SSS-Class Suicide Hunter – Capítulo 150

—Ooh, biblioteca incrível.

Nos tempos antigos, havia um ser chamado ‘O Lago de Memórias Acumuladas.’ Humanos não conseguiam pronunciar o nome desse ser apropriadamente. ‘O Lago de Memórias Acumuladas’ era apenas um nome arbitrário e feito pelos homens.

A pronúncia real era ■■■■■. Assim como humanos não ligavam pra como um grilo poderia chamá-los, ■■■■■ não sentia necessidade de usar a designação dos humanos. A pronúncia mais simplificada do nome do ser seria próximo de algo como ‘Hamustra’.

— A atmosfera é boa, e a coleção é excelente, também.

Hamustra.

Isso era o que os humanos chamavam de ‘O Lago de Memórias Acumuladas.’

—Eu com prazer reconheço isso, ■■■■■.

Mas o humano na frente dele era diferente.

— Essa é a melhor biblioteca que o meu humilde eu já visitou.

Esse humano poderia usar a Linguagem Dracônica à vontade. Isso por si só era fascinante. O Lago de Memórias Acumuladas era uma existência com grande curiosidade para começar. Havia uma alta chance que ele gostaria e estaria interessado neste pequeno ser.

Ninguém havia colocado o pé nesta livraria até o momento com exceção desse humano, seu primeiro visitante.

— Quem é você?

O humano diante dele estava emitindo um cheiro verdadeiramente vulgar. Era estranho. O Lago de Memórias Acumuladas poderia sentir o cheiro de um dragão, mas o ser diante dele não era um dragão. Havia um pouco de um deus, mas o ser não era um deus também.

O Lago de Memórias Acumuladas nunca havia visto um ser como o humano na frente dele.

— Como você chegou aqui?

Naturalmente, havia cuidado no seu tom.

— Eu nunca permiti sua entrada. Esse é o meu mundo. Revele seu objetivo, estranho.

— Eu não sou um ladrão de livros. Por favor, não fique tão cauteloso.

O humano riu.

— Eu sou uma espécie de um agente de seguro de viagens. Eu estou visitando cada existência como você e tentando persuadir.

— Eu perguntei sobre seu propósito.

— Eu estou construindo uma casa. Não, eu deveria chamar de villa? [1] Se eu sou o senhor da terra, eu estou tentando convencer você a entrar como meu inquilino.

O humano riu novamente.

—………

O Lago de Memórias Acumuladas estava irritado. Ele se sentiu irritado pela primeira vez em milhares de anos, ou talvez mais do que o dobro disso. Ele amava todos os personagens em livros, não discriminando entre bem e mal; ele tratava os sem sorte e os afortunados igualmente; mas a vida real era diferente.

O Lago de Memórias Acumuladas era um grande ser. A definição de grandeza era subjetiva, mas na opinião do Lago, grandeza era habilidade de bater ou matar aqueles que irritavam ele.

— Coisa irritante. Vá embora.

O Lago decidiu usar sua grandeza hoje também. Ele levemente exibiu seu poder.

Na Biblioteca, a força do Lago era absoluta. Caras durões que tinham alcançado a transcendência, e pessoas comuns é claro, só poderiam ser destruídos e se tornar poeira. O Lago estava confiante. Muito tempo atrás, antes de ele se tornar tão grandioso quanto ele era agora, ele havia desintegrado muitas coisas.

— Ah. Me desculpe.

O humano na frente dele não se transformou em poeira.

O humano estava bem.

— Eu acabei com seu humor. Mas você não pode conversar comigo um pouco mais? Eu me esforcei muito para poder chegar aqui. Phew. As estradas estavam bloqueadas, e suas condições estavam ruins também…

O Lago estava surpreso que sua grandeza não teve efeito.

Foi um grande choque.

Foi um choque tão grande que o Lago saiu da realidade. O ataque dele só então não mostrou o seu poder? Não valeu. Ele tratou como se não tivesse acontecido. O Lago terminou de se desculpar e atacou o humano novamente.

— Agora que eu falei nisso, eu tenho que perguntar. Não há porta nessa livraria? É alguma espécie de cemitério? Você deveria colocar umas janelas, ao menos. É cheio de coisas e sufocante.

O humano ainda estava bem.

— Eu deveria fazer algumas para você?

Pior ainda, o humano abriu um buraco na biblioteca. Enquanto sorria um pouco.

— Ah. O ar está finalmente fluindo.

A mente do Lago ficou em branco.

— Mas que porra?

Era a primeira vez que ele xingava em mais de milhares e milhares de anos.

A biblioteca não era uma simples área para livros. Era como o corpo e alma do Lago. O fato de que o humano poderia perfurar um buraco nas paredes da Biblioteca significava que ele poderia facilmente cortar sua barriga. O Lago era capaz o suficiente para conectar os pontos, e ele era inteligente o suficiente para não querer ser morto.

— Eu entendi. Eu me rendo. O que você quer de mim?!

— Eu quero seu tudo…

— Eu preferiria morrer!

