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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 6 – Capítulo 4

Deus Não Está Aqui

Aisha chorou por um bom tempo depois que escapamos, e também soltou enormes soluços que sacudiram todo o seu corpo. Até mesmo fez xixi nas calças. Mas eu entendia como ela se sentia. Se dois homens assustadores agarrassem meu braço e me ameaçassem, provavelmente também começaria a tremer.

Mas não ficaria assustado ao ponto de fazer xixi nas calças.

Aqueles dois soldados provavelmente foram mais cavalheirescos do que a maioria seria, mas deve ter sido uma experiência terrível para uma criança de cinco ou seis anos. Parecia que, quanto mais jovem, mais escandalosas seriam as diferenças de idade – para os alunos do fundamental, os do ensino médio poderiam ser tão assustadores quanto adultos. E os soldados eram adultos de verdade.

Eu, pelo menos, queria acreditar que era essa a razão para ela estar chorando, e não o estalo das minhas duas pernas quebrando quando pousamos no chão. Rapidamente usei magia de curar para ajustar tudo, mas aquilo com certeza doeu.

Atualmente, estava evitando mencionar seu pequeno acidente enquanto lavava silenciosamente a sua roupa de baixo. Estávamos de volta à pousada. Quando chegamos, Eris e Ruijerd já tinham partido, tinham dito que sairiam em busca de informações, então provavelmente só voltariam de noite.

E, momentos atrás, Aisha tinha tirado sua roupinha de empregada, que era toda folgada. Depois que ela tirou sua calcinha totalmente encharcada, eu a enxuguei com uma toalha umedecida e dei a ela uma das camisas que sempre usava.

Então peguei um balde de madeira, um pouco de sabão e sua calcinha. Meu antigo eu teria ficado incrivelmente excitado com essa situação e o item em minha mão. Digo, é só pensar nisso: Na cama havia uma garotinha chorando, usando apenas uma blusa grande demais para ela. Qualquer pervertido que se encontrasse em tal situação ficaria excitado, certo?

Ah, por que não dei uma calcinha limpa para ela usar? Isso era óbvio – não tinha nenhuma. Fui instruído a nunca tocar nas calcinhas de Eris, afinal de contas, e não importa o quão urgente fosse a situação, não poderia ir contra uma das regras pétreas do Fim da Linha. Simplesmente pensar nisso já era assustador.

De qualquer forma, de volta à história.

Meu coração estava calmo como a superfície parada de um lago. Esqueça a excitação – não havia nem mesmo uma ondulação na água. Estava tudo tão polido e imóvel quanto um espelho. A única coisa que me incomodava eram os soluços intermináveis de Aisha. Será que, quando parei de prestar atenção, virei algum tipo de homem santo? Ou tinha ficado com tanto medo de despertar a ira de Eris que meu monstrinho ficou incapaz de se revelar para as batalhas? Ei, amigão, tudo bem aí embaixo?

Esses pensamentos incômodos me preocuparam enquanto eu lavava e secava a calcinha de linho simples e o uniforme de empregada de Aisha, que pareciam feitos de materiais de alta qualidade. Os entreguei para ela, que em algum momento tinha parado de chorar, e ela as vestiu feliz da vida.

Pensando bem, eu também nunca tive interesse pelos seios de Zenith. Na minha encarnação anterior, nunca me importei muito com coisas como gênero ou idade, mas, aparentemente, para o meu corpo atual, a família estava além dos limites. A vida com certeza era uma coisa misteriosa.


— Meu nome é Aisha Greyrat! Muito obrigada! — Vestida com seu uniforme de empregada, Aisha fez uma reverência para mim. Seu rabo de cavalo balançou com o movimento.

Rabos de cavalo eram algo realmente incrível. Eris ocasionalmente usava um, mas o dela estava mais para aqueles das garotas de clubes esportivos. Aisha, por outro lado, parecia mais uma boneca incrivelmente adorável. Seus olhos estavam injetados de sangue, então, não seria melhor dizer que estava mais para uma boneca amaldiçoada?

— Sir Cavaleiro, se você não tivesse me salvado, eles teriam me arrastado de volta para lá!

Quando ela me chamou de “Sir Cavaleiro”, lembrei-me de que me apresentei como o Cavaleiro da Lua Sombria. Uma gota de suor escorreu pelas minhas costas. Talvez tivesse me empolgado um pouco demais durante a conversa com Eris. Quando pensei em como aquele nome poderia ser usado para zombar de mim dentro de dez anos, meio que me arrependi de usá-lo.

— Sério, muito obrigada. — Ela voltou a curvar-se profundamente. Quantos anos que ela tinha mesmo – uns seis? Era muito bem-educada para alguém tão jovem. — Já que você me salvou, tenho apenas um pedido egoísta a te fazer!

— Certo.

— Por favor, me dê papel e caneta para que eu possa escrever uma carta! Além disso, diga-me onde fica a Guilda dos Aventureiros! Irei apreciar a sua ajuda. — Assim que ela terminou de falar, Aisha voltou a curvar a cabeça.

Pelo menos ela sabia dizer “por favor” quando pedia ajuda. Era uma garotinha esperta. Ah, isso mesmo – Paul mencionou algo sobre Lilia dar a Aisha uma educação extra-rigorosa, não foi?

— Você só precisa disso? Tem algum dinheiro?

— Não tenho dinheiro!

— Não te ensinaram que você precisa de dinheiro para enviar cartas e comprar caneta e papel? — Era fundamental ensinar, desde cedo, a importância do dinheiro para as crianças. Eu duvidava que Lilia deixaria algo tão importante de lado, mesmo se houvesse algumas coisas que as crianças não deveriam aprender até ficarem mais velhas.

— Minha mãe me ensinou que, se uma menina como eu olhar para alguém com um olhar suplicante e disser: “Quero enviar uma carta para meu papai”, não terei que gastar dinheiro.

Aha – Lilia, sua canalha. Você estava ensinando sua filha a usar sua feminilidade como uma arma? Quando percebi isso, os maneirismos de Aisha começaram a parecer muito encenados. Não, sério, o que Lilia estava ensinando a ela?

