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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 5 – Capítulo 2 

A História de Paul

Ponto de Vista do Paul

Quando abri os olhos, me vi no meio de uma planície relvada.

Era um trecho comum de terreno plano e limpo, mas, estranhamente, parecia familiar. Tentei determinar onde estava e a resposta me veio à mente em pouco tempo. Estava ao sul do Reino Asura, perto de uma cidade em que passei algum tempo. Era o lugar onde fiquei quando estava aprendendo o Estilo Deus da Água… e a cidade natal de Lilia.

Naturalmente, concluí que isso devia ser algum tipo de sonho. Afinal, não tinha motivo para estar no local. Ainda assim, isso com certeza despertou memórias. Quantos anos passei nesta área? Um? Talvez dois? Tudo que eu sabia era que com certeza não tinha ficado muito tempo.

A maioria das minhas memórias daquele período da minha vida dizia respeito ao salão de treinamento e aos alunos mais velhos com quem treinei. Eram um bando de idiotas arrogantes com bocas grandes e nenhuma habilidade real. Eu tinha um talento real, então estavam sempre ocupados tentando me manter no “lugar apropriado”. E também sempre odiei que me mandassem fazer algo – afinal, a única razão pela qual fugi de casa foi para escapar do controle do meu velho.

Mas ele pelo menos era um homem genuinamente competente e intimidador, com poder suficiente para justificar seu ego. Os alunos do último ano, por outro lado, eram apenas um monte de lixo inútil com egos inflados. Quando cheguei ao nível intermediário, ainda estavam presos nos estágios finais de suas lições de iniciante. Com certeza foi meio patético.

Inferno, mesmo o mestre do salão de treinamento só tinha alcançado o nível Avançado no Estilo Deus da Água. Ele era um daqueles velhos idiotas que adoravam gritar sobre “coragem” e “determinação”, apesar do fato de que nunca havia feito nada de demais em lugar nenhum. Eu queria mostrar a cada um deles o quão bom seria no futuro.

Mas, nunca tive a chance. Acabei perdendo minha paciência com suas besteiras, transei com Lilia por despeito e fugi durante a noite. Passei algum tempo de olho nela… mas, naquele momento, tudo que queria era tomar algo que todos estimavam.

Na manhã seguinte, estavam todos procurando furiosamente por qualquer vestígio meu. Fugi para outro país com um sorriso de escárnio no rosto.

Deus, eu realmente era um merdinha estúpido. Não me importava com o quanto os outros alunos me odiavam, mas descontar minha frustração em Lilia com certeza não foi uma das melhores coisas que fiz.

— Mm…

O vento estava aumentando. Um pouco de poeira soprou em meus olhos e fiz uma careta. Um momento depois, houve um pequeno puxão na minha manga.

— Papai? Onde estamos…?

— Hm?

Por algum motivo, estava segurando Norn em meus braços. Ela estava olhando para mim com ansiedade nos olhos.

Nesse ponto, finalmente percebi que estava realmente parado no meio do nada com as roupas que usava em casa. Podia sentir o chão sólido sob meus pés… e o calor do corpo da minha filha contra o meu peito.

Isso não era um sonho.

— Mas que diabos…?

Eu não fazia ideia do que estava fazendo neste lugar. Se estivesse sozinho, provavelmente teria acreditado que era um sonho. Mas Norn estava bem ali, em meus braços.

Sim. Era a pequena Norn, claro. Minha adorável filha de três anos.

Eu não a abraçava assim com muita frequência. Estava querendo ser algo mais apropriado, um tipo de pai digno, então mantinha minhas expressões físicas de afeto ao mínimo. Então o que ela estava fazendo em meus braços?

Ah, lembrei… Finalmente lembrei.

Apenas alguns momentos atrás, estava conversando com Zenith em nossa casa.

— Sabe, quando as meninas crescem um pouco, não gostam de ser abraçadas pelo pai. Você devia aproveitar para as mimar enquanto ainda pode.

— Nah, desta vez quero demonstrar alguma dignidade paterna. Comparada a Rudeus, Norn parece uma criança comum, certo? Se eu fizer tudo direitinho, aposto que posso convencê-la de que sou o melhor homem do mundo.

— Essa não foi a abordagem que seu pai adotou? Achei que você o odiava.

