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The Divine Hunter – Capítulo 135

Briga de Taverna

Pocotó! Pocotó!

O galopar de dois cavalos, um marrom e o outro preto, marcavam a terra da estrada da floresta com seus cascos. O cavaleiro mais à frente era claramente o mais habilidoso; segurava com certa força, usando as duas mãos, as rédeas, e as pernas fortes abraçavam firmemente o animal. Sua figura atlética estava ligeiramente inclinada para frente, avançando enquanto o cavalo galopava no próprio ritmo dele.

Parecia ter se tornado um com o cavalo por completo, o que tornava montá-lo algo fácil. O homem até mesmo tinha energia para se virar e olhar para o outro cavaleiro, que tinha sido deixado para trás. 

Este tinha uma performance muito pior, visto que o seu corpo inteiro, além de muito rígido, estava colado nas costas do cavalo. 

Depois de um tempo, eles deixaram a floresta e entraram em uma planície aberta. Era a tarde, então as pessoas famintas depois de um dia de trabalho já haviam retornado para casa, tornando as ruas quase vazias.

Na vila, filas e mais filas de casas com telhados de palha continham fumaça saindo delas. No meio dessas fileiras de lares, existia um que fora construído com tijolos; e em frente ao pátio amplo do lugar, um letreiro exibia a palavra “taverna”.

Irrinhó!

Roy, que vestia uma armadura de couro e uma capa, puxou as rédeas com todas as suas forças, e então pulou apressadamente para fora do cavalo. Suor frio cobria todo o seu rosto depois de cavalgarem tão rápido.

Ainda assim, foi gentil com aquele que tinha causado aquilo tudo. Acariciando a crina do cavalo, sussurrou enquanto caminhava lentamente com as rédeas nas mãos. 

“Wilt, querido Wilt. Tem que ser gentil na próxima vez. Sinto que perco metade da minha vida sempre que cavalgo em você…”

Letho podia apenas balançar a cabeça enquanto andava à frente com o cavalo dele. Sua larga capa cobria seus músculos bem desenvolvidos. Havia várias tiras e fivelas presas ao redor de seu peito e cintura, além de uma fileira de facas arremessáveis e um cinto de poções pequenas. Ele estava cercado por uma aura que avisava aos outros para “não o provocar.”

Durante esse momento, o bruxo continuou olhando Roy conversar com seu cavalo, começando então a duvidar se o rapaz estava bem da cabeça. Será que o animal entendia mesmo aquilo?

***

Os dois conduziram os cavalos na rua em direção a taverna. O atendente, após os cumprimentar, recebeu as rédeas das mãos deles.

“Alimente-os com alguma soja, ervilhas e milho. Dê um pouco de água limpa também. Não precisa se preocupar com dinheiro, cavalos usados para viagens precisam ser alimentados com coisas boas. Não use algo estragado ou coberto de mofo para nos enganar, entendido?” Disse Roy.

“Não se preocupe, senhor. Por favor, entre…” o atendente disse enquanto olhava para o rosto jovem e bonito escondido sob o capuz. 

Estranho… o que há com esses olhos? O empregado perguntou a si mesmo. Sua visão logo alternou para o homem grande, que era como uma colina pequena. Não reconhecia nenhum deles, e era óbvio que eram estrangeiros pelo sotaque que tinham. 

Entretanto, Vizima não era uma cidade amigável.

Espero que não eles comecem uma briga aqui. O jovem homem silenciosamente orou. O chefe mal terminou as reformas na semana passada. Se houver outra confusão, ele não terá dinheiro para me pagar.

Roy olhou para trás dele e sentiu alguém o observando com tanta intensidade que fez sua pele arrepiar. Os olhos do bruxo encontraram um mendigo sujo, sentado em um beco à direita da taverna, que os fitava diretamente sem piscar.

“Até os mendigos desprezam bruxos agora, hein?”

***

O taverneiro levantou a cabeça e olhou para os recém-chegados. Os estranhos ainda vestiam suas capas, se posicionando rigidamente em frente ao bar. Não disseram nenhuma palavra, continuando com suas caras inexpressivas.

“O que posso servi-los?”