— Há muito tempo tento entrar em contato com meu pai, mas as pessoas do castelo me dizem que não, e não me deixam mandar nenhuma carta!

Eu já tinha ouvido falar que Lilia estava sendo detida. Agora sabia que também não estavam permitindo que ela ou Aisha enviassem cartas. As coisas talvez estivessem mais sérias do que imaginei. Quando o Deus Homem me disse que eu precisava “salvá-las”, suspeitei que essa era uma situação em que Paul estava sendo traído.

— Há mais alguém que você possa pedir ajuda além do seu pai?

— Não há!

— Por exemplo, alguém que sua mãe conhece, como uma garota um pouco mais velha que você e tem cabelo azul? Ou, talvez… um irmão seu que deveria estar por aí em algum lugar? — perguntei, completamente indiferente.

Aisha franziu as sobrancelhas. Ela tinha uma expressão de consternação no rosto, mas por quê?

— Eu tenho um irmão, mas…

— Mas?

— Não posso pedir ajuda a ele.

Por que diabos não?! Ele acabou de te salvar, não foi?!

— V-você se importa se eu perguntar o seu motivo?

— Motivo! Claro! Minha mãe me contou todos os detalhes sobre o meu irmão.

— Certo.

Aisha continuou:

— Mas eu não posso acreditar em nada daquilo! Como alguém seria capaz de usar magia de nível Intermediário aos três anos e virar um Mago da Água de nível Santo aos cinco? E, ainda por cima, virar tutor da filha do lorde suserano da região? Não dá para acreditar em nada disso! Ela definitivamente está mentindo!

Bem, eu não poderia culpá-la por pensar assim.

— Mas se você o conhecer, pode acabar descobrindo que ele realmente é um bom irmão mais velho, não acha?

— Improvável!

— P-por quê?

— Minha mãe guardou uma caixinha do tesouro lá em casa. Ela sempre me disse para não tocar, então perguntei o motivo. Pelo visto, tinha algo muito importante para o meu irmão dentro daquilo.

Uma caixinha… Pensando bem, senti como se já tivesse escutado Paul mencionando algo semelhante.

Aisha continuou:

— Uma vez, quando minha mãe não estava por perto, dei uma espiada. O que você acha que estava dentro daquilo?!

— E-eu não sei, o quê?

— Calcinhas. Calcinhas de uma menina. De acordo com meus cálculos, calcinhas de uma menina bastante jovem. Por um momento, pensei que talvez meu irmão mais velho fosse, na verdade, uma irmã, mas seriam grandes demais para ele. Portanto, havia apenas uma pessoa a quem poderiam pertencer, e essa é a tutora do meu irmão. Ele só tinha uns quatro ou cinco anos e já estava guardando a calcinha de uma garota, sempre pensando no futuro.

Cálculos? Espera, espera um segundinho aí. Essa criança era muito inteligente para sua idade. Mas que diabos? Ela só tinha uns cinco ou seis anos, certo?

— Será que você não calculou mal? — sugeri.

— Não. Pedi informações para a minha mãe. Parece que meu irmão espiava aquela garota enquanto ela tomava banho e também vigiava os pais enquanto eles estavam se divertindo. Minha mãe tentava encobrir isso, mas eu sabia que não há engano – meu irmão é um pervertido!

Um pervertido! Um pervertido! Um pervertido! Não há engano, meu irmão é um pervertido! E, só por diversão, mais uma vez: Um pervertido!

Certo, pare! pensei. Minha capacidade mental já está zerada!

— A-ah, certo, então seu irmão é um pervertido. Isso é realmente complicado, ha ha ha… — Fui eu quem provocou isso, mas, sério, fiquei em choque. Nunca imaginei que algo assim fosse… Droga. Agora entendi. Foi por isso que o Deus Homem me disse para não usar meu nome verdadeiro.

— A propósito, Sir Cavaleiro, qual é o seu nome verdadeiro?

— Isso é segredo. Nas ruas, me chamam de Mestre do Canil do Fim da Linha — respondi, mantendo um olhar frio e composto em meu rosto. Provavelmente isso seria o melhor, ao menos por agora, caso quisesse evitar revelar que era seu irmão mais velho.

— Aah! Senhor Mestre do Canil, não é? Que legal! Acho que você pode usar até magias de invocação e coisas assim, não é?

— Não — respondi. — Tudo o que posso fazer é controlar dois cães muito ferozes.

— Isso é incrível! — Aisha tinha um brilho nos olhos ao olhar para mim, quase como se fosse um cachorrinho.

Um cachorrinho que estava sendo enganado, claro. Isso fez meu coração doer um pouco, mas se revelasse que era seu irmão mais velho, ela poderia não estar disposta a me ouvir. Tudo o que precisava fazer era esconder minha verdadeira identidade até que pudesse impetuosamente resgatar Lilia. Uma vez que fizesse isso, melhoraria muito sua percepção sobre mim.

— Tudo bem, eu vou resgatar sua mãe!

— Hein? — Ela ficou olhando para mim de olhos arregalados quando fiz essa declaração. — M-mas…

— Por favor, deixe comigo!

E foi assim que Aisha e eu nos conhecemos. Ela com certeza tinha a pior impressão de mim, mas não era tão ruim quanto a de Norn, considerando que bati em nosso pai bem na frente dela. Agora, pensava que eu era um pervertido por ter guardado a calcinha de Roxy, mas acabou entendendo que às vezes as pessoas precisavam de algo para guardar.

Deixando isso de lado, por que ela chamaria alguém de pervertido só por estar guardando uma calcinha? Aisha ainda não tinha idade suficiente para ligar a roupa íntima ao desejo sexual. Ela nem tinha idade suficiente para entender o que era excitação sexual. Se alguém estivesse ensinando coisas estranhas para minha irmã mais nova, não ficaria impune.

— A propósito, Senhor Mestre do Canil.

— Sim?

— Como é que você sabe meu nome?!

Vamos deixar de fora a parte em que lutei por uma desculpa até que finalmente vi o nome dela bordado na borda de suas roupas.

