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Second Life Ranker – Capítulo 62

A Torre (4)

Enquanto as pessoas esperavam pelo reset no timer do estágio da Torre, alguns visitantes apareceram.

— Isso é uma baita de uma confusão. — Um homem de roupão azul falou num tom irritado enquanto olhava para os edifícios arruinados em sua frente, e a comitiva atrás dele permanecia com expressões duras.

A situação era mais grave do que esperavam no relatório. Não só todas as pessoas morreram, como tudo o que tinham construído, coletado e ganhado em segredo também se transformou em pó durante a noite. Até a pedra que passaram anos para fazer desapareceu sem deixar rastros. Era virtualmente impossível conduzir uma investigação adequada.

— Bild, seu imbecil.

— Eu devia saber quando ele começou a ficar tão ganancioso. O que caralhos ele fez para as coisas acabarem assim?

— E eu estava pensando que o Lorde Leonte estava a um passo de se tornar um dos Deuses Marciais. Que merda!

Os seguidores cerraram seus dentes, amaldiçoando o sumido Bild. Entretanto, ao mesmo tempo, eles tinham que ser extremamente cautelosos.

— Encontre-o custe o que custar, mesmo que isso signifique desenterrar todas as ruínas e procurar por todo o Tutorial!

— Sim, senhor!

— Sim, senhor!

Após a ordem, os seguidores inclinaram suas cabeças e rapidamente se dispersaram. Então, o mesmo homem olhou para as ruínas com olhos ardentes e rasgou seus dentes, estressado.

— Num momento tão crucial que nem esse…

Seu nome era Leonte, um dos 5 líderes do Cheonghwado e ex-membro de Arthia.

*   *   *

— Você pode me ensinar a ser ferreiro? — Yeon-woo perguntou depois de Henova se recuperar.

E as sobrancelhas do anão se agitaram mais uma vez. — Você…!

— Eu não estou brincando. Eu realmente quero aprender o básico de ferraria. — Yeon-woo disse com franqueza.

Henova, percebendo a sinceridade do cliente regular, gentilmente abaixou seu martelo que estava segurando e pegou o cachimbo que estava em seus pés, o colocou na boca.

— Okay. Ele fuma muito

No olhar calmo de Yeon-woo, Henova soprou uma nuvem de fumo branca. — Por que você quer aprender?

— Tem algo que eu quero consertar.

— Consertar? Consertar o quê?

— Me desculpe, mas não posso mostrar. — Yeon-woo brincou com o relógio no bolso. O objeto já estava em um mau estado quando ele o recebeu, por isso queria o abrir e consertar o máximo possível para ver se tinha algo que perdeu ou uma pista que deixou passar.

Além disso, o relógio tinha memórias preciosas dele e de seu irmão.  Visto isso, ele queria restaurar ao estado original, mas como era um artefato mágico, não se atreveu a tocar nos dispositivos do interior.

Henova poderia ser capaz de reparar uma vez que ele é um bom ferreiro, além de também um engenheiro mágico e alquimista. No entanto, Yeon-woo não queria mostrar o relógio de bolso para o anão, já que não confiava nele ainda.

Fora isso, considerando o quão próximo ele era de seu irmão, Henova iria imediatamente reconhecer o relógio, e embora Yeon-woo pudesse dizer que o anão era um bom homem, isso não significava que ele era confiável. — E acima de tudo, eu mesmo quero consertar.

Era o item que seu irmão mais novo tinha deixado para trás, e ele queria tratar dele ele mesmo. Poderia ser uma teimosia inútil, mas era uma promessa que ele fez a si mesmo.

— Ok, então. — O Ferreiro soprou fumo e acenou sem hesitar. Yeon-woo não esperava essa reação.

— Eu pensei que você ficaria bravo comigo.

— Por que eu ficaria?

— Porque eu estou pedindo para você me ensinar algumas habilidades de ferreiro sem nem mesmo uma explicação adequada. É, eu sei, estou agindo sem modos.

Henova levantou o canto de seus lábios com um sorriso, como se ele tivesse algo interessante. — Então, você sabe que tá sendo um arrombado?

Yeon-woo ficou sem palavras.

E o anão bufou novamente. — Não diga se não quiser. Eu não ligo mesmo. Os jogadores que saem de seu mundo para escalar a Torre possuem uma história para contar. Só pega um transeunte qualquer e pede pra ele te falar sobre sua vida. Você provavelmente poderia escrever um livro inteiro com a resposta.

