Pyo-wol olhou para So Gyeoksan com uma expressão vazia no rosto.
So Gyeoksan achou difícil encarar Pyo-wol nos olhos.
Ele sempre soube que havia uma lacuna entre eles, mas não esperava que fosse maior agora, a ponto de ser insondável.
Mesmo quando assumiu o papel de líder em uma trupe teatral ambulante, So Gyeoksan fez questão de continuar assumindo missões simples para evitar que suas habilidades enferrujassem.
Mas mesmo assim, o nível de So Gyeoksan não estava nem perto do de Pyo-wol.
Quando So Gyeoksan ouviu pela primeira vez o apelido ‘Ceifador’, instintivamente pensou em Pyo-wol.
A primeira vez que ouviu o apelido foi de volta a Chengdu, em Sichuan. Como Chengdu e Sichuan eram lugares que lhe haviam dado pesadelos inesquecíveis, ele se certificou de sempre ficar de olho em seus movimentos mesmo depois de sair da cidade.
Por isso, quando ouviu o nome Ceifador, investigou imediatamente o paradeiro de Pyo-wol.
Conhecendo o rosto incomumente belo de Pyo-wol, aliado às suas mãos impiedosas e comportamento audacioso, So Gyeoksan estava convencido de que o Ceifador do qual as pessoas estavam falando era o Pyo-wol que ele conhecia.
Pyo-wol já se tornara alguém em um nível completamente diferente.
Ele podia perceber apenas pela forma como Pyo-wol o olhava.
Embora assassinos estejam acostumados a esconder seus pensamentos mais íntimos, eles podiam ler as mentes uns dos outros até certo ponto. Podiam fazer isso observando os olhos e gestos da outra pessoa.
Em outras palavras, assassinos podiam rapidamente compreender a linguagem corporal da outra pessoa. Mas So Gyeoksan não conseguia ler nenhuma linguagem corporal de Pyo-wol.
Pelo contrário, parecia que sua ansiedade e pensamentos eram os que estavam sendo lidos por Pyo-wol.
Ele tentou ao máximo esconder seus pensamentos, mas não conseguiu enganar os olhos de Pyo-wol.
Pyo-wol conseguia ver claramente o quão extremamente ansioso So Gyeoksan estava naquele momento. Embora Pyo-wol não soubesse exatamente a razão pela qual So Gyeoksan estava se sentindo daquela forma, ficava claro para ele que So Gyeoksan estava passando por uma situação difícil.
— Um pedido…
— Sim. Um pedido.
— Recuso.
— Você nem quer ouvir sobre isso?
— Acho que não preciso saber. Provavelmente é um pedido que é demais para você lidar, mas, como recusar resultará em consequências graves, você está passando para mim.
— Idiota.
So Gyeoksan fez uma expressão frustrada sem perceber.
Ele de fato tinha ido até Pyo-wol por essa razão.
Se pudesse usá-lo bem, poderia resolver a questão sem sujar as mãos de sangue. Mas agora que Pyo-wol tinha percebido suas intenções, seu plano estava arruinado.
— Você é um maldito sem um pingo de bondade.
— Vou levar isso como um elogio.
— Esquece. Vamos apenas beber.
Nesse momento, Yi Okran chegou segurando uma bandeja cheia de bebidas e comida.
— Eu estava com pressa, então os aperitivos podem não ser muita coisa. Vou tratá-los melhor da próxima vez.
Yi Okran colocou as bebidas e comida na mesa com uma expressão de desculpas, depois se sentou bem ao lado de So Gyeoksan.
So Gyeoksan naturalmente envolveu o braço ao redor de Yi Okran.
Ela serviu um copo de bebida para ele.
— Você disse que não bebe, certo? Vou beber sozinho então.
— Faça como quiser.
— Bem, é impossível encontrar qualquer vestígio de humanidade em você mesmo.
So Gyeoksan tomou um copo de bebida de uma vez.
— Hmm, delicioso.
— Beba devagar.
— Quanto mais rápido você bebe e fica bêbado, mais sobra. Você tem que beber muito devagar para valer o dinheiro gasto.
Ele bebeu mais três copos seguidos.
Era como se estivesse sendo perseguido por algo.
O So Gyeoksan que Pyo-wol conhecia não era alguém que revelaria suas emoções sob nenhuma circunstância. Mas do jeito que ele estava agora, estava revelando involuntariamente sua impaciência, como se estivesse encurralado.
Mas Pyo-wol não perguntou o motivo.
