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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 6 – Capítulo 3

O Reino Shirone

O Reino Shirone era um país pequeno, mas antigo, com uma história de duzentos anos. Isso era notável porque todos os países humanos, exceto o Reino Asura e o País Sagrado de Millis, foram dizimados na guerra há quatrocentos anos, então, dos novos países, era o mais antigo.

A parte sul do Continente Central estava repleta de conflitos, até que o Reino Rei Dragão assumiu o controle de toda a região há cerca de trezentos anos. Mesmo na atualidade, a terra mais ao norte continuava sendo uma vasta região banhada por discórdia. O Reino Shirone ficava perto da Zona de Conflito. Dada sua localização precária, como esse reino resistiu por cerca de duzentos anos? A resposta estava na aliança que formou com o Reino Rei Dragão logo após ser fundado – uma aliança apenas em nome. Assim como os outros dois países que tivemos que atravessar para chegar ao local, o Reino Shirone era basicamente um estado vassalo do Reino Rei Dragão.

Dito isso, eu tinha muito pouco interesse na política nacional. A única coisa com que me importava era o fato de Roxy estar neste país. Me perguntei se minha jovem – espera, não. Ela não era realmente jovem, era? De qualquer forma, me perguntei se minha adorável e desajeitada mestra ainda continuava em seu cargo de maga da corte. Ela disse que o príncipe estava causando problemas, mas eu tinha certeza de que Roxy poderia lidar com isso.

Já fazia tanto tempo. Só queria vê-la. Queria vê-la e dizer que eu estava bem. Queria contar sobre quando visitei sua cidade natal. Queria que ela me mostrasse uma magia de nível Rei, aquela que tinha mencionado que aprendera a usar. Meu coração disparou de ansiedade enquanto caminhávamos pela estrada em direção à capital.

Ao longo da estrada havia campos de arroz desarticulados e gado pastando. Havia também campos vazios e pastagens cheias de plantas que pareciam trevos. Eu não era muito versado em práticas agrícolas, mas as pessoas deste mundo pareciam estar pensando em como cultivar suas safras.

Embora fosse um estado supostamente vassalo ao Reino Rei Dragão, o Reino Shirone não passava a vibração de uma colônia, ao contrário dos dois países pelos quais tínhamos passado antes. Talvez fosse porque estava muito longe, ou porque estava sendo usado como um amortecedor entre a zona de conflito e os outros países. De qualquer forma, foi essa a paisagem que nos acompanhou ao chegarmos à capital, Latakia.

Neste mundo, a maioria das grandes cidades era cercada por muros protetores, incluindo Roa e Millishion. Mesmo as cidades maiores do Reino Kikka e do Reino Sanakia tinham muros ao redor delas. O mesmo acontecia com a capital do Reino Shirone, que tinha um muro robusto e imponente revestindo todo seu perímetro.

Parando para pensar, parecia com os do Continente Demônio. Na verdade, como aquele continente tinha uma concentração tão alta de monstros poderosos, suas defesas eram mais completas. Não havia uma única cidade que pudesse se igualar às enormes muralhas naturais que cercavam a cidade de Rikarisu. Cada cidade do continente utilizava as habilidades especiais das tribos que viviam nas proximidades para erguer muros fortes para se proteger. Até mesmo pequenos assentamentos impulsionavam extermínios diários às feras próximas de seus vilarejos. Em comparação, os muros do Continente Central pareciam existir apenas para exibição.

Passamos por eles e entramos na cidade, onde estacionamos nossa carruagem em um estábulo. Existiam muitos labirintos nas proximidades da cidade, então havia muitos aventureiros de aparência durona ao redor, muitos dos quais se engajavam principalmente em exploração de masmorras. Era assim que Paul e Ghislaine viveram no passado, e até mesmo Roxy já tinha feito isso por algum tempo. Eu tinha certeza que era Paul quem disse que exploradores de masmorra eram incrivelmente habilidosos.

Havia muitos labirintos espalhados por Shirone, e qualquer um poderia ganhar uma quantia absurda de dinheiro apenas explorando seus pisos superiores. Provavelmente havia um punhado de aventureiros de rank S entre os exploradores de masmorras que almejavam saques mais lucrativos, e nós nos misturamos com aquela multidão enquanto viajávamos pela estrada principal e selecionávamos uma pousada aleatória para ficar. Como de costume, havia algumas feitas especificamente para aventureiros de rank D. Mesmo as estalagens mais simples desta cidade eram um pouco caras, talvez porque houvesse tantos aventureiros de rank elevado por perto.

