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Release that Witch – Capítulo 830

A Função dos Vermes Gosmentos

Assim como a Bruxa do Gelo havia descrito no relatório, o Verme Gosmento, que parecia uma aranha sem pelos ou uma formiga de barriga gigante, tinha uma parte superior do corpo bem fina com patas protuberantes e uma parte inferior do corpo muito grande, quase do tamanho de um tronco humano.

Era evidente que esse não era o maior tamanho que o Verme Devorador poderia alcançar, já que, para acomodar um Demônio Frenético dentro da barriga, seu abdômen precisaria inchar por pelo menos duas a três vezes. Com base nas “fotografias” tiradas por Soraya da cena, quando o Demônio Frenético ainda estava dentro do corpo do Verme Devorador, o verme mantinha sua cabeça enfiada no chão, deixando apenas sua barriga inchada do lado de fora. Portanto, de longe, parecia um ovo gigante.

— Você o matou? — Phyllis perguntou.

— Isso vai nos economizar tempo. Ele não é agressivo, mas corre muito rápido. — Com essas palavras, Agatha rasgou a barriga do verme com uma espada de gelo.

Um líquido pegajoso e branco jorrou de lá de dentro.

Agatha disse:

— Esse muco pode ser usado como um conservante. O estado é líquido sob condições normais, mas lentamente se solidifica e se transforma numa espécie de clara de ovo cozida com o passar do tempo.

— E… é pra gente comer isso? — Faldi franziu as sobrancelhas.

Agatha balançou a cabeça.

— Eu nunca comi isso, mas suponho que não seja muito saboroso. Enfim, esse líquido não é muito importante. O importante é outro líquido que está no corpo dele.

Desta vez, após passar sete ou oito minutos dissecando as costas do Verme Gosmento, Agatha retirou um órgão verde coberto de gosma.

— Parece uma vesícula biliar[1]. — Phyllis aproximou-se, animada.

— Mas não tem bílis aqui[2]. — Agatha cuidadosamente abriu o órgão e adicionou duas gotas de líquido verde-escuro. Em seguida, ela misturou os líquidos com duas pinças de gelo. — O que vem a seguir é o ponto chave.

Roland segurou o fôlego, observando a “mistura” tomar forma.

Depois de pouco tempo, o líquido gradualmente endureceu e os movimentos da Bruxa do Gelo diminuíram. Depois de dois ou três minutos, as pinças de gelo, que Agatha usava para misturar o líquido, de repente ficaram presas, como se estivessem grudadas em algo.

Roland estendeu os dedos e tocou na superfície do líquido, descobrindo que o líquido havia se transformado numa espécie de gel. Embora fosse gelatinoso, o material não se deformava com tanta facilidade.

Surpresa, Phyllis exclamou:

— Isso é…

— Borracha biológica. — Roland respondeu animadamente. — Foi esse material que prendeu Fran ao chão nas Montanhas Nevadas.

No primeiro relatório de Agatha, Roland havia notado essa característica peculiar dos Vermes Gosmentos das Montanhas Nevadas. De primeira, ele pensou que esse material se parecia com teias de aranha ou algo do tipo, mas após ler os próximos relatórios, ele descobriu que o muco solidificado era tão flexível quanto a borracha. Esse material não apenas poderia aderir à superfície de um objeto, como também poderia ser modelado em várias formas. Essas duas propriedades o tornavam altamente prático.

Realmente, fazia tempo que Roland pedia para as pessoas procurarem por seringueiras[3]. Ele acreditava que, assim que encontrasse uma seringueira, Ramos poderia melhorá-las e transformá-las em super seringueiras. Infelizmente, essa procura foi um fracasso. Ninguém, nem mesmo o Reino do Alvorecer, que era famoso por deter diversos tipos de espécies, sejam de animais ou plantas, nunca tinham ouvido falar de uma árvore com tais características. Como resultado, ele teve que depender de Soraya para produzir materiais elásticos.

A falta de materiais elásticos naturais limitava fortemente a produtividade da Cidade de Primavera Eterna.

Com novas máquinas sendo investidas na produção e com o aumento substancial da produtividade das fábricas e nível de processamento, a deficiência das borrachas havia se tornado um problema crítico. Roland sabia muito bem que a borracha, que poderia ser tanto natural quanto artificial, era apenas um termo generalizado pra todos os materiais elásticos. No entanto, ele não tinha lá muito conhecimento sobre os procedimentos de produção de borrachas em específico.

Mas foi justamente quando Roland se preocupava com esses problemas que os relatórios da exploração das Montanhas Nevadas lhe trouxeram essa surpresa prazerosa.

Foi por isso que ele havia decidido criar esses Vermes Gosmentos, apesar dos potenciais riscos.

Agora que ele estava vendo o verme pessoalmente, ele soube que havia tomado a decisão correta.

Roland não se importava muito com a durabilidade desse muco produzido pelos vermes. Contanto que o material pudesse colar e acelerar as partes móveis, já poderia ser considerado um tipo de borracha.

