[Amamiya Hiroto reencarnou em Lambda!]
[Amamiya Hiroto foi amaldiçoado pelo deus da transmigração, Rodcorte!]
Eu acho que ouvi algo do tipo dentro da minha cabeça, mas não tenho certeza. Preso entre um estado de lucidez e dormência, minha consciência aos poucos foi tomando forma.
Que lugar é esse? Em que tipo de situação eu me meti desta vez? Ao menos, parece que ainda estou vivo.
Mas eu não faço ideia do que realmente está acontecendo.
Mesmo que eu abra os olhos, apenas o escuro preenche a minha visão; meus braços e pernas também estão letárgicos, como se eu estivesse sonhando.
Sinto meu corpo inteiramente submerso em um líquido morno, incapaz de respirar. Mas não é uma sensação desconfortável. É como se eu tivesse me tornado um peixe.
De certo é impossível que eu tenha reencarnado como algo que não seja humano?
Talvez seja possível, já que fui amaldiçoado. É provável que eu consiga lidar com a situação caso eu ainda seja algum tipo de humanóide, mas não tenho ideia do que fazer caso eu tenha sido transformado em um animal ou peixe.
Mas, felizmente, minhas suspeitas se provaram estar erradas.
Consigo escutar uma voz. Não é um grito ou choro, mas sim uma voz gentil e suave cantarolando.
O som está estranhamente abafado, então não consigo discernir a letra apropriadamente. Contudo, a emoção transmitida através dele é palpável.
Amor.
Entendo, estou dentro do útero. Eu sou apenas um feto neste momento.
Pelo menos, a maldição imposta pelo deus não parece ser capaz de me afetar enquanto meu renascimento não for concluído.
De acordo com os fragmentos de informação colocados em minha mente por Rodcorte antes que eu fosse reencarnado, Lambda parece ser um mundo de fantasia. Posso ser membro de outra raça — como um elfo ou anão — mas contanto que eu ainda seja senciente, isso é basicamente irrelevante.
Eu estou imaginando coisas? Essa canção parece ser japonesa…
E então minha consciência desvaneceu novamente.
Quando recobrei meus sentidos, eu já havia nascido.
— Você está sempre tão quieto, Vandalieu. Isso é algo bom, mas você pode chorar de vez em quando, sabia?
Silenciosamente, olhei para a mulher que estava me segurando enquanto falava comigo.
Eu suponho que Vandalieu é o meu novo nome, algo bem mais agradável do que o número de série que me foi designado em Origem. E esta pessoa deve ser minha terceira mãe. Ela também parece ser muito melhor do que a minha mãe em Origem.
Quando fiquei consciente em Origem, eu já havia sido vendido, então não tenho do que reclamar no início desta minha nova vida. Considerando que fui amaldiçoado por uma divindade, isso pode ser considerado um milagre.
Pois bem, em que tipo de ambiente eu nasci? Minha mãe parece ser algum tipo de elfa negra.
A mulher refletida nos olhos de Vandalieu parecia ter pouco mais de vinte anos de idade, com cabelos dourados e pele escura. Ela era uma verdadeira beldade, com características particularmente agradáveis. Tendo essa mulher como mãe, Vandalieu podia ter grandes expectativas a respeito de sua própria aparência.
As extremidades de suas orelhas eram pontudas.
Até mesmo Vandalieu, que havia acabado de reencarnar neste mundo, era capaz de adivinhar que ela fazia parte da raça dos elfos negros.
Quer dizer, não é impossível que ela seja apenas uma elfa bronzeada.
Se esse é o caso, suponho que faça sentido ela morar em uma caverna.
Eles não estavam em uma habitação subterrânea, mas sim em uma verdadeira caverna.
Havia uma porta e alguns pedaços de couro estavam espalhados ao longo do solo no lugar de um carpete, mas não era uma casa particularmente civilizada.
Mas era normal que o povo élfico das estórias de fantasia na Terra fossem pessoas com o hábito de viver em harmonia junto da natureza, então talvez isso fosse uma ocorrência comum.
Ainda assim, minha maior preocupação é com o meu corpo.
Os braços acolhedores da mulher estavam envoltos ao redor de seu corpo frágil. Seu olhar vagou da pele macia e morena, parecida com chocolate, para suas próprias mãos, roliças e inúteis.
Elas eram tão brancas quanto seda.
Por que sou de uma cor diferente? No entanto minhas orelhas realmente parecem ser pontudas.
Sua mãe parecia ser uma elfa negra, mas ele tinha a pele branca. Era possível que, na verdade, ambos não fossem da mesma raça? A maneira em que o corpo de um elfo negro se desenvolve com o passar dos anos ainda lhe era desconhecida, então talvez fosse normal nascer com a pele clara que, aos poucos, ia escurecendo até a idade adulta?
