Após se encontrarem com o estranho homem encapuzado, a jornada se procedeu sem mais nenhum incidente. Ocasionalmente Emilia olhava para a água e entrava em reflexão profunda, mas escondia seu desconforto com um sorriso antes que alguém conseguisse questioná-la.
A única característica distinta do homem que encontraram foi o seu capuz, mas parecia que havia uma conexão entre ele e Emilia. Da perspectiva de Emilia, sua atitude foi um tanto cortês. Ele pode ter sido um pouco extremo ao descrever seu cabelo, mas, o mais importante é que os cabelos prateados de Emilia raramente causavam um boa impressão nas pessoas, ao contrário do caso do homem.
Subaru: “Falando nisso, a capa que inibe o reconhecimento…”
Subaru repentinamente percebeu que os efeitos da capa mágica de Emilia, a qual ela sempre usava para esconder sua identidade, não afetou aquele homem. Se a capa estivesse funcionando normalmente, o homem teria sido capaz apenas de perceber a existência de Emilia. No entanto, ele aparentemente havia visto seus cabelos prateados.
O que quer dizer que o homem conseguiu resistir ao feitiço da capa.
Subaru: “Beako.”
Beatrice: “Então você também percebeu. Emilia e Garfiel não notaram e estão andando por aí despreocupados, eu suponho. Crianças descuidadas.”
Beatrice, andando lado a lado com Subaru, sabia exatamente com o que ele estava preocupado.
Enquanto ela distanciava Subaru de Emilia, ele colocou sua mão no queixo e franziu as sobrancelhas.
Subaru: “Eu não acho que ele usou algum truque, mas aquele homem é simplesmente suspeito. As capacidades da capa de impedir o reconhecimento não deveriam ser resistidas tão fácil assim.”
Beatrice: “Então, ou ele é proficiente em magia ou tem alguma bênção… seja como for, ele não é um homem qualquer, eu suponho. Mas que incômodo.”
Subaru: “Devemos dizer alguma coisa pra Emilia?”
Beatrice: “Não é necessário. Se ele tivesse agido com segundas intenções, Emilia provavelmente teria percebido, eu suponho. Não precisamos nos preocupar tanto.”
Ao ouvir a afirmação de Beatrice, Subaru respondeu com um “Entendo” e aceitou.
Beatrice disse aquilo que acreditava ser correto. Já que ela normalmente observava humanos como passatempo e estava prestando bastante atenção na atitude de Emilia, Subaru a ouviu. Não havia porque causar nervosismo desnecessário.
Ainda assim, Subaru e Beatrice precisam ao menos continuar alerta.
Nesta vasta cidade, se encontrar com o homem mais uma vez era improvável. Mas havia a chance de que ele estava buscando entrar em contato com eles, então é necessário ser cuidadoso.
Garfiel: “Acelera aê, Capitão. Se cê for devagar tipo a Beatrice então a gente só vai chegar lá já ao pôr do sol.”
Beatrice: “Pare de dizer coisas desnecessárias, eu suponho. Sua criatura fedorenta e irritante.”
Garfiel se virou para eles, rindo alegremente em resposta aos insultos de Beatrice.
Subitamente sua expressão mudou. Suas orelhas iam de um lado para o outro e seu nariz se contraiu levemente.
Subaru: “Algo de errado?”
Garfiel: “É só que, perto do hotel… tô ouvindo uma discussão.”
Assim que Garfiel terminou de falar, eles viraram a esquina e Subaru também escutou a comoção. Parecia de fato que alguém estava furioso.
Subaru: “Parece que vai virar uma briga, mas que bagunça.”
Garfiel: “Já que o Capitão fez uma bagunça e tanto lá nas negociações, cê acha que tem moral pra chamar isso aqui de bagunça? Se eu não tivesse lá na Câmara de Comércio, cê ia ser levado pelos guardas.”
Subaru: “Aquilo foi só o meu charme irresistível… Emilia-tan?”
