“Essa troca me ensinou muitas coisas”, disse Est enquanto comia o sanduíche que Ian e Isaac haviam preparado mais cedo.
“Também aprendi bastante”, comentou William ao pegar outro sanduíche da cesta à sua frente.
Após a batalha, Est convidou William para almoçar com eles. O pastor aceitou de bom grado, afinal, comida de graça sempre era uma coisa boa. Est escolheu fazer um piquenique em um dos locais mais belos perto da Divisão de Magia, e William teve que admitir que o lugar escolhido era um ótimo ponto para um piquenique.
Isaac e Ian também estavam comendo ao lado, mas apenas escutavam a conversa. Surpreendentemente, Kenneth também estava presente, porque William havia arrastado seu colega de quarto com ele. Est não se importou, pois a conversa que teriam era sobre a exploração de masmorra que fariam na tarde seguinte.
Como Kenneth era um dos membros da equipe, Est achou que seria bom tê-lo por perto também.
“Já decidiram qual masmorra explorar primeiro?”, perguntou Kenneth.
Est não respondeu. Em vez disso, olhou para William como se dissesse que quem tomaria as decisões sobre a exploração seria ele. Kenneth então olhou para o garoto ruivo que comia alegremente o sanduíche em sua mão.
Sentindo o olhar, William decidiu contar para eles para onde iriam em sua primeira exploração de masmorra.
“Quero ir primeiro à Cripta dos Goblins”, disse William com uma expressão séria.
“Cripta dos Goblins?” Est perguntou. “Tem algum motivo específico para querer ir lá?”
“Não. Só curiosidade mesmo”, William mentiu. “De acordo com as informações que li ontem, a Cripta dos Goblins é uma masmorra de Grau B. Tem trinta andares, e dizem que é uma das mais difíceis para iniciantes.”
William ficou surpreso quando viu as informações sobre a Cripta dos Goblins nos arquivos da academia.
A Cripta dos Goblins que ele podia acessar através do seu Anel da Conquista tinha apenas vinte andares e era uma masmorra de Grau C. Obviamente, havia alguma discrepância entre as duas, e William estava muito curioso para saber se havia alguma relação entre a Cripta que ele explorava há anos e a da academia.
“Segundo os rumores que ouvi, a maioria dos alunos do Primeiro Ano não consegue passar do décimo quarto andar”, comentou Est. “Dizem que há muitos Xamãs Hobgoblins que se especializam em Magia Negra nesse andar. É melhor irmos apenas até o décimo terceiro, só para garantir.”
William assentiu em concordância. Sua primeira luta contra um Xamã Hobgoblin quase dizimou todo o seu rebanho. Se não fosse pela ajuda oportuna de James e Owen, William e seus bodes teriam morrido naquela noite fatídica.
“Muito bem. Nosso objetivo nessa exploração é chegar com segurança até o décimo terceiro andar”, disse William com uma expressão séria. “Não vamos enfrentar o Xamã Hobgoblin. Embora esse monstro esteja no nível mais baixo do Grau C, ainda assim é um inimigo complicado de se enfrentar. Especialmente se você não tem resistência a maldições e Magia Negra.”
Depois de finalizarem a estratégia, William e Kenneth voltaram para a Divisão da Classe Marcial. A luta contra as turmas da Divisão de Magia havia deixado os alunos das Classes Marciais mais motivados a treinar. Isso era uma boa notícia para os instrutores, que abriram com prazer o campo de treinamento para acomodar os alunos cheios de energia.
William ainda estava a alguns metros da entrada do campo de treinamento, mas já podia ouvir o som das armas se chocando umas contra as outras.
“Parece que a ‘troca de golpes’ despertou eles da letargia”, comentou Kenneth.
“Mmm. Essa é uma boa atitude”, respondeu William.
Quando William e Kenneth entraram no campo de treinamento, viram todos os alunos do Primeiro Ano da Classe Marcial trabalhando duro em seus treinamentos.
Grent estava em um canto do campo, sendo atacado por uma dúzia de alunos. Um grande sorriso estava estampado em seu rosto enquanto desviava e bloqueava calmamente os ataques que as crianças lançavam contra ele.
William observou por alguns minutos antes de assentir em aprovação. Em seguida, ergueu a voz para chamar a atenção de todos.
“Reúnam-se!”, gritou William.
Os alunos imediatamente pararam o que estavam fazendo e se alinharam em frente a William. Priscilla caminhou até atrás dele antes de se virar para os demais, fazendo jus ao seu posto como Vice-Monitora.
