você deveria ser?

— Eu sou Ruijerd do Fim da Linha!

— O quê? Fim da Linha?

Ah, merda! Esqueci! Me apresentar assim virou um tipo de hábito, então as palavras simplesmente escaparam da minha boca. Este era um caso em que eu realmente não deveria ter dito nada.

Foi mal, Ruijerd! A partir de hoje, você é um estranho esquisito que resgata crianças enquanto usa uma calcinha na cabeça! Mas não se preocupe. Vou salvar a criança, custe o que custar!

— Malditos sejam, sequestradores nojentos! Graças a vocês, um homem inocente acaba de ser muito caluniado! Sua vilania não ficará impune!

— Olha, garoto, vá brincar de herói em outro lugar! Nós não…

— Eu não vim aqui para conversar, seu idiota! Ataque Nascer do Soooool!

— Gurgh!

Acabei com a conversa disparando um feitiço Canhão de Pedra. Era sempre bom usar alguns ataques preventivos. Na verdade, foi a mesma abordagem que usei para resgatar o Grande Imperador Demônio daquele velho pedófilo sujo em Porto Vento.

— Toma essa! E essa!

— Guh!

— Blagh!

Em um piscar de olhos, nocauteei os quatro homens que permaneceram no armazém. Uma vez que todos estavam caídos, corri para verificar o prisioneiro.

— Você está bem, jovem?! Hmm. Parece que está inconsciente…

Senti como se já tivesse visto a criança em algum lugar. Na verdade, havia algo… realmente familiar nela. Mas não consegui identificar exatamente o que era. Que estranho.

Bem, tanto faz. Não era hora de pensar nisso. Eu precisava sair do lugar antes que o resto da gangue chegasse… Mas, assim que esse pensamento passou pela minha cabeça, uma multidão inteira de homens apareceu na porta do armazém.

— Uau! Mas que diabos? Ele derrubou todos os quatro!

— O garoto sabe lutar! Tragam o capitão aqui, já!

— Hoje ele bebeu muito, sabe?

— Ele ainda é um grande lutador, mesmo quando está bêbado!

Dois homens se viraram e fugiram, provavelmente para buscar seu “capitão”. Isso ainda deixava mais de dez pessoas para eu lidar, e agora tinha que assumir que mais reforços apareceriam.

Isso não era bom. Isso não era nada bom. Talvez realmente devesse ter desviado o olhar… ou esperado até o dia seguinte, quando poderia ter convencido Ruijerd a me ajudar. Lidar com tudo sozinho foi definitivamente um erro. Nesse ponto, minha única opção era acabar com toda a gangue.

— Que tipo de aberração é esse cara? Ele está usando uma calcinha na cabeça…

— Espere, ele veio aqui para roubar nossas roupas íntimas?!

— Ai, deus! Será que é algum tipo de pervertido?!

Quando olhei mais de perto, notei que na verdade também havia algumas mulheres no grupo. Foi mal, Ruijerd! Sério… eu te devo uma.

Com um pedido de desculpas final para o homem que eu tinha injustiçado profundamente, voltei meu foco para a tarefa em mãos. Por sorte, esses bandidos não eram nada de especial. Continuaram avançando em minha direção em linha reta, então era fácil atirar um Canhão de Pedra antes que chegassem perto demais. Não eram rápidos o suficiente para desviar da minha magia, e um único golpe era o suficiente para deixar a maioria deles inconsciente. Nenhuma dessas pessoas estava armada. Também não havia magos com os quais se preocupar. Até o momento estava tudo indo melhor do que o esperado.

— Droga, não podemos nem chegar perto…

— O que diabos há com esse garoto?! Ele está usando algum tipo de item mágico?!

— Por que o capitão está demorando tanto?!

Quando nocauteei talvez metade deles, os outros começaram a ficar visivelmente agitados. Afinal, talvez eu pudesse até mesmo criar meu caminho para fora do lugar sem grandes problemas.