Subaru de repente avistou Emilia, que havia acabado de passar ao seu lado, e chamou seu nome, mas ela o ignorou.
Emilia: “Essa voz, ela soa bem familiar… na verdade, eu acho que é do Joshua.”
Garfiel: “Ah, tem razão. Soa mesmo com a voz daquele desgraçado fracote.”
Emilia: “Seria preocupante se ele estivesse em perigo. Vamos lá.”
Deixando o não tão tenso Garfiel para trás, Subaru correu atrás de Emilia. Ao virar outra esquina, ele finalmente pôde ver o Pavilhão Pluma d’Água, onde…
???: “Tá bom, arrombado, quantas vezes eu vô ter que falar isso!? Para de ser um peso morto e vai chamar logo tua mestra!”
Joshua: “Você é tão barbárico que nunca nem chamaria meu irmão aqui, imagina a minha mestra! Por favor, se retire enquanto ainda consigo dialogar calmamente!”
???: “Ei, não tá entendendo o que eu tô dizendo? Bora então, desgraçado!”
Um homem jovem de cabelo roxo—Joshua estava parado na frente do hotel de braços abertos gritando com outro homem. Embora estivesse olhando para o outro lado, Subaru conseguia ver que ele era um tanto corpulento. Julgando pela atitude dele, uma briga entre os dois seria inevitável.
Emilia: “Já chega!”
No tempo que demorou para Subaru julgar as diferenças em suas capacidade de combate, Emilia havia corrido até eles e os separado. Ao ser empurrado, o rosto de Joshua demonstrou surpresa.
Joshua: “E-Emilia-sama?”
Emilia: “Eu estava voltando da negociação quando ouvi vocês dois. Brigando na frente da pousada assim. Qual o motivo pela discussão de vocês? Se acalme e conte-me mais.”
Ela falava como se fosse o mediador de uma briga entre duas crianças. Nesse momento as coisas começaram a se acalmar.
—Garfiel suspirou de decepção quando os alcançou, como se estivesse dizendo “Ahhh, cadê a porradaria?”.
Joshua: “Todo mundo está chegando um atrás do outro… perdão pelo incômodo.”
Emilia: “Sem problemas. Agora nos conte mais sobre a discussão de vocês.”
Joshua: “Não posso incomodar Emilia-sama com algo tão bobo…”
Joshua teimosamente recusou a intervenção de Emilia no assunto, como se estivesse preocupado que ela usaria esta oportunidade ao seu favor. Se era esse o caso, então ele só estava sendo paranoico. Nem mesmo em um século Emilia pensaria em algo assim tão astuto.
???: “Não foi nada demais. Me mandaram aqui, mas esse cara aí não quer me deixar passar. Então eu já tava preparado pra dar uma surra nele.”
Em meio àquele momento tenso, o homem que havia discutido com Joshua levantou a voz. Seu olhos afiados encararam Joshua com malícia, ele reclamou da recepção em um tom de voz ameaçador.
Joshua: “Quantas vezes eu terei que dizer isso? Se vai esconder sua identidade, pelo menos faça direito. Mesmo usando essas roupas chiques, você não pode esconder sua índole. Mentiras têm seus limites!”
???: “Foi mal então! Também não gosto de ter que me vestir desse jeito. Tô fazendo isso em nome de outra pessoa! Ah, entende logo o que eu tô dizendo, porra!”
O homem coçou sua cabeça, frustrado com Joshua, que se recusava a acreditar nele. Mesmo com a interferência de Emilia, eles continuaram brigando.
Emilia: “Sério isso? Como que resolvemos isso? Subaru, como será que… Subaru?”
Emilia, que estava preocupada com os dois homens teimosos brigando, virou-se para Subaru, que estava pensativo, franzindo as sobrancelhas e com uma de suas mãos no queixo. Estava de olho no homem discutindo com Joshua.
Emilia: “O que foi, Subaru?”
