O humor de Jake começou a azedar visivelmente quando se aproximou da porta da frente. A atmosfera no saguão lotado da guilda de repente se tornou fria e solene. Minmin rapidamente abandonou o vaso de flores no balcão para se refugiar no bolso de seu líder, enquanto Trash o seguia ansiosamente.
“Eu não serei capaz de evitar esta luta.” Jake zombou abertamente enquanto continuava a andar com um ritmo regular e medido, como se não percebesse a hostilidade que estava recebendo.
“J-Jake! Você não vai me deixar, vai? Essas-essas pessoas querem comer Jeanie!” A pequena fada começou a soluçar histericamente dentro de seu manto, encharcando o bolso em que ela havia se enrolado.
“Relaxe. Se nada mais, eu estarei fora da cidade um pouco mais cedo do que eu pensava.” Jake a acalmou casualmente.
Assim que Jake atravessou a porta e saiu, o sol da manhã brilhou em seu rosto e nos jardins da guilda. Trash cobriu os olhos com uma mão por causa do brilho, mas Jake manteve os olhos bem abertos, nem mesmo piscou.
A primeira coisa que viu quando estava do lado de fora foi uma enxurrada humana de aventureiros de todas as raças e origens que o cercavam de perto. A partir do momento em que começou a se dirigir para a saída, vários grupos de aventureiros próximos à porta o precederam para impedir qualquer fuga.
Um, dois… 67 homens e mulheres armados até os dentes bloquearam seu caminho. Com sua atual acuidade visual e velocidade de processamento, bastava um olhar para contar o número de inimigos. Se quisesse, poderia até dizer o número de tijolos e telhas em cada prédio em seu campo de visão.
Diante desse pequeno exército, Jake continuou a se comportar como se eles não estivessem ali, caminhando despreocupadamente em direção ao portão externo que delimitava os jardins. Se ele passasse desse ponto, deixaria o território da Guilda dos Aventureiros, retornando à jurisdição de Lodunvals.
Na cidade, com exceção das Guildas que estabelecem suas próprias regras e leis, as leis do império se aplicavam e qualquer perturbação da paz era altamente condenada. Basicamente, se chegasse à rua, estaria seguro.
Imperturbável, ele atravessou metade dos jardins, andando pela rua de paralelepípedos, até que se viu fatalmente bloqueado por uma formação de guerreiros em armaduras pesadas tão apertadas que poderiam ser um time de jogadores de futebol americano ou jogadores de rúgbi.
“Mova-se.” Jake disse suavemente enquanto levantava a cabeça ligeiramente para encarar o sujeito mais alto nos olhos.
Ele já havia notado esse indivíduo há muito tempo. Os outros aventureiros como Holson e seus comparsas pareciam temê-lo e até mesmo seus próprios companheiros se tornavam pequenos ao seu redor. O guerreiro estava pessoalmente bloqueando o caminho para a saída, teoricamente dando-lhe a vantagem de roubar a fada. O incrível era que ninguém se atrevia a desafiá-lo.
O aventureiro em questão era um humano enorme com uma aparência incomum. Pele grisalha, cabelos escuros e abundantes, mandíbula saliente, caninos longos, arco proeminente da sobrancelha, braços longos e musculosos caindo até os joelhos e traços simiescos. Pode-se definitivamente chamá-lo de homem-macaco. De qualquer forma, um de seus pais sem dúvida tinha fodido um gorila.
Jake não sabia se sua aparência era resultado de cruzamento com outra raça ou se ele era apenas muito feio, mas obviamente tinha lhe dado uma força física prodigiosa. Sua armadura de aço era velha, mas só pela espessura do peitoral, pesava pelo menos 200 quilos. Seu escudo era um enorme baluarte retangular forjado do mesmo metal que sua armadura, e seu braço esquerdo segurava um pesado martelo de guerra com pontas quase tão grande quanto ele.
Uma análise lhe disse que esse aventureiro aterrorizante era um especialista no uso de martelos de guerra nível 51. Sua confiança era justificada. Comparado com aqueles mercenários baratos que Jake exterminara, este era um verdadeiro guerreiro que podia ostentar força sobre-humana. Sua força era de 96, o que era simplesmente incrível para um humano.
Infelizmente, contra Jake, estatísticas tão insignificantes só poderiam levar a um fim trágico. A parte mais triste da história era que esse aventureiro estava completamente inconsciente de que estava prestes a perder sua única chance de recuar sem ferimentos debilitantes.
“Mwhahahaha! Você o ouviu? Esse pirralho quer que eu me ‘mova’.” O guerreiro gorila riu alto, sua voz estrondosa ecoou nos confins do Clã e nos becos ao redor.