— O capitão vai chegar logo, pessoal! Até lá só precisamos aguentar!

Bem, quanto trabalho para nada.

Duas mulheres apareceram na porta do armazém. Uma delas era uma guerreira vestida com uma armadura de biquíni; a outra era uma com um robe de maga. Não demorou muito para a onda de reforços chegar, mas não fiquei surpreso. Pelo visto, toda sua gangue estava bebendo no lugar ao lado.

A mulher guerreira estava, por algum motivo, exibindo muita pele. No Continente Demônio, não vi uma única lutadora vestindo tão poucas coisas. Ela se destacava ainda mais em comparação à maga, que estava vestindo uma roupa perfeitamente normal.

Droga! Quem é essa mulher?! Eu não consigo… desviar… meus olhos…!

— Shierra, vou mantê-lo ocupado! Me dê cobertura!

— Certo!

A mulher de biquíni puxou a espada da cintura e correu em minha direção. Enquanto isso, a maga na retaguarda pegou seu cajado e… ah, merda. Os seios da mulher de biquíni balançavam loucamente cada vez que ela dava um passo. Não deixe eles balançarem com tanto vigor, garota! Vão escapar!

Foi honestamente bizarro. Bem, eu esperava que a armadura de biquíni mantivesse seu peito firmemente no lugar para não causar problemas na batalha. Todo o seu traje parecia não servir a nenhum propósito prático.

Ah, cara, olha só como essas coisas se movem! Direita… esquerda… direita! Estavam se aproximando, balançando para cá e para lá… Por um momento, pararam, então saltaram de volta em minha direção…

— Hiyaaaa!

De repente, percebi que a mulher de biquíni estava balançando sua espada diretamente para o meu rosto.

— Gaah! — Caindo reflexivamente para trás, consegui evitar o golpe por um fio de cabelo. Foi por pouco! Droga. Essa garota luta sujo!

Ela estava propositalmente usando aquilo como distração?!

Nesse ponto, percebi uma voz fraca murmurando algo do outro lado do lugar.

— (…) converta onde quiseres e emita um único fluxo puro de…

Ah, merda. Isso era um encantamento mágico! Alguém estava prestes a atirar uma Bola de Água em mim!

Pensando rápido, estendi minha mão na direção da maga. Desta vez escolhi o feitiço Muro de Pedra. A melhor maneira de afastar um feitiço mágico à base de água era pegar um pouco de areia e sujeira para absorver tudo em seu caminho.

Enquanto corria para lançar o feitiço, rapidamente olhei e encontrei a maga apontando seu cajado diretamente para mim, prestes a lançar seu ataque.

No mesmo instante em que ela disparou sua Bola de Água, minha Parede de Pedra se ergueu para enfrentá-la. O projétil de alta velocidade explodiu contra meu feitiço com um estrondo ensurdecedor, em vez de um respingo. Água espirrou em todas as direções por todo o armazém.

— O quê?! O que f-foi isso?!

Pelo que parecia, deixei a maga bem nervosa, então voltei minha atenção para a mulher de biquíni.

— Ah…!

A força de seu ataque deixou seus seios balançando descontroladamente no ar. Parecia que estavam prestes a se libertar. Quase pude… vê-los…!

— Hyaaaaaa!

Puxado de volta à realidade no último momento por seu grito de batalha penetrante, consegui rolar de volta à segurança. Desta vez, coloquei um pouco mais de distância entre nós antes de pular.

A mulher de biquíni olhou para mim, sua espada ainda contra o chão, no local onde havia acertado.

— Pare de correr como uma barata, seu pequeno pervertido! — Enquanto falava, ela ergueu a arma novamente, segurando-a firme acima do nível da cintura. Parecia ter desistido de me oprimir com a velocidade e agressividade. Em vez disso, começou a diminuir a distância entre nós lenta, mas firmemente.

Seguindo seu exemplo, recuei um pouco para… Ooh. Quando ela segurou sua espada, seus braços empurraram seus melões juntos. Mas que decote impressionante…

Argh! Vamos lá! Pare de cair na armadilha dela, estúpido!

