SSS-Class Suicide Hunter – Capítulo 191

A Mestre Dragão Negro e a Paladina pareceram chegar a um entendimento mútuo.

“Rei da Morte, vamos participar desta performance também.”

“Faz muito tempo que parei de compor, mas ainda tenho os números das partituras na minha cabeça, então podemos incorporar a música do nosso mundo. Fico animada só de pensar nisso…”

Por que elas estavam tão ansiosas? Por que seus olhos brilhavam? Isso estava começando a parecer estranho e pouco familiar.

“A música que você fez é ótima, mas me deixe ficar responsável por ela… Não. Seria melhor que me fizesse diretora-assistente.”

“Sendo assim, vou ser a roteirista. Já que é uma peça de dança, eu deveria me chamar de diretora em vez disso? Diretora Sênior? Hmm. Já que é uma arte nova, terei que pensar em um nome para minha função.”

“Huu.”

Soltei lentamente a respiração. De alguma forma, consegui me acalmar, apesar de minha cabeça ainda estar quente.

“Certo. Eu ficaria feliz em ter sua ajuda com a performance se isso for melhorá-la. É a herança cultural que será enraizada no sangue e na carne dessas crianças goblins…”

“Certo.”

A Mestre Dragão Negro sorriu suavemente. Era como pôr do sol em uma pintura aquarela.

“Gosto disso sobre você.”

“Hã?”

‘Elas não iriam me bombardear com elogios, certo?’ Assim, olhei cautelosamente para a Mestre Dragão Negro, mas ela apenas riu.

“Depois de encontrar a resposta correta, você aproveita. Sempre.”

“Sobre o que está falando?”

“Quero dizer, sempre planeja tudo ao seu jeito. Vendo por fora, você parece ser cheio de truques. Me pergunto se sua alma gêmea é assim também.”

As palavras dela eram confusas ao ponto de causar certo desentendimento em meu rosto. Quando ela o notou, riu.

“Não importa. Vamos escolher o nome para a companhia.”

“É uma boa ideia.” A Paladina concordou.

“O nome é importante.”

“Hmm, até onde lembro, há apenas algumas companhias artísticas na cidade Deungcheon… Talvez haja umas 30 que trabalhem com jazz?”

“São 26. Há uma orquestra de câmara e 11 quartetos. O número de companhias que pararam suas atividades não deve ser maior que 50. E mesmo assim, a maioria dos membros foram para outras que estavam disponíveis.”

“É tão pouco, tão pouco…” A Mestre Dragão Negro suspirou.

“Consegue pensar em um bom nome?”

“Bem…”

“O que acha de Companhia de Teatro [Raviel]? Acho que é perfeito.”

“Humm. Não consigo pensar em nada bom…”

“É difícil pensar em um nome original.”

“O que acham de Dragão Negro?”

“Eu também. O que acham de Ordem da Vigilância?”

Espera. Eles não estavam naturalmente me ignorando demais? Foi tão natural que nem mesmo percebi isso.

“Raviel soa bem…”

“Se continuar, vou dar o nome de Companhia de Teatro [Kim Gong-ja].”

“Vamos pensar direito num nome.”

Várias sugestões surgiram: Próximo dia, Som de Tinta, Babel, Aura…

“Isso também não está bom.”

Depois da reunião sobre a decisão do nome se estender demais, a Mestre Dragão Negro finalmente tomou uma decisão.

“Normalmente, para casos como esse, é comum usar o nome dos membros fundadores. Vamos combinar os nomes Mestre Dragão Negro, Paladina e Rei da Morte para criar algo legal.”

“Podemos fazer isso?”

“Mhm. Deveríamos usar a língua materna do Rei da Morte. Já que ele é o fundador, deveríamos mostrar um pouco de consideração.”

A Mestre Dragão Negro perguntou sobre meu idioma. Estávamos conversando em ucraniano, espanhol e coreano, mas estava tudo sendo traduzido automaticamente pela Torre.

“Certo.”

Após escutar minha explicação, a Mestre Dragão Negro acenou.

“Então, vamos pegar [흑] de Mestre Dragão Negro (흑룡주), [기] de Paladina (성기사) e [사] de Rei da Morte (사왕) pra criar [Cavaleiro Negro (흑기사)].”

“Uau.”

De repente, com esta resposta, me vi paralisado.

“Mestre Dragão Negro. Ei, Mestre Dragão Negro.”

Sentindo um arrepio passar por minha espinha. Logo, toquei o ombro de minha companheira e nova melhor amiga.

“Pode dar uma olhada na minha mão?”

“Parece normal para mim. Por quê?”

“Minha mão está formigando. Por favor, estique ela.”

“Claro. Como desejar.”

A Mestre Dragão Negro agarrou meu dedo antes de dobrá-lo para trás.

