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Release that Witch – Capítulo 800

Revitalização do Porto de Água Clara

Um navio de concreto lentamente chegou no Porto de Água Clara e atracou perto de Simbady.

Esse navio era muito maior do que os barcos pequenos que ocasionalmente apareciam no Curso da Água Prateada, sem falar do peso dele. Em cima do navio, havia dois cilindros de metal longos que cuspiam fumaça. As laterais do navio possuíam uma cor alaranjada, que em conjunto com o convés cinza parecia uma truta-arco-íris[1].

Como a maioria de seus companheiros, Simbady nunca havia saído do deserto, nem conhecera o oceano. Portanto, ao ver que o navio não era feito de madeira, ele se sentiu maravilhado.

As pessoas começaram a conversar, animadas.

PÁ!

O supervisor do Clã Bravareia açoitou o chicote, dizendo:

— Fiquem calados! Façam fila e entrem no navio, rápido!

Simbady sentiu a multidão avançar. Com tantas pessoas empurrando, seria impossível não se mover. Enquanto era levado pela multidão, um pouco de medo surgiu em seu coração.

Talvez, ele nunca devesse ter saído do deserto para vir a esta terra desconhecida. — Eu sei que aqui tem muita água, mas…, será que os Três Deuses vão tomar conta de um local tão distante? Será que eles vão ouvir as minhas súplicas quando eu precisar de ajuda?

— Segure-se em mim e cuidado pra não cair! — A voz de Molly o fez voltar a si.

Uma mão delicada envolveu sua palma e o levou até a passarela[2]. De vez em quando, alguém de trás caía na água.

Embora o pessoal no cais os puxassem rapidamente até a margem, cair no rio nesse tipo de clima significava essencialmente que eles haviam perdido a qualificação para trabalhar.

Quando eles imploravam para tentar entrar novamente no navio, a resposta padrão seria uma chicotada.

Simbady ficou perto de Molly e seguiu a multidão para dentro do navio de concreto. Ao subir no convés, ele não sentiu o navio balançar tanto, como ele havia imaginado. Esse navio era completamente firme, nada diferente de andar na terra.

Quando a passarela foi retirada, o superior do Clã Bravareia, Thuram, apareceu numa plataforma alta no meio do navio e chamou a atenção de todos.

— Vocês lembram do que eu disse? A Líder valoriza a ordem e a disciplina acima de tudo! Olhem para os seus companheiros que caíram na água. O plano original era que todos embarcassem no navio tranquilamente e recebessem uma oportunidade de trabalho, assim vocês poderiam obter comida farta até nos Meses dos Demônios. Mas agora, eles terão que definhar até que a próxima oportunidade apareça! Isso tudo foi causado pela estupidez deles!

— Eles só caíram. Tudo o que eles precisam fazer é trocar de roupa e… — Um Mojin retrucou, mas antes que ele pudesse terminar a frase, dois supervisores o imobilizaram no chão e depois o jogaram na água.

— Disciplina é tudo! Não há coletivo que acomode o individual, apenas indivíduos que se submetem ao coletivo! — Thuram repreendeu, irritado. — Diferente das guerras que tínhamos no passado, não podemos mais nos tratar como inimigos, e sim como um povo unido! Enxerguem isso como a primeira lição que ensino a vocês e lembrem para sempre! — Ele parou um pouco, mas logo continuou: — Claro, aqueles que perderam o trabalho hoje não ficarão com fome por muito tempo. Mas no futuro, qualquer um da Nação da Areia que não obedeça às ordens será banido desta terra verdejante para sempre!

Quando ele terminou de falar, um barulho forte veio dos cilindros de metal e ressoou pelo Porto de Água Clara.

As rodas gigantes de metal nos dois lados do casco começaram a girar gradualmente. Após um balanço violento, o navio de concreto zarpou em direção ao estuário[3].

— Obrigado. Se não fosse você… — Simbady olhou para Molly.

Molly riu e semicerrou os olhos, dizendo:

— Não foi nada. Aconteceu que eu estava perto de você naquela hora.

— Sério… — Ele abaixou a cabeça, parecendo constrangido.

Ele e Molly eram ambos membros do Clã Osso de Peixe, e eles já se conheciam de outras ocasiões. Ele sempre gostou dos olhos finos e cabelo negro trançado dela, mas depois que ouviu que ela tinha um namorado, ele não achou que seria legal revelar seus sentimentos por ela.