“O desempenho de vocês na luta contra a Classe da Divisão de Magia foi bom”, disse William ao olhar para os alunos à sua frente. “E então? A Classe da Divisão de Magia é forte?”
“”Sim!””
“De fato, eles são fortes.” William assentiu. “No entanto, isso não significa que são invencíveis. O motivo pelo qual a maioria de vocês perdeu é porque têm sido preguiçosos no treinamento. Precisamos resolver isso. Por isso, a partir de amanhã, todos vocês vão acordar às cinco da manhã!”
William fez uma breve pausa para deixar que suas palavras fossem assimiladas. “Vou treinar todos vocês desde o básico. Todos vão treinar. Sem exceções! Vou garantir que, durante as batalhas entre turmas, nossa Divisão Marcial reine suprema! Quem não quiser participar não receberá café da manhã nem almoço! Não preciso de preguiçosos no Dormitório Solaris. Fui claro?”
“”Sim, Monitor-Chefe!””
“Muito bem. Continuem com o treinamento e vejo todos vocês amanhã!”
“”Senhor, sim, senhor!””
Enquanto William dava suas ordens na Divisão da Classe Marcial, Carter estava dentro da sala de treinamento da Turma do Terceiro Ano da Divisão de Magia.
“Como vocês já devem saber, a maneira mais eficaz de não ser atingido por um ataque mágico é desviar dele”, explicou Carter. “Claro, se você tiver poderes mágicos fortes, criar uma barreira também é uma boa opção.
“No entanto, nem todos conseguem fazer isso. Cada um de vocês tem diferentes Afinidades Mágicas. Aqueles com afinidades de baixo nível não conseguirão bloquear ataques mágicos poderosos. Por isso, vocês devem treinar para desviar corretamente.”
Carter invocou seu cajado prateado e deu a todos um doce sorriso. “Hoje, começaremos seu Treinamento de Combate Defensivo. Cada um de vocês vai me enfrentar, um por um. Eu lançarei um único feitiço, e será por conta de vocês desviar ou bloquear. Aqueles que se saírem bem receberão uma recompensa minha.”
As garotas riram discretamente enquanto olhavam para o professor bonito e se preparavam para causar uma boa impressão.
Como Carter esperava, não mais do que trinta pessoas, entre trezentos alunos, conseguiram bloquear seu ataque mágico. Alguns dos mais imprudentes viraram partículas de luz após o feitiço de Carter atravessar suas defesas.
Aqueles com afinidades mágicas mais fracas levaram a sério o conselho e focaram apenas em desviar. Carter elogiou esses alunos também, o que os deixou bastante felizes.
“Estou muito impressionado.” Carter elogiou a turma após a última aluna voltar para sua posição. “Todos vocês têm o potencial para se tornarem grandes magos.”
A lisonja foi prontamente aceita por todos, o que tornou o ambiente ainda mais animado.
Carter era alguém que entendia a natureza humana e usava as emoções dos alunos a seu favor. “Agora, para entregar as recompensas que prometi. Para aqueles que tiveram um bom desempenho, darei três balas. Por favor, formem uma fila e venham receber seus prêmios.”
Os alunos formaram duas filas. Uma para os meninos e outra para as meninas. Carter entregou pessoalmente suas “balas” a todos, o que o fazia parecer um instrutor justo e gentil.
“Aqueles que receberem apenas uma bala, não fiquem tristes”, anunciou Carter. “Treinem mais e, com o tempo, vocês também receberão mais balas de mim. No entanto, uma parte de mim espera que vocês não se tornem especialistas tão de repente em nosso próximo encontro.
“Por quê? Porque essas balas são feitas à mão por mim. Leva tempo para prepará-las, e vou ficar sem estoque se todos vocês se tornarem magos incríveis de uma hora pra outra. Por favor, tenham piedade de mim.”
Os alunos riram, pois Carter agia como se fosse sofrer se todas as balas que tinha sumissem.
Depois de dar suas palavras finais de encorajamento, Carter deixou o campo de treinamento com um sorriso no rosto. Embora fosse verdade que havia se esforçado para preparar aquelas balas, ele também estava ansioso pelos frutos que colheria no futuro.
Quanto mais os alunos comessem as balas que ele havia preparado, mais suas consciências se abririam às suas sugestões. Embora não fosse tão poderoso quanto um feitiço de encantamento, poder manipulá-los a fazer coisas que parecessem “naturais” para eles era ainda mais assustador.
Por ora, Carter estava disposto a “plantar suas sementes” e esperar até que estivessem maduras para a colheita. Quando esse momento chegasse, o plano que ele tinha em mente também se tornaria realidade.