Poucos minutos depois, apenas pouco mais da metade dos prisioneiros libertados deixaram Lustris vivos. O resto foi impiedosamente destruído por Jake depois de ser considerado culpado. Com suas habilidades atuais, era quase fácil demais identificar os culpados entre os Jogadores.
De qualquer forma, ele não teve que bancar o detetive por muito tempo. Assim que os outros prisioneiros em processo de libertação ouviram o que estava acontecendo lá fora, os culpados de crimes semelhantes só tiveram três opções para esperar a sobrevivência: fingir ser inocente, fugir ou permanecer em suas celas.
Curiosamente, a maioria errou por excesso de confiança. O efeito Dunning-Kruger em toda a sua glória. Se eles fossem tão bons em falsificar outra identidade, não teriam sido capturados tão facilmente.
Desnecessário dizer que aqueles que tentaram fugir imediatamente foram mortos no local, antes mesmo que pudessem dar alguns passos de distância. Esses eram os idiotas irremediáveis, mas pelo menos tiveram o bom senso de saber que escapar era de fato sua melhor chance de sobrevivência, por menor que fosse.
Além dessa minoria de tolos, outra minoria optou por ficar em suas celas, pensando que Jake não teria a audácia de visitá-los dentro da Torre do Conclave. Eles estavam certos.
Jake não os visitou. Em vez disso, simplesmente informou às duas mulheres e a Antásia que o destino desses prisioneiros não era mais da sua conta. Se entre eles havia alguns jogadores inocentes com tendências paranoicas que se recusavam a acreditar que um estranho estava oferecendo ajuda, a culpa era apenas deles.
Ficar escondido nas masmorras do inimigo só poderia ser uma solução condenada que comprometeria gravemente a sua classificação final, bem como as suas chances de completar a sua missão principal. Nesse caso, poderiam muito bem cair mortos, ele não se importava.
Depois havia a terceira categoria: a escória que se achava inteligente o suficiente para enganar sua vigilância. No final, talvez alguns deles tenham conseguido escapar da rede sem o seu conhecimento. Se fosse esse o caso, ele só poderia admitir sua incompetência e deixar para lá.
Mas os fatos falavam por si. Com mais da metade dos Jogadores libertados sumariamente executados, Jake pensou consigo mesmo que havia sido admiravelmente eficiente. Talvez um pouco demais.
A parte mais irônica de toda esta confusão foi que alguns prisioneiros, que não tinham nada para confersar, não hesitaram em denunciar os seus camaradas culpados de crimes de guerra, o que tornou o seu trabalho imensamente mais fácil.
Entre essas pessoas, havia um rosto familiar. Dois, incluindo a mulher quieta que o acompanhou.
“Amy…” Jake murmurou com uma expressão complicada ao encontrar o olhar atordoado de uma de suas primeiras companheiras terráqueas que conheceu em B842. “Eu não esperava ver você nessas circunstâncias.”
“Nem eu…” A jovem se encolheu com um ar ainda mais conflituoso que o dele, enquanto girava nervosamente uma de suas mechas tingidas de azul. Comparado com antes, a cor de seu cabelo não era mais resultado de uma tintura, mas de uma linhagem de sangue.
Ela nunca foi alta, medindo apenas um metro e sessenta na época. Desde então, como todos os Evoluídos, ela teve um segundo surto de crescimento, permitindo-lhe ultrapassar um metro e noventa, o que era modesto em comparação com a maioria. Era um detalhe no Universo Espelhado, mas sua pequena estatura imediatamente a identificou como uma estrangeira aos olhos dos Bárbaros do Sub-Mundo e dos Guerreiros da Luz.
Sua silhueta também não mudou muito, permanecendo uma figura generosa com cintura fina. Seu lindo rosto ainda era tão fofo quanto em suas memórias, com um nariz pequeno e levemente em forma de trombeta e lábios encantadores com a quantidade certa de volume. Apesar de sua forma muito feminina, ela ainda exalava uma aura de ser pequena e frágil, principalmente quando comparada a pessoas mais imponentes como os nativos de Twyluxia.
O que mudou, no entanto, foi que seu cabelo, originalmente castanho com mechas azuis, agora havia se transformado completamente em um azul profundo e vívido, uma manifestação física de sua atual linhagem Berserker Azul. Caía logo abaixo dos ombros, fluido e dinâmico, refletindo seu tumultuado poder interior.
Seus olhos ciano-oceano complementavam seu cabelo. Eles agora brilhavam com um fogo interno quando suas habilidades de Berserker eram ativadas, dando um vislumbre de sua ferocidade aprimorada. A impressão de pureza ingênua de antes havia secado um pouco, substituída por uma ponta de determinação endurecida.
Há muito tempo ela trocou seus jeans rasgados por trajes práticos e prontos para o combate, que permitem agilidade e movimento, refletindo seu crescimento de um indivíduo um tanto tímido para um guerreiro.