Eu não conseguia manter meus olhos em sua maldita espada. Como deveria lutar nessa condição?

Para ser honesto, nem a guerreira nem sua amiga maga eram lá muito talentosas. Mas, nesse ritmo, eu nunca iria derrubá-las. Que deus me ajude se ela sofresse com algum problema crítico com suas vestimentas. Eu provavelmente seria cortado em pedaços na mesma hora.

Como descobriram minha única fraqueza?! Quem me vendeu, droga?!

Certo, se acalma.

Eu estava apenas me distraindo, simples assim. Isso não era uma técnica deliberada. A questão era… o que eu faria sobre isso? Se quisesse transformar tudo em uma luta justa, precisava fazer com que ela de alguma forma cobrisse os peitos. E seu traseiro agradavelmente rechonchudo também, por falar nisso. Como poderia manipulá-la para colocar roupas de verdade?

Talvez pudesse dizer algo para tentar deixá-la toda envergonhada… Hmm, não. Se tivesse escolhido essa roupa deliberadamente, essa abordagem poderia sair pela culatra.

— Hmph!

Claro! Eu já sabia!

Estão todos familiarizados com a história do vento do norte e do sol?

Era uma vez, o vento norte e o sol competiram para ver qual deles poderia obrigar uma certa viajante a se despir. O vento do norte tentou soprar suas roupas com rajadas frias e penetrantes, mas a viajante simplesmente vestiu camadas extras de roupas. O sol, entretanto, simplesmente aqueceu tudo até que ela começou a tirar as roupas por vontade própria.

Em outras palavras, se deixasse as coisas boas e quentes aqui, ela tiraria tudo

Não, não, não! É exatamente isso que não queremos, lembra?! Certo. Frio. Precisávamos de frio.

— Você não tem para onde correr — disse a mulher guerreira.

Olhei para trás e percebi que tinha me apoiado contra a parede do armazém. Mas isso não era um problema. Eu já tinha elaborado minha estratégia. Sem uma palavra, estendi minhas mãos em direção à minha agressora com poucas roupas.

— Campo de Sincelo.

No momento em que canalizei minha energia mágica através da minha mão direita, o ar extremamente frio saiu do nada para preencher o armazém. A temperatura caiu trinta graus centígrados quase que na mesma hora. De repente, ficou como se estivéssemos dentro de uma geladeira.

— Mas que…?!

Eu já podia ver os arrepios nos braços da mulher de biquíni, mas ainda não tinha acabado. Desta vez, deixei minha energia mágica fluir para minha mão esquerda.

— Explosão.

Uma grande rajada de vento fez a mulher voar para trás. Quando ela parou de rodopiar, a enviei até a entrada do armazém. Eu estava pensando em chamar esse pequeno feitiço combinado de “Explosão Polar”.

— Haa-choo!

O ar agora estava tão gélido que senti que poderia pegar um resfriado também, mas consegui fazer exatamente o que tinha planejado. Tremendo e espirrando, a mulher com armadura de biquíni gesticulou freneticamente para suas amigas pedindo por um casaco. Agora eu estava livre de perigos. Uma vez que aqueles seios estivessem escondidos da vista, não havia como ela levar a melhor sobre mim. Tudo o que restava agora era deixar todo mundo inconsciente e começar com a minha fuga…

— Estou aqui, pessoal! Desculpe por deixar todo mundo esperando!

Ou assim pensei…, até que meu mais novo desafiante apareceu.

O homem na porta parecia familiar. Algo em seu rosto realmente me fez sentir um pouco de… nostalgia. Eu já tinha visto aquele cara em algum lugar, não tinha? Mas onde? Ele não estava indo em minha direção.

— Tch. Esse bostinha se tornou um verdadeiro estorvo, hein? Hic… Para trás, pessoal! Não há razão para se unir contra uma criança melequenta… Vou derrubá-lo pessoalmente.