Aisha me contou o que aconteceu nos últimos dois anos. Ela deixou os detalhes de lado, então a explicação foi bem pobre, mas entendi o que queria dizer.

Parecia que ela e Lilia haviam sido teletransportadas para o Palácio Real do Reino Shirone. Seu aparecimento súbito foi considerado suspeito e as duas foram presas. Lilia havia tentado se explicar, mas os poderes instituídos decidiram mantê-las confinadas no palácio. Aisha não entendia o porquê ou o que aconteceria a seguir, mas sabia que, por algum motivo, nem mesmo a deixariam enviar uma carta.

Pelo visto, não haviam feito nada de ruim para Lilia, ou pelo menos nada que deixasse marcas visíveis. Quem sabia o que poderia estar acontecendo à noite enquanto Aisha não estava ciente das coisas? Lilia estava envelhecendo, então, esperançosamente, a possibilidade de as pessoas se esforçarem para violá-la seria baixa.

Era estranho que ainda continuassem detidas mesmo dois anos e meio após serem teletransportadas. Lillia realmente não conseguiu esclarecer o mal-entendido, mesmo após tanto tempo? Deviam existir mais fatores dos quais eu não estava ciente.

E, em meio a tudo isso, Aisha estava tentando enviar uma carta para Paul, pedindo por socorro. Ela se perdeu e percebeu que, se seguisse um aventureiro, acabaria chegando à guilda. Pelo visto, o aventureiro que encontrou era eu.

Aisha não mencionou Roxy. Será que a maga não estava tentando ajudar Lilia? Não… era possível que as coisas só estivessem tão ruins assim porque Roxy estava tentando ajudar por baixo dos panos. Seja lá qual fosse o caso, tudo o que eu poderia fazer era esperar pela resposta de minha mestra. O Deus Homem tinha dito para enviar uma carta a ela. Agora que já tinha feito isso, o resto das peças do quebra-cabeça deveriam se encaixar.

— Aah, então você veio do Continente Demônio, hein? — Aisha estava ansiosa para saber mais sobre mim.

— Aham. Também fui pego no Incidente de Deslocamento de Fittoa.

— E o que você fazia antes disso?

— Era professor particular. Estava ensinando magia para a filha de um nobre.

— Ah, sério? Aonde?

— Roa — falei.

— Esse é o mesmo lugar que meu irmão! Talvez vocês dois já tenham até se encontrado!

— S-sim. A possibilidade é tão grande quanto achar uma agulha no palheiro, mas existe.

Deixando isso de lado, parecia que Aisha tinha aprendido muitas coisas com Lilia. Bom senso geral, etiqueta, sabedoria que a ajudaria no dia a dia, como ser uma empregada doméstica e etc. Parecia suspeito para mim que ela pudesse entender tudo isso na sua idade, mas, pelo menos, sabia o suficiente para ser capaz de me explicar as coisas. Sua capacidade de falar também estava avançada para sua idade. Talvez estivesse apenas fingindo agir como uma adulta, mas ainda era inteligente. Sério.

Desde que era jovem, tinha a capacidade de absorver tudo o que lhe ensinavam como uma esponja. Me perguntei como ela ficaria quando envelhecesse. Será que eu conseguiria manter minha dignidade de irmão mais velho?

— Se você estava ensinando a filha de um nobre, talvez a família dela estivesse em contato com o empregador do meu irmão. Já ouviu algo sobre isso?

— N-não — gaguejei. — Receio que nunca escutei nada sobre ele.

— Ah, tá bom. Eu esperava ouvir quais foram suas impressões sobre meu irmão.

— Uhhhhh, a única coisa que já ouvi foi que a Jovem Senhorita na mansão do Lorde Suserano era muito violenta e impossível de se controlar. — Por mais que eu estivesse tentando fornecer poucas informações, Aisha acabaria descobrindo que eu era seu irmão. E eu não queria que ela acabasse descobrindo que falei deliberadamente sobre mim enquanto me passava por outra pessoa.

Assim sendo, minha irmã me perguntou várias coisas sobre o Continente Demônio, as quais respondi em detalhes. Eu estava preocupado em não saber o que falar com uma criança tão jovem, mas Aisha era tão inteligente que nunca faltava assunto. Por mais estranho que pareça, encontrei-me genuinamente gostando do que foi meio que a minha primeira conversa real com minha irmãzinha.

Algumas horas depois, talvez exausta, Aisha adormeceu. Eris e Ruijerd voltaram depois que o sol se pôs, parecendo cansados. Pelo visto, foram até as favelas para coletar informações e muita coisa aconteceu, incluindo uma briga.

Brigaram entre si de novo? Pareciam estar se desculpando, mas isso não era nenhuma novidade, então não pediria por detalhes. Todo mundo faz algumas bobeiras às vezes, até eu. Desde que estivéssemos uns com os outros, ficaria tudo bem.

Contei como encontrei Aisha, como Lilia estava trancada no castelo e como muitas coisas sobre a situação pareciam terrivelmente suspeitas. Enquanto fazia isso, disse que também estava escondendo meu nome. Ficaram impressionados com o quão importante parecia ser a questão de manter minha identidade real em segredo.

— Por que você está sendo tão evasivo quanto a isso? — perguntou Eris.

— Pelo visto, alguém contou algumas mentiras sobre mim para ela. Quero mostrar que tenho um lado bom, assim a Aisha vai corrigir as percepções que tem sobre mim.

— Hmm. Bem, acho que você é legal do jeito que é.

— Eris… — Tentei mostrar um sorriso de agradecimento por dizer coisas tão doces sobre mim, mas quando fiz isso, ela deu um passo para trás.

— Ugh… por que você fica com esse sorriso assustador no rosto quando eu te elogio?!

Pelo visto a minha marca registrada era assustadora. Isso foi um pouco chocante. Alguém por favor me dê uma cara nova…

— De qualquer forma, se é isso que está acontecendo, então vamos atacar o castelo! — exclamou Eris, totalmente disposta a partir para o ataque.

— Já faz um tempo desde que invadi um castelo. — Até Ruijerd estava erguendo sua lança como se estivesse ansioso para começar.