— Você tem razão… Tudo bem, me dá ela aqui.

Foi apenas uma conversa boba e casual. Lilia também estava por perto, ensinando uma coisa ou outra para Aisha. Depois de perceber que a garota era “talentosa”, decidiu cultivar seus talentos por meio de aulas e sermões constantes. Argumentei que a criança ficaria mais feliz se a deixássemos ter uma infância mais despreocupada, mas Lilia resistiu com tanta ferocidade que tive de recuar.

Entretanto, a criança realmente estava crescendo rápido. Ela começou a andar muito cedo e absorveu tudo o que lhe ensinamos como se fosse uma esponja. Lilia era uma boa professora, então isso provavelmente era esperado, mas Aisha estava progredindo tanto que me preocupou que pudesse haver algo de errado com Norn.

Quando falei com Lilia, ela disse: “Aisha não é nada especial em comparação com o jovem mestre Rudeus. E a Senhorita Norn é uma criança perfeitamente normal.”

Eu não me importava se Norn era “normal” ou não, sério. Mas quando a imaginei crescendo na sombra de dois irmãos brilhantes, isso me fez sentir um pouco mal por ela.

Lembrei de pensamentos como aqueles que passavam pela minha mente… E então fui subitamente envolvido por uma luz branca cegante.

É, finalmente lembrei. Não havia nenhum tipo de lacuna na minha memória. O fato de ainda estar com Norn em meus braços era prova disso. Fazia algum tempo desde que ela aprendeu a andar, mas eu a estava segurando contra o peito.

Estava acontecendo algo muito estranho. Isso ficou imediatamente óbvio.

— Papai? — Norn voltou a falar comigo com uma voz inquieta. Ela estava observando o meu rosto o tempo todo.

— Está tudo bem, Norn. — Afagando suavemente sua cabeça, olhei ao redor da área. Zenith e Lilia não estavam em lugar nenhum. Será que estariam por perto? Ou eu era o único que tinha sido levado ao lugar?

Nesse caso, por que Norn ainda estava comigo?

Uma possibilidade surgiu em minha mente.

Certa vez, ativei uma armadilha muito desagradável nas profundezas de um labirinto – um círculo de teletransporte escondido. E isso parecia muito semelhante. Na época, tive a sorte de ser teletransportado para perto. Mas reflexivamente agarrei Elinalise pela manga quando a armadilha ativou, o que a arrastou junto comigo. Daquela vez ela ficou bem chateada.

Se não tivesse sorte, uma armadilha de teletransporte seria o tipo de coisa que poderia oferecer uma morte instantânea. Pisar naquilo não foi minha culpa, já que nosso macaco batedor deveria ter avistado a coisa de antemão… mas isso não era mais importante. Resumindo, a magia de teletransporte era capaz de mover alguém instantaneamente – e qualquer pessoa com quem estivesse em contato físico – para um local diferente. Isso explicaria por que Norn ainda estava comigo, mas as outras não.

Mas por que fui teletransportado? Não houve nenhum aviso. Alguém tinha feito isso de propósito?

Para ser honesto, eu tinha inimigos em todos lugares. Não seria surpreendente se alguém me atacasse furtivamente, dadas todas as coisas ruins que fiz no passado. Mas magia de teletransporte? Isso não fazia sentido. Por um lado, não havia nenhum encantamento conhecido para isso. Para teletransportar alguém, seria necessário usar um círculo mágico ou um item mágico especial. Itens de teletransporte foram proibidos em todo o mundo, e a criação de círculos de teletransporte foi proibida por tanto tempo que a arte em si foi praticamente perdida. Por que alguém iria a extremos, extremos perigosos, apenas para se vingar de um único homem como eu? E por que simplesmente me jogariam no meio do nada…?

Será que o responsável era alguém do salão de treinamento? Talvez ainda estivessem guardando rancor e me teletransportaram para longe para que pudessem colocar as mãos em Lilia. Talvez me jogaram neste lugar para passar alguma mensagem… e quando eu voltasse para minha casa, encontraria Zenith e Lilia sendo violadas por uma gangue de bandidos cruéis.

Droga. Isso soava como algo que aqueles bastardos iriam pensar.

— Uh, Papai…

— Não se preocupe, Norn. Está tudo bem. Vamos voltar para casa rapidinho.

