Depois do almoço, William decidiu visitar os estábulos para ver sua Mamãe Ella. Kenneth, por outro lado, não tinha nada para fazer, já que já havia desempacotado suas coisas no dormitório. Sendo assim, resolveu acompanhar William até os estábulos para conhecer a segunda mãe do garoto ruivo.
“Meeeeeeh!”
“Também senti sua falta, Mamãe.”
“Meeeeeh.”
William abraçou o pescoço de Ella enquanto ela repousava a cabeça sobre seus ombros. Kenneth ficou surpreso ao ver essa cena, pois era muito sensível quando se tratava de perceber os sentimentos dos animais.
Ele conseguia dizer, só de olhar, que Ella amava muito William. O mesmo valia para o garoto que a abraçava.
Por causa disso, a boa impressão que Kenneth tinha de William aumentou ainda mais em seu coração. Ver o garoto demonstrar tanto carinho e cuidado por uma cabra comum fez com que Kenneth o considerasse uma pessoa muito boa.
“Mamãe, deixa eu te apresentar meu novo colega de quarto,” disse William, dando um passo para trás com relutância, encerrando o abraço. “Esse é o Kenneth, meu novo companheiro de quarto. Kenneth, essa é minha Mama Ella. Espero que vocês se deem bem.”
“Meeeeeh!”
“Oi, também é um prazer te conhecer, Ella.”
Depois que os dois trocaram cumprimentos, William levou Ella para dar uma volta. Ele não montou em suas costas para que Kenneth não se sentisse deslocado. Em vez disso, apenas caminhou ao lado dela enquanto faziam um tour pelas várias instalações da Divisão das Classes Marciais.
“Will, você está interessado em se tornar o Monitor-Chefe?” Kenneth perguntou enquanto caminhava ao lado dele.
“Pra ser sincero, não tenho muita certeza,” respondeu William. “Sou do tipo que não gosta de receber ordens de ninguém. Se o Monitor-Chefe me mandar fazer algo que vá contra meus princípios, talvez eu não consiga me controlar e acabe acertando ele com meu cajado de madeira.”
Kenneth deu uma risadinha ao ouvir a resposta de William. Para ser honesto, ele também não gostava de receber ordens de ninguém. No entanto, sentia que talvez não se importasse de obedecer a esse garoto ruivo que havia crescido cuidando de cabras no interior.
“Bom, se você não quer receber ordens, só te resta fazer o possível para se tornar o Monitor-Chefe,” disse Kenneth, casualmente. “Ainda faltam três dias até a competição começar.”
“Mmm.” William assentiu com a cabeça. “E você? Vai participar?”
“Não.” Kenneth balançou a cabeça. “Não acho que tenho capacidade pra ser Monitor-Chefe. Digamos que, por sorte, eu consiga vencer e virar o Monitor-Chefe… você acha que os alunos iam me ouvir?”
William virou o rosto para analisar o garoto delicado dos pés à cabeça. Embora Kenneth não deixasse nada a desejar no quesito “boa aparência”, ele não parecia o tipo de pessoa que inspiraria outros a segui-lo. No entanto, se alguém perguntasse se haveria pessoas dispostas a protegê-lo, a resposta certamente seria sim.
O garoto era bonito demais pro próprio bem. William tinha certeza de que até mesmo as garotas mais valentes das Classes Marciais se sentiriam protetoras em relação a ele.
“Bom, ser Monitor-Chefe pode ser um objetivo alto demais,” concordou William. “Mas ser o Mascote da Classe Marcial não é impossível. Na verdade, no momento em que eu sugerir isso, tenho certeza de que você ganha por esmagadora maioria.”
“N-Nem pense nisso.” Kenneth agarrou o braço de William imediatamente. “Eu odeio ficar cercado por pessoas.”
William, instintivamente, afagou a cabeça de Kenneth. Por algum motivo, o garoto lembrava ele de sua prima, Eve. Embora Eve fosse mil vezes mais fofa que Kenneth, a presença que o menino de cabelos grisalhos emitia era parecida com a da adorável garota de Lont.
“Tá bom.” William riu. “Mas tenho certeza de que as garotas vão levantar essa ideia sozinhas. Quando isso acontecer, não vem me culpar, entendeu?”
Kenneth fez um biquinho e soltou o braço de William. “Desde que não seja você a começar com isso, tudo bem.”
Os dois já estavam quase terminando o passeio pela Divisão Marcial quando notaram uma multidão à frente. Conseguiram ouvir vagamente o som de uma discussão. Ao se aproximarem para investigar, viram dois garotos se encarando com armas nas mãos.
Eles estavam posicionados em uma das várias arenas de combate espalhadas pelos arredores da Divisão das Classes Marciais.
“Desiste, Drake,” disse um garoto loiro de aparência confiante, com olhos azuis. “Quem vai se tornar o Monitor-Chefe sou eu.”
“Continue sonhando, Spencer,” retrucou um garoto de aparência mediana com cabelos castanho-escuros e olhos cor de avelã, olhando com desdém para o adversário à sua frente. “Enquanto eu estiver por aqui, pode esquecer essa ideia de ser Monitor-Chefe. Mal posso esperar pra ver você abaixando a cabeça e obedecendo às minhas ordens. Hahahaha!”
“Por que esperar até o teste começar? Vamos decidir isso aqui e agora.”