Corri para esfriar seus motores.

— Não, não. Por enquanto vamos esperar uma resposta à minha carta.

Eris parecia ter ficado desanimada com minhas palavras. Como sempre, ela só queria sair feito louca. Certamente teria sido mais simples dispensar a sutileza e lançar um ataque ao castelo, mas isso poderia colocar Roxy em apuros, e eu queria ser capaz de olhar nos olhos dela quando nos encontrássemos. Primeiro, precisávamos saber exatamente o que estava acontecendo. Definitivamente, não era só porque eu queria ver a Roxy, só para informar.

Com isso, o dia chegou ao fim.


No dia seguinte, uma cavaleira apareceu na estalagem quando o relógio estava quase batendo no meio-dia. A armadura que usava tinha um estilo semelhante à dos possíveis sequestradores de Aisha, embora fosse de qualidade superior. Fiz os outros esperarem no quarto enquanto desci para o saguão sozinho para lidar com ela.

— Você é o Lorde Rudeus?

— Sim.

— Faço parte da guarda imperial do Sétimo Príncipe. Meu nome é Ginger York.

Fiquei me perguntando por que um membro da guarda imperial estava ali. Então, novamente, Roxy estava ensinando um príncipe.

— É um prazer conhecê-la. Sou Rudeus Greyrat.

A cavaleira estava sozinha. Ela me observou sem um pingo de emoção enquanto fazia uma apresentação cavalheiresca e se curvava. Devolvi o cumprimento com uma reverência ao estilo nobre. Eu não tinha certeza de qual era a saudação apropriada, mas contanto que transmitisse minha sinceridade, isso seria o suficiente.

— Lady Roxy pede que você vá encontrá-la. Por favor, me acompanhe ao palácio real.

Ela não mencionou nada sobre os eventos que ocorreram no dia anterior. Eu não tinha escondido meu rosto durante a confusão, mas parecia que não fui identificado.

Hesitei. O que deveria fazer com Aisha? Se a levasse comigo, saberiam que fui eu quem atacou aqueles soldados usando o Canhão de Pedra. Teria que simplesmente deixá-la para trás. Poderia me desculpar com os soldados assim que tivesse Roxy me apoiando.

Com isso decidido, disse a Aisha para não sair do quarto em nenhuma circunstância e confiei sua proteção a Ruijerd e Eris. Como iria encontrar Roxy, verifiquei a minha aparência duas vezes antes de partir. Meu cabelo estava penteado e eu estava com minhas vestes habituais. Ah, certo, pensei. Deveria levar uma caixa de doces para ela. Me perguntei o que deveria comprar, já que não a via há muito tempo.

Foi então que localizei a estatueta ultra-impopular de Ruijerd, no fundo da minha bolsa de ferramentas. Lembrei-me de que em uma de suas cartas, falou sobre ter visto uma estatueta de si mesma. Podia ser interessante mostrar este modelo e dizer que também tinha criado aquela outra estatueta.

— Você está sendo terrivelmente meticuloso com isso — comentou Eris.

— Já faz um tempo desde a última vez que vi minha mestra.

— Você vai me apresentar formalmente a ela, certo…?

— Sim, é claro. Vou fazer isso assim que tivermos resolvido tudo. — Terminei minha última preparação.

— Tem certeza de que vai sozinho mesmo? — perguntou Ruijerd em um tom preocupado. Eu sempre me metia em problemas quando ficava sozinho, então entendia a sua preocupação.

— Sem problemas. Se acontecer alguma coisa, voarei direto de volta para cá. — Isso era apenas uma figura de linguagem, é claro. Eu nunca iria tomar uma atitude tão drástica a ponto de voltar a quebrar minhas duas pernas.

— Senhor Mestre do Canil… — disse Aisha.

— Não se preocupe. Deixe isso comigo. — Ela parecia ansiosa, então afaguei sua cabeça. Aisha mordeu seus lábios, formando uma linha, e acenou com a cabeça. Boa garota, pensei.

Liderado pela cavaleira Ginger, fui em direção ao palácio real. Nós nos movemos rapidamente ao longo da beira de uma estrada principal, movimentada e com carruagens indo e vindo. A estrada tinha tantas curvas e desvios, e às vezes era tão estreita que as carruagens não podiam passar livremente umas pelas outras. Presumi que fosse uma contramedida para o caso de um ataque inimigo. Já tinha ouvido falar de uma cidade da região de Mino, no Japão, que tinha ruas parecidas.

Ginger parecia bastante taciturna, então não falei mais do que o necessário. Se eu fizesse alguma pergunta, ela responderia. E era sempre educada.

— Certo, agora o próximo! — Uma voz enérgica explodiu no ar. Virei minha cabeça na direção daquilo. — Ela costumava ser uma cavaleira do país de Washawa. Esta é uma escrava pronta para a batalha! É um pouco agressiva, mas é habilidosa! Três moedas de ouro!

Um mercado de escravos ocupava uma área voltada para a estrada principal. Lá, em uma plataforma alta, estava uma fila de escravos. Havia três humanos e um homem-fera com orelhas de coelho. Dois deles eram homens e duas eram mulheres. Todos estavam com seus corpos completamente expostos. Mesmo de longe, podia ver suas peles brilhando. Provavelmente tinham sido lubrificados para ficarem mais atraentes.

Eu tinha certeza de que o homem do povo-fera havia sido capturado da Grande Floresta. E não tinha meios, muito menos obrigação, de ajudar, mas ainda assim franzi a testa. Olhei para o seio da mulher Washawa e senti meu amiguinho lá embaixo reagindo.

Podia até mesmo ouvir o comerciante ao lado dos escravos explicando várias coisas sobre eles, mas não conseguia entender os detalhes. Provavelmente estava falando sobre os pontos positivos para a venda de cada escravo, como suas habilidades e país de origem. Depois de alguns momentos, as vozes da multidão ficaram mais altas. Era um leilão.

Se Lilia e Aisha tivessem azar, poderiam ter terminado ao lado daqueles escravos. Suas circunstâncias atuais não pareciam tão ruins se fossem comparadas – mas não era como se eu já pudesse dizer isso com alguma certeza.