Tentando tranquilizar tanto a mim quanto Norn, parti em direção à cidade vizinha. Felizmente, tinha uma moeda de ouro Asurano escondida na bainha da minha espada, era um fundo para emergências. E graças aos velhos hábitos de meus dias de aventuras, sempre mantive minha espada comigo, mesmo quando dormia. Só a deixava de lado durante as noites mais gostosas. Meu cartão de aventureiro também estava guardado dentro da bainha. Era só uma pequena precaução para qualquer tipo de emergência.

Fui até a Guilda local e troquei minha moeda de ouro por moedas de valores menores. A recepcionista me devolveu nove moedas de prata Asurana e oito moedas de cobre grande. Pelo visto, em algum momento aumentaram suas taxas, mas isso seria mais do que eu precisaria, de qualquer forma. Revisei rapidamente as tarefas disponíveis, encontrei uma para uma entrega de emergência e a aceitei na hora.

Meu cartão ficou sem magia há anos, então a senhora atrás do balcão teve que primeiro o recarregar para mim. Quando as palavras reapareceram, ela exclamou surpresa e me perguntou por que um aventureiro de rank S estava aceitando um trabalho como aquele. Como era uma solicitação de emergência, as restrições normais não se aplicavam, mas em circunstâncias normais teria sido uma tarefa de rank E.

Eu não tinha nenhum motivo real para esconder minha situação, mas não queria perder tempo explicando. Dei uma vaga explicação confusa, depois perguntei se poderia pegar um cavalo emprestado. Essa era uma das vantagens especiais que a Guilda oferecia aos aventureiros de rank S. Quando aceitava uma entrega urgente, emprestariam algum transporte de graça. Claro, precisaria devolver o cavalo assim que o serviço fosse concluído… mas, desta vez, estava planejando cavalgar em uma direção totalmente diferente. Me senti mal pelo cliente, porém precisava lidar com uma emergência pessoal.

O cavalo que me entregaram acabou por ser um espécime bastante impressionante. Tive sorte. Esse trabalho de entrega devia ser, de fato, muito urgente. Havia uma possibilidade real de perder meu status de aventureiro por causa dessa façanha, mas poderia viver com isso. Bem, não planejava voltar a ganhar a vida com essas coisas.

Coloquei Norn no cavalo e pulei atrás dela.

Na mesma hora galopamos para longe da cidade.

No meio da viagem, Norn começou a passar mal. A menina não tinha experiência em andar a cavalo, e eu fiz com que viajássemos dia e noite. Provavelmente era demais para ela aguentar.

Com o tempo que levou para cuidar de sua saúde, não consegui voltar para a Região de Fittoa durante uns bons dois meses. Demorou tanto que quase me arrependi por não ter pego uma carruagem para fazer o percurso. Eu já tinha falhado no serviço de entrega, é claro, mas a taxa de quebra de contrato não seria tão ruim.

No momento, porém, eu estava caindo em desespero. Ainda não tínhamos chegado a Buena Village, mas finalmente descobri o quanto a situação era grave.

Tudo na Região de Fittoa havia desaparecido.

Fiquei perplexo. Totalmente perplexo. Mas que diabos era isso? Onde Buena Village tinha ido parar? Onde estavam Zenith e Lilia? A Cidadela de Roa também havia desaparecido. Isso significava que até Rudeus sumiu?

Isso não pode ser verdade.

Em algum momento, caí de joelhos graças ao choque e angústia. As palavras “foram eliminados por uma armadilha de teletransporte” ecoaram dentro da minha mente.

Foi uma frase que ouvi mais de uma vez em meus dias de aventureiro, quando ainda estava explorando labirintos. As armadilhas de teletransporte eram a única coisa com a qual deveria estar sempre atento. Elas acabavam dividindo grupos e deixando todos perdidos, sem saber a localização uns dos outros. Acionar uma era uma ideia muito, muito ruim. Ouvi inúmeras histórias de times veteranos que foram totalmente eliminados por causa dessas coisas. Uma vez, vi um homem atordoado contando como todo o seu grupo havia pisado em um círculo de teletransporte. Ele conseguiu se juntar a outro aventureiro e lutar para sair do labirinto, apenas para descobrir que todos os seus amigos morreram.

Mas por que isso aconteceu? Logo conosco?

— Papai… ainda não chegamos em casa?

