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The Divine Hunter – Capítulo 136

Encontrando a Maldição Novamente

Roy soltou Gwyhyr.

O mendigo simplesmente bufou, como se não tivesse medo de nada, afinal, iria morrer de qualquer forma.

“Acha que eu não posso te fazer falar?” Roy olhou para o mendigo, seus olhos ficaram escuros, e as suas íris lentamente se moveram para cima enquanto ele perdia a consciência. 

“Nivellen… nos arredores de Vizima… as terras de um ladrão…”

Quando foi que ele acabou assim? A ponto de estar em uma situação pior do que a de um homem comum?

Ele entrou na história de outro bruxo.

“Nivellen…”

“Você me conhece, bruxo?”

“Não apenas conheço você, mas também conheço um bruxo de cabelos brancos. Geralt de Rívia”

No momento em que o mendigo escutou o nome, imediatamente se levantou do chão.

“O quê? Me leve até ele agora! Aquele bastardo de cabelos brancos roubou a minha vida feliz de mim! Procurei ele por nove anos!” disse o mendigo, rangendo os dentes, como se Geralt fosse seu nêmesis.

“Primeiro, terá que me explicar o motivo de você ter libertado nossos cavalos, e a razão do seu ódio. Se me lembro bem, Geralt já te ajudou…”

Roy se referia a uma história de muitos anos atrás chamada “Um Grão de Confiança”

“Ajudou?” Na cara enrugada de Nivellen cresceu um pequeno sorriso amargo. Ele estava em torno dos seus trinta e sete, mas parecia ter de cinquenta a sessenta anos. A agonia da vida deixava muitas manchas.

“Foi o que eu também pensava, mas aí… Bem, a razão das minhas ações? Do mesmo jeito que eu soltei seus cavalos, e odeio aquele cabeça branca, também odeio todos os outros bruxos. Posso ver confusão nos seus olhos. Você também quer conhecer a verdade como aquele homem? Eu posso saciar sua sede por conhecimento, mas por favor, me leve até ele. Encontre Geralt de Rívia.”

“Se puder, me conte a sua história.” Roy já sabia qual era a história dele, mas Letho ainda estava no escuro.

O sujeito limpou a garganta, parecia mal poder esperar para começar a contar a sua história. Aparentemente, dentro do seu coração, sempre esperou por alguém que o escutasse.

Havia mantido aquilo dentro de si por muito tempo. Muitos achavam que ele estava apenas inventando histórias. Eles, no máximo, escutavam o começo.

Mas os bruxos eram, sem dúvidas, ouvintes bem pacientes.

“Você quer ouvir a história curta ou a detalhada? Se escolher a última, tenho que contá-la bem do comecinho.”

Olhou para os dois bruxos que já estavam prontos para ouvi-lo, e então, se encostou contra um amontoado de lixo para começar a explicar.

“Dezesseis anos atrás, meu avô, meu pai e eu vivíamos em uma terra nos arredores de Vizima. Nossa família nunca teve ninguém de importância, ou mesmo aristocratas. Ficamos ricos apenas roubando dos outros.”

“Meus anciões sempre paravam mercadores para roubá-los às cegas. Nós também, algumas vezes trazíamos gangues para extorquir deles dinheiro por proteção. Vivíamos uma vida boa, e acumulamos uma bela fortuna.”

“Infelizmente, sempre fui doente, desde que nasci. Tossia muito, sempre gripado, e por causa da minha timidez, os servos da nossa casa faziam bullying comigo. Quando meu pai estava por perto, eles não exageravam, mas depois que meu pai foi assassinado por um espadachim da carruagem que tentava roubar, os servos começaram a me tratar ainda pior. E o meu avô, a sua cabeça foi atingida por uma estrela do amanhã quando era mais novo. Ele não poderia me proteger também.” 

A voz dele parou por alguns segundos antes de continuar.

“Um dia, a gangue me trouxe até Mirt, em Redania, onde nós roubamos um templo. Logo após, o cara de cabelos brancos me disse que o templo era usado para adorar a Coram Agh Tera, a Aranha Cabeça de Leão.”

“Eles sequestraram uma sacerdotisa, e me coagiram a usá-la para perder a minha virgindade. E assim foi como me tornei um homem. Mas ‘quando eu ainda estava me tornando um homem’, a sacerdotisa cuspiu em mim e usou me amaldiçoou em uma língua estranha!”

“Disse que eu era um homem em pele de monstro, e que logo eu me tornaria um monstro de verdade. Depois disso, ela se suicidou por raiva e vergonha.”

“Eu corri. E no segundo dia, ao chegar em casa, percebi que a maldição feita pela sacerdote estava se tornando realidade. Me tornei uma besta com um corpo poderoso, uma cabeça horrenda, e uma boca cheia de dentes afiados.”

