“Por quanto tempo mais você vai me manter amarrada?” Uma voz feminina levemente irritada e totalmente despreocupada com os ferimentos do leão abafou os rosnados de dor de Mufasa.
Kyle endureceu com a voz familiar e uma pontada excruciante em seu coração apertou seu peito, momentaneamente cortando sua respiração. Virando-se lentamente, uma careta de arrependimento cobriu seu rosto quando encontrou o olhar cansado de sua irmã. Boa atriz ou não, ele ainda podia detectar em seus olhos a angústia que tentava em vão esconder.
“Maeve, você sabe muito bem por que não posso desamarrá-la.”
Custou-lhe dizer isso, mas ele não tinha outra escolha. Pois, horas antes, sua irmã havia tentado matá-lo. Suas feridas físicas há muito haviam cicatrizado, mas aquelas em seu coração ainda estavam queimando.
Quando eles colocaram os pés naquela floresta gigante, eles esperaram que Maeve voltasse a si antes de partir. Mufasa se ofereceu para carregá-la nas costas e garantir sua proteção, e Kyle aceitou de bom grado. A mulher de véu não pestanejou e tudo parecia estar indo bem, dada a força de seu grupo.
A força de Mufasa falava por si mesma, enquanto a força da mulher velada permanecia um mistério, mas ela ainda era uma Evolutiva da Sexta Provação ou talvez até mais forte. Sua própria força não era tão ruim e mesmo que Maeve fosse uma humana normal, era mais que suficiente com os três para fornecer proteção.
Exceto que Kyle não tinha previsto o quão cruel Bhuzkoc poderia ser. Muito antes de se separarem, o chefe Nawai havia tomado precauções. Se a jovem se juntasse ao irmão de alguma forma, ela tinha ordens para matá-lo, não importa o quê.
Se fosse só isso, não era grande coisa porque Kyle sabia que não era culpa dela. Mas Bhuzkoc tinha feito muito pior. Desde que soubera da existência de seu irmão mais velho e como ele havia perdido para Jake, também ordenou que ela os odiasse.
O Contrato de Escravo não podia fazer lavagem cerebral ou lobotomizar diretamente uma pessoa. Um comando direto como “seja estúpido ou esperto” obviamente não funcionaria. Em vez disso, a pessoa tinha que tentar agir e pensar dessa maneira. A longo prazo, pode simplesmente funcionar.
Em outras palavras, desde que Maeve se juntou a seu irmão, ela não pôde deixar de sentir um ódio visceral por ele só de vê-lo. Combinado com a ordem de morte que havia recebido, resistir era quase impossível. Seu único fator atenuante era que Bhuzkoc não estava perto dela no momento. A influência do Contrato havia diminuído um pouco, mas não o suficiente para fazer diferença.
Na primeira oportunidade, ela atirou na nuca de Kyle com a arma que ele lhe dera para se proteger. Ela esperou a primeira emboscada dos Goblins Digestores para agir, e aquele tiro sorrateiro foi um sucesso.
Se Kyle não tivesse ganhado experiência e uma vantagem considerável em estatísticas, estaria morto. No último momento, havia contorcido o pescoço para acompanhar a trajetória da bala, mas seu cabelo dourado e sedoso havia sido profundamente escalpelado, enquanto seu crânio havia sido lascado.
Essa ferida, embora benigna, doeu como o inferno, mas foi o rosto de sua irmã desfigurado pelo ódio que realmente partiu seu coração. Desde então, ela foi amarrada com correntes grossas e sua arma foi tirada.
“Maeve, você realmente não pode resistir a esta ordem? Eu sou seu irmão! Não seu inimigo…” Kyle repetiu pela enésima vez ao vê-la dar a ele um olhar mordaz como se ele fosse uma barata repulsiva.
A resposta de sua irmã não foi diferente da anterior. As correntes que a prediam se apertaram quando ela tentou se jogar contra ele, mas se mantiveram firmes, mantendo-a segura no lugar. Incapaz de continuar, ela usou o único meio à sua disposição para transmitir seu ódio.
“Pff!” Maeve cuspiu descaradamente em seu rosto.
Kyle se esquivou com um leve movimento de cabeça, então suspirou com tristeza.
“Porra! Bhuzkoc, juro que te mato da próxima vez. Aproveite seus últimos momentos!”
Sua irmã não era tão fraca mentalmente. Se aquele ogro bastardo não a tivesse submetido a todos os tipos de abusos e atrocidades, como ela poderia ter obedecido a essas ordens sem ao menos resistir. Era como se uma semente de medo reverente em relação a Bhuzkoc tivesse brotado nela, aninhada no fundo de seu coração. Sem recorrer a um Éter ou Feitiço Espiritual, seria necessária uma longa psicoterapia para ajudá-la a se recuperar de seus traumas.
‘Pelo menos ela não está chorando.’ Kyle se consolou, a testa franzida como se quisesse se convencer melhor.
Se ele soubesse que a maioria dos pacientes de TEPT se comporta da mesma maneira, provavelmente não teria sido tão otimista.