Henova terminou com uma risada enquanto algo tremeluzia em seus olhos. Yeon-woo percebeu que era remorso.

— Aposto que você não é diferente, especialmente com uma máscara dessas! Você está avisando todo mundo que tem muitos segredos.

Com uma gargalhada, Henova puxou o gás do cachimbo uma última vez e o colocou no chão. Era a sua primeira risada genuína desde que conheceu Yeon-Woo, e seus olhos agora continham outras emoções além de irritação e cautela.

Então, o anão ferreiro pegou o martelo de novo — Eu não tenho tempo para te dar uma lição adequada pois tenho que cuidar do seu artefato, mas eu irei te ensinar o básico, você vai ter que ver e aprender o resto.

— Obrigado.

— Hum! Acha que eu ligo? Eu estou fazendo isso, pois não tenho nada pra fazer.

Yeon-woo fingiu que não viu as orelhas vermelhas de Henova. Apesar da sua aparente frieza, o anão era, também, um anão consciente.

*   *   *

Embora ele tivesse dito que só deixaria Yeon-woo assistir e aprender, Henova começou a importuná-lo assim que pegou o martelo. Ele chutou o pé do Yeon-woo quando o mesmo não usou o fole corretamente e ameaçou-o com um martelo quando Yeon-woo abandonou a postura correta.

Como Henova estava sempre olhando tanto por cima do ombro, Yeon-woo nem tinha martelado muito, depois de algumas horas. Entretanto, era provavelmente para o melhor. Tudo na forja era perigoso. Alguns itens eram quentes, outros pontiagudos, e outros eram ambos. Um mísero erro poderia levar a graves ferimentos.

E mesmo que fosse alguém que não ligasse para a maioria das lesões, Yeon-woo teve que construir uma boa base para prevenir acidentes, especialmente porque que as ferramentas eram todas para anões.

Essa era a razão pela qual Henova não deixaria Yeon-woo sozinho, mas sua atenção significava também que Yeon-woo estava adquirindo o básico em um ritmo consideravelmente rápido.

Band! Bang!

Henova finalmente retornou de seu trabalho a tarde depois que Yeon-woo começou a martelar com sua postura adequada.

— Acho que ele não é estúpido.

O ferreiro soprou seu cachimbo, sua mente animada, mas os olhos que estavam fixados em Yeon-woo começaram a se curvar enquanto o assista a martelar um pedaço de metal quente.

Os iniciantes geralmente fariam erros típicos como martelar com a quantidade errada de força ou soldar o metal incorretamente. Porém, Yeon-woo martelava as partes corretas com a quantidade exata de força. ajustando seu impacto automaticamente como se já fosse um ferreiro habilidoso anteriormente.

Era um feito incrível. Henova viveu mais de 300 anos com um martelo em suas mãos, dos quais os últimos 100 anos gastou na Torre, onde várias pessoas de universos e dimensões diferentes se encontravam. Ele conheceu todos os tipos de pessoas com diferentes níveis de habilidades, de mestres ferreiros até amadores.

Havia aqueles com talento, mas que não sabiam o básico, e ele até tinha um aprendiz que tinha começado com confiança, mas acabou saindo frustrado por causa do trabalho pesado. Ninguém chegou perto de aprender tão rápido como essa cria.

Ele não parecia ter qualquer conhecimento quando começou, mas ele aprendeu e se adaptou toda vez que Henova mostrava seus erros. Em pouco tempo, ele estava se movendo e trabalhando como um ferreiro comum. Era a primeira vez que o anão viu alguém aprender tão rápido. — Ou é a segunda vez?

— Oi, papai! Pode me ensinar a como usar esse martelo? Eu sempre quis aprender a fazer armas e armaduras! Por favor me ensina… Por favor! — A voz de uma pessoa que não pertencia mais a esse mundo apareceu na mente do anão, junto com uma memória melancólica de uma criança martelando ferozmente em frente de uma fornalha.

Parecia coincidir com a visão daquele que atualmente trabalhava à sua frente. Mas, Henova balançou sua cabeça. zombando de si mesmo. — Estou ficando velho e pensando em bobagens.

Depois de sacudir as memórias para fora de sua mente, ele jogou seu cachimbo até Yeon-woo, que por acaso cometeu um erro naquele momento. — Seu imbecil! Eu te falei que esse não é o ângulo certo!

Novamente, o anão ferreiro começou importunar Yeon-woo.