Ou, talvez, essa pessoa não fosse sua mãe biológica?
— Hm? Você está curioso pra saber por que a cor da pele de sua mamãe é diferente? Você é um garoto esperto, não é mesmo, Vandalieu? Notou isso tão depressa. Mas não se preocupe. Você se parece muito com seu papai, mas também é, definitivamente, o filho de sua mamãe Darcia.
Ao que Darcia sorriu gentilmente, suas dúvidas desapareceram graças àquelas palavras de conforto. Ele percebeu ser uma criança mestiça, nascido de pais de raças diferentes.
Darcia poderia estar mentindo, mas ele não tinha intenção alguma de duvidar dela.
Tudo o que queria era simplesmente desfrutar daquele amor de maneira tranquila, ao invés de gastar seu tempo e exaurir sua mente duvidando das palavras dela.
E dormir…
E então Darcia embalou-o até a chegada de um sono tranquilo.
Sendo um bebê de três meses de idade, Vandalieu era um bom filho que se esforçava para não causar problemas para sua mãe, alguém inexperiente cuidando de crianças.
— Ah!
Quando estava com fome, ele fazia um barulho parecido com esse, dando alguns tapinhas em seu estômago ou apontando na direção do peito de Darcia enquanto reclamava. Caso precisasse trocar de fralda, ele fazia um barulho semelhante, apontando para seus quadris.
— Aqui está a sua comida, meu bebê. Você é tão bem-comportado, Vandalieu!
Enquanto Darcia erguia Vandalieu em seus braços, expondo um mamilo para que pudesse amamentá-lo, ela pensou:
Que bom garoto.
É claro que ela sabia que isso não era algo normal. Que seu filho era mais esperto do que deveria ser.
Mas ela não fez nada que pudesse deixá-lo desconfortável.
Talvez seja porque ele puxou àquela pessoa… seu pai.
Darcia inferiu que a inteligência de seu filho de três meses de idade havia surgido através do sangue que ele herdara do pai.
Isso e o fato de que recentemente ela começou a sentir um fluxo de mana estranho vindo do corpo de Vandalieu, fazendo com que ela acreditasse que suas suspeitas estavam corretas. A raça do pai dele tinha uma proficiência maior no uso de magia, se comparada aos elfos negros.
O que realmente me incomoda é o fato de que ele não ri e nem chora… pergunto-me se ele sente ansiedade por não ter um pai?
O que preocupava Darcia era o fato de que Vandalieu não parecia ser capaz de rir ou chorar como um bebê normal.
A expressão de seu amado filho permanecia inalterada, mesmo quando ele estava com fome ou quando sofria cócegas, como se fosse uma boneca. A princípio, ela acreditou que isso fosse algo simples, como mal humor, mas não parecia ser o caso.
Suas emoções também não pareciam estar atrofiadas ou subdesenvolvidas. Certa vez, ela o notou chorando silenciosamente com uma expressão vazia em seu rosto.
Na ocasião ela pensou que Vandalieu pudesse estar doente e aplicou todo o tipo de magia curativa que conhecia, mas parece que ele só havia começado a chorar por conta de um pesadelo assustador.
Outra coisa que me incomoda bastante é quando eu tento te amamentar. O sabor dos seios da mamãe não é gostoso?
O que mais preocupava Darcia quanto ao comportamento de seu filho era o fato de que quando ela tentava amamentá-lo, ele não começava a mamar de imediato e, ao invés disso, olhava ao redor sem se mexer durante algum tempo.
Ele sempre acabava por obedecer, mas… Darcia estava preocupada que houvesse algo de errado com seu leite.
Vandalieu, que estava ocupado com a importante tarefa de sugar o leite vindo de um dos mamilos de sua mãe, sentiu-se extremamente envergonhado e culpado.
Realmente não é fácil ser um bebê, hein?
Era normal se alegrar e sentir orgulho por ter uma mãe tão jovem e tão bonita. Entretanto, lá no fundo, Vandalieu era um homem que havia vivido trinta e sete anos ao longo de suas duas vidas passadas, então ele tinha sentimentos conflitantes a respeito disso.
Embora tivesse o corpo de um bebê, sua mente adulta gerava pensamentos contraditórios, tornando-o bastante autoconsciente daquela situação. Ele já havia começado a reparar em pessoas do gênero oposto desde a época do colegial na Terra.
O que os outros devem ter achado disso? Eu tinha cerca de dez meses, em Origem, quando recobrei minhas memórias.
Será que os outros que renasceram em Origem também ficaram envergonhados quando suas mães lhes trocaram as fraldas?