A voz de Norn me trouxe de volta à realidade. Sua mãozinha estava segurando minha manga.

Sem dizer uma palavra, a abracei com força.

— O que foi, Papai?

Isso mesmo. Eu sou o pai dela.

A garota ainda não entendia o que havia acontecido. Mas não estava preocupada, porque eu estava com ela. Eu era o pai dela. Agora eu era o pai, droga! Não poderia mostrar nenhuma fraqueza. Tive que permanecer calmo e confiante. Ia ficar tudo bem.

O teletransporte era uma armadilha perigosa e eu não fazia ideia do por que disso ter acontecido. Mas estava vivo, não estava? Zenith era uma ex-aventureira de pleno direito. E embora Lilia não fosse tão ágil quanto costumava ser antes do envenenamento, ainda sabia como usar uma espada.

Aisha, porém…

Pense, droga. Lilia estava com ela naquele momento?

Não conseguia lembrar… Mas não poderia perder as esperanças.

Por enquanto, só teria que acreditar que Lilia estava segurando a mão da filha quando aquela luz nos atingiu.


Devolvi o cavalo para a Guilda na cidade mais próxima e comecei a reunir informações.

Parecia que a calamidade mágica realmente havia afetado toda a Região de Fittoa. Philip e Sauros estavam desaparecidos, então o irmão mais velho de Philip estava trabalhando como lorde interino. No entanto, ele estava sob intensa pressão política para assumir a responsabilidade pelo desastre. Pelo que parecia, estava prestes a ser destituído de sua posição. Toda a energia do homem estava atualmente dedicada à sua proteção, então não havia tomado quaisquer medidas reais para lidar com a calamidade em si. Em vez de cuidar de seu povo, o bastardo egoísta estava tentando salvar sua própria pele. E ainda perguntavam por que eu não suportava nobres Asuranos.

No decorrer de minhas investigações, conheci um velho chamado Alphonse. Ele se apresentou como um mordomo que estava a serviço de Philip antes do desastre. Sua lealdade à família Boreas Greyrat era aparentemente inabalável, apesar das circunstâncias atuais. Estava montando um campo de refugiados, usando o dinheiro do próprio bolso, e queria que eu o ajudasse com as ações.

Quando perguntei por que ele me queria, o velho explicou que Philip às vezes mencionava meu nome. Pelo visto, me considerava “um homem que mostra seu verdadeiro valor em uma crise, mas também tende a criá-las por meio de sua própria falta de visão”. Bem, eu não pedi para ser criticado, mas tanto faz.

Alphonse admitiu que estava um tanto hesitante em me abordar com base nesta questionável “declaração”. Assim que levou em consideração o fato de que eu era o pai de Rudeus, entretanto, decidiu que seria sábio procurar minha ajuda.

Eu tinha ouvido um pouco sobre como as coisas estavam indo em Roa por meio de cartas, mas ainda era bom ver que meu filho era tão bem considerado por alguém com quem provavelmente nem interagia com tanta frequência. Em todo caso, aceitei a oferta de Alphonse com prazer e comecei a trabalhar na mesma hora.

Depois de um mês, fizemos muito progresso.

Alphonse era um homem com muitas conexões. Em apenas algumas semanas, lidou com todos os preparativos e reuniu trabalhadores suficientes para colocar o campo de refugiados em funcionamento. Foi um feito realmente impressionante.

De minha parte, recrutei a maioria dos refugiados mais jovens que se reuniram na área para uma organização chamada Esquadrão de Busca e Resgate de Fittoa. Viajamos por todo o país, ajudando pessoas que foram desalojadas pela calamidade. Claro, meu objetivo principal não era salvar um bando de estranhos. Antes de mais nada, estava procurando minha família.

Neste ponto, a luta pelo poder na capital real aparentemente se resolveu, já que Alphonse começou a receber fundos de recuperação de desastres do governo. Deixei um bilhete no campo de refugiados para Rudeus e parti com meu esquadrão para o País Sagrado de Millis, onde ficava a sede da Guilda dos Aventureiros. Asura e Millis eram dois dos maiores países do mundo. Achei que as informações que procurava deveriam estar em um ou outro. Parecia ser a abordagem lógica.

Honestamente, pensei que encontraria todo mundo em breve.

Mas que otimismo mais cego.


