Encarnação era diferente de personificação ou alter ego. Um alter ego desapareceria algum dia e uma personificação era algo completamente diferente de um deus, pois teria sua própria personalidade. É por isso que algumas vezes os Apóstolos eram chamados de personificação dos deuses que serviam. Porque eles experimentavam o poder do deus e embora sua identidade por vezes se misturasse com a do deus, eles nunca perdiam o seu senso de si.
Por isso que os deuses e demônios preferiam usar Apóstolos. Se algo desse errado com suas encarnações, eles poderiam morrer. Além disso, nenhum deles queria estar em uma posição em que poderia morrer sem poder usar todos os seus poderes.
No entanto, o deus Brahma odiava a sociedade de deuses e demônios no 98º andar e decidiu descer para os andares inferiores. Ele também saiu de Elohim porque achava que eles eram parecidos com os deuses do 98º andar. Já que Elohim não poderia bater de frente com um deus de verdade, eles não podiam fazer nada enquanto o observavam ir embora.
Brahm continuava em busca de legados e mitos, já que o domínio do deus Brahma era a criação e o conhecimento. Aprender coisas novas através de experimentos com alquimia era o suficiente para Brahm. Obviamente, ele mantinha sua identidade como a encarnação do deus Brahma um segredo. Não seria nada bom se todos soubessem disso.
Os princípios de Brahm eram simples. Ele não interferiria com coisas que não tivessem nada a ver com ele. Elohim tentou esconder coisas sobre ele para que nenhuma informação vergonhosa sobre eles fosse revelada. Jeong-woo só sabia sobre a identidade de Brahm por causa de um certo incidente. Ele prometeu não contar a ninguém e somente fez anotações em seu diário. Claro que Yeon-woo não mencionou nada sobre isso.
Finalizar a Pedra Filosofal não tinha nada a ver com o fato de que Brahm era uma encarnação. Como Brahm, ele também não sentia a necessidade de interferir com coisas que não tinham nada a ver com ele. No entanto, Yeon-woo ficou um pouco aborrecido por Brahm saber de seus poderes ocultos.
Por um momento, Yeon-woo não disse nada e olhou para Brahm e a garotinha. Vários pensamentos giravam em sua cabeça. Como ele deveria responder? Primeiro, ele pensou em fingir que não sabia do que Brahm estava falando, mas ao ver como Brahm tinha tanta certeza, ele percebeu que seria algo inútil.
“Foi por causa dos Olhos Dracônicos dela?” Yeon-woo decidiu jogar limpo, pelo menos parcialmente. Se ele quisesse que Brahm o ensinasse suas habilidades, eles teriam que criar um pouco de confiança.
Yeon-woo até estava planejando contar a ele sobre a Pedra Filosofal quando começassem, sem se preocupar que Brahm pudesse espalhar a informação. ‘Afinal, ele é alguém que adere aos seus princípios até o fim, tanto que nem ajudou Jeong-woo quando estava morrendo.’
Seria uma mentira se Yeon-woo dissesse que ele não detestava Brahm. Seu irmão pensou que eles eram amigos, mas no fim Brahm nem apareceu. Embora ele não tenha ajudado os inimigos de Jeong-woo, ele permaneceu somente como um espectador o tempo inteiro. Mas Yeon-woo sabia que podia confiar nele ao fazer um acordo.
“Isso mesmo. Os olhos dela e a minha habilidade trabalharam juntos.” Brahm acariciou a cabeça da garotinha e ela apertou suas roupas ainda mais forte.
Yeon-woo assentiu. Se a Rainha do Verão tivesse usado seus Olhos Dracônicos para vê-lo e se seu Coração Dracônico não estivesse danificado, ele poderia ter sido pego também. Mas se os Olhos Dracônicos da garota e os poderes de Brahm fossem combinados, seria extremamente efetivo. Embora provavelmente Brahm tenha contribuído com noventa por cento e a garota somente dez por cento.
Obviamente, Yeon-woo fingiu não saber de nada. Ao invés disso, ele olhou em direção à garotinha que recuou ainda mais. Ele perguntou, “Ela é filha de Ananta?”