Mas eu não devo fazer minha mãe se preocupar com isso para sempre. Terei que me acostumar tão rápido quanto for possível.
Vandalieu já havia colocado na cabeça a ideia de que Darcia, sua terceira progenitora, realmente era sua mãe. Ele não sentia nenhum desconforto com esse fato. Em todo caso, apesar desta ser sua terceira vida, era a primeira vez que estava recebendo amor materno. Era impossível que ele o rejeitasse.
E então, no começo, ele se esforçou para agir como um bebê normal… mas isso também era algo impossível.
Era impossível agir como uma criança quando ele ainda era um adolescente por dentro. E, por algum motivo, Vandalieu descobriu ser incapaz de rir ou chorar. Seu rosto permanecia inexpressivo.
Ele primeiramente cogitou a possibilidade de seus músculos faciais estarem paralisados, mas descobriu conseguir mexer tanto a boca quanto os olhos normalmente, ainda que de maneira inatural. Era necessário um esforço consciente de sua parte para fazê-lo.
Talvez fosse por conta da maldição?
Bem, eu vou perguntar isso para minha mãe quando eu for capaz de falar… há todo tipo de problema, mas ao menos eu consegui aprender bastante coisa nesses últimos dois meses.
Darcia não estava ciente de que Vandalieu conseguia entender suas palavras, então ela não explicou o que havia acontecido ou a situação atual em muitos detalhes, mas ele conseguiu compreender mais ou menos o que estava acontecendo durante esses dois meses de convivência.
Primeiramente, parece que o marido de Darcia e pai de Vandalieu era membro de uma raça extremamente temida. Sendo um mestiço com sangue dessa linhagem, Vandalieu sabia que ele muito provavelmente seria alvo de atos discriminatórios e perseguição.
Esse era o motivo pelo qual Darcia estava vivendo nesta caverna que ela mesma cavou usando magia espiritual em uma floresta distante, longe da presença de outras pessoas.
Não era surpreendente que ele não tivesse visto sequer uma única pessoa, além de sua mãe, nesses últimos dois meses.
Pelo que sei, ela pretende voltar para o vilarejo dos elfos negros assim que eu ficar um pouco mais velho. Além disso, atualmente estamos no território da nação de Mirg, uma parte do Império Amid localizada ao noroeste do continente de Bahn Gaia.
Aparentemente algo de bom aconteceria caso ela retornasse para o vilarejo dos elfos negros, então o objetivo de Darcia, por agora, era conservar forças com esse único propósito.
Tendo isso em mente, ainda que Vandalieu não fosse nem mesmo capaz de engatinhar, ele já havia começado a treinar a si mesmo no uso de magia.
A magia da morte que ele havia desenvolvido em sua vida passada certamente seria útil nessa viagem com sua mãe, ou ao menos Vandalieu acreditava que sim. Mas, por algum motivo, ele não conseguia usá-la muito bem.
Talvez seja por que meu corpo ainda não se desenvolveu? Ou é por culpa da maldição?
Ele considerou essa possibilidade, mas desistir agora por não conseguir utilizar sua magia apropriadamente não era uma opção. Isso porque, para Vandalieu, que não tinha nenhuma habilidade absurda ou aptidão para com outros tipos de magia, esta era a sua única arma.
— Seria bom se eu pudesse ver as suas informações, Vandalieu.
Ele tinha cerca de um mês e meio de idade quando ouviu Darcia proferir essas palavras.
Minhas informações?
Vandalieu estava infrutiferamente tentando usar magia da morte enquanto desejava ao menos ser capaz de engatinhar pelo chão de cabeça erguida ao ouvir essas palavras vindas de sua mãe. Isso não é um jogo, ele pensou, mas se surpreendeu quando notou um aglomerado de informações aparecendo em seus pensamentos.
Nome: Vandalieu
Raça: Dampiro (Elfo Negro)
Idade: 45 dias
Apelido: Nenhum
Classe: Nenhuma
Nível: 0
Histórico de Classes: Nenhuma
Atributos
- Vitalidade: 12
- Mana: 100.000.000
- Força: 10
- Agilidade: 1
- Constituição: 25
- Inteligência: 20
Habilidades Passivas
- Força Sobre-humana: Nível 1
- Cura Rápida: Nível 1
Habilidades Ativas
- Nenhuma
Maldições
- Experiência adquirida na vida anterior não será transferida.
- Não pode obter nenhuma das classes já existentes.
- Incapaz de adquirir pontos de experiência independentemente.
Uau, minha reserva de mana não é brincadeira. Além disso, parece que meu pai era um vampiro. E, como se não bastasse, eu tenho três maldições. O quão severamente aquele deus deseja que eu cometa suicídio?