Subaru: “Nada, talvez eu esteja enganado… mas acho que já vi ele antes…”
???: “Hã? Quê? Tá querendo comprar briga comigo tam… hk!?”
Ao ouvir a conversa entre Subaru e Emilia, o homem virou-se na direção deles com seu olhar penetrante. Mas, assim que viu Subaru, seu corpo instantaneamente enrijeceu.
Com seus lábios tremendo, ele apontou para Subaru.
???: “V-Você… aquela vez com o Reinhard…!”
Subaru: “Aquela vez com o Reinhard é meio específico… ah”
Para Subaru, “Aquela vez com o Reinhard” era a única pista.
E então Subaru percebeu quem era. Ele está mais bem-vestido que antes, e sua atitude era um tanto diferente, mas seus olhos malignos não mudaram nada.
Subaru: “Chin! Chin, certo!? Nossa, há quanto tempo. Por que você tá aqui?”
Chin: “Não fica agindo como se a gente se conhecesse! Quem é esse tal de Chin!? Meu nome é Rachins!”
Subaru: “Então é Chin afinal!”
Rachins: “Cala a boca!”
Subaru colocou uma mão no ombro de Chin, e Chin — Rachins, rapidamente a afasta. Subaru franziu os lábios em resposta à sua atitude fria.
Emilia: “Você conhece ele?”
Subaru: “Ah. Bem, ele é um rosto familiar que me lembra de quando eu me encontrei com a Emilia-tan pela primeira vez em um beco. Foi quando ela me salvou de um assalto.”
Emilia: “Eh, isso me… hã, assalto?”
Subaru: “A outra vez que eu vi ele foi quando você foi convocada para a Cerimônia da Seleção Real, fiquei preso em um beco com a Priscilla e ele atacou a gente com os seus amigos. É, ele é gente fina.”
Beatrice: “Para a Betty, parece mais que ele é lixo humano.”
Ao ouvir o que Subaru disse, Emilia e Beatrice reagiram de forma apropriada. Garfiel, que estava um pouco atrás, estalou os dedos ruidosamente, e a expressão de Joshua ficou ainda mais séria. Assim que a situação se tornava mais sinistra, o rosto já pálido de Rachins ficou branco.
Subaru: “Garfiel. O que você acha?”
Garfiel: “Meu incrível eu não vai pegá leve não, é?”
Rachins: “E-Espera, espera um segundo! Sério, espera! Espeeeeera!”
Rachins sentiu a aura de Garfiel e imediatamente percebeu como não tinha chances de vencer. Pode-se dizer que ser capaz de perceber isso era uma habilidade que Rachins desenvolveu neste ano que se passou. Ele caiu de joelhos, implorando com suas mãos sobre a cabeça, logo em seguida apontando para o hotel.
Rachins: “É a verdade! Fui convocado aqui… não, minha chefe que foi convocada! Mas ela disse que ia dar mais umas voltas pela cidade antes, então me mandou aqui pra pousada notificar vocês. Não tô mentindo!”
Garfiel: “Ahh, saquei, saquei… mas, que tal explicar mais devagar?”
A atitude ameaçadora de Garfiel não mudou enquanto se aproximava de Rachins. Embora Subaru se sentisse mal por Rachins, não havia motivo para ter uma impressão melhor dele. Seu jeito de vestir pode até ter mudado, mas seu caráter não, então era praticamente impossível dar uma boa impressão. Era inevitável que Joshua barrasse a entrada dele no hotel. Sinceramente, Subaru podia simpatizar com ele.
Garfiel: “Ei, mas que azarado, hein, desgraçado. Escolher bem o hotel em que o meu incrível eu tava é muita falta de s— kh!”
Garfiel estava encurralando Rachins contra uma parede com o punho cerrado.
No entanto, seus movimentos foram abruptamente interrompidos quando ele rapidamente virou sua cabeça em outra direção. Seu olhos se arregalaram por um breve momento, logo em seguida se estreitando. Ele ficou de cabelos em pé, seus dentes, garras e músculos todos reagiram como se estivessem entrando em uma zona de guerra.