“Boa ideia. Não quero perder tempo chutando sua bunda quando o teste começar de verdade.”
Ambos se prepararam, empunhando suas armas. A multidão ficou animada e começou a incentivá-los. William observava os dois combatentes com expectativa. Ele queria saber qual era o nível dos calouros que haviam ingressado na Divisão das Classes Marciais.
Kenneth também observava os dois garotos com uma expressão séria. Ele também estava curioso para saber o quão fortes eram os alunos da Academia Real de Hellan.
“Com licença,” William deu um tapinha no ombro do garoto mais alto da multidão. “Você poderia me dizer quem são os dois combatentes?”
“Você não conhece eles? São bastante populares no Reino de Hellan,” respondeu o garoto alto.
“Desculpa. Eu vim do interior,” William deu um sorriso amigável. “É a minha primeira vez na capital.”
“Ah… isso explica.” O garoto alto assentiu, compreendendo. Em seguida, apontou para os dois combatentes que estavam ocupados trocando golpes na arena. “O garoto de aparência fria que está segurando a lança é o quarto filho do Duque do Ducado Armstrong. O nome dele é Spencer Armstrong.
“O que está segurando a espada larga é o terceiro filho do Ducado Craig. O nome dele é Drake Vi Craig. Ambos são bem conhecidos entre a geração jovem pelas suas incríveis habilidades de combate.”
“Obrigado,” William assentiu em agradecimento. Então voltou sua atenção para os dois combatentes que estavam no meio da luta.
‘Será que todos os filhos de duques são assim tão cabeça quente?’, pensou William. Ele ainda se lembrava do espadachim mágico, Kingsley Rhodes, que o havia desafiado em Lont quatro anos atrás. Aquele garoto também era filho de um duque e parecia muito feliz em usar seu status para se impor.
Ainda assim, ele tinha que admitir que, assim como Kingsley, Spencer e Drake tinham habilidade suficiente para sustentar suas palavras. Os dois eram muito proficientes com suas armas, e seus ataques poderiam facilmente derrubar qualquer um com habilidades inferiores.
Kenneth se aproximou silenciosamente de William e deu um leve toque em seu braço. “Quem você acha que vai vencer?”
William refletiu por um momento enquanto seus olhos se fixavam nos dois indivíduos na arena. “Difícil dizer, mas se eu tivesse que escolher entre os dois, escolheria o Spencer.”
“E por quê?”
“Porque ele tem uma técnica melhor.”
William já vinha observando a batalha há um tempo e conseguiu avaliar a capacidade de combate dos dois lutadores. Embora Drake tivesse mais poder bruto que Spencer, o garoto de aparência fria demonstrava uma técnica muito mais refinada.
Cada bloqueio, cada estocada, cada golpe de lança era perfeito. Não havia movimentos desperdiçados, o que impressionou bastante William. Claro, se o garoto ruivo fosse ser completamente honesto, diria que sua própria técnica estava dois ou três níveis acima da de Spencer.
Afinal, ele treinou com os melhores lutadores de Lont. Mesmo um completo amador como William acabaria evoluindo ao longo de quatro longos anos de treinos. Sem contar que as artes marciais que ele aprendeu nas suas Classes de Trabalho Marcial foram levadas ao limite.
As Artes de Guerra de William com espada, arco e combate desarmado estavam apenas no nível básico. Ainda assim, estamos falando do nível básico das Artes de Guerra mais poderosas fornecidas pelo sistema. Essas “Técnicas de Nível Básico” poderiam ser consideradas Técnicas Intermediárias no mundo atual dele.
Quanto ao cajado e à lança, estavam no nível Intermediário, o que as colocava no mesmo patamar das Técnicas de Especialista no novo mundo de William. Como isso foi possível? Muito simples.
Quando William usou o Núcleo de Besta de Grau Milenar para maximizar sua Classe de Trabalho Discípulo do Trovão, ele a ascendeu imediatamente para sua classe avançada: o Príncipe do Trovão.
William acumulou toda a experiência possível durante suas expedições em masmorras para ajudar a Classe Príncipe do Trovão a alcançar o nível 10. Dessa forma, ele pôde desbloquear as Artes de Guerra do Deus do Trovão (Intermediário) e aprender movimentos mais avançados dessa arte específica.
Além disso, não podemos esquecer sua técnica de movimento: a Técnica de Movimento do Fantasma Celestial (Básico). Após conseguir pontos de habilidade, William os investiu nessa técnica de movimento e a aprimorou para Fantasma Celestial (Intermediário).
Com prática constante, William tornou essas técnicas parte de si. Se ele e Kingsley lutassem novamente, William estava confiante de que daria uma boa surra no arrogante metidinho. Claro, isso assumindo que Kingsley não usasse magia durante o duelo.
Atualmente, as Habilidades Marciais de William, ao usar o cajado de madeira, lança e alabarda, eram suficientes para enfrentar a maioria dos especialistas dentro do Rank Prata das Classes Marciais. Sua técnica de movimento também o permitiria escapar da maioria das situações complicadas.1
Depois da batalha com Kingsley Rhodes, William jurou que dedicaria seu tempo e esforço para aprender Habilidades Marciais enquanto não pudesse usar seus poderes mágicos.
Nota:
[1] Nota do Autor: As classificações das classes marciais são: Cobre, Bronze, Prata, Ouro, Platina, Mithril, Adamantium, Negro/Preto e Santo.