O homem estava obviamente confiante em suas habilidades, mas também parecia que poderia estar bêbado. Mesmo à distância, eu podia vê-lo balançando instavelmente, e seu rosto estava tingido de vermelho.

Sério. Quanto mais eu olhava para o cara, mais familiar ele parecia. Com o cabelo castanho e o rosto levemente violento, meio que se parecia com Paul… Pensando bem, também soava muito parecido com ele. É. Se colocassem Paul em uma greve de fome e não o deixassem ter uma boa noite de sono por alguns meses, provavelmente acabaria parecendo algo assim. Isso me fez hesitar um pouco quanto a lançar qualquer ataque sério contra o sujeito.

Mas, é claro, dentre todas as coisas, de jeito nenhum meu pai estaria na verdade andando com um bando de sequestradores em Millis.

— Ei, você! Acha que pode simplesmente entrar aqui e bater no meu pessoal, hein? Bem, vou fazer você viver para se arrepender!

O homem deu um passo à frente de seu grupo, cuspiu algumas palavras ferozes em minha direção e puxou um par de espadas de suas bainhas. Qualquer um capaz de empunhar duas armas com competência tinha que ser um mestre espadachim. Só por sua postura, tive a nítida sensação de que estava em um nível totalmente diferente da mulher de armadura de biquíni. Canhão de Pedra seria o bastante para lidar com ele?

Hmm… Eu realmente não queria usar nada que pudesse matar o cara, entretanto…

Talvez sentindo minha hesitação, o homem avançou abruptamente.

— Wah…!

Ele me pegou um pouco desprevenido, mas consegui lançar um feitiço Canhão de Pedra atrasado. O homem reagiu na mesma hora, girando a espada em sua mão direita diagonalmente para desviar o projétil.

— Estilo de Deus da Água, hein?!

— Isso não é tudo que tenho a oferecer, parceiro!

Ele já estava quase em cima de mim. Agindo por puro reflexo, desencadeei uma onda de choque e me lancei voando para trás no ar.

— Hah!

— Uau!

Ativei meu Olho da Previsão para espiar o futuro e me ajudar a evitar seus ataques posteriores. O homem era rápido com suas espadas, mas seu jogo de pés parecia um pouco desleixado. Provavelmente estava relacionado a todo o álcool em seu sistema. Afinal de contas, talvez eu pudesse derrota-lo.

— Tch! Ele se move como o moleque, caramba… Vierra! Shierra! Venham me dar uma mão!

Só assim, a mulher de armadura de biquíni e sua amiga maga voltaram a avançar. E quanto àquilo de me derrubar sozinho, hein? Afinal, que tipo de homem é você?

A mulher guerreira, agora toda coberta com um sobretudo, começou a me circular. E a maga já estava começando a entoar outro encantamento. Isso definitivamente não era bom. Os ataques do homem eram ferozes e persistentes, e eu estava ocupado apenas me esquivando de todos eles.

Por sorte, ainda tinha um ou dois truques na manga.

— Wah!

— Ugh!

Usando a magia vocal do povo-fera, parei o homem em seu caminho por apenas um instante, me dando tempo para enviá-lo voando com uma onda de choque.

— Canhão de Pedra!

Mantendo um olho no homem enquanto ele caía para trás, disparei um feitiço ofensivo na maga. Em seguida, quando a mulher da armadura de biquíni estava balançando sua espada em minha direção, usei meu Olho da Previsão para escapar do ataque e acertar um contragolpe sólido.

A maga estava concentrada em seu encantamento. Meu feitiço a atingiu em cheio e a deixou inconsciente. A mulher guerreira cambaleou para trás, mas ainda não estava fora da luta, isso era notável a julgar pela fúria em seu olhar.

E, claro, agora, o homem estava voltando direto para mim de novo.

— Shierra…! Você vai pagar por isso, seu merdinha!

