Naquela manhã, após o café da manhã, os Instrutores da Classe Marcial levaram todos até um prédio especial localizado bem no centro da Divisão da Classe Marcial. Esse prédio era chamado de Casa dos Heróis. Um lugar fortemente vigiado porque continha as entradas para quatro domínios especiais que pertenciam exclusivamente à Divisão da Classe Marcial.
Domínios eram pequenos mundos que possuíam seu próprio conjunto de regras e leis. Alguns desses domínios estavam repletos de recursos importantes, úteis para o avanço na cultivação. Outros eram usados como campos de treinamento para formar lutadores especialistas, e alguns serviam para criar criaturas e plantas raras que eram muito difíceis de encontrar na natureza.
Um desses domínios era a Floresta Encantada. Essa floresta vinha sendo usada como campo de treinamento para os estudantes. Em alguns casos, também era utilizada para eventos especiais, como a escolha do Prefeito-Chefe que representaria o seu respectivo ano.
No momento, William, junto de todos os calouros que escolheram participar da Batalha dos Prefeitos, estava diante de um imenso Portão de Cobre.
“Todos prontos?” perguntou Grent.
“”Sim!””
“Lembrem-se, apenas um de vocês será escolhido,” declarou Grent. “Boa sorte a todos!”
Os instrutores levantaram os emblemas presos em seus peitos e ativaram a porta. O Portão de Cobre se abriu lentamente, revelando um portal verde no centro.
“Todos vocês serão teleportados para lugares aleatórios dentro da Floresta Encantada,” explicou Andy de forma despreocupada. “Isso evitará que entrem em combate imediatamente. No entanto, lembrem-se de que só podem permanecer dentro do domínio por três dias. Se, ao fim de três dias, ainda houver sobreviventes, a pessoa que tiver eliminado o maior número de oponentes será escolhida como Prefeito-Chefe.
“Não se enganem, isso é uma batalha até a morte. A única maneira de eliminar alguém é matando. Mas não se preocupem, ninguém vai realmente morrer. Quem for eliminado será ejetado pelo domínio e transportado de volta para este salão. Alguma pergunta?”
William levantou a mão e Andy assentiu, dando-lhe permissão para falar.
“E se matarmos alguém que já matou várias pessoas?” William perguntou. “Vamos receber os pontos dessa pessoa também?”
“Boa pergunta! A resposta é que vocês vão receber apenas metade do total de pontos que ela acumulou,” respondeu Andy. “Ao fim dos três dias, aquele com mais pontos se tornará o Prefeito-Chefe. Mais alguma dúvida?”
Um garoto magricela levantou a mão, e Andy novamente assentiu para encorajá-lo a perguntar.
“É permitido formar alianças?” perguntou o garoto. “Podemos formar times?”
“Claro que sim.” Andy assentiu com a cabeça. Aquilo não era novidade no Evento de Seleção do Prefeito, e os instrutores já esperavam que isso acontecesse também naquele ano. “Sintam-se à vontade para formar grupos e alianças. No fim das contas, apenas um Prefeito-Chefe será escolhido.”
O motivo pelo qual os instrutores incentivavam a formação de times era porque as Classes Marciais funcionavam muito bem em equipe. Isso também ajudava a formar laços fortes, o que era benéfico para o crescimento dos estudantes.
Alguns alunos sorriram, enquanto Drake e Spencer bufaram com desdém. Os dois acreditavam que os fortes deviam lutar sozinhos e não depender de ajuda externa. Só fracotes se juntariam para lutar em grupo.
Como aquela era uma batalha individual, os instrutores não permitiram que Ella entrasse nas dependências. Eles já haviam presenciado suas habilidades durante a segunda parte do exame, mas o que queriam ver agora era a capacidade do próprio William.
Eles queriam saber se aquele garoto, que lutara com unhas e dentes contra o Governante da Floresta, era tão impressionante sem sua companheira animal.