“Kuuaaaak!?”

“É o suficiente?”

“Isso é horrível!”

“Que tipo de companhia de teatro se chamaria Cavaleiro Negro? É constrangedor e vergonhoso!”

“Rei da Morte. Seu título é ‘Rei da Morte’. Literalmente [Rei da Morte]. Acha que tem direito de chamar algo de vergonhoso?”

“Ah, então quer dizer que a chamada [Mestre Dragão Negro] pode dizer algo assim para mim?”

“Não pronuncie em inglês!”

A Mestre Dragão Negro agarrou meu colarinho.

“Quer morrer!?”

“Você que começou!”

“Se não consegue fazer direito, então não faça! E pra quem fala inglês, meu nome é traduzido como Rainha, e não Mestre!”

“Aah, então você não é a Mestre Dragão Negro, mas sim a Rainha Dragão Negro; deve estar tão orgulhosa. A abreviação não seria RDN? Ei, se eu pedir frango, acha que conseguiria entregar em 30 minutos?”

“Tá, tá, certo. Vamos chamar de Companhia de Teatro [Kim Gong-ja].”

“Cavaleiro Negro é o bom o suficiente.”

Eu desisti.

“Devo dizer que parece ser de alta classe só pelo nome? Não acho que tenha outro nome que soe tão bem como esse. Como esperado da Mestre Dragão Negro. Não somente sua companhia é a melhor, como também o seu senso para escolher nomes. Vamos continuar com Cavaleiro Negro.”

“Certo. Você desistiu na hora.”

A Paladina observou nossa discussão com um estranho e amargo sorriso em seu rosto.

A cauda da sereia tremulou, criando ondulações na superfície da água.

“Vocês são bem próximos… Estou espantada.”

Na Companhia de Teatro Cavaleiro Negro, eu seria o líder e a Mestre Dragão Negro e a Paladina as vice-líderes dela. Essa era uma companhia formada em conjunto com o 2°, 3° e 7° lugar nos rankings, uma composição bem exuberante.

“Mesmo que seja artística, com esse grupo de pessoas…”

Meus lábios inconscientemente se curvaram para cima. Talvez quando a companhia for oficialmente lançada, o mundo enlouqueça, e eu estava começando a achar interessante essa possibilidade.

“Fico imaginando como as pessoas reagirão.”

“Hein. Eu também.”

A Mestre Dragão Negro sorriu como uma criança arteira.  Mesmo que atualmente ela tivesse a aparência de uma vampira velha, o sorriso brincalhão combinava com ela.

“Aposto que muita gente ficará chateada. Ah, naturalmente manteremos isso em segredo dos outros. Fico me perguntando que cara o velho fará quando o convidarmos para nossa primeira performance.”

De repente, tive a necessidade de ver a Mestre Dragão Negro sorrir daquela forma com seu rosto original. Eu não sabia o porquê, mas senti que iria parecer legal.

“Certo.”

Concordando, sorri também. A peça que escolhemos era [Raviel e Kekerkker]. Além do mais, conversamos a noite toda sobre a performance que teríamos. De acordo com a Mestre Dragão Negro, Kekerkker era muito estranho, então o nome foi alterado para [Coração de Prata].

“O personagem principal deve ser o Duque Ivansia, e isso não está aberto a discussões. Em vez de escolher os personagens e deixar eles aparecerem, vamos exibir as mudanças psicológicas do Duque com a coreografia.”

“Deveríamos retratar o momento que ele se apaixona dramaticamente. Vamos transformar o palco em um [Salão de Baile], cobrir o chão com pétalas de rosas e fazer os atores dançar em cima.”

“Ah. Ficaria tão bonito!”

Todos estavam animados. Havia várias garrafas de vinho ao nosso redor, então estávamos fazendo a reunião enquanto bebíamos.

“Mm. No momento que se apaixonam, as flores que a Princesa Ivansia estiver pisando vão mudar de brancas para vermelhas. Um, dois, três… Dessa forma, uma ponte vermelha será criada no oceano branco. O Rei da Morte terá que dar um passo de cada vez para cruzar o oceano de flores no Salão Ivansia.”

A Mestre Dragão Negro se levantou.

“Não aguento mais isso, quero começar agora mesmo.”

“Tem algum lugar aqui perto com flores bonitas?”

“Vamos procurar com o teletransporte. Vamos lá!”

A Mestre Dragão Negro e eu entramos na banheira da Paladina e seguramos as mãos. Nós três fomos transportados para algum lugar. Não sabíamos exatamente onde era, mas não importava. Era um lugar onde as flores brancas estavam em plena floração.

Era noite. Embaixo da luminosa lua, havia vales com flores amarelas e cumes coloridos pela presença de outras de cor roxa. Enquanto caminhávamos pelo pé da montanha seguindo o aroma delas, por um momento sorrimos antes de começar a nossa busca por flores brancas.