Em comparação com as acomodações de rank D do Continente Demônio, a qualidade das acomodações no Continente Central não era nada ruim. Na verdade, eram boas o suficiente para que aceitássemos quartos destinados a aventureiros de rank inferior, mas tínhamos dinheiro suficiente para não nos preocupar com isso. Muito pelo contrário. Na verdade, poderíamos ter escolhido acomodações ainda melhores, se quiséssemos.

Eu gostaria de ficar em um quarto melhor, pensei comigo mesmo em certo momento, mas embora tivéssemos dinheiro sobrando, parecia ser desperdício. Talvez eu realmente fosse um muquirana.

— Muito bem! Agora que chegamos ao Reino Shirone, vamos conduzir nossa reunião de estratégia — anunciei aos dois que estavam na minha frente. Os aplausos apáticos dos dois me indicou que já estavam bastante acostumados com isso. — Agora, com o que devemos começar?

— Vamos encontrar sua professora, certo?

A pergunta de Eris me lembrou do que o Deus Homem disse. “O nome dela é Aisha Greyrat. Atualmente, está detida no Reino Shirone. Quando os eventos de sua visão acontecerem, você estará lá, a encontrará e a salvará. Mas não pode deixar que descubram seu nome. Chame a si mesmo de Mestre do Canil do Fim da Linha e pergunte os detalhes da situação para ela. Em seguida, envie uma carta a um conhecido no Palácio Real de Shirone. Se fizer isso, Lilia e Aisha serão salvas daquele palácio.” Ou algo do tipo.

Se eu confiasse cegamente em seu conselho, só teria que ir até o beco que vi na visão e já desencadearia o evento. Achei que seria bom levar Eris e Ruijerd juntos. Afinal, o Deus Homem não disse nada sobre ir sozinho desta vez.

Continuei pensando. Se acreditasse no Deus Homem, então Lilia e Aisha estavam sendo detidas no Palácio Real de Shirone. Mas, na minha visão, encontrei Aisha do lado de fora. Isso significava que ela de alguma forma conseguiu escapar do palácio. Lembrei-me do olhar dos dois homens que surgiram atrás dela na minha visão. Já tinha visto inúmeros deles pela cidade; era o traje padrão dos soldados.

Em outras palavras, Aisha seria perseguida e então capturada pelos soldados do palácio. Foi então que eu entrei em cena. Se fizesse a abordagem mais óbvia para salvá-la, arriscaria fazer do palácio um inimigo, e deve ser por isso que o Deus Homem disse para não usar meu nome. Seria melhor se também escondesse o meu rosto.

Enquanto os cavaleiros estivessem ocupados rastreando minha identidade falsa, poderia enviar uma carta para minha conhecida no palácio (Roxy) e pedir ajuda. Se ainda fosse uma maga da corte, suas palavras deveriam ter algum poder. Eu já devia muito a ela. E não queria aparecer com uma mão na frente e outra atrás à sua porta, como uma criança perdida – embora ficaria feliz se nossas posições fossem invertidas.

Entretanto, era do Deus Homem que estávamos falando. Era bem possível que ele estivesse tramando algo. Se eu contar muito, vai estragar minha diversão, dissera. Em outras palavras, esperava que algo interessante acontecesse e provavelmente não havia nada que eu pudesse fazer para evitar.

No entanto, ele também disse: Espero que da próxima vez confie em mim. Com sorte, mesmo se houvesse surpresas desagradáveis reservadas para mim, não envolveriam coisas como ferimentos graves ou a morte de alguém próximo.

Mas tudo isso era presumindo que eu confiaria naquele babaca. Ele pode estar apenas tentando me enganar desta vez, sem se importar com o que aconteceria depois. Mesmo assim, não havia sentido em oferecer resistência desnecessária que poderia tornar tudo catastroficamente pior. Eu não gostava de sentir que estava dançando nas mãos dele de novo, mas parecia que não tinha escolha a não ser ouvir.

Meus principais objetivos agora eram procurar Aisha, usar um nome falso e enviar uma carta para Roxy. Dito isso, como convenceria meus companheiros? A carta não seria um problema, mas eu ainda precisava de um bom motivo para procurar nos becos enquanto usava um nome falso. Desde que partimos de Millishion, estavam garantindo de ao menos um deles estar sempre me acompanhando, mesmo em nosso dias de folga. Pelo visto, ainda estavam preocupados com o quão deprimido fiquei depois do meu encontro com Paul.