Uma reação súbita e imediata.
Os instintos de batalha de Garfiel despertaram, por isso Subaru e os outros foram infectados pela tensão. Ele seguiu o olhar de Garfiel e…
???: “Rachins, eu estava preocupado que não voltaria. Houve algum problema?”
Nesse momento, Subaru viu uma ilusão de ótica, fogo em pé à sua frente.
As chamas eram de vermelho vivo, assumindo uma forma humana. Não, não era só uma forma humana—era humano. Cabelos vermelhos como uma labareda, olhos azuis como um céu cristalino. Seu fino corpo estava envolto em roupas brancas e seu rosto elegante era inesquecível.
Sua aura, que estava batendo com força naqueles por perto, era a mesma aura que alguém sentiria ao ver um herói. E era exatamente o caso aqui.
Sem sombra de dúvidas. O nome deste homem era…
Subaru: “—Reinhard”
Ao ouvir a voz rouca de Subaru, o jovem homem em questão sorriu gentilmente. Era um sorriso reconfortante que visava acalmar as pessoas.
Apenas com este sorriso, Subaru sentiu como se tivesse sido tomado nos braços por um guardião da paz. Todos pareciam estar relaxando também.
Reinhard: “Há quanto tempo, Subaru. Não esperava te ver aqui. Embora nossa reunião seja graças ao Julius, que me chamou aqui.”
Subaru: “O-Oh. Há quanto tempo. Espera, você tá dizendo que também foi chamado pelo Julius?”
Reinhard: “Tecnicamente, foi Felt-sama aceitando o convite de Anastasia-sama. Estou aqui apenas como seu cavaleiro, e não esperava vê-lo aqui.”
Como sempre, a presença de Reinhard ofuscava a de todos os outros. Embora Subaru já tivesse experienciado isso antes, ele nunca havia sido afetado tanto ao ponto de ter dificuldades em continuar uma conversa casual.
O fato de Subaru conseguir sentir a aura de Reinhard, a qual antes desconhecia, era uma prova de seu próprio desenvolvimento. Quanto mais Subaru treinava, mais ele percebia as diferenças entre os dois.
Reinhard: “Entendo. Já faz um ano, não é? Você parece bem melhor do que na última vez que te vi. Isso me deixa feliz.”
Subaru: “Não diga isso desse jeito, faz parecer que você tá tirando uma com a minha cara. Eu tava um pouco orgulhoso do meu avanço, mas ver você me faz sentir como se não tivesse sido nada.”
Reinhard: “Não era minha intenção. Quando se trata do meu avanço. Estou um tanto decepcionado. Não mudei muito neste meio-tempo, sinceramente, é um pouco vergonhoso.”
Isso era provavelmente porque ele já havia alcançado seu limite, como um jogador que alcançou o nível máximo em um jogo. Ao ver um homem que obviamente já era extremamente forte querendo ser mais forte, Subaru não tinha escolha a não ser se sentir intimidado.
Reinhard: “A propósito, Subaru.”
Subaru: “Oh, uh, o que foi?”
Reinhard: “Aquele que está me encarando já faz um tempo, é amigo seu? Se for o caso, agradeceria se o pedisse para se acalmar um pouco.”
Reinhard sorriu na direção de Garfiel, que estava extremamente tenso, parecia que ele estava preparado para correr em frente com seus dentes e garras à mostra para caçar uma presa. Eram armas as quais Subaru confiou inúmeras vezes neste último ano. No entanto, Subaru não achava que Garfiel seria capaz de machucar o jovem Reinhard que estava em sua frente.
Subaru: “Garfiel, pare. Esse é o Reinhard. É meu… amigo. Ele não vai te machucar, eu não permitiria.”
Subaru hesitou levemente antes de dizer “amigo”.
