William suspirou pela enésima vez enquanto olhava pela janela de seu dormitório. Kenneth, que estava sentado em cima da cama, franziu a testa ao observar o garoto suspirante – que parecia estar desanimado.
O que aconteceu dentro da sala do reitor? pensou Kenneth. Será que tem algo a ver com o que aconteceu na masmorra?
Kenneth estava muito curioso, mas também respeitava a privacidade de William. No final, ele decidiu lembrar ao garoto suspirante que já estava quase na hora do jantar.
“Will, vamos jantar”, disse Kenneth ao dar um tapinha no ombro de William.
William simplesmente acenou com a cabeça e se levantou da cadeira. Ella decidiu ficar no quarto porque já havia comido.
Enquanto os dois se dirigiam para o refeitório, William sentiu um olhar penetrante em sua direção.
Quando William virou a cabeça para ver quem era, ele notou que Spencer estava olhando para ele pelas costas.
Se William não tivesse ouvido a história de Celine, talvez já tivesse pensado em um plano para fazer Spencer sofrer. Entretanto, no momento, ele não estava com vontade de lidar com ele. Inconscientemente, ele tocou a coleira em seu pescoço e estremeceu.
“A coleira que você usa no pescoço agora foi tingida com as lágrimas, o sangue e o sofrimento dela.” A voz de Simon ecoou na cabeça de William.
Enquanto William continuava a caminhar até seu destino, outra imagem apareceu em sua cabeça. Era o momento em que Celine estava prestes a colocar a coleira em seu pescoço e William estava deitado no chão, paralisado.
“Ainda assim, isso não é injusto?” William tentou usar a razão.
“Desde quando a vida se tornou justa?” perguntou Celine. Sua expressão tornou-se gradualmente fria quando ela olhou para o garoto no chão. “Pequeno Will, você não tem ideia do que é justiça. A vida nunca foi justa. Há pessoas que precisam mendigar para viver e há aquelas que nasceram com uma colher de prata na boca.
“Ambos são pessoas, mas suas circunstâncias são como o céu e a terra. William, o único que pode decidir o que é justo ou não, é aquele que tem o punho maior.”
A mão suave e delicada de Celine acariciou a bochecha de William. “Neste momento, eu tenho o punho maior. Como sou mais forte do que você, posso intimidá-lo. Essa é a lei do mais forte.”
“Celeste”, William murmurou o nome da gêmea de Celine. Aquela que era a favorecida pela raça élfica e que recebia o amor e a afeição deles. Ambos eram pessoas, mas suas circunstâncias eram como o céu e a terra.
William finalmente entendeu as divagações cheias de ódio de Celine naquele dia. Ela estava olhando para William como se estivesse olhando para si mesma aos oito anos de idade.
Como a raça élfica era mais forte do que ela, eles podiam intimidá-la. Essa era a lei dos fortes.
O garoto ruivo suspirou e pensou nos dias de seu treinamento. Isso continuou até que ele e Kenneth passaram pelas portas do Salão de Jantar
William sentou-se em sua mesa de jantar habitual e começou a comer. No entanto, por alguma razão, a comida, que antes era deliciosa, tornou-se simples e quase sem gosto. Mesmo assim, William se forçou a comer. Pois ele sabia que não conseguiria pensar direito com o estômago faminto.
Ele mastigou bem a comida e comeu duas porções de vegetais. Quando sentiu que estava meio cheio, ele se desculpou e saiu do refeitório para dar um passeio fora das instalações da Divisão Marcial.
William caminhou sem nenhum destino em mente. Sua mente estava preocupada com muitas coisas e seus pés se moviam como queriam. Enquanto ele andava sem rumo, um par de mãos macias de repente cobriu seus olhos por trás.
“Tente adivinhar”, uma voz provocante sussurrou em seus ouvidos.
“A garota mais bonita da Academia Real”, respondeu William.
“Como você já sabe quem eu sou, não há necessidade de eu fazer isso”, a garota gaguejou ao retirar as mãos que cobriam os olhos de William.
O rapaz ruivo não conseguiu parar de sorrir quando ouviu a voz gaguejante e familiar atrás dele. Ele então virou a cabeça para olhar para a bela jovem que era apenas meia cabeça mais baixa que ele.
“Sir William, o que está fazendo aqui dentro da Divisão de Magia?” perguntou Wendy.