Muitas das informações expostas na mente de Vandalieu o surpreenderam.
Pra começar, sua raça havia sido indicada como dampiro. Se o significado dessa palavra fosse igual ao da Terra, ele era um meio-vampiro.
Entendo, isso explica por que ela está vivendo neste lugar escondida. Eu não conheço as religiões existentes em Lambda, mas duvido que qualquer uma delas seria particularmente receptiva para com a criança mestiça de um vampiro.
Não é mais provável elas me tratarem como um monstro e tentarem me exterminar? No mínimo isso é algo que pode colocar a minha vida em risco.
A possibilidade de enfrentar preconceito e discriminação por ser um dampiro sempre existiria. A vida de Vandalieu foi colocada em um caminho ainda mais tortuoso do que ele havia esperado.
Seu mana era outra coisa bastante surpreendente. O atributo MP não existia na tela de status, então mana deve ter esse mesmo significado no mundo de Lambda. Mas o número indicado era cem milhões.
Ele não sabia qual era o valor normal desse atributo, mas esse número certamente era algo exagerado.
Era isso que Rodcorte havia mencionado anteriormente, a mana que estava armazenada na lacuna vazia deixada pela sua falta de poderes absurdos, boa sorte e destino? Ele tinha sido incapaz de ver algo parecido com uma tela de status em Origem, então Vandalieu não tinha indicação alguma do quão vasta essa quantia era além das palavras dos pesquisadores, que disseram:
— Isso é mais de dez mil vezes maior do que a de um mago de primeira classe!
Foi só agora, vendo o número com seus próprios olhos, que ele compreendeu o quão incrível aquilo era.
Bem, neste momento eu não sou nada além de um bebê indefeso.
A quantidade de mana que ele tinha não serviria de nada caso não pudesse usar magia, portanto era necessário que ele reaprendesse a utilizar sua magia da morte assim que possível.
Quanto ao resto, parece que minha força é normal e minha agilidade, bem… melhor nem dizer nada. Constituição é como se fosse estamina, mas inteligência não parece ser algo tão simples quanto uma medida de quão esperto eu sou. Trata-se, provavelmente, de um atributo que afeta meu ritmo ao aprender magia, a potência de seus efeitos, conjurações simultâneas e a duração dos cânticos para evocá-la. Pode até mesmo estar relacionada à minha força de vontade.
Enquanto Vandalieu decifrava aquelas informações, ele compreendeu por que sua agilidade era menor do que qualquer outro atributo. Mesmo tendo um mês e meio de idade, ele não conseguia nem mesmo manter a cabeça erguida. Ele não conseguia rolar na cama sozinho, que dirá engatinhar. De maneira alguma ele poderia se considerar ágil.
Mas por outro lado, considerando que ele era um bebê de nível 0, seus outros atributos eram consideravelmente elevados, embora não tanto quanto seu mana.
Como esperado de um dampiro — ele pensou.
Em seguida, quanto às suas habilidades: do que Vandalieu sabia sobre jogos, habilidades passivas mostravam efeitos sem a necessidade de um esforço consciente, enquanto que habilidades ativas precisavam desse esforço.
Força Sobre-humana e Cura Rápida, hein? É provável que eu tenha essas habilidades por ser um dampiro. Algo como traços raciais vistos em jogos, suponho. Mas, como eu pensava, magia da morte não está listada lá.
Sua lista de habilidades estava praticamente vazia pois ele ainda era um bebê, mas Vandalieu havia experienciado trinta e sete anos de vida na Terra e em Origem. Ao menos a habilidade de utilizar magia da morte em um nível fundamental, que ele conseguiu aprender durante sua vida passada, deveria estar presente.
A razão dela não estar provavelmente eram as três maldições listadas em seguida.
Provavelmente é por culpa da maldição que impede que a experiência da minha vida passada seja transferida. É por isso que eu não tenho nenhuma das habilidades de minha vida passada ou de minha vida antes disso. As outras duas maldições também não são boas notícias. Elas vão deixar difícil para que eu adquira uma classe ou passe de nível.
Afinal, essas eram as maldições impostas por Rodcorte na esperança de que ele se matasse. Sabendo que elas seriam maldições extremamente desagradáveis, Vandalieu soltou um longo suspiro.
Mas escolher morrer em silêncio não é uma opção. Enquanto for esse o caso, eu terei de continuar me fortalecendo para sobreviver. Eu vou continuar tentando usar minha magia da morte hoje também e… não adianta… eu estou com sono.
Vandalieu, assim como qualquer outro bebê de seis semanas de idade, foi derrotado por sua própria sonolência.
[Você adquiriu a habilidade Magia do Atributo da Morte!]