“Todos vocês, entrem no portal,” ordenou Grent. “Que a sorte esteja a seu favor!”
Um por um, os estudantes entraram no portal. Todos carregavam expressões determinadas em seus rostos. William foi o último a entrar, e todos os olhares estavam voltados para cada passo seu.
Enquanto isso, do lado de fora do Domínio…
Aqueles que não quiseram participar estavam reunidos do lado de fora do prédio, onde vários cristais de visualização estavam expostos. Com esses cristais, eles poderiam assistir à batalha em tempo real.
Ella e Kenneth estavam em frente a um desses cristais. Esses dispositivos permitiam visualizar todos os candidatos que haviam entrado na Floresta Encantada. Naturalmente, também era possível selecionar apenas um candidato específico para assistir.
Assim que William entrou no portal, sua imagem apareceu no cristal de visualização. Ella baliu suavemente, como se estivesse torcendo por William e lhe desejando boa sorte. Kenneth, por outro lado, observava William com uma expressão séria.
‘Por favor, mostre-me até onde vai seu verdadeiro poder,’ pensou Kenneth. ‘Quero saber se você é digno do sangue daquela pessoa. Por favor, não me decepcione, William.’
Quando William abriu os olhos, percebeu que estava em uma floresta exuberante, repleta de vida. O canto dos pássaros, os rugidos das feras e até mesmo o som sutil dos insetos alcançavam seus ouvidos. Por alguma razão, isso fez William se sentir um pouco nostálgico.
Aquele lugar o lembrava da floresta próxima a Lont. Embora a fauna e a flora fossem diferentes, ainda assim o fazia lembrar de casa.
‘Será que o Vovô e os outros estão bem?’ pensou William, imerso nos sons da floresta. ‘Será que a Eve também pensa em mim?’
De repente, ele ouviu um zumbido muito sutil no ar. William riu por dentro enquanto saltava para trás de forma exagerada. No instante seguinte, viu duas flechas voando em sua direção. As flechas atingiram sem força o tronco da árvore ao lado de William com um estalido seco, lembrando-o de que aquilo era uma Batalha Real e não um passeio no campo.
Como arqueiro, treinado por dois especialistas em Lont, era muito fácil para ele localizar a posição do seu atacante. No entanto, ele não avançou na direção do inimigo. Em vez disso, ele se afastou e deixou a área.
Apesar de os instrutores terem dito que todos seriam teleportados para locais aleatórios para evitar combates imediatos, a situação era diferente quando se tratava de arqueiros. Eles tinham a capacidade de atacar a grandes distâncias, e apenas aqueles com sentidos aguçados eram capazes de detectar seus ataques furtivos.
Depois de se afastar o suficiente de seu agressor, William decidiu procurar um lugar mais elevado de onde pudesse observar os arredores. No entanto, antes que pudesse fazer isso, dois javalis selvagens surgiram correndo em sua direção a partir de cinquenta metros de distância.
Pelo visto, William havia entrado sem querer no território deles e os animais interpretaram isso como um ato de agressão.
William não queria lutar contra os dois javalis, porque poderia haver outros estudantes por perto prontos para se aproveitar da batalha. Mesmo não tendo medo de enfrentá-los, ele não queria que os que o observavam descobrissem suas habilidades.
Quando estava prestes a fugir, dois garotos surgiram à sua frente empunhando espadas e lanças. Estava claro que pretendiam impedi-lo de escapar.
Com dois javalis atrás de si e dois garotos bloqueando seu caminho, William decidiu pregar uma peça nos estudantes que o consideravam uma presa fácil.
O garoto ruivo esperou até que os dois javalis estivessem a poucos metros dele antes de ativar sua técnica de movimento, Fantasma Celestial.
William passou facilmente pelos dois garotos como um fantasma e escapou. Antes que eles pudessem sequer reagir, os javalis já estavam bem na frente deles. Como haviam perdido seu alvo original, os dois javalis direcionaram sua atenção aos dois garotos armados que invadiram seu território.