“Cerveja. A cerveja preta especial de Vizima…”

O tom da voz do homem careca finalmente ganhou vida ao falar sobre cerveja…

“Sim, traga duas…”

O taverneiro limpou as mãos no avental de pano, e então encheu duas canecas de barro lascado com uma cerveja dourada e saborosa. Os bruxos se sentarem em frente ao bar e removeram as capas. Dado isto, todos no local viram que ambos tinham espadas.

Era normal que as pessoas tivessem espadas. Em Vizima, quase todo homem de idade levava uma arma consigo, mas nenhum carregava as espadas nas costas como se estivesse trazendo consigo uma besta.

Os dois estranhos não procuraram uma mesa, diferente dos outros clientes. Em vez disso, ficaram de frente ao bar. O mais jovem, com a espada atrás de si, olhou para o taverneiro, que os observava com olhos pouco amigáveis. E então, depois de beber um gole da cerveja doce, disse ”Precisamos de dois quartos. Só uma noite.”

“Sinto muito, mas não temos mais nenhum quarto disponível.” respondeu triste enquanto olhava para as próprias botas, que estavam imundas, cobertas de terra e poeira. 

“Vá ao Quartel do Templo. Os crentes de Lebioda vão ficar mais do que felizes em receber vocês.”

“Mas e se quisermos ficar aqui?” Roy insistiu, e então sentiu o bruxo puxar sua mão.

“Não iremos precisar de hospedagem. Vamos comer um pouco e descansar pela tarde, e então partiremos imediatamente.”

“Não podemos ficar, mesmo se pagarmos?” Roy insistiu. Ele queria ver a reação dessas pessoas.

“Estamos cheios…” O funcionário olhou para os olhos dourados escuros mas não cedeu. 

A atmosfera se tornou sufocante.  

Foi neste momento que um homem pequeno, que tinha o rosto coberto por cicatrizes de acne, se aproximou deles com dois seguidores peculiares.

“Você entende o que ele está dizendo…?” Uma voz afiada veio da garganta do homem. “Vizima é o coração de Temeria. É uma ótima cidade, e não recebemos aberrações e mutantes como você.”

“Se me lembro bem, estamos nos arredores.”

“Mesmo se for os arredores, ainda é parte de Vizima. E somos Vizimanos orgulhosos.”

A expressão do jovem bruxo se tornou fria enquanto abaixava a cabeça, já seu braço lentamente alcançava suas costas. Pensava se devia começar batendo primeiro no lado esquerdo, ou no direito, do rosto do homem.

Mas o pequeno continuou o pressionando, dizendo “Estou te dando duas escolhas bem agora. Ou você sai desse lugar e de Vizima, ou eu mesmo te chuto daqui!”

Enfrentando os gritos e a humilhação da parte do homem, Letho bebeu toda a cerveja da caneca e bateu fortemente o copo no bar. Todos os presentes ficaram surpresos, mas antes que o sujeito pudesse reagir, um rapaz correu para dentro. Era o atendente que estava os ajudando com os cavalos minutos antes.

Ele balbuciou com nervosismo “Senhores! Os… os cavalos, alguém libertou um deles!”

“O quê?! Quem fez isso?”

Roy repentinamente avançou, ninguém sabia se foi intencional, mas com o movimento, ele bateu no ombro do homem com cicatrizes de acne. Aquela simples batida continha o dobro da força de uma pessoa comum. O atingido só pôde sentir o corpo se tornar mais leve, como se tivesse sido atingido diretamente por um rinoceronte enfurecido; não pôde fazer nada, a não ser, ser jogado para trás. No momento em que atingiu o chão, sentiu que suas nádegas haviam quebrado, e o esqueleto inteiro se partindo em pedaços. As duas pernas foram achatadas e ele perdeu a consciência.

***

Quando ambos os bruxos correram para fora da porta da taverna, um dos cavalos já havia ido embora: o cavalo velho e preto possuído por Letho.

“Bom garoto, Wilt… Você não me desapontou…” Enquanto isso, o corcel de Roy, que era o cavalo marrom, ainda continuava tranquilo no estábulo. Até mesmo assentiu quando viu o mestre.