Assim que o homem deu um passo à frente, transformei o chão embaixo dele em um pequeno espaço de pântano lamacento. Seu pé mergulhou direto naquilo, e ele caiu desajeitadamente para frente no chão.

— Capitão!

Por um momento, os olhos da guerreira ficaram sobre ele em vez de mim. Péssima ideia. Sem qualquer palavra, disparei outro Canhão de Pedra direto nela.

— Ah!

Dois já eram, faltava uma.

— Vierra! Puta merda!

Empurrando uma de suas espadas de volta para a bainha, o homem enfiou a outra na própria boca. Ativei meu Olho da Previsão.

O homem vai correr para mim de quatro.

Esse cara era um cachorro ou o quê?

Disparei vários feitiços Canhão de Pedra para mantê-lo afastado e recuei para criar mais distância entre nós. Infelizmente, o armazém não era um dos grandes. Não havia maneira fácil de impedir que ele diminuísse a distância.

— Raaaaah!

Torcendo o corpo de um jeito bem estranho, o homem saltou do chão. Ele de alguma forma conseguiu sacar a espada em seu quadril, mesmo enquanto me atacava como um animal. Seus ataques foram rápidos e furiosos, partindo de posturas tão estranhas que eu nunca saberia o que esperar.

O homem vai agarrar a espada na boca com a mão esquerda e a balançar para baixo.

Que movimento bizarro.

A cada passo o cara voltava a desafiar minhas expectativas. Sem o Olho da Previsão, eu nunca teria conseguido evitar aquele último ataque. Ainda assim, sua lâmina roçou a ponta do meu nariz. O corte formigou dolorosamente.

Meu coração estava batendo forte no meu peito. Não estava tentando matar o homem, mas o sujeito transbordava com a intenção de tirar minha vida. Por alguma razão, isso realmente não parecia importar para ele no momento. Isso devia ser óbvio desde o começo. Se eu não desse tudo o que tinha, não conseguiria sair do armazém vivo.

Cerrei meus dentes e me abaixei, ficando quase agachado. Pensei no meu treinamento com Ruijerd e Eris. O estilo feroz e bestial desse homem estava provavelmente perto da forma como Ruijerd atacava quando estava apenas atuando, mas seus movimentos não eram tão rápidos ou perfeitos quanto os do Superd. O fator estranheza era sua principal vantagem. Eu poderia fazer isso.

Na próxima vez que ele me atacasse, eu acertaria um contragolpe e… Nesse ponto, percebi que o homem havia parado de se mover.

Um momento depois, percebi que a calcinha que eu estava usando na cabeça agora estava no chão do armazém.

Merda, isso não era bom. Eles veriam meu rosto…

— É você… Rudy?

Rudy?

Existia apenas um homem que me chamava assim.

E aquela voz… não era mais a rouquidão de algum bêbado zangado. De repente, parecia uma muito familiar.

— Pai…?


Nos anos desde que o vi pela última vez, Paul Greyrat evidentemente havia passado por uma espécie de transformação.

Seu rosto estava magro; havia olheiras sob seus olhos e barba por fazer nas bochechas. Seu cabelo estava despenteado e seu hálito cheirava a bebida. Em basicamente todos os aspectos, meu pai parecia um completo maltrapilho. A diferença para o homem que eu lembrava era… dramática, para não dizer mais.


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GaelD
Membro
Gael
27 dias atrás

Luta foda em. O paul será q virou um santo da espada? Faria srntido já q ele falou q oa treinar.
Mas krl dessa vez o rudeus lutou bem para krl. Uma pena o mlk nunca ter uma espada na mão se não poderia ter derrotado o paul.

Lucas BuenoD
Membro
Lucas Bueno
1 mês atrás

Que reencontro cabuloso mlk

Dankkkjj.__
Visitante
Dankkkjj.__
5 meses atrás

O mlk com uma calcinha na cara sfd kakskskskkk

Alfa Br9
Membro
Alfa Br9
7 meses atrás

a na que doideira ksksksks

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