Os olhos de Brahm brilharam. “Você a conhece?”
“Só ouvi falar dela. A Rainha do Verão odeia sua própria espécie, então se recusa a ter filhos, o Asas Celestiais, que era o sucessor de Kalatus, está morto. O que significa que só pode ser Ananta. Essa garota deve ser pelo menos um quarto dragão.”
Já que Ananta era uma Meio-Dragão e não existia mais nenhuma espécie Dracônica, o sangue da criança provavelmente estava diluído a esse ponto. Além disso, quando Yeon-woo verificou com sua Percepção Extrassensorial, ela parecia muito mais fraca do que Ananta. “Mesmo fugindo de Elohim, você me envolveu porque quer que eu o ajude com a criança.”
Os lábios de Brahm se curvaram— seu sorriso podia ser confundido com um de alegria, mas também parecia cínico. Sempre era uma boa coisa encontrar alguém que poderia adivinhar seus pensamentos. “Por quê? É tão ruim assim?”
“É claro que não. Na verdade, é um alívio, porque estava pensando em como poderia fazer um acordo com você.” Já que era Brahm que iria propor o acordo, tudo mudava e eles poderiam negociar agora. Era provável que Brahm tivesse um pedido simples. ‘Provavelmente ele está tentando ajudá-la a aprender os poderes de um dragão.’
Parecia que a garota não conseguia usar os poderes da espécie Dracônica apesar de ser um Humano Dracônico. Para onde a mãe dela havia ido?
“Ótimo. Primeiro preciso verificar se você tem as qualificações. Quem é você?” Ele não estava perguntando por um nome, mas sim como Yeon-woo se tornou o sucessor de um dragão quando a espécie já tinha sido extinta.
“Não vejo motivo para precisar responder essa pergunta. Ao invés disso, por que simplesmente não mostro que tenho as qualificações?” Yeon-woo despertou seu Corpo Dracônico. Escamas azul marinho cresceram em sua pele e seus Olhos Dracônicos surgiram com pupilas verticais.
“Ah!” A garota abriu a boca e soltou um som pela primeira vez. Ela se escondeu atrás de Brahm novamente, seu rosto vermelho, mas ainda espiando Yeon-woo. Ela parecia aliviada por ver alguém que era da mesma espécie.
Yeon-woo olhou para Brahm e perguntou. “Acha que sou qualificado agora?”
“Sim, mais do que qualificado.”
“Então vamos falar dos detalhes.”
Yeon-woo seguiu Brahm para dentro da cabana. O interior era organizado em áreas com diferentes poções e ingredientes e havia vários baús cheios de materiais raros.
Galliard saiu, dizendo que iria voltar para verificar se Aether os tinha seguido. Graças a isso, Yeon-woo e Brahm foram capazes de discutir várias coisas em particular.
“Na verdade, se Galliard não tivesse te mencionado, eu não teria sentido a sua Energia Dracônica. Você foi a primeira pessoa de quem ele falou tanto. E é claro que foi meio desagradável ouvir que você usou o meu nome daquele jeito.”
“Peço desculpas por isso.”
Só havia uma pessoa para quem Brahm se abria: Galliard. A relação que se iniciou quando ele estava procurando pelo Cálice de Undine se transformou em uma amizade próxima. Yeon-woo agradeceu Galliard em sua mente e perguntou, “Ouvi dizer que você não interfere nos negócios de outras pessoas. Por que está tomando conta da criança de Ananta?”
“Você não precisa me dizer por que é um Humano Dracônico e eu não preciso te contar por que estou tomando conta dela. Mas posso te dizer que fiz um acordo com Ananta.” Brahm estreitou os olhos. “Não é mais importante dar um ao outro o que cada um precisa?” Ele foi direto ao ponto. “Estou pedindo somente uma coisa: que você ensine sobre dragões para a garota enquanto estiver aqui.”
Yeon-woo virou para olhar a garotinha. Ela estava espiando por trás de Brahm e rapidamente se escondeu quando seus olhos encontraram os de Yeon-woo. “Há algo que eu não devo contar a ela?”