— Ah. Eu deveria? Eu posso te matar?

— ……..

O Lago era bastante esperto. Pelo menos, ele era inteligente o suficiente para perceber que o humano na sua frente era louco pra caralho.

— Como esperado, você não quer morrer, certo? Claro que não. Uma vida é uma coisa preciosa. Agora, meu humilde eu também quer te ajudar. Por favor, assine aqui para manter sua preciosa vida.

Era triste para o Lago que o maluco tinha poder inimaginável.

— O que é isso…?

— É um contrato.

— Eu posso perguntar que tipo de contrato é…?

— Sim, é claro. Eu não sou um valentão. 

Mesmo se o humano não fosse tecnicamente um valentão, ele estava bastante próximo disso. Mas o Lago não falou isso. De novo, o Lago era inteligente. Ele sabia o que ele podia dizer e o que ele não podia.

— Eu estou construindo uma torre.

Torre.

— Eu vou trazer seres como você. Eu também vou permitir que seres que você considera criaturas insignificantes entrem.

O Lago cuidadosamente leu o contrato. Enquanto ele fazia isso, sua expressão mudou.

No início, ele pensava que o humano era um rufião maluco que estava aqui para roubar de sua livraria. A parte do rufião estava certo. Então havia a parte louca.

Mas o humano não era um ladrão.

O contrato estava repleto de ofertas atraentes.

— Você vai me deixar espiar dentro de todos os mundos? De verdade?

— Nem todos os mundos. Apenas os mundos que eu tenho uma mãozinha.

— … Essas cláusulas confidenciais.

— Você deve absolutamente mantê-las.

O Lago não precisou de muito tempo para decidir.

Entretanto, sua curiosidade ficou mais profunda.

— Por que você está começando esse negócio?

Era interessante.

— Para o que é? Que vantagem isso traz pra você?

— Ninguém nasce porque quer nascer.

O humano sorriu.

— Todos deveriam ter a chance de viver uma vida a mais. Pode não ser a vida que eles querem, mas eles a viveriam porque eles escolheram viver.

O Lago não conseguia entender o sorriso do humano.

— Algum dia, você também vai viver outra vida, Sr. Bibliotecário de Canto.

Ele não conseguia entender aquelas palavras também.

5.

“……”

O Bibliotecário olhou para mim vagamente.

Ele não me entendeu? Ou não simplesmente não tinha atingido ele ainda? De qualquer maneira, estava tudo bem. Eu não forcei o Bibliotecário e esperei por ele.

“Você quer que eu escale a Torre com você,” o Bibliotecário murmurou depois de um longo tempo ter passado.

“E-Eu não sou uma Constelação ordinária. Diferente do espírito que possui você ou a Espada Sagrada atada a você, eu sou oficialmente confiado a este estágio. Apesar da minha aparência, eu sou de classe alta… Pertencer a esta Torre em particular é… Se eu pertencer…”

“Se você pertencer, o que acontece?”

“… Eu não sei. Eu não sei mesmo. Nada como isso já aconteceu na história da Torre.”

Os ombros do Bibliotecário tremeram.

“Há exemplos de Constelações ficando cativadas e agindo como assistentes de alguns guerreiros. Bastante delas. E do jeito como você engoliu [O Rei Demônio da Chuva de Outono] cm sua [Reencarnação dos Cem Fantasmas], guerreiros coletaram Constelações também. Mas… Mas eu nunca ouvi de uma Constelação se tornar um Caçador…”

“Então você pode ser lembrado como o primeiro.”

“……”

“Hamustra. Não viva neste tipo de lugar.”

Eu olhei ao redor.

Era uma tumba de livros.

Os traços de mundos passados estavam reunidos aqui. Isso era tudo. Neste lugar, o tempo não fluía. Apenas as respirações cuspidas por outras pessoas e as histórias de outros mundos estavam seladas aqui.

‘É familiar.’

Apenas um lugar que você desejava e invejava o mundo de outros.

‘Este lugar. É familiar´para mim.’

O quarto que eu havia alugado antes de regressar veio à mente.

No meu quarto, eu havia colado muitas fotos e entrevistas do Imperador das Chamas.

A escala era patética comparada à Grande Biblioteca, mas…

‘Na essência, é o mesmo.’

Essa era a razão pela qual eu poderia falar isso.

“Pise no ringue, agora.”

Você tinha que sair daqui.

“Pessoas continuam a ficar mais e mais estranhas quando elas ficam nesse tipo de lugar.”

“E-Eu sou estranho…?”

“A vida de uma pessoa está gravada em um Apocalipse. Você pode pensar que sabe tudo sobre uma pessoa só de ler, mas esse não é o caso. Hamustra, você se lembra do que estava escrito sobre a destruição de [As Crônicas do Demônio Celestial]?”

O Apocalipse narrava a morte de minha mestre assim:

「O Demônio Celestial repentinamente sucumbiu à epidemia e morreu.」

“Que tipo de besteira é essa?”

“……”

“Não diz nada. Nada mesmo.”