Este anúncio ecoou dentro da mente de Vandalieu.
Três meses após seu nascimento, na época em que ele já era capaz de sustentar o peso da própria cabeça com o pescoço, Vandalieu finalmente foi bem-sucedido em aprender magia da morte.
Eu passei dois meses falhando em conseguir moldar meu mana na forma de um feitiço. Suponho que esse é o resultado de todo o meu esforço.
Dito isso, os únicos feitiços que ele conseguia usar eram [Esterilização], que tinha a capacidade de exterminar organismos microscópicos dentro de sua área de efeito, e [Inseticida], uma variação desse feitiço que funcionava com insetos. Ele também podia usar [Barreira de Absorção Mágica], um feitiço que evoca uma barreira capaz de sugar o mana com que entrasse em contato, algo que não tinha nenhum efeito visível imediato.
Vandalieu queria mostrar para sua mãe que conseguia usar magia, mas isso se provou ser algo difícil. Seria simples demonstrar ter a habilidade de absorver feitiços, mas ela nunca usou magia espiritual em sua presença.
Era provável que ela utilizasse magia para acender o fogo na hora de cozinhar, mas…
Com este corpo que só agora foi capaz de sentar, eu não tenho como dar uma boa olhada ao redor da caverna.
Conforme Vandalieu soltou o ar dos pulmões para conseguir se sentar na cama, sua mãe simplesmente riu, pensando “ele se parece tanto com um velho”, mas não disse nada.
É uma benção que ela ao menos esteja me levando para fora de casa. Eu estava prestes a morrer de tédio.
Talvez fosse porque ele já tinha três meses de idade, mas Darcia havia começado a levá-lo para fora em seus braços nos dias mais ensolarados.
O motivo para isso é que ela havia decidido que seria um bom estímulo para uma criança em crescimento, além de que seu estoque de comida estava ficando cada vez mais escasso, então era necessário sair para buscar mais.
Mas Vandalieu se lembrava do quão estranhamente cautelosa Darcia estava na primeira vez em que ela o levou para fora.
Ela abriu a porta da caverna de modo a permitir que apenas um pouco de luz solar passasse através da fresta, iluminando as pontas dos dedos de Vandalieu.
— Que alívio! Você não herdou a fraqueza dos vampiros.
Enquanto observava sua mãe exclamar em alegria, Vandalieu lembrou que seu pai era um vampiro. Teria sido realmente complicado se ele, como um dampiro, tivesse herdado a inabilidade da raça de seu pai de tolerar a luz solar.
— Pois bem, vamos sair de casa junto da mamãe de agora em diante, sim?
Ao dizer isso, Darcia levou o filho para fora da caverna. Vandalieu ficou sem saber o que dizer com a visão do mundo do lado de fora (não que ele pudesse falar, em primeiro lugar).
O mundo… a natureza… é tudo tão grande!
Do lado de fora da caverna havia uma floresta. O ar estava fresco.
O sol brilhava e o céu estava pintado em um tom claro de azul, as nuvens eram puramente brancas e as densas árvores em estado de crescimento eram de um verde viçoso.
Era a paisagem de uma floresta comum, mas Vandalieu passou vinte anos preso em uma pequena cela antes de ser morto por Amemiya Hiroto e Narumi. Aos seus olhos, tudo parecia brilhar lindamente.
— Fufu, parece que você gostou de sair de casa.
Seu rosto estava tão inexpressivo quanto de costume, mas Darcia compreendeu, pela maneira em que ele estava observando seus arredores como se estivesse pasmo, o quanto seu filho estava feliz. Ela começou a perambular enquanto coletava comida.
É claro, ela não fez nada tão perigoso quanto caçar animais usando um arco ou sua magia espiritual. Darcia coletou ervas comestíveis, frutas e cogumelos, além de preparar algumas armadilhas para capturar presas menores mais tarde.
A maior parte do alimento coletado foi ingerido por ela, enquanto que um pouco foi separado para preparar a papinha de Vandalieu.
Não tenho certeza do que pensar sobre isso.
Uma vez ao dia, sua jovem e bela mãe falaria — diga ah! — ao alimentá-lo com uma colherada de comida. E, com isso, a quantidade de tempo que ela passava o amamentando diminuía.
De modo a sobreviver a partir de agora e realizar a subsequente viagem deste lugar, no qual era perigoso demais para um dampiro viver, até o vilarejo dos elfos negros, o desmame de Vandalieu era algo necessário. Ainda assim, crescer era uma tarefa difícil para ele.
A propósito, ele preferia o gosto do leite de sua mãe do que o da papinha.