Ele foi salvo pessoalmente pelo Santo da Espada e a última vez que viu Reinhard foi em sua humilhação na sala de treinamento dos cavaleiros. Quando Reinhard estendeu sua mão para ajudá-lo, Subaru a recusou.
No entanto, enquanto Subaru pensava nisso tudo, Reinhard acenava alegremente com a cabeça.
Reinhard: “Bem, já fui apresentado pelo Subaru. Eu sou seu amigo, Reinhard van Astrea. Agradeceria se pudesse me dizer seu nome.”
Garfiel: “—É Garfiel Tinsel.”
Reinhard: “Um belo nome. Você é bem-treinado. É incrível para alguém tão jovem.”
Subaru fica perplexo com a precisão das afirmações de Reinhard.
No ano seguinte da saída de Garfiel do Santuário, ele aprendeu muito sobre o mundo exterior e conseguiu um temperamento um pouco mais calmo. Se Garfiel tivesse que acalmar sua atitude e seu jeito de falar, então iria parecer que ele tinha vinte anos, quando na verdade ele tinha apenas quinze.
As palavras de Reinhard indicavam que Garfiel havia sido lido feito um livro.
Reinhard: “Eu ouvi alguns boatos sobre os guardas de Emilia-sama. Garfiel Tinsel, o Mais Forte dos Escudos, e Natsuki Subaru, o Cavaleiro da Meio-Elfa. Me orgulha chamá-lo de amigo.”
Subaru: “Tô feliz que finalmente alguém me chamou pelo título adequado.”
Reinhard: “Eu ouvi alguns outros títulos, mas digamos que não eram muito agradáveis. Falando nisso, o espírito do título “Cavaleiro Espiritualista” é aquela garotinha ali?”
A atenção de Reinhard voltou-se para Beatrice, que se encolheu ao lado de Subaru, que segurou sua mão. Reinhard se ajoelhou para olhá-la nos olhos.
Reinhard: “Consigo dizer que você é um grande e respeitado espírito. É uma honra poder falar com você assim.”
Beatrice: “…Betty é o espírito contratado com o Subaru, Beatrice. Até que aprecio sua admiração, eu suponho. É só que, mantenha sua distância. Tenho certeza de que sabe o porquê, eu suponho.”
Reinhard: “Entendo perfeitamente. Desculpe por incomodá-la.”
Ao contrário de Garfiel, ela não demonstrou nenhuma cautela. No entanto, ela se agarrou à mão de Subaru com um pouco mais de força que o normal, e não conseguia esconder que estava tremendo levemente.
Mas não era porque estava com medo. Era outra coisa.
Então Reinhard, com suas palavras de respeito e humildade, virou-se para Emilia.
Reinhard: “Emilia-sama, há quanto tempo. Mesmo em meu território, ouvi sobre suas conquistas várias e várias vezes.”
Emilia: “É, há quanto tempo, Reinhard. Já faz um ano desde que nos vimos no palácio. Também ouvimos sobre suas conquistas.”
Reinhard: “As nossas nem se comparam às de Emilia-sama. Não pude fazer muito para ajudar minha mestra. Visto o que Subaru fez, posso apenas ficar frustrado.”
Emilia: “Hahaha. É, o Subaru é incrível. Estou orgulhosa do meu cavaleiro.”
O peito de Emilia se encheu de orgulho após ouvir os elogios de Reinhard. Embora ela obviamente não tenha percebido a retórica social, ouvir o que Emilia disse deixou Subaru feliz, mesmo que a situação fosse igualmente constrangedora.
De qualquer jeito…
Subaru: “Parece que já nos cumprimentamos o suficiente, mas você que chamou o Rachins pelo nome mais cedo?”
Emilia: “Ah, verdade. Você o conhece, Reinhard?”
Reinhard: “Sim. Ele está trabalhando sob as ordens de Felt-sama no momento. Embora seja difícil encontrar ocasiões nas quais ele seja útil, Felt-sama tem altas esperanças nele.”
Subaru: “A Felt contratou esse cara!?”