Percebi que Ginger estava olhando para o mercado de escravos com a testa enrugada. Seu dever era manter a ordem pública no país. Talvez ver pessoas fazendo negócios tão inescrupulosos abertamente a incomodasse.

— Achei que o mercado de escravos fosse mais escondido — falei, tentando puxar conversa. Os mercados de escravos que já tínhamos visto eram quase sempre meio escondidos. A escravidão, por si só, não era vista como algo ruim neste mundo, mas foi a primeira vez que vi escravos sendo vendidos abertamente e, ainda por cima, em uma rua principal.

— De fato. Esses tipos de leilões normalmente são realizados escondidos.

— Então, suponho que hoje está havendo algum tipo de evento ou algo assim?

— Não. Parece que ontem, alguns aventureiros entraram em uma briga na área onde normalmente ficam os mercados de escravos. Como aquele local não pode mais ser usado, foram temporariamente realocados a este.

Uma briga no mercado de escravos, hein? Eris e Ruijerd disseram que acabaram se envolvendo em uma briga. Senti que as duas coisas deviam estar conectadas, mas tocar no assunto só iria causar problemas.

— Perdoe-me — disse Ginger quando de repente me agarrou por baixo dos braços e me levantou. — Por favor, assista aos procedimentos daqui.

— Ah, obrigado.

Ela estava me oferecendo um ponto de vista melhor para acompanhar o que estava acontecendo. Com certeza era uma mulher perceptiva. Com certeza não era uma beldade, mas com seu poder de observação, eu tinha certeza de que encontraria um bom marido algum dia.

— Lady Roxy também ficava pulando tentando dar uma olhada sempre que havia uma multidão.

— Sério?

— Sim. Mas ela sempre parecia ficar em algum tipo de conflito interno quando eu a levantava assim.

Tentei imaginar – Roxy pulando para cima e para baixo enquanto reclamava: “Não consigo ver nada.” Então imaginei Ginger, com suas boas intenções, incapaz de ficar parada só assistindo. Então, finalmente, Roxy, mais uma vez, parecendo desanimada ao dizer: “Por favor, me coloque no chão.”

— Você já a segurou assim antes? — perguntei.

— Sim, e ela ficava brava e mandava colocá-la no chão na mesma hora.

Eu sabia.

— Onde você a segurava?

— Onde? Fazia igual estou fazendo com você agora. — Ela tinha me levantado segurando meus braços.

— E como parecia?

— Exatamente como eu disse — repetiu Ginger. — Ela parecia em conflito e mandava colocá-la no chão na mesma hora.

Eu queria saber era sobre a pele dela, mas, tudo bem.

— Por favor, me coloque no chão — falei. — Vamos logo. — Não havia nada de particularmente interessante acontecendo. Tudo o que pude ver foram os escravos prestes a serem vendidos em uma gaiola de ferro.

Nos viramos na direção do palácio e apertamos o passo.

— O que minha professora está fazendo no palácio real? — perguntei, pensando que tinha encontrado algum assunto que tínhamos em comum.

— Normalmente ela fica ensinando o príncipe, mas quando não está ocupada, se junta aos soldados para o treinamento.

Me lembrei de que Roxy havia mencionado algo parecido na carta que me enviou quando eu estava em Roa.

— Ah, sim, ouvi como vocês conduzem o treinamento sob a premissa de que seu oponente é um mago, não é?

De acordo com a carta de Roxy, os soldados estavam treinando para desviar a magia que ela lançaria neles enquanto estavam em combate corpo a corpo um contra o outro. A ideia era aprender a desviar a magia que poderia aparecer repentinamente durante o treinamento, e isso poderia ajudar a escapar da morte quando realmente acabassem enfrentando as circunstâncias reais em um campo de batalha.

— Isso mesmo. Já somos todos espadachins de nível Intermediário do Estilo Deus da Água, mas graças a Lady Roxy, agora podemos desviar de magias quando elas são lançadas de repente em nossa direção.

Então foi por isso que o cavaleiro do dia anterior foi capaz de desviar o meu Canhão de Pedra. Ver um soldado sem qualquer nome se defendendo de um de meus ataques foi um choque, mas agora fazia sentido, já que sabia que era tudo graças aos ensinamentos de Roxy.

E, após isso, continuamos conversando a respeito da minha mestra. Conversamos sobre como os soldados sentiram seus corações mais quentes quando viram o rosto de Roxy ficando pálido após ela queimar um tapete bem no meio de uma de suas aulas de magia. Em seguida, conversamos sobre como seu rosto ficou pálido novamente quando uma refeição estava cheia de pimentas, e ela as engoliu inteiras, sem mastigar uma vez que fosse.

— Também já ouvi falar de você, Lorde Rudeus — disse Ginger.

— Hã? O que ela disse sobre mim?

— Ela nos disse que, desde tenra idade, você era um gênio que podia lançar magia sem o uso de encantamentos.

— Minha professora disse isso? — perguntei.

— Lady Roxy costumava se gabar de você. Ela falava que, honestamente, sentia que não era qualificada para ensinar alguém de seu calibre.

— Heh heh — eu ri. — Mas quanto exagero.

Enquanto conversávamos, finalmente chegamos ao castelo. Era bastante grande, mas não tão grande quanto o Castelo Kishirisu em Rikarisu ou o Palácio Branco em Millishion. Era quase do mesmo tamanho da casa de Eris e sua família. Em outras palavras, o país era quase do tamanho de uma única região do Reino Asura. Muito bem, Reino Asura, você com certeza não me decepcionou!

— …

Ginger fez uma pequena reverência ao guarda no portão. Em resposta, ele ficou rigidamente a postos.

— Obrigado pelo seu serviço e dedicação!

— Por aqui. — Comecei a seguir em frente, mas Ginger me guiou de lado. Demos a volta no castelo e passamos pelo que parecia ser uma porta dos fundos. — Sinto muito por isso. Apenas nobres são permitidos a passar pela entrada da frente.

— Entendo.