“Tomado pela raiva e medo, fui dominado pelos meus instintos. Massacrei a todos da minha terra. Todos eles morreram.” Nivellen deixou escapar uma risada de satisfação.

Entretanto, as faces dos bruxos escureceram. Eles lembraram de Alan, o capitão da Tropa Escorpião Marinho, que tinham conhecido não há muito tempo. 

Tanto Alan quanto Nivellen foram amaldiçoados pelos padres do Culto da Aranha Cabeça de Leão.

“Então como você voltou pra sua forma humana?” Perguntou Letho.

“Isso aconteceu depois, seja mais paciente, por favor.”

Ele parecia estar gostando daquele momento. Havia menos ódio na sua voz também.

“Permaneci sozinho naquela enorme das minhas propriedades e me perdi por muito tempo. Consegue imaginar? Um homem comum de repente se tornando um monstro poderoso e amedrontador? O quão assustador isso é? Até que um dia, eu capturei um ‘ladrão’ que tentou roubar da minha terra. Então conversei com ele, fiquei empolgado com aquele encontro.”

“Ele era um mercador. Ele entendeu que eu tinha acumulado grandes riquezas e que era uma ‘besta amável’ em que ele poderia confiar. Foi aí que, de repente, me lembrei de um conto de fadas enquanto conversávamos. Poderia o amor verdadeiro quebrar essa maldição esquisita que foi lançada em mim?”

“E  assim, sugeri que nós começássemos um negócio. Ele me traria jovens, vinho bom e comida. Em troca, eu lhe daria como recompensa o ouro e as jóias que estavam no porão da minha casa. Meu negócio se expandiu bem rápido. Até mesmo o sapateiro e o curtidor de couro se tornaram meus fregueses recorrentes.”

“Eu tinha muitas riquezas e minha força não era algo que poderia ser subestimado. Aqueles que ousavam me ofender eram mortos pelas minhas mãos. Eu era até imune a doenças, cheio de energia do dia à noite.”

A expressão de Roy era difícil de descrever. Depois do que aconteceu com Alan e Nivellen, se perguntava se a maldição do Culto da Aranha Cabeça de Leão era uma punição ou era uma benção.

Além de se tornar esquisito e ficar louco, os almaldiçoados se tornam portadores de habilidades que são além da alcance de mortais, assim como obtiam grande poder marcial.

Então, nesse mundo existia alguém pesquisando… o caminho para o poder dos amaldiçoados?

“No total, eu…” Nivellen contou seus dedos com um sorriso amplo na sua cara feia. “Eu tive cinco fêmeas humanas inocentes. Esses foram os dias mais felizes e maravilhosos da minha vida. Infelizmente, elas apenas ficaram na minha terra por um ano, e então, foram embora com seus dotes, encontrar alguém honesto pra se casarem.”

“Nenhuma delas era meu amor verdadeiro, até eu conhecer a última garota. Vereena… sempre ficava ao meu lado, apesar da sua chegada repentina. Ao meu lado, nós observávamos as rosas no meu jardim, dançávamos sob o luar… Ela não tinha a ganância das outras mulheres. Ela não olhava baixo por minha aparência nojenta. Junto dela, eu lentamente fui desistindo de me tornar um homem de novo…”

“Pensei que minha vida continuaria feliz. Mas o cabeça branca apareceu.” Nivellen tampou seu rosto com as mãos e sussurrou, “Ele continuou me falando sobre a maldição e a maneira de quebrá-la. Nós brigamos, ele foi embora, mas voltou no dia seguinte, apenas para brigar com a minha Vereena nos jardins” A voz começou a tremer. “Foi aí que o meu amor revelou quem ela era de verdade. Uma bruxa.”

Uma bruxa é um vampiro de baixo nível, extremamente poderoso e muito mais ágil do que uma ekimmara. Até mesmo alguém como Letho teria problemas em lidar com uma.

“Não é ótimo?” Disse Roy com uma cara séria. “Uma bruxa e um humano que se tornou um monstro… foram feitos um para o outro, não é?”

“Eu fiquei paralisado pelo medo…” Disse com evidente arrependimento.

“Um monstro com medo de outro monstro… Que esquisito.”

“Devo ter sido enfeitiçado por aquele homem, porque acabei o ajudando a matar Vereena… Minhas mãos estavam escorregadias, o sangue dela espalhado por todo o meu corpo, foi assim que voltei a ser um humano. Foi nesse momento que entendi… que ela me amava… Mas a merda já estava feita. Perdi o meu amor, então voltei a ser um homem.” Lamentou.

Os dois bruxos entendiam, porque eles mesmos já haviam passado por isso, por isso acreditavam no que foi dito.