Meus primeiros seis meses em Millis foram bem produtivos.

No final das contas, um grande número de Fittoanos foi teletransportado para este continente, e nós saímos resgatando cada um deles. Alguns já tinham sido vendidos como escravos, e libertar à força a “propriedade” de outra pessoa era contra a lei em Millis. Mas a ideia de alguém vendendo Zenith ou Lilia como escrava me deixou tão furioso que nunca hesitei em infringir essa lei. Me apeguei teimosamente a uma política de resgatar todos que encontramos.

Depois de decidir esse curso de ação, pedi ajuda à família de Zenith. Acontece que minha esposa era de uma casa nobre com algum poder real em Millis. Eram conhecidos por produzir muitos cavaleiros famosos, entre outras coisas. Com a ajuda deles, comecei a preparar o terreno para libertar todos os escravos que localizamos.

No final das contas, nossos esforços foram frutíferos. Nos movemos rapidamente e encontramos muitos Fittoanos perdidos e sem um tostão em pouco tempo. Depois de retirá-los de qualquer situação difícil em que tivessem ficado, fornecemos fundos para viagens aos capazes de voltar para casa, recrutamos todos os voluntários dispostos em nosso esquadrão e encontramos lugares para as crianças e idosos refugiados ficarem.

Libertar os escravos exigia mais esforço, é claro. Pagávamos pela liberdade de tantos quanto podíamos. Quando isso não era uma opção, pedíamos para que a família de Zenith pressionasse. E quando isso não funcionava, procurávamos chances de tomá-los de seus donos.

Naturalmente, tomar escravos à força não agradava a nobreza Millis como um todo. Alguns até enviaram suas forças pessoais atrás de nós. Sofremos com numerosas fatalidades.

Ainda assim, eu não iria parar. Minha moral estava alta. Estava salvando pessoas desesperadas que precisavam de ajuda. E, por esse motivo, meu time ficou comigo apesar do perigo.

Usei tudo o que tinha – o nome Greyrat, minha conexão com a família de Zenith e minha reputação como um ex-aventureiro – para encontrar maneiras de contornar os obstáculos em nosso caminho. Mas não importa o quanto trabalhamos, não importa o quão exaustivamente eu tenha pesquisado, não conseguia encontrar nenhuma informação sobre Zenith ou Lilia.

Inferno, eu não tinha ouvido nada sequer sobre Rudeus. Aquele menino se destacava como uma pedra no sapato em todos os lugares que ia, mas agora parecia que tinha sumido da face do planeta.


Antes que eu percebesse, um ano inteiro havia se passado.

A essa altura, ouvíamos falar cada vez menos dos Fittoanos teletransportados. Provavelmente tínhamos encontrado quase todos que iríamos encontrar no Continente Millis e nas regiões ao sul do Continente Central. Ainda havia algumas aldeias menores que não havíamos revistado e vários escravos que não havíamos conseguido libertar, mas era só isso. Meu esquadrão estava trabalhando sistematicamente para libertar os escravos restantes. Assim que colocamos nossas mãos sobre eles, o resto foi bastante simples.

Eu sabia que era uma abordagem violenta. Sabia que cada escravo que libertamos despertava mais ódio da nobreza local. E mesmo assim continuei. Às vezes, isso fazia com que meu pessoal fosse atacado na rua. Às vezes, ficavam gravemente feridos ou eram até mesmo assassinados. E alguns membros do esquadrão me culparam por isso.

Talvez estivessem certos. Talvez eu pudesse ter evitado que as coisas ficassem tão feias.

Mas não importa o que dissessem, não mudaria minha abordagem neste ponto. Estava muito comprometido com o caminho que escolhi.

Começamos a receber mais notícias sobre Fittoanos mortos do que vivos. Tinha havido mais más notícias do que boas desde o início, mas a proporção só piorava.

Para ser franco, as pessoas que encontramos vivas eram uma minoria. Etos, Chloe, Laws, Bonnie, Lane, Marion, Monty… já estavam todos mortos. Cada vez que ficava sabendo de outro conhecido morto, meu sangue gelava.

Às vezes, os membros do esquadrão caíam em lágrimas com as últimas notícias terríveis. Mais de uma vez, chegamos um pouco tarde demais para salvar alguém, e um amigo ou membro da família descontava sua raiva em mim, exigindo saber por que levei tanto tempo para nos levar até aquela cidade ou vila.