Subaru ficou em choque ao ouvir esta informação. Reinhard virou-se para Subaru e franziu as sobrancelhas de forma a pedir desculpas.
Reinhard: “Perdão por falhar em considerar seus sentimentos, especialmente quando eu estava presente no beco em que vocês se encontraram. Muitas coisas aconteceram depois disso… quando eu disse aquilo para Felt-sama, ela exigiu que eu o levasse para lá.”
Subaru: “Pois bem, se é o que você diz então não tem do que duvidar, mas… sério, que tipo de coincidência é essa? Esse cara, se bem que… foi só ele?”
Reinhard: “Felt-sama contratou os três, incluindo ele. Estes três foram de fato os homens que tentaram assaltá-lo no beco.”
Subaru: “O trio inteiro foi junto!?”
Perante esse destino cruel e maquiavélico, Subaru não tinha escolha a não ser amaldiçoar os céus.
Logo depois de ser levado para esse outro mundo, Subaru foi atacado várias vezes pelo mesmo trio de pessoas. Ele não havia esquecido deles, mas também não esperava encontrá-los neste lugar.
Emilia: “Bem, deixando a surpresa do Subaru de lado… Rachins está sob o seus cuidados e os da Felt-chan, correto?”
Reinhard: “Correto. Felt-sama queria passear pela cidade antes e o enviou para notificar a pousada de sua chegada. Vim aqui pois ele ainda não havia retornado.”
Reinhard repetiu o que Rachins havia dito, enquanto Rachins acenava rapidamente com a cabeça.
Rachins: “I-Isso mesmo! Fiquei falando isso várias e várias vezes. Todo mundo duvidou de mim por nada. Exijo desculpas, ora!”
Reinhard: “Rachins. Já te disse isso muitas vezes, mas suas palavras como mensageiro não contêm autoconsciência. Embora as pessoas possam captar a situação em geral, acreditar em você é difícil.”
Rachins: “Desgraçado, tá do lado de quem aqui?”
Reinhard: “Estou do lado da justiça. E, neste caso, acho que um mal-entendido entre você e o irmão de meu amigo era inevitável.”
Desviando o olhar do irritado Rachins para Joshua, Reinhard sorriu para ele, que retribuiu com um sorriso meio desajeitado.
Joshua: “Há quanto tempo, Reinhard-sama. Desta vez, parece que meu engano fez com que seu mensageiro…”
Reinhard: “A culpa é nossa, Joshua. Outra, esse honorífico é um tanto irritante. Eu sei que já faz bastante tempo, mas agir assim tão distante me faz se sentir um pouco solitário.”
Joshua: “Embora meu honorável irmão (nii-sama) e Reinhard-sama sejam amigos, no momentos eles são oponentes políticos.”
Reinhard: “Você não mudou nada. Não precisa imitar o Julius nesse quesito.”
Reinhard soltou um sorriso descontente enquanto Joshua parecia cerrar os dentes.
—De qualquer forma, a confusão se acalmou sem ninguém sair ferido. Embora o problema temporário tenha passado, ele foi substituído pelo surgimento de outras perguntas.
Subaru: “Ainda assim, se nós dois fomos chamados aqui, o que será que a Anastasia tá planejando?”
Reinhard: “O convite que foi enviado a nós dizia que ela queria trocar uma informação útil por algo. Embora tivéssemos cogitado que Anastasia-sama tinha outras coisas em mente, não esperávamos que Emilia-sama havia sido convidada também.”
Subaru: “Tá me dizendo que a gente deve se preparar pra algo ainda mais surpreendente?”
Reinhard: “É uma possibilidade. O que acha, Joshua?”
Sendo um dos responsáveis pela cerimônia, o jovem homem arrumou seu monóculo e disse “É o que veremos.” para se desviar do assunto.
Com sua atitude normal e agradável, Reinhard virou-se para o hotel.
Reinhard: “Essa é uma construção bem rara, o Pavilhão Pluma d’Água. Ouvi dizer que este tipo de arquitetura existe apenas em Kararagi.”