Amor verdadeiro e sangue podem quebrar uma maldição.

“Antes que eu pudesse pudesse processar a situação, o bruxo se virou e saiu, simples assim. Depois disso, meu pesadelo apenas começou. Meu corpo voltou a ficar doente. Eu já não tinha mais o poder para proteger a minha fortuna. Não demorou pra outra gangue chegar e tomar de mim tudo que eu tinha. Fui forçado a escapar e me tornar um andarilho. Acabei nos arredores de Vizima, e comecei minha vida repleta de agonia aqui.”

“Eu era fraco e doente. Além de apoiar os companheiros ladrões, não tinha nenhuma outra habilidade no geral. Não sabia como ganhar na vida, no final das contas, e, no fim, acabei me tornando um mendigo. E mesmo assim, os outros mendigos me tinham como alvo.”

“A vida que eu vivo agora não cabe a um homem. Estive pensando por muito tempo…” Ele levantou a cabeça e olhou para os dois magos, luzes vermelhas piscando em seus olhos. “Sei que o homem que é a causa de toda a minha miséria é o cabelos brancos, Geralt de Rívia. Sem ele, Vereena e eu ainda estaríamos vivendo uma vida boa juntos. Você ainda acha que eu não deveria odiá-lo?! Que eu não deveria odiar bruxos?!” 

Roy olhou de relance para Letho, mas continuou calado.

Geralt ajudou Nivellen a quebrar a maldição e matar a bruxa. Do seu ponto de vista, o sujeito não fez nada de errado. Mas, ele destruiu a vida pacífica do homem no processo.

Quem estava certo e quem estava errado? Roy não queria fazer o papel de juiz desse caso.

Porém, tudo aquilo não limpava a culpa do indivíduo por todos os pecados que cometeu ao levar uma vida de bandido. Seu sofrimento era apenas uma punição pelos seus crimes.

“E como a sua perna terminou toda ferrada…?” Apontou Roy para a perna torcida dele.

“Outro bruxo chamado Berengar a quebrou quando tentei enganá-lo”

O jovem ficou pensativo. Já havia escutado esse nome em algum lugar.

“Em Vizima?”

“Foi em torno de dois anos atrás…”

Roy acenou.

“Sua experiência é fantástica. Mas tudo isso” ele deu ênfase às suas palavras ”Foi causado por você mesmo! Pense nas vezes em que assaltou inocentes, nas pessoas que matou, a sacerdotisa que estuprou… O quão baixo você pôde chegar?” O jovem bruxo sacudiu a cabeça. “Sua miséria pode ser comparada àqueles que morreram em suas mãos?” 

A expressão no rosto Nivellen começou murchar. Com uma frase, ele conseguiu destruir toda a casca de inocência que o mendigo tinha criado.

“Mas eu fui forçado por aqueles servos malígnos! Eu era fraco e não podia enfrentar ninguém! Tudo que aconteceu depois, e como eu acabei assim” Nivellen estendeu o pescoço enquanto argumentava, sentado na pilha de lixo “É tudo culpa daquele bruxo de cabelos brancos! Agora, por favor, me conte onde aquele bastardo está. Eu quero acertar as contas com ele!”

“E se achar o Geralt?” Roy acenou em negação: “Sua vida vai retornar a ser o que era antes se enfrentá-lo? Ou quer se tornar um monstro de novo?”

Nivellen lambeu seus lábios secos com certo receio.

 “Você transferiu todo o ódio que sentia na vida para os bruxos, mas ignorou os seus crimes! Olhe para tudo que fez nesses anos! Tudo que soube fazer é reclamar. Você nem faz o que mendigos fazem mesmo sendo  um! Não sou um juiz, e não cabe a mim julgá-lo por seus crimes passados!”

O coração do sujeito pulou uma batida. “O que… O que você quer de mim?!”

“Vamos falar sobre o que fez contra nós. Você libertou nossos cavalos sem motivo algum…” O jovem parou, trocando olhares com o parceiro. “Será punido por isso.”

Bang!

Ao fechar a boca, balançou a espada já desembainhada diretamente para o rosto de Nivellen, que caiu direto na pilha de lixo fedorento.

“Vamos, Letho. Vamos fazê-lo pagar o preço por ter entrado no nosso caminho!”

“Pensei que iria quebrar a outra metade da perna dele” Letho brincou ”Desse jeito, ele vai conseguir mendigar mais grana.”

“Já estou sendo generoso por não força-lo a me pagar…”

Roy direcionou seu olhar para aquele desgraçado na pilha de lixo, e não pode deixar de suspirar pelo seu destino.

A sua vida era melhor como um monstro do que como um humano.

Que diabos de mundo é esse? 


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