“Não. Conte tudo a ela. Poderes, conhecimento, família. Suas localizações. E até suas histórias.”
Contar a história significava contar a ela sobre a extinção da espécie também. Apesar de Brahm parecer afeiçoado à garota, ele ainda não queria poupá-la disso.
“Qual o nome dela?”
“Sesha.”
Na linguagem da espécie Dracônica, significava “resquícios”. Embora o nome combinasse com a garota, era um pouco triste.
“E caso necessário, gostaria que você agisse como o guardião dela. Mesmo que estejamos cuidando da segurança o máximo possível, nunca se sabe. Além disso, você parece habilidoso o suficiente para protegê-la.”
“Certo, eu aceito.”
Os olhos de Brahm se arregalaram em surpresa quando Yeon-woo aceitou suas condições tão fácil assim. Ele estava pedindo que Yeon-woo se envolvesse em seus problemas, então a aceitação dele parecia indicar que ia pedir algo realmente sério em troca.
“Se isso é tudo, farei o meu pedido.”
“Vá em frente.”
“Quero estudar o Livro de Mercúrio que você escreveu.”
Os olhos de Brahm se endureceram. Uma energia intimidadora começou a rodear Yeon-woo. O brilhante mundo ilusório de repente se tornou escuro e estagnado. Yeon-woo havia dito algo perigoso.
O Livro de Mercúrio era um livro de magia que Brahm fez com todas as suas memórias e conhecimentos de quando era um deus. Yeon-woo basicamente estava pedindo a Brahm tudo que ele sabia e não era surpresa que Brahm tenha se ofendido.
Esse lugar era o território de Brahm e um simples passo em falso poderia custar a vida de Yeon-woo. Mas ele se manteve calmo. “Sesha está assustada. Não tem problema para você?”
Brahm mordeu seu lábio inferior e recolheu sua energia. Foi a primeira emoção que ele mostrou desde o início e Yeon-woo percebeu isso. Ele parecia se importar com Sesha mais do que parecia e talvez até a considerasse como uma filha. “Como você sabe sobre o Livro de Mercúrio?”
“Você não ouviu quando estava falando com Galliard? Fiquei sabendo através de uma pessoa que retornou.”
“Ninguém sabe sobre o livro.”
“Não é um completo segredo já que algumas pessoas o viram pessoalmente.”
Brahm estreitou os olhos e encarou Yeon-woo. Não havia nada mais rude do que pedir os segredos de alguém e Brahm estava claramente considerando se deveria ou não continuar com o acordo. Yeon-woo sabia que deveria dar um passo para trás nesse ponto. “Não estou dizendo que quero aprender tudo.”
“Oh?”
“Somente as seções sobre alquimia.”
“Alquimia?”
“Sim.”
Os olhos de Brahm se acalmaram levemente. “E quanto ao nível?”
“Tudo que for possível.”
“Entendo. Você espera usar o seu Conhecimento Dracônico para preencher o resto.”
“Não vou negar isso.”
Brahm ficou mergulhado em pensamentos por um momento, imaginando os diferentes cenários para ver se o acordo era desvantajoso ou não para ele. “Qual é o nível do seu conhecimento de alquimia?”
“Acho que sei o básico. Aprendi um pouco sobre forja com Henova e runas mágicas com Victoria.”
Brahm parecia surpreso. Ele também era um dos cinco melhores artesãos e se Yeon-woo havia aprendido o básico desses dois, significava que ele estava bem mais a frente se comparado aos outros. “Que bom, não gosto de ensinar alguém que não sabe de nada. Além disso, tenho coisas que preciso fazer, então não vou conseguir te ensinar muito.”
“Não tem problema.”
“Ótimo, então temos um acordo.” Eles fizeram o juramento de mana.
「Meu deus, esse cara é assustador. Por que a voz dele é tão fria? Eu quase saí batendo nele.」
「Ouvi dizer que ele era sensato. Talvez ele tenha mudado por causa da criança.」
Esses eram os pensamentos de Shanon e Hanryeong sobre Brahm.