Subaru: “Sério? Isso é surpreendente. Você também nunca tinha visto esse tipo de coisa? Nunca foi pra Kararagi?”
Reinhard: “É, estou banido de sair do país por medo de que ocorra uma brecha no tratado entre os países. Até mesmo evito as fronteiras. Já estamos perto o suficiente de Kararagi, Pristella é praticamente o limite para mim.”
Emilia e Subaru ficaram perplexos com as limitações de onde Reinhard podia ir. Talvez seja uma piada, mas Reinhard, rindo levemente, não deu a entender que era uma.
Perguntar seria um pouco constrangedor, então deixaram esse pensamento de lado.
Subaru: “Já estamos aqui faz um tempo, e é meio cansativo ficar na entrada esse tempo todo. Que tal a gente entrar, já que a Felt ainda não tá aqui?”
Reinhard: “Claro, não estou supervisionando ela no momento. Às vezes ela sai por aí para brincar. É bom relaxar de vez em quando.”
Rachins: “…Às vezes? Brincar por aí não é o que ela faz o tempo todo?”
Reinhard: “Rachins, por acaso disse algo?”
Rachins: “Nadica de nada. Então, posso ir logo? É divertido e tal, mas vamos rápido com essa porra.”
Rachins soltou um palavrão ao mesmo tempo que pedia permissão para sair. Reinhard não tinha escolha a não ser suspirar.
Reinhard: “Volte a proteger Felt-sama junto com o Carmberly e o Gaston. Embora não hajam muitos perigos, Rom-dono não está conosco, caso Felt-sama queira fazer algo perigoso, você que terá que pará-la.”
Rachins: “Saquei. O que você vai fazer?”
Reinhard: “Ficarei com Emilia-sama na pousada. Caso aconteça algo, sinalize para mim usando sua magia de fogo e estarei ao seu lado dentro de cinco segundos.”
Rachins: “Ei, você não tá de brincadeira quando diz isso, né?”
Assim que terminou, Rachins passou por Subaru e companhia. No meio do caminho encarou Joshua, enquanto ainda tomava cuidado com Reinhard. Ele é realmente um exemplo perfeito de pequeno vilão.
Subaru: “Bem, bora entrar. Vamos dar um oi pra Anastasia-san e dizer que o Reinhard tá aqui.”
Reinhard: “Creio eu que o Joshua seja o encarregado disto. Bem, vamos indo.”
Joshua: “…Sim, sou eu. Perdão pela inconveniência.”
Joshua parecia levemente perdido. Será que foi por que a situação se desenrolou de forma estranha? Para confortá-lo, Subaru, Reinhard, Emilia, Garfiel e até Beatrice o seguiram obedientemente para dentro da pousada.
Subaru: “Vou me sentir mal se jogar tudo pra cima dele.”
Reinhard: “Irei acompanhá-lo junto de você também, Subaru.”
Emilia: “Ah, vocês dois estão indo. Também vou.”
Garfiel: “Se o Capitão e Emilia-sama tão indo, então o meu incrível eu vai também.”
Beatrice: “Betty não quer ser a única excluída… mas não iria me incomodar muito se eu fosse, eu suponho.”
Subaru/Emilia: “Sim, você é adorável.”
Ambos Subaru e Emilia, estando um de cada lado, a acariciaram gentilmente. Beatrice, irritada, afastou suas mãos e então obendientemente os segurou pela manga.
Joshua: “Por aqui. Anastasia-sama está atendendo os convidados no momento.”
Eles estavam em um cômodo diferente da sala de jantar. Subaru prestou atenção nas palavras de Joshua.
Subaru: “Convidados? Ela chamou ainda mais gente?”
Joshua: “…Não importa se me encarar com esses olhos ameaçadores ou não, vai descobrir de qualquer forma.”
Subaru: “Qual é, meus olhos não são tão assustadores assim!”