Entramos no que parecia uma sala de guardas. Havia duas grandes escrivaninhas com vários soldados sentados ao redor delas, divertindo-se com o que parecia ser um jogo de cartas. No segundo que viram Ginger, imediatamente deixaram seus lugares e ficaram em posição de sentido.

— Obrigado pelo seu serviço e dedicação!

Ginger, mais uma vez, curvou-se um pouco antes de seguir adiante. Observei os homens com o canto do olho enquanto a seguia.

— Senhorita Ginger, você é alguém importante?

— Entre os cavaleiros, estou em décimo segundo lugar.

Décimo segundo? Eu não sabia dizer se essa era uma classificação alta ou baixa. Se incluísse todas as centenas de cavaleiros deste país, provavelmente não era baixa.

— Por aqui. — Ginger nos conduziu cada vez mais para o fundo do palácio. Seus passos ficaram cada vez mais cautelosos enquanto ela avançava. A mulher não subiu nenhuma escada, apenas me conduziu por um corredor e, no final, parou do lado de fora de uma porta bem no centro do castelo.

Este deve ser o quarto de Roxy, pensei. Ele estava localizado em uma área terrivelmente deserta do palácio, mas de alguma forma parecia apropriado para ela.

Ginger olhou para o que eu tinha comigo e estendeu a mão.

— Com licença, por favor, entregue seu cajado e seus outros pertences.

— Ah, claro. — Que gentileza da parte dela agir como uma porteira.

Ginger pegou minhas coisas e bateu com o punho na porta.

— É a Ginger. Trouxe Lorde Rudeus comigo.

— Entre. — Foi a voz de um homem que respondeu.

Antes que pudesse processar a dúvida que senti, Ginger abriu a porta e me fez entrar. Eu, obedientemente, entrei.

— Oho… então este é o Rudeus, hein?

Sentado diante de mim, parecendo todo presunçoso, estava um garoto. Ele parecia um barrilzinho roliço, todo reclinado e arrogante em sua cadeira. Não era só em questão de altura; até seus braços e pernas pareciam curtos. Era meio que o resultado do cruzamento entre um hobbit e um anão. A única coisa visivelmente grande nele era sua cabeça, que era do tamanho da de um adulto. Seu rosto parecia o de um otaku, dando-me a sensação de que éramos dois irmãos. Mas não era um rosto atraente.

De pé ao lado do garoto estavam duas criadas. Uma deles parecia familiar e a outra não. Chamaremos a última das duas de Criada A. Ela parecia ter quase trinta anos e tinha uma aparência bastante normal. Quanto à Criada B, seu rosto era exatamente igual ao de Lilia. Na verdade, não… era Lilia. Cinco anos se passaram, então ela parecia um pouco mais velha do que eu me lembrava. Isso não era surpresa, já que estava envelhecendo, ainda mais depois de ter passado pelo estresse do Incidente de Deslocamento.

— Mrgh?!

Lilia estava em uma cadeira. Havia cordas amarradas em torno dela e sua boca estava amordaçada. Não vi Roxy em lugar nenhum.

— Hã? Que diabos é isso…? — Confuso, olhei em volta. Pensei que Roxy estaria presente; que iria explicar o que estava acontecendo.

— Solte-o.

Ao som da voz do garoto, o chão abaixo de mim desapareceu.


Quando percebi onde estava, me vi preso em um círculo mágico. No momento em que o garoto deu o sinal, o chão sob meus pés abriu e eu caí por um buraco no chão. Levei vários segundos para perceber o que havia acontecido. Agora estava em uma salinha, com cerca de seis tatames de largura. Havia um círculo mágico desenhado no chão e luz fraca irradiava dele.

Na mesma hora tentei lançar uma Lança de Terra para me jogar de volta para o cômodo acima.

— Hein…?

Mas a magia não funcionou. Voltei a tentar, canalizando uma quantidade maior de mana em meus pés, tentando conjurar um pilar de terra, mas não aconteceu nada. Isso foi estranho. Eu com certeza conseguia sentir a mana deixando o meu corpo. Este provavelmente era o trabalho do círculo mágico que me cercava.

— Uma barreira, hein…?

Estendi a mão até a borda do círculo e me vi tocando o que parecia ser uma parede. Tentei socá-la, mas aquilo nem mesmo tremeu. Eu não conseguiria sair.

Mesmo assim, não entrei em pânico. Minha mente talvez não tivesse compreendido toda a situação em que eu me encontrava.

— Hahaha! É inútil! Inútil, eu digo! Essa é uma barreira de nível Rei que eu criei para poder capturar a Roxy! Alguém como você jamais conseguirá se livrar dela! — O garoto roliço de alguns momentos atrás desceu os degraus do canto da sala enquanto cambaleava. Ele ficou na minha frente, mostrando um sorriso de orelha a orelha enquanto se inclinava para trás, triunfante.

— E você é? — perguntei.

— Meu nome é Pax. Pax Shirone!

Pax? Ah, certo, o Sétimo Príncipe. O que ele estava planejando fazer prendendo Roxy em uma barreira na qual ela não seria capaz de usar magia? Espere – em sua carta, Roxy o descreveu como sendo parecido comigo. Eu era um cavalheiro. Portanto, era lógico que ele faria algo muito cavalheiresco. Um cavalheiresco ato de violência.

— Heh heh… Eu gosto dessa expressão no seu rosto, Rudeus Greyrat. — Ele gargalhou quando viu minha frustração.

Mas fiz uma cara de desentendido e respirei fundo. Acalme-se, disse a mim mesmo, apenas acalme-se.

— Então eu caí em uma armadilha? Entendo. Peço desculpas formais por ter atacado aqueles soldados ontem. Mas, primeiro, chame a Roxy aqui. Eu costumava ser o pupilo dela. E ela pode confirmar a minha identidade. Então posso chamar meu advogado e podemos dar andamento a um julgamento adequado…

— Roxy não está aqui.

Roxy não estava.

— O quê…? — Fiquei ainda mais chocado com suas palavras do que pensei que ficaria. Roxy não estava aqui. Isso significava que Deus não está aqui.

Deus não estava.