Ele sabia que, se cruzasse a linha ali, não teria escolha a não ser se envolver profundamente.
Depois de romper a Rede do Céu e da Terra, viveram suas vidas sem nenhum contato um com o outro.
E se Pyo-wol fosse honesto, ele realmente não se importava com a sobrevivência de So Gyeoksan ou de qualquer outra pessoa.
Eles não eram tão próximos, e não haviam prometido fazer nada juntos no futuro.
Na verdade, o relacionamento deles era ainda pior do que o de completos estranhos. Eles conheciam os lados inferiores e as fraquezas um do outro, o que tornava difícil confiar um no outro.
Tum!
So Gyeoksan pôs o copo na mesa e perguntou:
— Por quanto tempo você pretende ficar em Runan?
— Eu não sei. Não ficarei por muito tempo. Posso partir já amanhã se quiser.
— Você está com muita pressa. Aonde vai, afinal?
— Nós não somos tão próximos a ponto de termos que nos manter atualizados sobre nosso paradeiro, somos?
— Em resumo, você está me dizendo para parar de prestar atenção e sumir.
— Exatamente.
— Cachorro.
— Se você terminou de falar, estou indo.
— O quê? Já? Não nos vemos há muito tempo. Por que você está agindo assim? Vamos conversar.
— Não nos vemos há muito tempo, então não temos nada para conversar. Não estávamos interessados um no outro desde o início. Não temos nada em comum, então qual é a razão para termos uma conversa?
Com as palavras frias de Pyo-wol, a expressão de So Gyeoksan se endureceu.
Normalmente, não importava o quão mal se dessem, eles escondiam seus verdadeiros sentimentos com um sorriso falso e mantinham os tênues laços de seu relacionamento vivos.
Os seres humanos são criaturas que não podem viver sozinhas. Tendem a viver confirmando sua existência por meio de seus relacionamentos com os outros.
Isso era verdade para todos que ele conheceu, e era verdade para ele também.
Ele precisava de uma razão para existir no mundo, então formou uma trupe teatral para criar uma razão para si mesmo.
Mas Pyo-wol era diferente.
Ele não estava interessado em ter outros reconhecendo sua existência. Ele não achava importante ter relacionamentos com os outros.
Mesmo na caverna subterrânea, Pyo-wol era o mesmo.
Ele só se importava com sua sobrevivência e nada mais. Essa atitude dele não mudara. Continuava até hoje.
— Egoísta filho da puta.
Apesar das palavras venenosas de So Gyeoksan, a expressão de Pyo-wol não mudou. Ele apenas continuou a se afastar.
So Gyeoksan encarou as costas de Pyo-wol que se afastava enquanto subia as escadas, mas isso não mudou a situação.
Naquele momento, uma mão branca envolveu o pescoço de So Gyeoksan.
— Pare de ficar bravo.
— Não estou bravo.
— Você está. Está realmente furioso. Está como uma criança que teve seu brinquedo tirado.
— O que você disse?
— Hehe! Que fofo.
Yi Okran riu e beijou So Gyeoksan na bochecha.
— O que você está fazendo?
— É sua recompensa por ser fofo.
— Se você fizer isso de novo, eu posso ter que te matar primeiro.
— Hehe, eu sempre te receberia de braços abertos me matando na cama.
— Você é mesmo uma vagabunda.
— Você que me fez assim.
— Hmpf!
— Não faça beicinho assim. Não é como se você estivesse realmente machucado.
Yi Okran subiu e sentou nas coxas de So Gyeoksan.
Automaticamente, So Gyeoksan segurou e acariciou a parte de trás dela. Aproveitando o toque, Yi Okran disse.
— Você não pode simplesmente parar de repente se realmente quer algo.
— E o que eu faço então?
— Você tem que saber como se afastar, e como provocar e estimular a outra pessoa.
— Como você provoca?
— Vou te ensinar agora.
Yi Okran pressionou os lábios nos de So Gyeoksan.
— Hng…
A manhã foi agitada para a Trupe Teatral de Variedades da Flor Celestial.
Eles acordaram cedo e tomaram café da manhã.
O café da manhã deles foi tão barulhento quanto o jantar que tiveram na noite anterior.
— Você pode me passar aquilo ali?
— O quê? A fruta?
— Sim!
— Me dê a tigela. Eu vou te servir…
— Obrigado!
Eles se serviram mutuamente enquanto conversavam, passando as tigelas de um para o outro. Tinham muito o que dizer mesmo depois de conversar até tarde da noite, então a conversa deles continuou pela manhã.