Kyle ficou surpreso com o silêncio de Mufasa, que vinha mediando entre os dois irmãos até agora, acalmando a maioria das brigas. Sua presença predatória foi suficiente na maioria das vezes para anular a impressão mental deixada por Bhuzkoc na alma da jovem.
Quando o procurou, encontrou o felino não muito longe do cadáver do Digestor Taotie que acabara de derrotar. Além dos habituais filamentos de Éter flutuando em sua superfície, algo mais havia rolado para o chão perto de sua cabeça.
Um cristal.
Era um cristal branco liso e esférico do tamanho de uma bola de basquete. Sua aparência era uma reminiscência dos Cristais de Éter usados para armazenar vários tipos de Éter, mas também havia duas diferenças principais.
A primeira era que este cristal era muito grande e sua tonalidade tendia para o prateado que era habitual entre os Digestores. O único tipo de Éter que Jake conhecia que era remotamente comparável era seu Éter Cinza, mas ele nunca tentou armazená-lo em um cristal.
A segunda era que dentro havia um complexo Símbolo de Éter consistindo de milhares, talvez milhões ou bilhões de Runas de Éter, banhadas por dentro, confinadas ao interior da esfera. A cor deste Símbolo Éter não era prata, mas sim um verde neon.
“Que diabo é isso?” Kyle gritou com curiosidade misturada com desconfiança.
Quando estava prestes a pegar a coisa, alguém bateu nele e foi só quando sua mão se fechou no espaço vazio que ele piscou estupidamente ao perceber o que tinha acabado de acontecer. Ao virar a cabeça, encontrou a esfera cristalina nos braços da mulher velada, que aparentemente a estudava com a maior concentração.
“Ei, não pertence a você.” Kyle a repreendeu rispidamente. Depois que sua irmã tentou matá-lo, seu humor se deteriorou e ele precisava desesperadamente de uma válvula de escape.
A mulher de véu o ignorou como sempre, continuando a olhar para o objeto com grande interesse. Isso só alimentou a raiva do playboy. Felizmente, desta vez ele tinha Mufasa ao seu lado.
“Kyle está certo. Eu matei esse monstro.” O leão interveio enquanto caminhava pesadamente em direção à mulher de véu. “Essa pedra brilhante é minha por direito.”
Ela o ignorou também, mas quando Mufasa estava prestes a explodir a cabeça com um tapa estrondoso, ela jogou a bugiganga para ele e disse neutramente:
“Você pode tê-lo. Eu estava apenas olhando.”
Kyle deixou Mufasa estudar o cristal também, mas claramente o leão não era bom com esse tipo de coisa. Ele parecia mais interessado no brilho do objeto do que no Símbolo Éter dentro.
“Posso dar uma olhada?” Ele perguntou educadamente ao felino.
Começando a ficar entediado, Mufasa assentiu e o deixou pegar a esfera. Quando o segurou em suas mãos nada aconteceu, mas ao escaneá-lo, ele recebeu o seguinte relatório:
[Habilidade de Éter: Devorar: Sua boca pode gerar uma poderosa força de atração capaz de desviar o ambiente dentro de um raio de 5 metros. Cada nível adicional dobra o alcance e a força da técnica.]
Kyle imediatamente entendeu o quão valioso este cristal era, mas ao mesmo tempo entendeu por que a mulher de véu havia perdido o interesse por ele tão rapidamente. Para eles, essa Habilidade de Éter era basicamente inútil.
Eles não tinham o sistema digestivo altamente eficiente do Taotie Digestor para fazer bom uso dessa habilidade, bem como a capacidade de comprimir a matéria que esse monstro usava para ingerir objetos mais massivos que ele. Se Kyle tentasse usá-lo no meio de uma briga, poderia simplesmente quebrar os dentes tentando engolir uma pedra um pouco maior.
Dado o que sabia sobre o leão, Mufasa era um candidato muito melhor do que ele, mas o felino também carecia de outras habilidades cruciais para alavancar totalmente seu potencial.
“Vamos ficar com isso por enquanto.” Kyle decidiu enquanto guardava o cristal no depósito da facção.
Mufasa e a mulher de véu não se opuseram. O leão guardou o cadáver gigante em seu Armazenamento Espacial e Kyle encheu seus cantis com sangue Digestor para as batalhas que viriam.
O grupo então partiu novamente, procurando mais presas. Kyle decidiu ficar por perto para aumentar suas estatísticas de Éter. O Taotie Digestor que Mufasa havia derrotado com grande dificuldade deixou claro para ele que seria perigoso continuar a partir daí.
O leão ainda não estava totalmente curado e queria enfrentar outros Digestores desse tipo antes de decidir se o risco era administrável ou não. Graças ao cadáver do mutante Taotie, o grupo teve o suficiente para comer por um longo tempo e sangue Digestor de alta qualidade para hidratar e regenerar suas feridas.
Este Digestor provavelmente era uma espécie de mini-chefe para derrubar um Cristal de Habilidade. Eles não sabiam qual era a taxa de drop, mas pretendiam descobrir com certeza.