Me senti mal por ter os preocupado, mas havia uma grande probabilidade de acabarmos enfrentando alguns soldados em nossa busca para encontrar Aisha. Nem Eris nem Ruijerd eram bons em atuação. Não importava quem dos dois estivesse junto, parecia provável que depois algo voltaria para nos assombrar. Nunca é bom desafiar o karma.

Então… o que deveria fazer?

— Rudeus, com o que você está preocupado?

Hm… bem, é como dizem, melhor agir agora e se preocupar depois, raciocinei comigo mesmo.

— Na verdade, gostaria que escondêssemos nossos nomes enquanto estivermos aqui.

— Vamos começar a fingir de novo? Por quê?

— Umm… — Mesmo sendo difícil manter silêncio a respeito do Deus Homem, não havia razão para esconder o resto de sua história. — Na verdade, ouvi de uma fonte que membros da minha família foram levados cativos em algum lugar deste país.

— Sério? — perguntou Eris.

— Ah — resmungou Ruijerd.

Nenhum dos dois perguntou de quem ou de onde obtive essas informações, embora um ou outro tenha estado sempre me fazendo companhia enquanto buscava por mais notícias. Mas eu gostaria que não me pressionassem a respeito disso.

— Ah, já entendi! — exclamou Eris. — Então ficarão em alerta se ouvirem o nome Greyrat!

— Isso aí.

— Então, quem é a família?

— Lilia e Aisha. Nossa ex-empregada e minha irmã mais nova. — Na verdade, agora que pensei sobre isso, como deveria chamar Lilia, afinal? Ela não era realmente minha madrasta.

— Sua irmãzinha? Aquela toda cheia de si que encontramos em Millishion?

— Tenho mais uma.

— Ahã… — Eris parecia desanimada enquanto torcia os lábios.

Então Norn parecia cheia de si? Não achei isso, mas Eris claramente teve uma impressão diferente. Me perguntei de que lado eu ficaria se Eris a socasse…

A garota bufou, triunfante.

— Bem, se é isso que está acontecendo, sem queixas da minha parte! Impressionante, Rudeus. Você realmente pensou em tudo. — Foi o que ela disse, mas na verdade eu só estava sendo guiado pelo Deus Homem. — Então, vamos esconder nossos nomes. Devemos usar alguns falsos?

— Sim, e seria melhor usarmos alguns comuns — raciocinei.

— Como assim?

— Nomes falsos supostamente são melhores se não se destacarem.

— Quais são os nomes mais famosos por aqui? — perguntou Eris em voz alta.

— Enquanto estávamos viajando, ouvi muito os nomes Shyna e Reidar — disse Ruijerd.

Shyna, Cavaleira do Deus do Norte, era uma cavaleira que aparecia com frequência na Epopéia do Deus do Norte. Ela era uma dos três cavaleiros do Deus do Norte e costumava ser uma das companheiras do Deus. Não importava o quão brutal fosse a batalha, sempre voltaria para casa, quase como se fosse imortal. A história provavelmente era fictícia, mas ainda havia muitos que batizaram suas crianças de Shyna na esperança de que o nome pudesse impedir que morressem em algum acidente estranho.

Reidar era o nome de um Deus da Água. Era um gênio em contra-ataques, podia congelar o oceano e andar sobre ele, e foi o herói que derrotou o Rei Dragão do Mar. O nome daquele homem lendário foi transmitido de geração em geração. Cada novo líder do Estilo Deus da Água o herdaria: os homens seriam chamados de Reidar enquanto as mulheres seriam chamadas de Reida. Era um nome bastante comum.

Os dois estavam pensando muito nos nomes falsos que usariam. Fiquei grato por isso. Agora também deveria pensar cuidadosamente no que eu usaria.

— Rudeus, qual você vai usar?

— Bem, vejamos. Nesse caso, é melhor que saibam logo de cara que é um nome falso.

— Como assim?

— Não devem conhecer nossos nomes ou rostos. E se usarmos um nome chamativo pode acabar os confundindo — falei, citando uma linha de um anime super antigo que já tinha visto há muito tempo. Para ser honesto, realmente não importava, desde que os nomes fossem falsos.

— Então devemos escolher um nome legal.

Um nome legal, hein?

— Então tá bom. Vou me chamar de Cavaleiro da Lua Sombria.

— Cavaleiro da Lua Sombria?! — As bochechas de Eris coraram e seus olhos brilharam.