*   *   *

Yeon-woo estava a caminho da pousada, caminhando numa rua serena, iluminada pela lua.

— Já passou meio mês desde que cheguei aqui.

O caminho que ele só tinha visto uma vez no diário e era tão estranho para ele já se havia se tornado parte da rotina de Yeon-woo.

— Ele é um anão engraçado. 

A pousada, o café, e a Forja de Henova eram os únicos lugares que Yeon-woo tinha ido nos últimos dias. Ele estava aprendendo o básico de um ferreiro não só para consertar o relógio de bolso, mas também para entender a vida anterior de seu irmão. Tudo era interessante e agradável, especialmente o tempo gasto com o anão, que facilmente caia em todos os truques que o Yeon-woo fazia.

Ele era tão coração mole que sempre checava o Yeon-woo pra ver se ele tinha algum problema enquanto aprendia a forjar itens. Isso fez o Yeon-woo se sentir um pouco culpado por provocá-lo, e ele estava começando a entender porque seu irmão o considerava uma figura paterna. Ele sentiu o mesmo calor e cuidado que seu irmão recebeu durante o tempo que passou com o Ferreiro.

— Pensei que tinha perdido tudo, mas fico feliz em saber que ainda tem alguém ao seu lado.

Yeon-woo tinha aprendido a não confiar totalmente em ninguém, e não importa o quão confiável a pessoa fosse, ele sempre deixava uma parte de si mesmo em cautela. Mas mesmo com seus olhos frios. ele podia ver que Henova nunca apunhalaria alguém pelas costas. Ele não conseguiria trair seu irmão.

Por isso que Yeon-woo decidiu não revelar sua identidade até o fim. Ele não queria levar o anão em seu caminho para a vingança. Conhecê-lo já era o suficiente para se sentir aliviado ao saber que seu irmão não ficou sozinho e sem amigos na Torre.

— Assim que os Olhos de Gyges ficarem prontos, eu vou desaparecer completamente da forja. 

Ele tinha quase terminado de aprender o básico de como ser um ferreiro e já tinha memorizado algumas técnicas apenas assistindo Henova. Seria bom se ele praticasse em algum lugar.

Uma brisa noturna e fria passava na rua, e Yeon-woo olhava para a lua pendurada no céu noturno enquanto corria suas mãos através de seu cabelo.

Assim como ele esperava, ele finalmente estava na Torre, e ele atingiu uma das coisas que ele planejava alcançar. Ele queria investigar a vida do Jeong-woo e conhecer a pessoa que seu irmão tinha sido mais próximo. Agora, com isso feito, sobrava somente um objetivo: — Escalar a torre e enfrentar os inimigos.

Claro que isso exigiria uma longa preparação. Não importa o quão forte Yeon-woo fosse no Tutorial, seus inimigos estavam à frente dele.

Os inimigos que ele tinha que matar eram os maiores classificados, e só ficavam nos andares mais altos, porque o Distrito Exterior e os níveis mais baixos da torre eram onde todas as escórias da sociedade viviam. Era provável que eles nem tivessem ouvido falar do Yeon-woo.

O vingador tinha que se tornar mais forte o mais rápido possível para que conseguisse, pelo menos, ficar ombro a ombro com os seus alvos. Só assim, conseguiria os fazerem se responsabilizar pela morte de seu irmão. Mas ainda tinha um longo caminho a percorrer até chegar nesse ponto.

— É por isso que eu preciso dos Olhos de Gyges.

O artefato que o Henova estava fazendo apareceu em sua mente, mas não era a única coisa que ele queria. Acima de qualquer objeto, suas habilidades eram as mais importantes.

— No Tutorial, eu tive a sorte o bastante de ganhar mais o que esperava. Preciso me concentrar em dominá-las ao máximo e fazer delas minhas. 

Yeon-woo já estava treinando suas habilidades e usando os itens ganhos no Tutorial durante seu tempo livre. Mas quando ele estava checando seus itens, 5 homens apareceram ao virar na esquina e impediram-no de prosseguir.

— O que é isso? — Yeon-woo franziu a testa enquanto o rodeavam. Ele se perguntava se eram as mesmas pessoas que o seguiram quando entrou no Distrito Exterior.

— Máscara branca e armadura de couro vermelho. É ele, esse é o arrombado que ignorou nossos avisos e continuou indo na forja do Henova. — Disse aquele que estava na frente do Yeon-woo num tom muito irritado.


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