Joshua: “Não precisa levantar sua voz feito um majuu, te entendo do mesmo jeito.”
Subaru: “Que severo, e de que tipo de majuu a gente tá falando? Cachorro, coelho ou baleia? Escolha um.”
Esses eram os três majuus que ele mais detestava. Haviam bem mais, é claro, como aquele majuu negro com um rosto parecido com o de um leão, mas não deixaram uma grande impressão nele.
Enquanto Subaru estava forçando sua memória, Reinhard gentilmente sussurrou “Baleia…”, interrompendo seus pensamentos.
Reinhard: “Baleia, você está falando da Baleia Branca, certo, Subaru?”
Subaru: “…É, essa mesmo. Essa é a pior baleia. Tiveram tantas vezes em que eu pensei que ela tava morrendo mas ela simplesmente se recusava a morrer. Parando pra pensar, aquilo foi basicamente um milagre.”
De fato, o aumento no número de baleias brancas sinceramente fez a vitória deles parecer um milagre.
Aquele majuu era uma criatura tão incrível, e o desastre que causava era igualmente extraordinário. Tantas vidas haviam sido perdidas para ela que, até mesmo agora, o peito de Subaru se apertava de dor só de pensar.
Reinhard: “A subjugação da Baleia Branca, se importaria de me contar sobre ela depois em mais detalhes? Aquele monstro é um tanto relevante para mim. Se bem que, seria uma longa história se fosse para eu contar.”
Subaru: “—Claro. Quanto à sua história, se for difícil pra você contar, então não precisa.”
Subaru está apenas vagamente ciente das experiências que Reinhard teve com a Baleia Branca. Para Subaru, a batalha contra a Baleia Branca foi o fruto da obsessão duradoura com vingança de um certo espadachim. E Subaru também sabia das origens do Demônio da Espada e de seu relacionamento com o jovem de cabelos vermelhos. Já o que aconteceu entre os dois, isso era impossível que Subaru soubesse.
—Que não era um assunto que podia ser tocado simplesmente por causa de curiosidade, era assim que Subaru considerava.
Reinhard: “Obrigado.”
E então, Reinhard agradeceu pela consideração de Subaru.
Subaru buscava nada mais que aquilo.
Ao ver o olhar baixo de Reinhard, Subaru soltou um longo suspiro. Emilia e Beatrice olharam preocupadas para ele, que respondeu com um sorriso de “Tá tudo bem!”
Joshua: “Chegamos. Por favor, aguardem neste recinto até que a reunião chegue a um fim.”
Joshua, que os havia levado até lá, estava frente à uma porta de correr. Ela havia sido feita com o que parecia ser papel washi, Subaru, embora encantado, sentiu como se o seu espírito japonês tivesse ficado um pouco estranho.
No entanto, seus pensamentos otimistas não duraram muito.
Joshua: “Com licença. Se importariam se mais convidados entrassem?”
Ele direcionou a pergunta aos convidados que já estavam ocupando a sala de chá. Alguém lá dentro se mexeu levemente e respondeu…
???: “—Claro. Não temos muito o que fazer por enquanto.”
Subaru franziu as sobrancelhas ao ouvir a voz. Era estranhamente familiar. Não apenas isso, Subaru estava pensando na pessoa a qual a voz pertencia há pouco tempo.
Ninguém fora Subaru pareceu perceber, melhor dizendo, ninguém fora Subaru e Reinhard, cujo rosto se enrijeceu e seus olhos oscilavam com hesitação.
Joshua, sem perceber, abriu a porta. Houve um ruído baixo de madeira batendo contra madeira ao mesmo tempo em que os ocupantes do cômodo eram revelados.
Em seguida, os ocupantes, sentados em tapetes de pano, olharam para os novos convidados.
Reinhard: “Honorável Avô” (ojisama).
Wilhelm: “É você, Reinhard?”
As vozes de vô e neto se sobrepuseram.
Esta era um reunião não intencional entre Reinhard van Astrea e Wilhelm van Astrea.