[A habilidade Magia do Atributo da Morte atingiu o nível 2! As seguintes habilidades foram adquiridas: Resistência a Efeitos Negativos; Resistência a Magia; Visão Noturna; Beber Sangue!]
Assim que Vandalieu completou cinco meses de idade, Darcia passou a deixá-lo sozinho na caverna durante horas para sair e coletar comida da floresta.
— Em breve nós estaremos indo até o lugar onde a mamãe nasceu. Eu preciso fazer as preparações para partirmos, então mesmo que você fique um tanto solitário, preciso que aguente, tudo bem?
Dizendo isso, ela sairia para caçar animais ou ir até o vilarejo próximo, fingindo ser uma aventureira de passagem para comprar suprimentos. Havia vezes em que ela ficava fora por quase metade de um dia, mas era necessário para conseguir os suprimentos que eles usariam para sobreviver, o que limitava severamente suas opções.
Deixar um bebê em casa durante tanto tempo seria algo questionável a se fazer na Terra, mas Vandalieu não tinha queixas, já que tudo estava sendo feito para sua própria proteção.
Sem a ajuda de ninguém, Darcia estava se esforçando para cuidar de um infante. Uma criança meio-vampiro bastante problemática, ainda por cima.
A julgar pelo fato de que Vandalieu nunca tinha visto seu pai, era provável que eles também não fossem receber ajuda da comunidade vampírica. Vampiros desprezavam mestiços tanto quanto os humanos, senão mais. Meio-vampiros frequentemente eram alvos de perseguição por parte de vampiros, bem como. Mesmo no Japão, onde o povo tinha algum princípio como seres humanos, pessoas de sangue estrangeiro eram discriminadas.
Não era surpreendente que mestiços de diferentes raças experienciassem o mesmo em Lambda.
Nesse ritmo, não parece que eu sequer serei capaz de ver o rosto de meu pai.
Provavelmente porque ele estava morto.
Pensando logicamente e sem levar suas próprias emoções em consideração, seria muito mais prático para Darcia abandonar Vandalieu. Feito isso, ela seria capaz de desfrutar de uma vida muito mais pacífica.
Isso tornaria a vida dela mais despreocupada, livre de responsabilidade. Passado algum tempo e uma vez que seus sentimentos de pesar diminuíssem, ela seria capaz de viver como se nada tivesse acontecido. Caso quisesse ter outra criança, ela podia facilmente ir até outra nação ou voltar ao vilarejo dos elfos negros para encontrar outro homem.
Apesar disso, a mais plausível razão para Darcia não ter abandonado Vandalieu era o amor que ela nutria por seu marido e seu filho.
Isso é um pouco clichê, mas ser amado é algo realmente maravilhoso.
Com essa felicidade o motivando, Vandalieu continuou a se esforçar.
Ele passou seu tempo acordado praticando magia, fortificando seu corpo por exercitar seus braços e pernas e praticando o uso de sua voz. Como resultado, o nível de sua habilidade [Magia do Atributo da Morte] havia aumentado e ele conseguiu produzir efeitos visíveis que Darcia era capaz de enxergar.
— Nossa, e pensar que você é capaz de usar magia mesmo sendo apenas um bebê! Vandalieu, você é mesmo um prodígio, não é?
Quão feliz ele havia ficado ao orgulhar alguém com seu progresso e ter sido elogiado por conta disso.
Embora sua capacidade de usar outras habilidades parecia não ser um resultado de seu esforço, mas sim de seu crescimento.
Sua [Resistência a Efeitos Negativos] era uma habilidade que lhe dava resistência contra venenos, doenças, fadiga decorrente da falta de sono, fome e outros efeitos prejudiciais ou condições letais que podiam ser aplicadas através de magia. Isso era algo que ele provavelmente havia herdado de seu pai vampiro.
Sua [Resistência a Magia], uma habilidade que mitiga o dano e outros efeitos derivados de ataques mágicos, era uma característica racial dos elfos negros. Sua mãe, Darcia, também tinha essa habilidade.
A [Visão Noturna] era uma característica que ambos os seus pais possuíam, permitindo que ele enxergasse mesmo em noites sem estrelas como se fosse dia.
E, finalmente, [Beber Sangue] era autoexplicativo. Seus caninos haviam crescido incomumente rápido comparado aos outros dentes. Era uma habilidade que ele adquiriu quando presas nasceram tanto na parte superior quanto na parte inferior de sua boca.
— Elas apareceram, afinal. Mas seria melhor se você não as usasse com frequência, Vandalieu…
Dizendo isso quando notou que seu filho havia crescido presas, Darcia cortou a cabeça do coelho que ela capturou usando uma faca. E então ela despejou o sangue em uma tigela de madeira.
— Aqui, tente beber isto.
Mãe, você está louca?