Havia o risco de ficarmos presos em algum lugar se não planejássemos nossos movimentos com cuidado, portanto, nunca achei que minha estratégia estivesse errada. Sob minha liderança, conseguimos salvar vários milhares de refugiados.

Claro, se tivesse conseguido falar com os membros do meu antigo grupo, o Presas do Lobo Negro, poderiam ter nos ajudado procurado também no Continente Demônio e no Continente Begaritt. Mas só consegui entrar em contato com um deles, e o cara desapareceu logo após algumas breves conversas. Eu não tinha ideia do que ele estava fazendo.

Não iria dizer que era um sem coração nem nada do tipo. Para começo de conversa, nunca nos demos lá muito bem, e houve uma briga e tanto quando eu debandei. Depois da maneira como me despedi, não seria surpreendente se virassem as costas para mim.

Afinal de contas, por que tive que abandonar as coisas deixando um gosto tão azedo em tudo? Fui um moleque tão estúpido.

Mas não fazia mais sentido pensar naquilo.


Um ano e meio se passou desde “O Incidente de Deslocamento”.

Atualmente, o álcool era a única coisa que me fazia continuar. Começava a beber pela manhã e não parava mesmo à noite. Eu, literalmente, não ficava sóbrio nunca.

Sabia que deveria me conter. Mas sempre que o efeito da bebida passava, os mesmos pensamentos voltavam a surgir na minha cabeça.

Começava a pensar que minha família estava morta.

Pensaria nas maneiras como poderiam ter morrido. Ficava me questionando sobre o que havia acontecido com seus corpos. Não conseguia pensar em mais nada.

Alguém poderia me culpar? Até aquele meu filho absurdamente talentoso havia desaparecido sem deixar vestígios. Eu não queria acreditar. Realmente não queria. Mas era bem provável que ele estivesse morto. Todos provavelmente morreram em algum momento dos últimos dezoito meses – com lágrimas escorrendo pelo rosto, esperando que eu os resgatasse.

Cada vez que imaginava isso, pensava que poderia enlouquecer. Afinal de contas, o que diabos eu estava fazendo? Por que perdi todo esse tempo ajudando um bando de estranhos? Deveria ter ido direto para as partes mais perigosas do mundo, desde o começo. Poderia ter, de alguma forma, conseguido, mesmo se estivesse sozinho.

Fiz a escolha errada e acabei perdendo minha família. As pessoas de quem mais gostava foram roubadas de mim, e eu nunca poderia recuperá-las.

É claro que não queria acreditar nisso.

Então bebia. Quando estava bêbado, pelo menos, sentia algo parecido com felicidade.

Na verdade eu já não estava mais nem trabalhando direito.

Em mais seis meses, estaríamos iniciando uma operação para repatriar muitos dos Fittoanos que encontramos no Continente Millis. Eram idosos, mulheres, crianças e pessoas tão doentes que mal podiam se mover. Mesmo se lhes déssemos dinheiro, não havia garantia de que poderiam suportar uma longa jornada. Mas todos queriam voltar para sua terra natal, então meu esquadrão os escoltaria de volta ao Reino Asura.

O planejamento estava avançando de forma constante. Mas, apesar de meu papel como capitão do time, faltei às reuniões e passei meus dias bebendo.

Permaneceria em Millis após a operação, junto com alguns outros membros importantes do Esquadrão de Busca e Resgate. Depois de tudo feito, entretanto, nossas atividades seriam drasticamente reduzidas. Em outras palavras, iriam interromper a busca por vítimas depois de apenas dois anos. Parecia muito cedo… mas, ao mesmo tempo, eu tinha que admitir que entendia a lógica por trás disso. Continuar procurando pelo interior, a esta altura, não passaria de desperdício de dinheiro.

No final, não consegui encontrar um único membro da minha família.

Fracassei.

Agora que estava bêbado o tempo todo, os outros membros do esquadrão começaram a manter distância de mim. Mas não poderia culpar nenhum deles. Ninguém quer perder tempo lidando com algum idiota bêbado.

Porém, havia algumas exceções, e Norn era uma delas.

— Papai! Sabia? Adivinha o que aconteceu quando eu estava lá fora!