O atendente então se aproximou dele enquanto estremecia e disse “Eu estava preparando a comida para os seus cavalos… e quando desviei o olhar… Isso deve ser coisa daquele mendigo velho e feio que estava mendigando perto daqui.”

“Certo, entendemos.”

As pupilas douradas de Roy contraíram. No estábulo, várias “fitas” de diferentes cores apareceram no ar e se estenderam para fora, mas ele deu mais atenção naquela com a cor mais brilhante.

“Ficamos na taverna por menos de dez minutos. Ele não deve estar muito longe.”

“Vamos ver o que deu a ele tanta confiança para fazer isso!”

***

Nivellen estava tranquilamente deitado de bruços na pilha de lixo entre as duas construções. Ele cerrou os seus dentes amarelos e podres, suportando o fedor ao seu redor. Nem mesmo ousava respirar alto, pois sabia que bruxos tinham olhos tão afiados quanto de águias e narizes mais sensíveis que os de cachorros. Os dois iriam pegá-lo se fizesse qualquer barulho, não importava a intensidade. E se fosse capturado depois de ter libertado os cavalos…

Esfregou a perna esquerda, aquela que estava dormente. Tinha medo de acabar perdendo até mesmo a sua perna direita.

“Bruxos… É culpa de vocês que acabei nesse estado!” 

Na sua mente, as memórias do passado eram repetidas novamente. Incontáveis vezes, relembrou o estilo de vida luxuoso que possuía.

Era uma vez, um homem que vestia roupas feitas do melhor tecido de linho, e que podia comer das comidas mais exóticas que existiam. Até mesmo era acompanhado pelas mais belas mulheres, e o seu corpo era mais forte do que a maioria dos homens. Entretanto, por causa de um bruxo intrometido, acabou perdendo tudo.

E a parte mais engraçada disso tudo é que ele tinha se sentido grato ao bruxo a princípio. Só quando foi forçado a sair de casa que ele entendeu o quão cruel o mundo real podia ser. Algumas vezes, é mais fácil viver como um pária do que como um humano normal.

“Devo ter sido enfeitiçado para acreditar nas palavras dele, afinal! Eles todos devem pagar!”

***

Tap… tap… tap…

De repente, o som de passos soou ao longe. Nivellen rapidamente segurou a respiração e endureceu o corpo, ficando o mais imovel possível.

Vaza! Chispa! Mete marcha agora! Continuou rugindo em seu coração. Talvez os deuses tenham escutado suas orações, pois os sons de passos foram se tornando cada vez mais leves, mais distantes, até desaparecerem completamente. 

O mendigo suspirou de alívio, finalmente se acalmando aos poucos.

Da próxima vez… ahh sim… vou ensinar uma lição a eles! Assim que teve esse pensamento, sentiu suas costas se tornando mais leves. Houve alguns sons de deslizamento, e o lixo onde se apoiava foi repentinamente jogado para longe. O vento frio varreu suas roupas cheias de buracos. Parecia que alguém tinha jogado um balde cheio de água gelada nele no meio de Junho, porque sentia frio da cabeça aos pés e corpo inteiro ficou rígido.

“Me descobriram… Acabou pra mim…”

Consumido pelo desespero, Nivellen simplesmente enterrou o rosto mais fundo no lixo viscoso e fedorento. A esse ponto, uma risada demoníaca veio por detrás dele, e um objeto afiado deslizou nas suas costas. Sua pele parecia ter sido perfurada, já que podia sentir um pouco de dor.

Os dois bruxos pareciam ser mais cruéis do que ele pensava. 

“Querem me matar, certo?”

Quando percebeu que poderia finalmente se libertar desta vida terrível, fechou os olhos e se virou, pressionando o lado esquerdo do seu peito e dizendo com uma voz rouca: “Venham, terminem de despedaçar o meu coração. Mas imploro que me deem uma morte rápida. Mostrem a esse mendigo um último ato de misericórdia.”

“Tá maluco?!” Surpreso, Roy olhou para o mendigo que esboçava a expressão de alguém ansioso para ser libertado do próprio tormento, como se estivesse morrendo por uma causa justa.

Confuso, Letho também olhou para ele.

“Quem quer matar você? Não vamos te fazer nada. Mas você fez algo a nós. Por que soltou nossos cavalos, idiota?”


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