Shadow Slave – Capítulo  366

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Algum tempo depois, Sunny saiu da Sala dos Instrutores. O dia de inverno claro o recebeu com vento frio e pequenos flocos de neve dançando à luz do sol. Apesar de estar vestido muito levemente – sua pele era coberta apenas pelo tecido macio do simples uniforme de treinamento fornecido pela equipe do complexo hospitalar da Academia – Sunny não sentia muito frio.

“Isso é ser Desperto, suponho.”

Se fosse há um ano e alguns meses atrás, ele estaria desesperadamente procurando abrigo, esperando não morrer de frio durante a noite ou, pior ainda, ficar doente. Mas agora, Sunny se sentia ótimo. Ele nem estava desconfortável.

Puxando as mangas para esconder a tatuagem de serpente, ele respirou o ar frio e perfeitamente filtrado, sorriu e começou a andar.

“Decisões, decisões…”

A conversa com o Mestre Jet tinha sido útil, mas o deixou com mais perguntas do que respostas. Cada uma das opções apresentadas a ele tinha benefícios sedutores, mas também desvantagens muito graves.

“Grandes clãs, clãs menores, governo ou independente?”

Sunny tentou imaginar-se como um Legado e sacudiu silenciosamente a cabeça. Todo aquele prestígio, toda aquela riqueza, a admiração das massas… ser um Legado significava ser parte da nobreza, a elite acima de todas as elites. Era o oposto exato do que Sunny havia sido a vida toda.

…Mas quem disse que ele tinha que permanecer o mesmo no futuro? De um mendigo a um príncipe, isso seria uma bela transformação. Lord Sunless… isso soava bem, não soava?

Havia sérias desvantagens em fazer uma escolha dessas, é claro.

Trabalhar para o governo oferecia suas próprias vantagens, mas com o custo de não receber tanto dinheiro e recursos, além de estar preso a muitas obrigações. Nas duas vezes em que Sunny havia se encontrado com a Mestre Jet, ela parecia ocupada e sobrecarregada. Ele não conseguia imaginar perseguir seus objetivos com uma agenda tão cheia.

Uma das funções das forças Despertas a serviço do governo era caçar membros renegados de sua própria espécie. Despertos eram pessoas, afinal, e também havia criminosos entre eles. Especialmente porque muitos estavam traumatizados e impulsionados ao limite da loucura por suas experiências nos Pesadelos e no Reino dos Sonhos.

Se Sunny pudesse absorver a essência daqueles humanos que ele matou como todos os outros Despertos, esse caminho poderia ter oferecido a ele uma maneira mais rápida de saturar seus núcleos. Mas, como era, ele não se via vestindo o uniforme, a menos que houvesse novos Portões abrindo todos os dias, fornecendo assim a ele um suprimento interminável de Criaturas de Pesadelo para caçar.

…Aliás, quantos Portões estavam abrindo em um ano dado, em média? De repente, Sunny percebeu que não fazia ideia. A propaganda nunca mencionou números concretos, apenas o fato de que os bravos Despertos tinham a situação sob controle. Eles realmente tinham?

A última opção era permanecer independente. Essa escolha parecia contradizer o desejo dele de adquirir status e o máximo de benefícios possível, mas apenas na superfície. Na verdade, Sunny já havia recebido a maior parte do que queria ao se tornar um cidadão de alta patente e ter a escolha gratuita de qualquer Cidadela. Claro, não ter os vastos recursos de um clã Legado ou do governo seria uma grande perda… mas também forneceria a melhor chance que ele tinha de manter todos os seus segredos para si mesmo.

As três opções eram dignas de consideração.

No final, tudo se resumia ao fato de que ele simplesmente não tinha informações suficientes para tomar uma decisão. Então, obter informações era sua primeira prioridade. Mas… como?

“Como se chamava… uma biblioteca? A Academia tem que ter uma dessas, certo?”

Sunny, é claro, nunca havia ido a uma biblioteca, mas estava familiarizado com o conceito. Havia terminais públicos semelhantes nos arredores, também, embora usá-los custasse créditos. Ele nunca teve nenhum para gastar, então suas visitas eram poucas e distantes. E ele ia lá para se divertir, não para estudar.

Agora que Sunny tinha um comunicador de última geração, ele podia acessar muitas informações da rede, mas fazer isso certamente deixaria um rastro digital para trás. Considerando que alguns dos tópicos que ele queria pesquisar eram bastante perigosos, ele queria permanecer o mais anônimo possível.

“Uma biblioteca é isso aí…”

Dez minutos depois, ele se aproximou de um prédio branco e quadrado. Como a maior parte da Academia, suas paredes eram feitas de liga metálica lisa e imaculada, com janelas largas que poderiam ser cobertas a qualquer momento com persianas reforçadas. Não havia muitas pessoas à vista, então Sunny assumiu que a biblioteca não era um destino popular entre os Adormecidos.

Por que seria, se a maioria das informações armazenadas lá poderia ser acessada remotamente? Ele era o esquisito por vir aqui pessoalmente.

Entrando por uma porta automática, Sunny olhou ao redor e piscou algumas vezes.

Em todos os lugares que ele olhava, prateleiras altas cheias de livros de papel se estendiam ao longe. Entre elas, havia mesas destinadas ao estudo, com vários jovens lendo silenciosamente atrás delas. A maioria deles estava usando terminais para fazer anotações, mas alguns estavam escrevendo à mão.