Foi então que o líder da trupe, So Gyeoksan, e a vice-líder, Yi Okran, desceram as escadas.
— Você dormiu bem?
— Você está bem. Eu me pergunto o que aconteceu ontem à noite?
— Algo bom?
— Que algo bom?
— Uma coisa muito boa.
— Hehe! Suar também é bom para a saúde, certo?
— Hahaha!
A trupe zombou dos dois.
Se fosse qualquer outra mulher, teria corado diante dos comentários sugestivos, mas Yi Okran respondeu calmamente sem pestanejar,
— Sim, faz tempo desde que me esforcei, então me sinto muito bem agora.
— Wahaha!
Os membros riram em uníssono.
As mulheres cutucaram umas às outras com os cotovelos.
Yi Okran riu e continuou.
— Está certo, já que a apresentação é amanhã, temos muito trabalho a fazer a partir de hoje. Todos sabem o que fazer primeiro?
— Sim!
— Não se preocupem, não teremos que trabalhar por um dia ou dois.
Os membros responderam com entusiasmo.
Trupes eram geralmente convidadas para criar um clima festivo ou animar um clima sombrio.
Era a mesma coisa para a família Jin.
Eles queriam melhorar o sentimento público de Runan, que havia sido devastada pela luta contra a Mansão da Espada de Neve, então se esforçaram para convidar a trupe. Eles esperavam que a trupe pudesse reviver o clima deprimido dos residentes e guerreiros de Runan.
A trupe tinha a obrigação de atender às expectativas.
Agora, depois do café da manhã, eles se espalhariam pelas ruas juntos. Tocariam instrumentos e cantariam músicas para chamar a atenção das pessoas.
Eles tinham apenas um dia para atrair a atenção de Runan e direcioná-la para a Trupe Teatral de Variedades da Flor Celestial.
So Gyeoksan disse,
— Comam bem, todos. Teremos que nos mover o dia todo hoje.
— Sim!
— Não se preocupe, líder!
So Gyeoksan concordou com a cabeça.
Embora os membros não soubessem da verdadeira identidade de So Gyeoksan, para eles, So Gyeoksan ainda era um líder em quem podiam confiar.
Se não fosse por ele, os membros da Trupe Teatral de Variedades da Flor Celestial teriam se dispersado e ido fazer outras coisas.
Para eles, So Gyeoksan era mais do que apenas um líder.
— Vamos comer rapidinho e ir trabalhar.
— Trabalho é trabalho.
Assim que os membros da trupe estavam prestes a conversar novamente, um homem desceu as escadas.
As primeiras a reagir foram as membras femininas.
— Uau!
— Que homem bonito!
A pessoa que descia as escadas era ninguém menos que Pyo-wol.
Quando as mulheres viram seu rosto, ficaram vermelhas como um tomate.
O rosto de So Gyeoksan se contorceu.
— Aquele maldito sempre aparece em um momento como este e estraga o clima.
So Gyeoksan, que não tinha confiança em sua própria aparência, sentiu sua autoestima cair ao se comparar a Pyo-wol.
Bam!
Ele rangeu os dentes, então pensou em esculpir uma cicatriz no rosto bonito de Pyo-wol ali mesmo.
Mas ele sabia muito bem que Pyo-wol não era o tipo de pessoa que permitiria isso, então teve que ranger os dentes e aguentar.
So Gyeoksan se aproximou de Pyo-wol.
— Você desceu para comer? Ou não conseguiu dormir por causa de algumas pessoas barulhentas?
— Eu não consegui dormir por causa do barulho.
— Meus filhos são um pouco barulhentos, não são? Entendam que eles estão apenas ficando animados para a apresentação que se aproxima.
Pyo-wol concordou com a cabeça.
Foi então que as membras femininas da trupe gritaram alto,
— Líder! Você conhece esse cara?
— Uau!
— Você poderia apresentar a gente?
— Você é amigo de um cara tão bonito? Nosso líder é uma pessoa tão talentosa!
O rosto de So Gyeoksan se contorceu ainda mais com as palavras de suas membras.
Ele gritou.
— Calem a boca! Vocês devem se apressar e voltar ao trabalho!
— Hiiik! Nosso líder está bravo!
— Vamos sair daqui rápido!
— Vamos voltar ao trabalho!
Os membros da trupe saíram rapidamente da estalagem como uma maré vazante.
Pyo-wol se virou para So Gyeoksan e perguntou.
— Você também não vai sair?
— Eu sou o líder, então tenho coisas separadas para fazer.