Era um personagem de Kamen Rider que amava haikus e usava o que parecia ser um uniforme cafona. Se alguém assim aparecesse na frente de Eris, ela provavelmente o espancaria.

— Eu também! Ah, espera, não podemos usar o mesmo nome, um…

Ela realmente gostou tanto assim? Nesse caso, podíamos muito bem adotar o tema de cavaleiros.

— Então tá bom. Eris, você pode ser a Espada da Lua Sombria e Ruijerd pode ser a Lança da Lua Sombria. Então nós três estaremos combinando.

— Muito bom, combinado! Vamos usar isso!

Achei que Ruijerd ficaria constrangido com esse nome, mas não pareceu muito incomodado. Paul disse que Aqua Heartia era um nome legal. Pelo visto, o conceito de “nerds” não existia neste mundo.

— Mas você não parece um cavaleiro, Rudeus — murmurou Eris, depois que eu pensei que tínhamos resolvido tudo.

Não pareço um cavaleiro, hein? Será que devia me chamar de Mago Maligno ou General Ômega? Então, novamente, não fazia ideia se ia mesmo usar o nome. Se não funcionasse, poderia sempre recorrer ao apelido de Mestre do Canil.

— Tá bom. Então já escolhemos nossos nomes falsos.

— E o que faremos?

— Por enquanto, vou enviar uma carta para Roxy, lá no palácio real. Vamos gastar nosso tempo coletando informações até que eu obtenha uma resposta — declarei.


Fui ao mercado no dia seguinte, comprei alguns artigos de papelaria e um envelope e comecei a escrever minha carta para Roxy. Comecei com saudações rotineiras, perguntei sobre seu bem-estar e, em seguida, informei a ela que, embora tivesse sido teletransportado, estava seguro. Mencionei que agora estava na capital de Shirone e queria a encontrar. Na esperança de despertar sua preocupação e ansiedade, mencionei casualmente como todos de Buena Village estavam desaparecidos e como ninguém havia sido encontrado, apesar da busca contínua. Em seguida, abordei o assunto de nossa empregada, Lilia, e encerrei enfatizando uma última vez (porque isso era importante) o quanto estava preocupado com minha família. Também estruturei a carta de forma que a primeira letra de cada linha, se lida verticalmente, dissesse: “ME AJUDA”. Com tudo o que incluí em minha carta, tinha certeza de que Roxy entenderia o que eu queria dizer.

A selei com cera, e usei o pingente que ganhei dela para deixar uma marca. Por um momento considerei enviar a carta sob um nome falso, mas ficaria em apuros se ela acabasse pensando: “Mas que diabos é isso?” Então assinei: Seu Amado Pupilo Rudeus Greyrat, Que Só Quer Cuidar de Você.

Honestamente, Roxy provavelmente reconheceria minha caligrafia mesmo se eu usasse um nome falso, mas também era típico dela ser descuidada quando se tratava de algo importante. Eu não saberia se a carta chegaria ao destino, e também não saberia quando estaria em suas mãos. Roxy de Schrödinger. Imaginei Roxy sentada em uma caixa que dizia “por favor, me pegue”. Aww. Pelo amor da Deusa (Roxy), ela devia virar a caixa e se esconder dentro dela.

De qualquer forma. Tirando isso, não havia mal nenhum em garantir que ela lesse o conteúdo, deixando meu nome verdadeiro no envelope.

— Tudo bem, vou enviar esta carta.

— Tá bem.

— Tudo bem, tome cuidado!

Os dois acenaram para mim, Eris sempre mostrando um sorriso radiante no rosto. Que decepção. Eu tinha certeza absoluta de que um dos dois iria me seguir.

— Eh? O que vocês dois vão fazer?

— Pretendo perguntar sobre sua irmã pela cidade — disse Eris.

Isso era bom – falei que iríamos procurar informações. Afinal, informação era poder, e nunca faria mal tentar reunir tanta quanto pudéssemos. Na verdade, me senti um pouco envergonhado com o quão relaxado havia me tornado, tentando passar para a próxima etapa sem fazer isso primeiro.

— Então tá bom. Vou procurar algumas informações também, assim que terminar de enviar esta carta. — Com isso, deixei os dois para trás.

Fui em direção à Guilda dos Aventureiros para enviar a carta. Eu pretendia começar a procurar informações depois, mas, em poucos minutos, percebi que estava sendo seguido. No início, pensei que era Ruijerd me monitorando, provavelmente pensando que eu poderia ter problemas se ficasse por conta própria. Mas, depois das últimas coisas que passamos, isso não fazia sentido algum. Seria mais fácil ele me acompanhar em vez de me seguir. Além disso, sua capacidade de seguir as pessoas era incomparável. Se realmente quisesse me seguir, eu jamais o perceberia.