Em resposta ao cheiro de ferro vindo da tigela que havia sido colocada próxima de sua boca, Vandalieu olhou para Darcia com os olhos semicerrados.
Na Terra, sangue muitas vezes era utilizado como ingrediente em molhos e o sangue de enguia ou tartaruga por vezes era usado na destilação de vinho. Eu sei disso, mas… alimentar um bebê usando sangue puro não pode ser considerado abuso infantil? Eu penso que sim, mas ela não parece estar prestes a mudar de opinião. Bom, não custa tentar.
Certamente seria algo nojento. Pensando nisso, Vandalieu estendeu a língua e bebeu um pouco do sangue de coelho. Surpreendentemente, ele não achou o gosto ruim.
Hum? Eu consigo beber isto. Tem gosto de ferro, mas não é tão ruim quanto eu achei que seria… na verdade, é delicioso?
Não havia sido destilado em vinho ou temperado com especiarias para mascarar o cheiro, mas para Vandalieu o sangue de coelho era tão fácil de beber quanto o leite de sua mãe.
Ele ficou espantado, mas Darcia começou a explicar enquanto acariciava seu cabelo ainda em crescimento.
— Vandalieu, você pode beber sangue como seu pai. Mas isso não significa que você precisa bebê-lo, então mesmo quando estiver com fome, beba apenas quando a mamãe não estiver por perto, entendeu?
Entendo, então eu realmente sou um meio-vampiro. Isso explica por que os dampiros são segregados.
Bem, por enquanto, eu irei simplesmente pensar em uma maneira de aumentar a variedade de minha comida de bebê.
Conforme Vandalieu se aproximava dos seis meses de idade, ele adquiriu a capacidade de engatinhar. Naquele dia, Darcia o deixou sozinho em casa para realizar uma longa viagem até o vilarejo próximo.
Estou feliz que mãe considera a minha inteligência incomum para um bebê como algo positivo.
Incluindo o fato de que ele conseguia usar magia, a única reação vinda de Darcia quanto a anormalidade de Vandalieu era dizer coisas como — Incrível! — e, além do mais, ela não questionou ou expressou qualquer tipo de perplexidade quanto a este fato.
— Dampiros são incríveis, afinal.
Por dizer isso com frequência, era provável que ela acreditasse que todas as características incomuns de Vandalieu eram derivadas de sua existência como um dampiro.
Até porque, mesmo que quisesse explicar, ele ainda não conseguia falar por ter apenas seis meses de idade. Ele ainda estava praticando o uso de sua voz, mas estava frustrado por não conseguir formar palavras corretamente.
Não fosse esse o caso, ele gostaria de explicar sua situação.
Eu explicaria tudo sobre Rodcorte, minha vida passada e Amemiya Hiroto.
Nas light novels ou nos mangás que Vandalieu havia lido na Terra, era comum que os personagens, ao reencarnarem em outro mundo, mantivessem isso em segredo. Mas, em sua opinião, ele deveria quebrar esse padrão. Conversar com Darcia, tão logo quanto possível.
Porque ela era sua mãe.
Se esta fosse uma reencarnação ou viagem normal para outro mundo, eu iria considerar manter isso em segredo também. Mas minha situação é diferente. Em breve, uma centena de pessoas do mesmo mundo que eu serão reencarnadas aqui com poderes absurdos.
Amemiya Hiroto e os outros, aqueles que o abandonaram sem sequer tentar procurá-lo em Origem, aqueles que o mataram. Assim que eles morressem em Origem, certamente seriam reencarnados aqui em Lambda.
Vandalieu não sabia quando isso iria acontecer. Quando morreu em Origem, eles pareciam ter mais ou menos vinte anos de idade. Então a menos que eles sofressem algum tipo de acidente ou coisa parecida, levaria ao menos cinquenta anos. Mas ele não sabia se o tempo passava de maneira diferente em Origem e Lambda.
Pode até ser que para cada dia decorrido em Lambda, um ano passasse em Origem.
Bem, provavelmente não é algo tão extremo, mas eles certamente reencarnariam em Lambda algum dia. Mesmo Rodcorte disse ser incapaz de prevenir que isso acontecesse.
O problema é o que Rodcorte dirá para eles antes de serem reencarnados. Eu gritei que iria matá-los. Então, caso sejam reencarnados antes de minha morte, ele iria ao menos avisá-los sobre mim.
Afinal, o objetivo de Rodcorte era fazê-los desenvolver este mundo. Seria problemático caso eles morressem antes disso acontecer, então ele iria definitivamente avisar a eles sobre Vandalieu.
Nesse caso, eles veriam Vandalieu como uma ameaça e o tratariam com cautela.