Agatha disse lentamente:

— Após rever a cena reconstruída por Vera, descobrimos que foram exatamente esses Vermes Gosmentos que prenderam Fran ao chão. Eles a prenderam com esse muco pegajoso ejetado pelo rabo deles. No entanto, o líquido na barriga em si não solidifica. Só quando esses dois líquidos no corpo deles se misturam é que adquirem uma propriedade borrachuda. Se Sylvie não tivesse achado Fran com o Olho da Magia, nós teríamos demorado uns dez a quinze dias para encontrá-la.

Pasha assentiu com a cabeça:

— Entendo. Esse material realmente será essencial para fazermos redes de pesca e cordas.

Alethea respondeu friamente:

— Talvez seja bom para redes de pesca, mas não para cordas. O material é muito macio e elástico. Ninguém gostaria de ter uma corda tão elástica assim. Além do mais, eu não acho que nosso rei mortal traria esses vermes desconhecidos para a Cidade de Primavera Eterna apenas para pescar alguns peixes. — Ela parou por um segundo e depois se virou para Roland. — Independentemente de qual ideia maluca você queira conduzir, não se esqueça de que você representa não só o Reino de Castelo Cinza, mas sim toda a raça humana, incluindo nós.

O comentário dela deixou Roland atônito por um momento. Roland nunca havia imaginado que Alethea, que implicava bastante com ele, seria a primeira a aceitar, e certamente não esperava que ela fosse dizer algo que, de certo modo, reconhecia sua liderança.

Com esse pensamento, Roland sorriu de canto de boca.

— Claro, se tudo correr bem, vocês serão as primeiras a saber dos benefícios desse novo material.

Pasha perguntou:

— A propósito, como fazemos os Vermes Devoradores ejetarem muco sem que o monstro os controle? Não podemos matá-los toda vez, ou podemos?

Agatha colocou o órgão do Verme Devorador dentro de um saco de couro e limpou as mãos.

— Esse é o nosso próximo passo de pesquisa. Se nada funcionar, teremos que criá-los em larga escala para abatê-los de forma sustentável.

Além do “Verme Borrachudo” (Verme Gosmento), Roland também checou outras novas espécies descobertas nas Montanhas Nevadas, tais como a planta que podia brilhar e um tipo de peixe transparente que vivia no rio subterrâneo, mas eles não eram nada se comparados aos Vermes Gosmentos.

O brilho da planta luminosa, que poderia ser usado para iluminação de vias públicas, era simplesmente uma simbiose[4], onde um grande número de vaga-lumes residia na fruta. Quando a fruta fosse consumida, esses vaga-lumes se dispersariam enquanto disseminariam as sementes. Já o peixe transparente dificilmente conseguiria sobreviver na presença do sol, podendo apenas viver no rio subterrâneo, que era escuro. Embora fosse saboroso, Roland não achava que poderia criá-los em larga escala. Eles serviriam apenas como luxo para poucos.

Diante disso, Roland teve certeza de que a espécie mais especial dali eram os “Vermes Gosmentos”, que ele preferia chamar de “Vermes Borrachudos”. No mais, ele estava bastante satisfeito com as descobertas nas Montanhas Nevadas.

Antes de partir para a Terceira Área Fronteiriça, Pasha trouxe duas Bruxas da Punição Divina, as quais Roland nunca tinha visto.

— Vossa Majestade, essas duas se voluntariaram para se tornar dois Vermes Devoradores. Mas antes disso, o senhor poderia levá-las ao Mundo dos Sonhos para deixá-las saborear as delícias desse novo mundo?


[1] – Vesícula Biliar. A vesícula biliar é um órgão anexo presente no organismo humano em forma de pera. Armazena até 50 ml de bile (bílis, em português europeu), que é utilizada no sistema digestivo, não sendo responsável por sua produção.

[2] — Bile, bílis, fel ou suco biliar é um fluído produzido pelo fígado (produz cerca de um litro de bile por dia) e armazenado na vesícula biliar — capacidade de armazenar 20 — 50 ml de bile — e atua na emulsificação de gorduras (homogeneização da suspensão de gordura em dispersão coloidal, análogo à atuação do detergente.

[3] — Seringueira ou árvore-da-borracha é uma árvore da família das Euphorbiaceae. Apresenta folhas compostas, flores pequeninas e reunidas em amplas panículas. Sua madeira é branca e leve e, de seu látex, se fabrica a borracha. Seu fruto encontra-se em uma grande cápsula com sementes ricas em óleo, que pode servir de matéria-prima para resinas, vernizes e tintas. Por serem ricas em nutrientes, as sementes são usadas na produção de suplementos alimentares.

[4] — A simbiose pode ser definida como uma associação a longo prazo entre dois organismos de espécies diferentes seja essa relação benéfica para ambos os indivíduos envolvidos ou não. No meio científico ainda não há um consenso sobre a definição correta do termo simbiose.


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