“Bom.”

Rimos como bêbados.

“Vocês notaram que estamos voando pelo céu em uma banheira?”

“Humanos nasceram da água.”

“Tá doida já, hein…”

“Estamos bêbados. Isso é ruim. Não podemos deixar as pessoas da torre verem isso…”

Paramos na pradaria. Ela estava repleta de flores brancas com as suas pétalas curvadas por causa do vento.

Assim que aterrissamos, a Mestre Dragão Negro rapidamente saiu da banheira e tirou os sapatos.

“Isso é o suficiente, Rei da Morte.”

“Haha.”

“Ele virou um idiota. Paladina!”

“Certo.”

A Paladina sorriu impotente e levantou ambos os braços; os dedos dela se aproximaram.

Devagar.

Um pouco mais devagar…

Enquanto seus dedos se esticavam no ar, o rosto  da Paladina ficou vazio. Com isto, música preencheu a noite.

Os dedos da agora sereia dançavam no ar, era como se um piano invisível estivesse na frente dela. Toda vez que ela tocava uma tecla branca invisível, a aura da noite vibrava e as flores se mexiam.

“Como esperado, suas habilidades não enferrujaram!”

“Tão barulhento.”

“Você precisa entender sua possessividade por seu amante.”

A melodia se tornou intensa e o som do piano enterrou nossas palavras. A conversa diminuiu e apenas a risada da vampira podia ser ouvida por cima da música.

“Faz tanto tempo desde que ouvi o Libertango!”

A Mestre Dragão Negro pisou nas pétalas das rosas brancas de pés descalços, tornando-as negras.

Enquanto os passos da Mestre Dragão Negro pintavam as flores, os dedos da Paladina pareciam acordar a noite. Diferentes colorações de aura fluíam das pétalas, como se eles estivessem sangrando.

Em um passo com seu gesto individual, uma dança que concordava com a melodia surgiu ao pintar de pegadas negras espalhadas pelo campo florido.

“Rei da Morte!”

“Linda…”

“Você parece estúpido!”

“Eu gosto de branco…”

“Ah, você é rápido, para um imbecil!”

“Tão barulhenta.”

A Paladina cantarolava. O som das nossas risadas, a música e os passos se mesclaram.

“Realmente gosto da Torre.” A Mestre Dragão Negro falou enquanto dançava.

“Gostaria de ter vindo para cá antes. Se fosse assim, talvez meu pai tivesse vivido comigo.”

“Gosto da torre também.”

“Não seja tão lento, Rei da Morte.”

O aroma das flores negras era atordoante.

“Você não pode ser sempre lento.”

“Está certa.”

“Podemos viver bem?”

“Sim.”

“Quero ser feliz. Para sempre…”

“Somos amigos.”

“Isso é verdade!”

“Tudo ficará bem.”

“Mhm.”

A velha vampira segurou meus dedos.

“Vamos dançar, Kim Gong-ja.”

Se pensa que a vida é um jogo para apenas um jogador, só quer dizer que ainda não encontrou com quem jogar.

Demos voltas e voltas, dançamos. As flores que a Mestre Dragão Negro pisava se tornavam negras.

As pétalas esmagadas pelos meus pés se tornavam vermelhas, muito vermelhas.

Ondas de preto e vermelho se espalhavam enquanto dançávamos, e logo o campo branco estava preenchido dessas cores.

“—–”

Tocando o piano, a Paladina passou a lentamente abrir os lábios.

Lascia ch’io pianga

mia cruda sorte, e che sospiri

la liberta—

e che sospiri

la liberta—

A Torre engoliu a música da Paladina e não a  deixou sair, sendo apenas deixada sozinha no ar da noite.

Éramos três pessoas deixadas sozinhas na noite, enfeitiçados pelas cruéis flores brancas, e então desabamos.

-…..

Meus olhos não abriram até o final da tarde.

O sol brilhava fortemente. A Paladina estava deitada em seu aquário, ocasionalmente movendo sua cauda, e a Mestre Dragão Negro havia dormido com o nariz em um botão de rosa. Em outras palavras, elas eram pessoas que tinham ficado completamente bêbadas.

“Uaaah…”

Segurando minha cabeça, me levantei trêmulo. Ssonia estava parado na minha frente.

“Mm?”

—Lorde Kekerkker.

Sua voz estava séria.

“O que… é…? Ahh, minha cabeça dói. O álcool era tão ruim…”

—Eu… gostaria de pessoalmente atuar na próxima performance.

Levantei a cabeça pra olhar para o Ssonia, que tinha um estranho desejo brilhando em seus olhos azuis.

—Eu quero ser como… Não. — Ssonia disse.

—Quero viver como você.