“Hum?” William piscou os olhos e examinou o ambiente ao seu redor. Ele se viu em um lugar desconhecido. Se o que Wendy disse fosse verdade, então ele havia de alguma forma passado pelos guardas que estavam vigiando os portões da Divisão de Magia.
O que William não sabia era que Est havia ordenado especificamente aos guardas que permitissem que William e Kenneth entrassem nas instalações da Divisão de Magia.
Quando os guardas viram William caminhando em direção à Classe da Divisão de Magia, pensaram que ele tinha um encontro marcado com Est e, por isso, não impediram sua entrada.
Wendy observou o meio-elfo confuso e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
“Sir WIlliam veio ver como estou me saindo?” perguntou Wendy. Ela esperava que esse fosse o motivo da visita dele. “Não se preocupe. Estou perfeitamente saudável. Os clérigos da enfermaria já curaram os pequenos hematomas que recebi na masmorra.”
“Estou entendendo”, disse William com um sorriso duro. “Fico feliz que você esteja bem.”
Wendy baixou o olhar enquanto um rubor se insinuava em seu rosto.
Os dois não perceberam que algumas pessoas estavam se reunindo ao redor deles. Elas reconheceram quem era William porque tinham visto a performance dele durante a “troca de dicas” no Coliseu.
Algumas garotas até tomaram a iniciativa de cumprimentá-lo, o que tornou o ambiente muito animado.
“Monitor, você veio aqui para me visitar?”
“Por que ele viria visitá-lo? O Monitor William veio aqui para me visitar. Não é verdade, Sir William?”
As duas meninas estavam olhando para William com olhares de admiração, o que deixou Wendy irritada.
“Na verdade, eu vim aqui para visitar Wendy”, disse William enquanto segurava a mão de Wendy. “Nós dois planejamos trocar dicas e aprender um com o outro. Não é verdade, Wendy?”
“Sim”, Wendy gaguejou. “Sir William queria me dar aulas particulares e treinar meu corpo… quero dizer, me ensinar algumas técnicas para afinar meu poder mágico.”
“Injusto!”
“Isso é injusto, Sir William!”
“Por favor, treine-nos também! Podemos fazer isso no meu quarto, se você quiser.”
“Desculpe, mas minhas mãos já estão ocupadas com a Wendy”, desculpou-se William enquanto tentava tirar a mão das duas meninas que haviam agarrado seu braço.
“Awww.”
“Se você se cansar de ensinar a Wendy, sinta-se à vontade para nos procurar!”
Antes que William e as meninas pudessem interagir mais, Wendy decidiu arrastar o popular meio-elfo para longe da cena. Ela não entendia por que se sentia desconfortável quando as duas garotas bonitas estavam tentando se agarrar a William.
William, por outro lado, estava muito grato pelas ações de Wendy. Ele não sabia que já tinha invadido as instalações de outra Divisão e queria afastar-se da multidão.
Wendy levou William para o jardim Atrás da Divisão de Magia. Poucas pessoas vinham aqui à noite, por isso estavam a salvo dos olhares curiosos do público.
A jovem levou William para o seu lugar secreto no jardim. Era um lugar a que se podia acessar movendo a mão da estátua que bloqueava a entrada.
Os dois caminharam durante alguns minutos depois de entrarem na passagem secreta. William não sabia para onde Wendy o estava levando, mas podia perceber que a jovem não tinha nenhuma intenção maliciosa. Pouco tempo depois, os dois saíram da passagem. Os olhos do garoto ruivo se arregalaram quando ele viu a cena à sua frente.
William teve uma visão espantosa. Em vez de um mar de flores, ele viu um lago parado onde uma aurora boreal flutuava sobre sua superfície.
Várias borboletas de cristal esvoaçavam sobre a superfície do lago enquanto suas asas refletiam as diferentes cores que passavam pela água transparente.
Se William fosse descrever esse lugar numa palavra, ela seria definitivamente a palavra “surreal”.
Um sorriso doce apareceu no rosto de Wendy quando ela viu a reação de William. Ela tinha descoberto este lugar por acaso e mais ninguém sabia desse segredo. William foi a primeira pessoa que ela trouxe a este lugar e ver a expressão de espanto dele fez o seu coração de donzela saltar uma batida.