Não, isso não poderia ser possível. O grande matemático Euler não afirmou que Deus existia? Ele não recebeu uma ordem de Catarina a Grande e ofereceu a magnífica prova de que Deus era real? Deus existia. Eu poderia fazer o mesmo e, por mim mesmo, provar a existência de Deus.

— Não. Deus está aqui.

— O quê? Deus? — Pax estava com uma expressão de espanto no rosto.

Isso mesmo, Deus. Não se engane – se Deus não estivesse aqui, haveria uma guerra santa. Isso mesmo!

— Hm, então agora você está orando para Deus? Essa é a decisão correta, embora já seja tarde demais para você.

— Isso é verdade. — Eu já tinha me acalmado, então era hora de deixar as piadas de lado. — Então, a julgar pelo que você disse há pouco, Roxy não está mais neste país?

— Correto! Você vai ser a isca que a atrairá de volta para cá.

— Se quer dizer que ela irá me engolir, então saiba que este é o sonho da minha vida — respondi espontaneamente, sem sequer pensar. Roxy não estava neste país, mas essa pessoa queria colocar as mãos nela. Por quê? Foi por causa dele que ela fugiu?

Assim que pensei nisso, Pax lançou suas próximas palavras em minha direção.

— Fiquei surpreso quando li sua carta. Nunca pensei que o amante de Roxy tentaria vir para este país!

— O quê?! Roxy tem um amante?! Sério?! Mas ela nunca escreveu nada assim em suas cartas!

— Hm? Quer dizer que você não é? — perguntou Pax.

— Não seja ridículo! Isso é impensável! Sou um aprendiz indigno; não há como tal relacionamento se desenvolver entre nós! — Balancei minha cabeça com força.

Na verdade, fiquei incrivelmente feliz por ele ter feito essa suposição. Feliz o suficiente para me fazer querer balançar de tanta alegria. Queria me mexer como uma certa rena rara. Queria me mexer como uma certa pessoa vivendo dentro de um monstro de metal. Mas consegui me conter.

— Hmm… bem, mesmo se você não for seu amante, ela ainda virá por seu pupilo.

— Será que vai mesmo? — perguntei.

— Ela vai. Lilia pode até não ter sido uma isca boa o suficiente, mas por você, o pupilo que ela não cansava de elogiar, definitivamente virá! Então, quando o fizer, será o seu fim como mulher. Ela vai viver o resto de sua vida como minha escrava sexual! Vou fazê-la dar à luz a cinco dos meus herdeiros!

— Com licença, posso perguntar só uma coisa?

— O quê? Ah, sim. Com certeza vou estuprá-la, pela primeira vez, bem na sua frente! Então farei isso uma segunda vez após cortar sua cabeça e ver o rosto dela cheio de desespero!

Cara, esse moleque tinha alguns delírios insanos.

— Antes de vir para cá — disse eu —, não consegui encontrar nenhuma informação sobre Lilia, então… como Roxy vai saber que fui tomado como cativo?

Pax congelou.

— Hm… bem, ela é incrivelmente capaz, tenho certeza de que vai ficar sabendo de algum jeito!

Aham. Portanto, tudo bem, porque Roxy era capaz. Ela talvez pudesse encontrar informações que eu não consegui, mas as chances pareciam baixas.

— Mas você não acha que seria melhor divulgar essa informação para o mundo? — Não que eu quisesse ver Roxy sendo estuprada, mas se ele fizesse isso, a notícia poderia chegar aos ouvidos de Paul.

— Hmph, eu não vou cair nessa! Você está sob a proteção de um dos nobres de alto escalão de Asura, não é? Se descobrissem que estou mantendo você e Lilia em cativeiro, a família Boreas se tornaria minha inimiga, não é?

— Como você…? — Hmm. Algo me parecia estranho. Bem, o velho Sauros poderia tentar ajudar se soubesse que fui capturado. Mas o que isso tinha a ver com Lilia?

— A Lilia também tentou enviar inúmeras cartas! Como se eu fosse permitir que pedisse alguma ajuda!

Por que diabos ele não a deixava escrever pedindo ajuda, já que a questão toda envolvia a Roxy?

Ahh, entendi, pensei. Ele é um idiota.

— Além disso — acrescentou —, posso simplesmente passar essa informação diretamente para ela!

— Pode? — perguntei, em dúvida.

— Há dois anos que procuro por ela, mas ainda não a encontrei! Mesmo assim, um dia eu vou! Ela se destaca por qualquer lugar por onde passa!

Só porque ela se destacava, não significa que ele a encontraria. Roxy escreveu em suas cartas que esse cara era parecido comigo. Que tinha talento. Então a impressão que ela tinha de mim era tão ruim assim?

— Heh heh. Parece que você desistiu. Eu não me importo se você é um mago que pode lançar feitiços não verbais – você não tem chances contra mim!

De jeito nenhum que eu perderia para esse cara! Olhei firmemente para ele.

— Aah, eu gosto desse olhar em seus olhos. Isso me faz tremer. Espero que você mantenha esse olhar até o fim. Ahh, estou ansioso por isso. Roxy, não me faça esperar… — Ele parecia um garotinho ansiando por atenção enquanto subia as escadas do sótão, desaparecendo pelo buraco no teto.

Não tem como ela vir, pensei comigo mesmo.

— Ei, quem disse que você poderia remover a mordaça da Lilia?

— Sinto muito, mas ela parecia ter algo a dizer.

— Essa decisão não é sua!

— Por favor, Sua Alteza. Eu não me importo com o que você faça comigo, mas por favor poupe Lorde Rudeus!

— Cale a boca, não me importo com o que uma bruxa velha feito você fala!

— Aah!

Ouvi um grito além das escadas, acompanhado pelo som seco de um tapa. Lilia tinha acabado de levar um tapa?

— De qualquer forma, você ainda não encontrou a Aisha?!

— Alteza, ainda estamos procurando por ela!

— Grr. Como é que o cara que a sequestrou se parece?! — Eu podia ouvir a irritação na voz de Pax. Pelo visto, estavam falando sobre o que tinha acontecido no dia anterior.