Daquele dia em diante, Yeon-woo aprendia com Brahm duas horas por dia. O conhecimento que ele havia aprendido com Henova foi uma grande ajuda. Apesar de Henova dizer de um jeito modesto que não sabia de muitas coisas, ele havia sido um ferreiro por um bom tempo e seu conhecimento era profundo.
Algumas vezes, era Brahm que aprendia. E durante o dia, Yeon-woo tinha que cuidar de Sesha, já que Brahm estava preocupado com outras coisas.
「Virou babá agora? Acho que finalmente vamos ver você com problemas, huh? Hehehe.」
Shanon riu, sem ter certeza se Yeon-woo poderia cuidar de uma criança. Se ele não fizesse a garota chorar, já seria um milagre.
Sesha parecia interessada em Yeon-woo, pois eles eram da mesma espécie, mas ela não queria se aproximar. Ela simplesmente ficava espiando de longe e não dizia nenhuma palavra.
「Olha, ela está com medo de você! O que vai fazer, Mestre? Parece que ela vai chorar mesmo que você não fale com ela. Ahem, não se preocupe, na verdade, eu…」
‘Quem disse que eu não sei como lidar com crianças?’
「Huh? Quer dizer que…」
Shanon ficou surpreso com a resposta confiante de Yeon-woo. Ele ignorou Shanon e foi para a cozinha. Embora só tivessem homens morando lá, a despensa estava cheia de ingredientes que ele precisava. Ele pegou farinha, ovos, açúcar, leite, óleo, morangos, bananas e calda de chocolate. Passou um momento tentando se lembrar da receita e começou a cozinhar.
「Hm? O que é isso?」
「Ele está cozinhando. E parece que sabe o que está fazendo.」
「O quê? Essa parede… cozinhando?」
Ignorando a piada de Shanon, Yeon-woo misturou os ingredientes para fazer uma massa. Sesha ficou curiosa e se aproximou de Yeon-woo para ver o que ele estava fazendo.
Yeon-woo sentiu a presença de Sesha, mas fingiu não perceber. Ele sabia que forçá-la a se aproximar dele só a faria fugir e era melhor deixá-la tomar a iniciativa. Ele despejou a massa em uma frigideira e um deliciosos aroma preencheu o ar.
Sesha se aproximou lentamente dele. Já havia se passado algum tempo desde a última refeição e ela já estava sentindo fome. “O que é isso?” ela perguntou a Yeon-woo, puxando suas roupas.
“Um lanche.”
“Lanche?” Os olhos de Sesha brilharam. Ela parecia tão fofa que Yeon-woo não conseguiu conter um sorriso. Ela o lembrava de alguém e uma memória que ele tinha mantido no fundo de sua mente ressurgiu. Ele colocou a panqueca em um prato e enfeitou com morangos e bananas, despejando a calda de chocolate por cima.
“Coma.”
Sesha subiu desajeitada em uma cadeira e devorou a panqueca. Não muito tempo depois, sua boca estava toda suja de calda de chocolate. Ao lado dela, Yeon-woo limpou a calda em silêncio com um lenço. Ele não disse nada, mas naquele momento, ele parecia uma pessoa de bom coração.
「Meu deus! O mundo vai acabar! A Torre vai desmoronar!」
「Não sabia que ele também tinha esse tipo de personalidade.」
Shanon começou a pular e Hanryeong se lembrou de quando ele cuidava de seu filho. Rebecca apareceu por cima da cabeça de Yeon-woo e sorriu também.
O sorriso não sumiu do rosto de Yeon-woo enquanto ele observava Sesha terminar as panquecas. Quando estava na África, ele começou a sair com uma garota por um tempo e ela tinha uma filha da mesma idade de Sesha. Ele fazia panquecas frequentemente para ela. Apesar de eles terem se separado, essa era uma das memórias preciosas de Yeon-woo. “Está bom?”
“Sim!” Sesha lambeu a calda de chocolate no prato e o levantou. “Quero mais por favor!”
Yeon-woo sorria enquanto observava Sesha.
kkkkkkkkkkkkkk que fofinha