E também não achei que fosse Eris. Ela era péssima em seguir as pessoas. Eu teria notado no segundo em que saísse da pousada, e ela preferia ficar bem atrás de mim e em silêncio em vez de se esconder nas sombras, de qualquer forma.

Então quem era? Havia alguém neste país que guardava rancor de mim…? Não consegui pensar em nenhuma alternativa. Além disso, tinha acabado de chegar ao local. Era provável que eu causasse problemas no futuro, mas ainda não tinha incomodado ninguém.

Isso estava conectado a algo que fiz no Continente Demônio? Alguém realmente estaria me seguindo por vingança? Improvável. Mas talvez fosse um sobrevivente do grupo de contrabando de Porto Zant que me avistou por acaso. Talvez estivesse planejando aproveitar a oportunidade para acabar comigo.

Não, a explicação mais provável era que não tivesse absolutamente nenhuma conexão comigo.

Quando virei a esquina, peguei um vislumbre de uma pequena figura se escondendo nas sombras. Era uma criança. Talvez uma das crianças da vizinhança tenha decidido fingir que eu era um cara mau e me seguir. Ou talvez fosse um órfão que planejava roubar minha carteira. Se me escondesse em algum lugar, ele poderia entrar em pânico e me procurar, e eu poderia pular e assustá-lo.

Não, espera. Este mundo tinha raças como hobbits, que só pareciam pequenos. Não seria bom baixar a guarda.

Mas decidi deixar o perseguidor escapar. Com isso em mente, virei à direita em dois cruzamentos e entrei em um beco ligeiramente estreito.

— Hm…?

Tive a súbita sensação de que algo estava errado, uma sensação de que havia algo preso no fundo da minha garganta.

Deixando isso de lado, usei magia para criar uma parede de terra. Uma parede de três metros se ergueu, fechando o beco atrás de mim. Ouvi passos apressados do outro lado enquanto meu perseguidor corria em direção à parede, seguido pelo som de algo batendo fracamente contra ela.

Eu tinha ido bem fundo nos becos sinuosos para me livrar daquela criança. Agora, qual seria o caminho para voltar à estrada principal? Me senti como uma criança perdida. Ao contrário da divisão organizada de Millishion, até mesmo as principais vias públicas desta cidade não seguiam um padrão. Mesmo alguém com um bom senso de direção, como eu, estava começando a se perder.

Achei que, se fosse preciso, sempre poderia usar magia para subir em um telhado. Espera. Espera aí – este beco era igual ao da visão que o Deus Homem me deu.

— Ah!

Finalmente entendi o sentimento estranho de alguns momentos atrás. Era um déjà vu.

Girando nos calcanhares, corri de volta para o beco sinuoso. Dei a volta em um entroncamento, mas consegui refazer meus passos até a parede de terra que criei.

— Não, pareee! — Ouvi alguém gritando. — Devolva!

Coloquei minha mão contra a estrutura sólida e canalizei minha mana nela. Usando magia da terra, enfraqueci a composição da parede enquanto simultaneamente utilizava magia do vento para desencadear uma onda de choque. Com um estrondo enorme, a coisa toda desmoronou e caiu.

Diante de mim estava a visão que o Deus Homem me mostrou. Um soldado agarrou rudemente a mão de uma garotinha, enquanto outro segurava um papel que havia tomado dela, rasgando-o em pedaços.

— Isso é para o meu pai! Não rasgue isso! — gritou a garota.

Em meio ao eco de seus protestos, os soldados olharam em minha direção, confusos.

— Q-quem diabos é você…?

A garota tinha um rosto que lembrava o de Lilia, com o cabelo castanho de Paul preso em um rabo de cavalo. Ela estava vestindo uma roupa folgada de empregada. Seu rosto, que normalmente deveria revelar felicidade e alegria, estava contorcido com lágrimas e ranho escorrendo de seu nariz.

Os soldados estavam olhando para ela com olhares obscenos em seus rostos. Espera, não. Não, isso não estava certo. Pareciam sentir pena dela. Estavam fazendo isso por dever, e não porque queriam?

— Quem é você?! Diga o seu nome!

— Eu sou o… — Quase disse “irmão dessa garota”, mas me contive. Não devia revelar meu nome real. — Uh… Eu sou o Cavaleiro da Lua Sombria!

