Ao ouvir o grito estridente de angústia Gerulf, que estava bufando e cujos membros estavam ficando cada vez mais dormentes, de repente explodiu com todas as suas forças, golpeando com o punho a cabeça de um dos guardas(capacete incluído), bem no fundo do peito como se alguém enfiasse um prego na parede.
Um segundo golpe transversal de sua enorme espada varreu os inimigos ao seu redor várias dezenas de metros de distância, suas sandálias deixaram um rastro de faíscas e poeira no chão enquanto deslizavam por ele, bem escondidas atrás de seus escudos.
No entanto, quando os guardas atingidos pela espada do gigante perderam a inércia e pararam de recuar para longe da dupla, a maioria deles não pôde evitar cuspir sangue ao se ajoelhar no chão para se recuperar da tontura, a menos que tivessem ossos completamente estilhaçados. O poder que Gerulf acabara de demonstrar era inconcebível para eles depois de todo o veneno que supostamente havia ingerido.
Até Jake ficou parado por um breve momento, com o queixo caído depois de ver o enorme golpe que o Kinthar acabara de aplicar. Os guardas e homens de preto encarregados de conter Gerulf eram todos, sem exceção, guerreiros de elite. Jake poderia se defender contra os guardas mais fracos, mas aqueles que poderiam resistir a um golpe como aquele estavam em um nível totalmente diferente.
Mesmo que Gerulf estivesse enfraquecido e eles tivessem a vantagem da superioridade numérica, isso não tirou seu mérito. Cada um deles era certamente uma elite entre a elite do Império Myrmid.
Por fim, com o campo limpo, Gerulf cambaleou brevemente, prova de que não estava em tão boa forma quanto tentava mostrar, então, após um rugido bestial que um leão não teria desprezado, ele se agachou, comprimindo seu corpo como uma mola para atacar. Então empurrou com toda sua força contra o solo e disparou pelo ar como um foguete, deixando uma pequena cratera atrás de si e uma onda de choque.
Como um míssil, o gigante correu para a varanda do último andar, onde o grito foi ouvido. Nessa velocidade, levou apenas um décimo ou dois de segundo para cruzar os 11 ou 12 metros que o separavam da varanda, e Jake e os outros guardas só puderam acompanhar sua subida com olhos de admiração, percebendo que o gladiador estava num nível bem além de seu alcance. Quão glorioso teria sido derrotá-lo quando ele estava no seu melhor!
CLANG!
No entanto, algo ainda mais chocante aconteceu. Enquanto eles mal conseguiam seguir Gerulf com os olhos, uma flecha do nada atingiu o gigante a uma velocidade várias vezes maior do que a velocidade do som.
Gerulf, que estava flutuando no ar a apenas alguns centímetros de distância da varanda, foi atingido na testa por uma flecha mortal, e a colisão foi tal que o fez cair na mesma cratera da qual ele havia saltado em alta velocidade apenas um pouco mais lento do que a velocidade da flecha.
Seu pouso causou uma nova onda de choque e um gêiser de pedra e poeira vários metros ao redor, forçando os guardas ao redor a se abrigarem atrás de seus escudos. Só então o rugido trovejante da flecha os alcançou, seguido pelo som de sua colisão.
Por um momento, Jake ficou atordoado no local, pensou que Gerulf estava morto.
Como que para contradizê-lo, Gerulf saltou de sua cratera com um rugido de fúria que sacudiu as paredes do ludus, como Kingkong ou Godzilla após ser provocado por um inimigo cuja existência eles não podiam tolerar. Sua testa nem sangrou. Exceto por uma pequena protuberância quase fofa, o Kinthar estava ileso.
Quanto à flecha que acertou sua testa, a ponta de metal parecia uma lata amassada por um triturador de lixo para reciclagem.
‘Droga, quão dura é a pele dele?’ Isso é o que todos os presentes pensavam, desde os guardas traidores até Jake. Então uma segunda flecha veio, emergindo da escuridão como o grande ceifeiro do mundo subterrâneo, pondo fim a todo monólogo interno.
Com o segundo projétil, Gerulf finalmente avistou seu inimigo e acertou a flecha com sua espada como um jogador de beisebol acertando um arremesso em cheio. Infelizmente, a precisão não era o forte do gigante e o objeto desapareceu no céu noturno. Quanto a se a flecha atingiria o solo, era outro debate.