Não importa o quão bêbado eu estivesse, Norn sempre conversaria alegremente comigo. Esta doce garotinha era tudo o que restava da minha família.

Certo. Havia uma boa razão para eu não ter ido para o Continente Demônio ou Begaritt, não é? Eu tinha que cuidar de Norn. O que deveria fazer, abandonar minha filha de quatro anos? Não havia nenhuma maneira de deixá-la para trás e vagar para algum lugar onde pudesse morrer facilmente.

— Hm? O que foi, Norn? Aconteceu alguma coisa?

— Sim! Quase caí na rua lá fora, mas um careca grandalhão me ajudou! E ele me deu isso aqui! Olha só!

Com um grande sorriso, Norn me mostrou a maçã vermelha brilhante em suas mãos. Com certeza parecia fresca e suculenta.

— Ah, é? Bem, sorte sua. Você disse “obrigada” como uma boa menina?

— Sim! Quando eu disse obrigada, o careca me deu um tapinha na cabeça!

— Sério? Acho que você encontrou uma pessoa muito legal. Mas não deve chamá-lo de “careca”, viu? Alguns caras são meio sensíveis com relação ao cabelo.

Conversar com minha filha era sempre muito divertido. Norn era a luz da minha vida. Se alguém tentasse machucá-la, acabaria com todos, mesmo se isso acabasse começando uma briga com o Papa da Igreja Millis.

— Capitão! Temos um problema!

Quando estava começando a me sentir um pouco melhor, um dos meus homens irrompeu em meu quarto. Não poderia dizer que fiquei satisfeito ao ter uma conversa com minha filha interrompida assim. Poderia ter jogado o cara para fora com um rugido de raiva, mas Norn ainda estava comigo. Um pouco de orgulho e mesquinhez manteve minha voz calma.

— O que está acontecendo?

— Os caras que trabalharam hoje acabaram de ser atacados!

— O quê, sério?

Agora, quem iria fazer uma coisa dessas?

Que pergunta idiota. Com certeza eram aqueles aristocratas idiotas de novo. Havíamos explicado centenas de vezes que residentes inocentes do Reino Asura foram escravizados como resultado de uma calamidade mágica, mas os canalhas teimavam e se recusavam a entregá-los. Pelo que me lembrava, planejávamos resgatar um escravo de algum deles.

— Certo! Pessoal, coloquem seus equipamentos! Vamos! — Corri para fora do meu quarto e chamei os lutadores do esquadrão. Nenhum deles era um guerreiro lá muito experiente, mas também não era como se estivéssemos indo contra um bando de exploradores de labirinto veteranos. Com meu pessoal seguindo de perto, fui para o lugar onde a luta havia começado.

A caminhada não foi longa. Tinham atacado o prédio ao lado – um dos armazéns do Esquadrão de Busca e Resgate, um lugar em que costumávamos guardar roupas e suprimentos para nosso pessoal. Se nossos inimigos tivessem encontrado isso, teríamos um problema em nossas mãos. Talvez tivéssemos que mudar nossa base de operações.

— Há apenas um deles, mas ele é durão. Tenha cuidado, Paul.

— Ele é um espadachim ou o quê?

— Não, é um mago. Parece uma criança, mas está com o rosto escondido.

Um garoto mago? Eu sabia que meu pessoal era amador, mas eram adultos em boa forma, e ele derrubou um monte deles. Este “garoto” provavelmente era um hobbit, se quisessem saber minha opinião. Estavam sempre se aproveitando de sua aparência infantil para enganar as pessoas.

Então um mago hobbit veterano… hmm. Será que poderia derrotá-lo nessas condições? Estava confiante de que poderia lidar com um bandido ou até três deles, não importa o quão bêbado estivesse, mas…

Nah, sem problemas. Eu tenho muitos truques na manga.

Balançando a cabeça, entrei no armazém.


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GaelD
Membro
Gael
5 dias atrás

Q merda em. No final ele apenas continiou estagnado no nivel avançado. Cara ele poderia deixar a filha dlee com a familia dele ou a de zenith srria bom.
Por esse cara é muito o Ruijerd

Lucas BuenoD
Membro
Lucas Bueno
11 dias atrás

Caralho que loucura de cap, realmente faz sentido ele ter ficado tão acabado assim, salvou milhares de pessoas mas não foi capaz de achar um único membro da sua família

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