Isso não era bom. Eu não tinha escondido meu rosto, então tinha certeza de que logo descobririam que eu era o responsável. E também coloquei a localização da pousada na minha carta. Mas, tudo bem, e daí se me descobrissem? Ruijerd e Eris estavam na pousada. Enquanto o Superd estivesse lá, eu tinha certeza de que ele cuidaria das coisas. E Eris também criou sua reputação com suas próprias habilidades ofensivas.

— De acordo com o relatório, ele se autodenominou o Cavaleiro da Lua Sombria. É um homem enorme e musculoso que ri alto enquanto pula de telhado em telhado feito um pervertido.

— Se é alguém que se destaca tanto, por que você ainda não o pegou?! Droga, vocês são tão inúteis!

— Sim, senhor! Sinto muito!

Ei, espera aí! Com licença, Senhora Soldada! Por favor, relate os fatos corretamente! Qual parte do meu corpo é forte e musculoso? Espera, não – o relatório impreciso podia ser algum tipo de gentileza. Talvez estivessem tentando ajudar Aisha a escapar. Afinal, aquelas pessoas que vi não pareciam ser más. Certo, bom trabalho, Senhora Soldada!

— De acordo com o ordenado, rasgamos a carta que ela escreveu.

— E ela pode reescrever aquela carta quantas vezes quiser!

— Um nobre de alto escalão não vai agir só por causa da carta de uma criança. Não deveríamos simplesmente deixá-la para lá?

— Não, não, não! Procurem por ela! Você não se importa com o que pode acontecer com a sua família?

— Vou despachar uma equipe de busca agora mesmo…!

Então o som de passos frenéticos começou. A julgar pela conversa, isso significava que a família de Ginger foi feita de refém?

— Hmph. Jogue Lilia nos aposentos de sempre dela!

— Sim senhor!

— Lorde Rudeus! Eu juro que vou te salvar!

— Cala a boca! Como se eu fosse permitir que você fizesse isso!

— Aah!

— Hmph. Você também conhece a Roxy, não é? Vou mandar te decapitar bem na frente daquele moleque atrevido!

Baque! Ouvi outro som seco de tapa, seguido por algo sendo arrastado pelo chão.

— Rudeus! Eu nunca vou te abandonar!

Quando segui a voz e olhei para cima, vi o rosto assustador de Pax sorrindo para mim. Em seguida, uma tampa foi deslizada sobre o buraco acima. O silêncio tomou conta do cômodo enquanto eu ficava apenas com a luz fraca do círculo mágico como companhia.

— Uff…

Me senti um tanto quanto perplexo. Devia ter ficado com raiva por terem batido em Lilia, mas, estranhamente, não senti a raiva aumentando dentro de mim. Talvez fosse porque todas as nossas interações anteriores tinham sido meio cômicas. Ou porque o Deus Homem já havia me dito que ela seria salva.

Então, novamente, talvez fosse porque tudo isso era produto dos sentimentos de Pax por Roxy, por mais distorcidos que pudessem ser. Eu poderia ter acabado da mesma forma caso tivesse sido deixado de lado por ela.

Não, não era isso. Era porque ele se parecia comigo – o velho eu, aquele anterior à minha reencarnação. Foi por isso que senti confusão em vez de raiva.

— Pois bem…

Independentemente disso, entendi a essência do que estava acontecendo. Simplificando, foi Pax quem capturou Lilia. Então ele a deteve, usando qualquer pretexto que achasse apropriado, como alegar que era a espiã de uma potência estrangeira. Enquanto ouvia o que ela tinha a dizer, de alguma forma chegou à conclusão de que era associada a Roxy, e foi então que elaborou seu plano. Ele usaria Lilia como isca, contataria Roxy e a atrairia de volta para cá.

O cara manteve tudo isso em segredo por medo da família Greyrat, mas realmente, mesmo que o Reino Asura descobrisse, Lilia não era nada mais do que uma empregada doméstica. O segredo – e o fato de que eles não foram capazes de localizar Roxy – era o motivo para Lilia ter sido detida por tanto tempo.

Ela certamente estava tentando enviar um pedido de socorro para Paul, mas o príncipe não permitia. Foi por isso que Aisha escapou do castelo na tentativa de enviar sua carta, apenas para falhar e ter sua correspondência rasgada.

Mas foi o que aconteceu a seguir que me deixou perplexo. Por alguma razão, os guardas estavam falsificando relatórios para ajudá-la a escapar. Será que só odiavam o príncipe, ou havia outro motivo envolvido? Parecia que a família de Ginger havia sido feita de refém, então será que os outros soldados se encontravam em uma situação semelhante?

E eu me coloquei perfeitamente no meio de sua teia de aranha. Mas escrevi para Roxy, assim como o Deus Homem me instruiu a fazer. Isso provavelmente estava seguindo o roteiro que ele tinha previsto, certo? Não havia necessidade de entrar em pânico. Agora, estava fazendo exatamente o que tinha sido dito para fazer.

Não… espera.

Realmente fiz tudo conforme deveria fazer? Por exemplo, disse aos soldados que era o Cavaleiro da Lua Sombria. De acordo com o conselho do Deus Homem, contanto que dissesse para Aisha que era o Mestre do Canil do Fim da Linha, tudo ficaria bem. Mas será que também devia ter dado esse nome para os soldados?

Esse possivelmente não tinha sido meu único erro. Tinha acontecido a mesma coisa com a carta. Achei que ficaria tudo bem, desde que não dissesse que meu nome era Rudeus, mas se não tivesse escrito meu nome naquela carta, será que as coisas teriam acabado assim? Se o príncipe tivesse pensado que eu era apenas um conhecido de Roxy, será que as coisas teriam acontecido de forma mais pacífica?

Merda. Agora realmente estava sentindo que estraguei tudo.

Não, isso era bom. Ainda estava tudo bem, né? Isso ainda estava dentro das expectativas, certo?

Fiquei preocupado. Mas, por enquanto, decidi ao menos tentar garantir uma rota de fuga.


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Lucas BuenoD
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Lucas Bueno
9 dias atrás

po, nem lembro como ele faz pra fugir

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