— Que parte de você é um cavaleiro? Tá na cara que você é um mago.

— Ugh…

Droga! Da próxima vez, eu definitivamente iria de Mago Maligno!

— Escuta, garoto. É bom que você queira bancar o herói, mas somos soldados do palácio. Essa garotinha se perdeu, então viemos acompanhá-la até em casa.

Estava na cara que me consideravam nada além de uma criança travessa. Eu tinha certeza de que estavam mentindo sobre suas intenções, mas havia uma expressão preocupada no rosto do outro soldado enquanto ele olhava para Aisha, que ainda estava soluçando. O que quer que estivesse acontecendo no palácio para resultar na detenção de Lilia e Aisha, não significava necessariamente que os soldados rasos também fossem bandidos. Será que devia tentar dialogar?

— Mas vocês rasgaram a carta que ela estava segurando.

— Ahh… isso é, bem, como posso explicar? Adultos têm seus motivos.

Aham. Os adultos tinham muitos motivos.

— Ah!

Aisha encontrou uma abertura e bateu na mão do soldado. Ela se escondeu atrás de mim e se agarrou à minha cintura, seu rosto coberto de lágrimas e ranho.

— P-por favor, ajuda!

Olhando para sua expressão desamparada e comportamento frenético, de repente não me importei em me tornar ou não inimigo deste reino.

— Doseguhs dook muhledder e dore iddub!

Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia do que ela estava dizendo em meio aos soluços, mas poderia dizer que estava desesperada. Certo. Hora de acabar com isso. Dentro de mim existia um adulto. Não consegui manter a farsa de uma criança brincando de herói.

Sem aviso, levantei minha mão e silenciosamente enviei um canhão de pedra voando para os soldados.

— Mnh! — O homem no qual eu tinha mirado sacou sua espada instantaneamente e interceptou o projétil.

Opa! Essa foi uma reação e tanto! Estilo de Deus da Água, hein? Isso dificulta um pouco as coisas. Mas o Canhão de Pedra não era o único feitiço que eu conhecia. Contanto que mantivesse alguma distância, isso seria fácil.

Mesmo você sendo a primeira pessoa a conseguir evitar meu canhão de pedra, pensei.

— Um mago que pode usar magia sem encantamentos?!

— Então – ele poderia ser aquele?!

— Chame reforços!

— Cert… Aaah!

Criei um fosso sob os pés do soldado que estava prestes a fugir. Whoosh! Ao mesmo tempo, disparei canhões de pedra em rápida sucessão para desviar a atenção do outro soldado. Ao fazer isso, disse a Aisha:

— Vamos sair correndo. Você consegue?

— Ngh, wah… sim…! — Ela assentiu, mesmo em meio aos soluços.

Muito bom, muito bom. Tudo que eu tinha que fazer era deixar o oponente inconsciente e poderíamos escapar.

Piiiiii!

Assim que pensei nisso, um ruído agudo, como o grasnar de um pássaro, ecoou por perto. Surgiu do fosso que eu fiz. Um apito! Aquele soldado estava soprando um apito de alarme!

Momentos depois, vindos de todos os lados – próximos e distantes – outros assobios se juntaram ao coro. Piii, piiiiiiiu!!

Cada um soava um pouco diferente, provavelmente para permitir que as pessoas identificassem suas localizações exatas. Assim que meu oponente viu que eu havia parado de lançar Canhões de Pedra contra ele, gritou:

— Criamos um bloqueio em torno desta área! Mais soldados estarão aqui em um momento. Desista de sua luta inútil e entregue a garota! Não vamos te machucar!

A área estava prestes a ser invadida. No entanto, eu ainda tinha uma carta na manga.

— Aisha! Segura firme!

— Hã?!

— Não solte, não importa o quê!

Apesar de sua confusão, Aisha colocou os braços em volta da minha cintura e se segurou. Peguei seu colarinho com minha mão esquerda e canalizei mana na minha mão direita. Então, conjurei uma lança de terra com a ponta achatada aos meus pés e a usei como uma catapulta para nos lançar ao céu.

— O-o quêêê?!

— Aaaaaaah!

Ah ha ha! Até logo, perdedores!

A propósito, quebrei minhas duas pernas quando pousamos. Com certeza nunca mais voltaria a fazer algo parecido.


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Lucas BuenoD
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Lucas Bueno
1 mês atrás

Carai, Rudeus cabaçou quebrando as duas pernas nesse rolê

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