Em suas primeiras vidas, eles eram pessoas criadas na pacífica nação japonesa, então tudo ficaria bem caso quisessem discutir sobre as coisas ou pedir desculpas pelo que ocorreu em Origem.
Mas Vandalieu não podia dizer com certeza que absolutamente nenhum deles teria a ideia de matá-lo caso o encontrassem, para simplesmente eliminar a ameaça. Da mesma forma que ele experimentou uma vida inimaginavelmente miserável, talvez eles tivessem experimentado algo do tipo também.
Ainda que lá eles fossem heróis, caso tivessem que lidar com terroristas ou organizações criminosas por longos períodos de tempo, quem sabe a condição em que acabariam ficando.
Sim, heróis. Esses eram azarados.
Eu os ouvi logo antes de morrer, mas se não estou enganado, eles foram alertados da presença de um morto-vivo antes de irem me matar. Sendo assim, eles provavelmente usaram seus poderes absurdos e se tornaram heróis internacionais ou algo parecido, como naquelas revistas em quadrinho americanas de super-herói.
E Vandalieu era um meio-vampiro, um dampiro.
Caso demonstrassem o pacifismo, o filantropismo e o respeito pela vida humana como faziam enquanto japoneses, isso não seria um problema. Mas se eles fossem afetados pelos valores anti-vampiro e anti-dampiro de Lambda, seria perigoso.
Ter uma centena de pessoas com poderes absurdos como inimigos não seria algo simples de lidar.
A pessoa que ficaria no meio de tudo isso era Darcia. Seria muito perigoso e irracional esperar que ela enfrentasse esse perigo sem saber de nada. É por isso que Vandalieu acreditava que era correto explicar a situação para sua mãe assim que fosse possível.
Caso mãe queira se afastar por conta disso, não há nada que eu possa fazer.
Apenas meio ano havia se passado, mas Darcia foi a primeira mãe que Vandalieu havia conhecido. Ele nunca foi tão amado por qualquer outra pessoa.
Bem, se possível, eu não quero me separar dela.
Com esse propósito, a minha vingança… bem, é impossível esquecer ou me reconciliar com qualquer um deles agora, mas eu ficarei satisfeito caso eles simplesmente fiquem longe de mim.
Vandalieu estava ligado em Darcia a esse ponto. Também era parcialmente porque seus pensamentos ficaram estranhamente claros após seu renascimento, mas ele acreditava ser capaz de desistir de sua vingança pela felicidade de sua mãe.
Depois que eu crescer um pouco, eu explicarei tudo para Darcia. E então eu posso usar o conhecimento e a magia da morte que eu obtive durante o meu tempo na Terra e em Origem para viver uma vida plena; eu consigo me satisfazer com isso.
E se eu puder apenas assistir aqueles caras com poderes absurdos se esforçando em prol deste mundo, então tudo bem. — Vandalieu pensou isso enquanto continuava a engatinhar pelo chão para prosseguir com seu treinamento físico, mas de repente ele sentiu fome.
Acho que vou só tomar um pouco de sangue.
Ele ergueu o coelho que Darcia havia capturado vivo de sua gaiola. Embora tivesse apenas seis meses de idade, ele era um dampiro com a habilidade [Força Sobre-humana], então foi muito mais simples do que pensou que seria.
Vandalieu usou [Esterilização] e [Inseticida] no coelho se debatendo para higienizá-lo e então o mordeu.
Sangue é delicioso, mas o leite da mãe ainda é melhor.
Saciando sua fome ao impiedosamente sugar o sangue do coelho convulsionando, Vandalieu ansiou pelo seio de sua mãe.
Naquele dia, a hora em que Darcia já deveria ter voltado para casa passou, mas ela não apareceu.
Nome: Vandalieu
Raça: Dampiro (Elfo Negro)
Idade: 6 meses
Apelido: Nenhum
Classe: Nenhuma
Nível: 0
Histórico de Classes: Nenhuma
Atributos
- Vitalidade: 18
- Mana: 100.000.600
- Força: 27
- Agilidade: 2
- Constituição: 33
- Inteligência: 25
Habilidades Passivas
- Força Sobre-humana: Nível 1
- Cura Rápida: Nível 1
- Magia do Atributo da Morte: Nível 2 [NOVO]
- Resistência a Efeitos Negativos: Nível 1 [NOVO]
- Resistência a Magia: Nível 1 [NOVO]
- Visão Noturna: Nível 1
Habilidades Ativas
- Beber Sangue: Nível 1 [NOVO]
Maldições
- Experiência adquirida na vida anterior não será transferida.
- Não pode obter nenhuma das classes já existentes.
- Incapaz de adquirir pontos de experiência independentemente.