Que expressão a Mestre tinha no fim, as vozes dos Cultistas enquanto eles lamentavam, quão duro as crianças à beira do rio trabalharam para escavar a lama macia — você nunca conseguiria aprender isso só de ler o livro.

Você não podia.

“E-entretanto!” protestou o Bibliotecário. “Eu consigo ver e observá-los!”

“Isso é verdade,” eu aceitei facilmente. “Você pode entrar nos mundos você mesmo para observar os eventos. Quando a Mestre morreu, você deve ter lamentado como eu. Disso, eu não tenho dúvidas.”

“E-então não há problema…!”

“Mas você não teria ficado mais triste do que eu estava.”

“……”

“Você, também, deve ter segurado sua respiração quando a Mestre morreu em As Crônicas do Demônio Celestial. Você teria sentido admiração quanto o Imperador da Espada atacou. Mas o que você sentiu? Era apenas ‘apreciação.’”

Aperto.

Eu apertei a mão do Bibliotecário um pouco mais forte e o puxei para perto.

“Eu aposto que você também ama Raviel. Você gosta dela. Mas você sabe, você nunca vai amar Ravial tanto quanto eu a amo.”

“……”

“Você apenas teve um gostinho, sentado dentro desta biblioteca. Você nunca colocou sua vida no palco — você apenas viveu como audi~encia. Se houvesse uma performance que você gostasse, você batia palmas. Se não, você bocejava. Isso é tudo.”

“Eu…”

“Viva conosco.”

O Bibliotecário se contorceu.

“Eu sou preso por um… Contrato estrito. Se eu me vincular a uma torre específica, ou violar as regras, eu vou definitivamente ser punido pela Torre. Eu provavelmente perderia toda a autoridade de um Constelação… Eu seria inútil assim. Eu não teria uso pra vocês.”

“Não é esse tipo de história.”

“……”

“Você sabe disso também.”

“……”

“Hamustra.”

Eu olhei diretamente para a pessoa na minha frente.

“Morrer pelas mãos do Assassino de Constelações um dia era seu sonho. Jogue fora o sonho agora. Eu vou te dar um novo sonho. Esse sonho não vai ser sempre feliz, e haverá varias vezes que você vai sentir que é um pesadelo no lugar de um sonho. Haverá várias partes que você vai querer apagar. Mas se você quiser. Se é o que você deseja, eu vou estar nesse sonho.”

Eu falei novamente.

“Viva uma vida comigo.”

“……”

“Você apareceria no meu sonho, e eu apareceria no seu, e ‘você e eu’ poderia ser ‘nós.’”

Os lábios do Bibliotecário estavam tremendo. E sua mão esquerda, que estava tremendo ainda mais que seus lábios, alcançou seu bolso. Ele puxou um livro que era mais fino que A Epopeia de Lefanta Aegim.

+

■■■■■

+

Eu não conseguia ler o título.

Era a linguagem de um mundo que eu não conseguia compreender.

O Bibliotecário — não, Hamustra, me deu o livro que continha sua vida.

“Rei da Morte….”

“Sim.”

“Eu vou te dar meu conselho final como leitor. Eu sou seu maior fã. Não há leitor que te ame como eu amo, e nunca haverá. Então, por favor, lembre-se disso bem.”

“Eu vou escutar.”

“Se você abusar do seu flerte assim, alguém pode entender errado. Por favor, use esse tipo de linguagem apenas com a Duquesa Ivansia. Do contrário, Duquesa Ivansia vai apunhalar seu coração e te matar, Rei da Morte…”

“Eu já morri assim uma vez, mas vou prestar atenção às suas palavras.”

“Rei da Morte…”

“Sim.”

“Viver como um humano é divertido?”

O Bibliotecário estava aterrorizado.

Eu sorri.

“É uma droga.”

Eu agarrei [■■■■■].

“É como caramelo duro, mas até caramelo é gostoso quando você o mastiga. Seus dentes podem quebrar às vezes, mas eu vou te ajudar.”

“Droga…”

O Bibliotecário parecia que ia chorar.

“Pensar que algo assim será as linhas finais de meu Apocalipse…”

Ele segurou a espinha do livro enquanto eu segurava a capa.

“Vida não funciona tão suavemente, como uma peça de arte. Lide com isso.”

Nós finalmente abrimos o Apocalipse.

A voz dele estava assustada e chorosa, mas suas palavras eram firmes quando ele falou.

“Rei da Morte. Bibliotecário de Canto. Eu designo esses dois como personagens de [■■■■■]. A dificuldade desde Apocalipse não está decidida. Quando vocês abrirem seus olhos, o altamente aclamado fim da história vai…”

“Quando nós abrirmos nossos olhos, nós provavelmente estaremos aqui.”

“… Como você diz.”

O Bibliotecário olhou para mim.

Naquele momento.

“Eu declaro este estágio concluído.”

Fwoooosh!

Luz branca nos envolveu.

[1] Há um trocadilho intraduzível aqui. Villa é 별장, e a primeira sílaba 별 pode se referir a estrelas (como em constelações ou Constelações).