Após um breve silêncio, ele olhou para ela enquanto ela se apoiava no parapeito do navio, observando com curiosidade a natureza. Simbady perguntou:

— Você não está preocupada com aonde a gente vai?

Ela virou a cabeça e respondeu:

— Vale da Água Negra?

— Isso. Eu soube de outros companheiros de clã que esse lugar fica perto do Pântano do Desespero e da Terra Podre, e que foi amaldiçoado pelos Três Deuses. Qualquer um que entre lá sem permissão não conseguirá voltar vivo.

— Bem… O Clã Bravareia pediu permissão?

— Eh, sobre isso…

Molly riu sem querer, dizendo:

— Ninguém está nos forçando a ir. Só estamos indo porque é um trabalho que paga mais. Você também ouviu a Lady Lua Argêntea falar que, contanto que sigamos as instruções, nunca precisaremos nos preocupar com as necessidades de nossas famílias, e que nosso clã também receberia recursos como uma espécie de tributo. — Ela soltou a respiração. — Além disso, temos outra escolha?

A última pergunta de Molly fez Simbady ficar calado. Realmente, os primeiros clãs que haviam se mostrado dispostos a seguir o Clã Bravareia até o Território Sul do Reino de Castelo Cinza foram pequenas tribos que tinham muita dificuldade em sobreviver no deserto. O Clã Osso de Peixe era um deles. O oásis que eles ocupavam estava sendo devorado pelo deserto, e os peixes do Curso da Água Prateada diminuíam cada vez mais, pondo em risco a sobrevivência do clã. Para sobreviver, ou eles deveriam se juntar a um clã maior, ou aventurar-se em direção ao Território Sul.

— Pense positivo, pelo menos esse tal Roland cumpriu a primeira promessa. Não precisaremos mais nos preocupar em morrer de fome no deserto, né?

Simbady não poderia refutar esse ponto. De acordo com a explicação da Lady Lua Argêntea, até mesmo aqueles que não conseguissem obter um trabalho mar afora ainda teriam o direito de receber uma porção básica de comida. Contanto que eles pudessem realizar trabalhos que promovessem a reconstrução do Território Sul, eles não morreriam de fome.

— Além disso, o pessoal do Clã Bravareia está indo pro Vale da Água Negra conosco. Você não precisa se preocupar. — Molly riu e apontou para o porto destruído à distância. — Olhe lá… A terra designada ao nosso clã deve ficar perto daquela torre negra, né? Seria ótimo se pudéssemos ficar aqui pra sempre.

Simbady olhou na direção em que Molly apontou. O Porto de Água Clara parecia ter sido dividido em dois. Metade era uma terra assolada pela guerra, com muitas casas destruídas e cinzas por todo lugar; no chão só crescia erva daninha. Inversamente, a outra metade já possuía indescritível vitalidade. Ali, os Mojins haviam montado várias tendas, e pessoas podiam ser vistas andando pelos campos verdes. As casas danificadas haviam sido derrubadas uma a uma, enquanto casas boas e bonitas eram continuamente transportadas para a área.

O sorriso de Molly fez Simbady se sentir empolgado.

Quando eu terminar meus três meses de trabalho e voltar aqui, será que eu verei meus companheiros de clã vivendo nessas casas lindas de madeira? Seria um sonho.

A cidade, que estava sendo reconstruída, desapareceu lentamente na distância, até que o navio começou a balançar para cima e para baixo, devido às ondas. O único cenário agora era um horizonte totalmente azul.

Eles haviam entrado no oceano.


[1] – A truta-arco-íris é uma espécie de truta originária dos rios da América do Norte que drenam para o Oceano Pacífico mas que se encontra distribuída atualmente por todo o mundo. A espécie foi introduzida em pelo menos 45 países, como peixe de aquacultura. As trutas arco-íris são peixes de água doce.

[2] – Passarela é a prancha de madeira que usam para subir no barco ou navio. Normalmente possuem parapeito para as pessoas se apoiaram, mas parece que essa passarela não tem.

[3] – Um estuário é um ambiente aquático de transição entre um rio e o mar. Um estuário sofre a influência das marés e apresenta fortes gradientes ambientais, desde águas doces próximos da sua cabeceira, águas salobras, e águas marinhas próximo da sua desembocadura.


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