Para Jake, o último encontro deles não parecia ter acontecido há muito tempo, mas muito mais tempo havia se passado para Amy. Qualquer que fosse a imagem imatura que ele tinha dela, a água havia passado por baixo da ponte e ela não era mais a mesma pessoa.
Quanto à mulher familiar que a acompanhava, era a coreana Lee Yoon, a fria guarda-costas de Cho Min Ho. Ela estava atualmente observando-o com desconfiança e desprezo, como se ele fosse uma das escórias depravadas que acabara de massacrar. Sua atitude nervosa revelou muito mais sobre a situação difícil das duas mulheres desse grupo do que a reação ambígua de Amy.
“Esses jogadores são… todos da Aliança Idol do Rei?” Jake sondou em tom neutro, ignorando a hostilidade mal contida da desagradável guarda-costas.
Amy assentiu, mantendo os lábios tensos.
“Os criminosos estão incluídos?” Jake continuou, ainda sem expressão.
“Todos os prisioneiros que participaram do ataque, tenham escapado ou sido capturados, faziam ou fazem parte da Aliança Idol do Rei” admitiu Amy com uma amargura difícil de fingir.
Jake olhou para ela de forma estranha e disse: “Cho Min Ho sabe?”
Antes que Amy tivesse tempo de pensar em uma resposta adequada, Lee Yoon retrucou:
“Claro que ele sabe! Afinal, ele define os procedimentos para aceitar novos membros. Contanto que sigam suas ordens e respeitem suas regras, todos são bem-vindos na Aliança Idol do Rei.”
Os lábios de Jake apertaram-se em desaprovação, parabenizando-se internamente por ser um juiz de caráter muito melhor do que a jovem mulher naquela época. Ele poderia ter sido egocêntrico e anti-social antes, mas pelo menos isso lhe permitiu manter um certo grau de bom senso do qual as groupies fanáticas estavam certamente privadas.
Ainda assim, ele poderia ter amadurecido desde então, mas no fundo ainda era o mesmo homem mesquinho. Uma reação cáustica de sua parte era, portanto, necessária,
“Uau, eu entendo melhor por que você estava pronta para nos deixar para segui-lo por capricho, apesar de termos enfrentado a morte juntos.”
Era um insulto gratuito, soando como rancor quando na realidade já fazia muito tempo que ele ainda sentia alguma coisa a respeito. Mesmo na época, ele não tinha visto a decisão de Amy como uma traição, a interação deles foi muito breve e seu caráter muito solitário para formar um verdadeiro vínculo de amizade.
Se Jake escolheu suas palavras assim, foi porque ele estava realmente curioso para entender qual seria a resposta dela. A reação de Amy acabou sendo mais decepcionante do que o esperado.
Amy realmente havia mudado, para melhor. Ela não ficou com raiva, nem perdeu a paciência. Ela também não se desculpou nem expressou qualquer arrependimento. O que foi feito foi feito.
Em vez disso, depois de se certificar de que nenhum dos Jogadores libertados estava escutando a conversa, ela lhe ofereceu um único aviso na forma de uma analogia.
“Cho Min Ho… é como um narcisista.” Ela revelou com um olhar sombrio. “Quanto mais camadas você remove, mais sua verdadeira natureza é revelada. Por baixo da camada de líder carismático e benevolente que ele exibe em público, existe o temperamento de um líder frio e imparcial que ele reserva para seus homens de confiança. E mesmo por baixo disso, existe a personalidade que ele mostra apenas para aqueles que o conhecem há muito tempo para serem enganados. E se você cavar ainda mais fundo, existe… o monstro. E a verdade.”
Jake não esperava uma declaração tão complicada de Amy e não pôde deixar de continuar: “Que verdade?”
“Mesmo que eu queira, não posso dizer.” O rosto de Amy se contorceu horrivelmente enquanto ela pronunciava essas últimas palavras, como se estivesse lutando contra uma reação dolorosa. “Já estou falando demais.”
Jake ficou em silêncio, pensativo, decidindo não pressioná-la ainda mais. Ele podia sentir que ela não estava brincando. No entanto, vendo Amy cerrar a mandíbula para resistir ao seu tormento, como se estivesse se preparando para uma reação ainda mais violenta, a silenciosa Lee Yoon, que havia permanecido afastada até agora, interpôs-se entre eles.
“Não a force a dizer mais. Existem destinos piores que a morte neste mundo.” A coreana declarou num tom final, franzindo o cenho para ele com tanta inimizade que ele não teve dúvidas de que ela estava falando sério.
Jake olhou para frente e para trás entre as duas mulheres por um longo momento, depois recuou com um sorriso frio.
“Pelo menos nisso, estamos na mesma sintonia.”