Olhando na mesma direção que Gerulf, Jake descobriu uma nova silhueta na parede do recinto previamente defeituosa. Apesar da distância, poderia dizer que o inimigo era um homem tão alto quanto o Kinthar e quase tão musculoso.
Quando o novo oponente deu um passo à frente, a luz das chamas revelou sua aparência e os guardas presentes começaram a tremer.
“U… u… um Templário Myrmid!” Um dos guardas que já estava gravemente ferido não pôde evitar gaguejar ao reconhecer a figura.
‘Um templário? Um guerreiro mirmidiano de alto escalão a serviço do grande templo de Myrmid.’ Jake lembrou-se ao verificar as informações obtidas na de Creece, o contrabandista.
Dizia-se que os clãs Primus e Secondus estavam intimamente ligados ao Templo de Myrmid e eram seus principais patrocinadores. O clã Primus era menos numeroso e não muito envolvido nos aspectos políticos e militares do reino, mas todo Templário Myrmid vinha de sua família! E cada um deles era um monstro que nem mesmo o Imperador ousaria subestimar.
O Segundo Clã, por outro lado, administrou os aspectos logísticos e religiosos do Templo Myrmid. Agamnen, o velho com a toga vermelha do leilão era desta família. Este clã era mais versátil e também tinha uma influência considerável em pelo menos duas legiões.
Os Templários Myrmid eram reconhecidos por seus trajes e o recém-chegado não era exceção. Seus trajes se assemelhavam a Ares, o deus grego da guerra, exceto que a pena vermelha em seu elmo havia sido removida. Em vez disso, ele usava uma capa vermelha e um capuz que o fazia parecer uma Chapeuzinho Vermelho guerreira. A principal diferença com o conto infantil dos irmãos Grimms era que este comia lobos.
Mas o que apavorou Jake a ponto de perder uma batida do coração foi o reflexo fraco e reconhecível em seu pulso direito. Um dispositivo Oráculo! Aquele Myrmid Templário era um jogador!
Por um breve momento, ele pensou que essas flechas poderiam ter sido disparadas por Lamine, mas imediatamente descartou a ideia. Lamine tinha uma habilidade Oráculo que lhe dava uma visão e precisão excepcionais, mas não o dava a força ou a experiência para atirar com tal arco.
Jake não conseguiu derrotar esse oponente e nem Gerulf. Pelo menos não em pouco tempo. Gerulf, parecendo ter tomado uma decisão, de repente correu até seu parceiro de treino e companheiro de batalha e o agarrou pela ponta de sua armadura na nuca como uma gata agarra seus gatinhos.
“Que diabos, cara! O que você está tentando fazer?!” Jake teve um mau pressentimento.
“Eu, lutando contra o homem de vermelho. Você, proteje Cassius e Lúcia.” Gerulf apenas rosnou.
Lucia? A princesa desaparecida? Antes mesmo de ter tempo de absorver as consequências de tal revelação, Gerulf começou a girar sobre si mesmo, Jake na mão, como se estivesse prestes a realizar uma apresentação de lançamento de disco para as Olimpíadas.
“Foda-se! Me solta!” Jake gritou em pânico. Mesmo o Templário Myrmid não havia despertado tanto medo nele.
Ignorando-o totalmente, Gerulf continuou a girar até que parecia um tornado humano e então jogou ‘seu disco’, também conhecido como “Jake” para a varanda do último andar. Ou pelo menos, esse era o plano. Precisão nunca foi seu forte. Em menos de um décimo de segundo, Jake viu a parede de pedra a dois metros de seu destino pretendido aproximar-se de seu rosto em uma velocidade alarmante.
Naquele exato instante, seus instintos de sobrevivência mais ancestrais entraram em ação. Por um breve momento, o tempo parou e ele visualizou sua própria morte, seu cadáver ressentido se tornando uma pilha de carne picada pingando da fachada da residência de Cassius.
Como ele usou todo o seu estoque de Éter acumulado durante a batalha para aumentar sua Constituição o mais rápido possível, não pôde deixar de gritar um último “Vá se fuder Gerulf!” antes de bater na parede e passar por ela.