‘O que… diabos… é isso?’

Todos esses livros, é claro, eram impressos em papel sintético… mas por que imprimi-los de qualquer maneira?! Não seria muito mais conveniente ler em um terminal, como todas as pessoas normais faziam?

Ele nunca tinha visto um livro físico em sua vida. A própria ideia de usar um era de deixar a mente confusa.

…Mas então, fazia sentido. A tecnologia de armazenamento de dados digitais era altamente avançada, mas suscetível a vários tipos de danos. Durante os tempos sombrios… que vieram antes dos tempos ainda mais sombrios do Feitiço do Pesadelo… quando a humanidade havia sido consumida por uma série interminável de guerras devastadoras e desastres naturais cataclísmicos, muito conhecimento havia sido perdido devido à dependência excessiva de meios digitais. Camadas inteiras da cultura foram irrevogavelmente perdidas como resultado.

O papel ainda era a maneira mais segura de preservar o conhecimento.

Apenas Sunny nunca tinha pensado nisso antes.

‘Ainda é estranho…’

Tentando não mostrar sua confusão, Sunny olhou furtivamente ao redor e notou um membro da equipe da biblioteca. Era um jovem… não, espera… uma jovem? Uma pessoa jovem, com cabelos pretos curtos e olhos castanhos inteligentes, que estava lendo um livro com aparência antiga. Havia um crachá em seu peito, com o nome “Ren” escrito nele.

Pelo menos Sunny pensou que era um nome. Talvez fosse algum título estranho entre os bibliotecários. Quem sabia que tipo de costumes estranhos eles tinham aqui?

Ao se aproximar da jovem bibliotecária, ele parou a alguns metros de distância e esperou pacientemente para ser notado. No entanto, “Ren” continuou lendo, completamente absorta na história do livro, olhos cheios de emoção profunda. Curioso, Sunny olhou para o título na capa.

‘Queda Livre… soa familiar. Deve ser um livro realmente ótimo. Talvez eu deva lê-lo um dia…’

“Uh… oi? Você pode me dar algumas direções?”

Ren hesitou por alguns segundos, então relutantemente colocou o romance de lado e olhou para ele com um sorriso neutro.

“Claro. Como posso ajudá-lo?”

Ele hesitou por um momento e disse com incerteza:

“Como posso ler sobre o Reino dos Sonhos e o estado atual da expansão humana em suas várias regiões?”

Ren piscou algumas vezes, então perguntou educadamente:

“Uh… você pode ser mais específico?”

Sunny suspirou.

“Eu quero ver um mapa e uma lista de todas as Cidadelas por lá, bem como aprender quem possui o quê e por quê. Acho que é isso.”

A bibliotecária sorriu brilhantemente:

“Ah, você também é um amante da história! Claro, claro. Você veio ao lugar certo. Temos todos os registros que você sempre precisará aqui. Nickel!”

Sunny se assustou.

“Nickel? O que significa nickel? O que está acontecendo?”

De repente, outro jovem bibliotecário apareceu do nada. Este era definitivamente um rapaz, vestindo uma camisa branca amassada e um colete marrom. Ele era alto e bonito, com cabelos ruivos ligeiramente desalinhados, barba por fazer no queixo e um rosto amigável. Havia um crachá em seu colete, também, com a palavra “Nickel” escrita nele.

Os dois eram uma dupla estranha.

“Nickel, você poderia acompanhar este jovem até a seção de História do Reino dos Sonhos?”

O alto bibliotecário deu uma ampla sorriso para Sunny e disse:

“Claro. Por favor, me siga.”

Eles seguiram para o fundo da biblioteca, deixando Ren para trás. Poucos momentos depois, Sunny ouviu o ruído de páginas de papel vindo de trás. O bibliotecário menor estava novamente absorto no livro.

“Sim, eu definitivamente deveria conferir aquele romance. Um cidadão do sétimo grau deve ser culto, certo?”

Nickel o levou pela biblioteca, fazendo algumas perguntas para estreitar a busca. Logo, eles chegaram na frente de um conjunto particular de prateleiras, cheias de livros relacionados ao Reino dos Sonhos e à história da lenta exploração humana dele.

O jovem ajudou Sunny a selecionar alguns livros, desejou-lhe sorte e desapareceu tão silenciosa e rapidamente quanto apareceu. Sunny olhou para o local onde Nickel tinha estado apenas alguns momentos atrás e, lentamente, balançou a cabeça.

“Um bibliotecário… aquele cara poderia ter sido um assassino, em vez disso.”

Bem… talvez fosse. Pensando melhor, trabalhar em uma biblioteca poderia ser uma cobertura perfeita para operadores clandestinos.

“Talvez eu devesse me tornar um bibliotecário também…”

Certificando-se de que ninguém o observava, Sunny colocou seus livros em uma mesa próxima e voltou às prateleiras. Lá, ele encarou um certo livro que havia notado alguns minutos antes.

Seu título era simples:

“A Chama Imortal”

Sunny hesitou um pouco e depois tirou o livro da prateleira.

Ele tinha quase certeza de que os Soberanos eram pelo menos parcialmente responsáveis pela queda do clã de Neph. Se sim, deveria haver algumas pistas de sua identidade na história da Chama Imortal.

“Isso tem que ser um bom lugar para começar a procurar algumas respostas… certo?”