Depois de um tempo, ele parou de rir e uma expressão viciosa apareceu em seu rosto já hediondo. Um rosnado ameaçador escapou de sua garganta e ele levantou lentamente o martelo antes de deixá-lo descansar pesadamente em seu ombro. Durante toda a exibição intimidante, Jake permaneceu inexpressivo, como se estivesse assistindo a um inseto prestes a ser esmagado.
“Você quer que eu me mova, é isso?” O aventureiro rosnou severamente em uma voz profunda antes de explodir de raiva. “VOCÊ SABE ONDE ESTÁ AGORA?! A guilda dos aventureiros! Só matar é proibido! Garoto, se você se recusar a me vender a fada, prepare-se para receber a surra da sua vida! Tenho poções suficientes para vencer você até quantas vezes eu quiser e ainda mais maneiras de tornar a vida de um homem bonito como você um inferno. Escolha! Ou você me dá a Minmin agora, ou eu vou levá-la à força e você não vai gostar de como eu faço isso…”
Os outros aventureiros no círculo recuaram levemente ao ouvir o gorila fazer suas ameaças. Sua reputação o precedeu e ele era conhecido por sua precisão perigosa. Ele destruiria seus alvos, com certeza, mas também esmagaria qualquer coisa que tivesse a infelicidade de estar ao seu redor…
*****
Inclinando-se sobre a varanda do quarto andar, um elfo com uma beleza que ofuscava até mesmo as gatas agarradas a seu braço espiava por cima do parapeito. Sua armadura justa era uma mistura de couro branco e placas de ouro pálido e uma energia misteriosa escorria dela, traindo seu status de equipamento mágico.
Nesta varanda estavam vários aventureiros excepcionais tomando sol em espreguiçadeiras ao redor de uma piscina na qual uma sereia e vários homens e mulheres cujos corpos eram em sua maioria atléticos e cobertos de cicatrizes nadavam felizes.
Este andar e as várias comodidades que ele proporcionava eram reservados para aventureiros de nível B e acima, que nesta cidade ficava perto do pico de luxo. Era um lugar de relaxamento e diversão e aqueles como o elfo que usavam suas armaduras e permaneciam vigilantes o tempo todo eram incrivelmente raros.
“O que você está olhando, Elduin? Mais um daqueles brutos inúteis que extorquem um novo aventureiro?” Um anão do tamanho de uma criança de dez anos, mas mais largo que um troll adulto perguntou com uma risada.
A barba caía até o fundo da barriga protuberante e estava trançada, gordurosa e avermelhada como seu cabelo, e manchas de cerveja cobriam seu gibão folgado alargado na gola para revelar seus peitorais enormes. Ao lado dele, uma pesada armadura enferrujada e um enorme machado de batalha estavam empilhados de forma desordenada junto com várias canecas vazias de cerveja.
O elegante elfo não escondeu sua repulsa por tal devassidão, mas respondeu com um sorriso de qualquer maneira,
“Esse humano é divertido, Bhammod. Ele tem a audácia de aparecer na Guilda com um Minmin nele e mostrá-lo a todos. Eu não sei o que estava passando pela cabeça dele… Se ele não é um idiota, então talvez tenhamos a oportunidade de ver um show maravilhoso.”
“Ah, tão ruim assim?” O rosto do anão se iluminou de repente. “Quem está bloqueando seu caminho?”
“Simgut.” Elduin revelou sucintamente, seus olhos brilhando de excitação.
O anão franziu o cenho ao ouvir o nome.
“Simgut?” Ele repetiu sombriamente. “Esse bruto não é uma ameaça para nós, mas para um humano comum ele é uma montanha intransponível. Se ele não for cuidadoso, temo que termine sua carreira prematuramente.”
Bhammod esvaziou o resto de seu copo de cerveja na água da piscina, depois foi até a sacada à direita do elfo para testemunhar a cena pessoalmente. Quando o humano abaixo abriu a boca para dizer algo, o estrondo de uma porta se abrindo atrás deles os fez se virar com um sobressalto.
Naquele momento, oito guerreiros em armaduras douradas e emitindo uma intenção assassina invadiram a grande sacada, empurrando vários garçons e aventureiros em trajes de banho. Entre esses seis homens e duas mulheres com cicatrizes, uma mulher esbelta de longos cabelos brancos caminhava com a cabeça erguida, dando a ilusão de que eles eram a guarda que a escoltava.
Quando ele cruzou os olhos desta mulher, o elfo arrogante, mas sempre alerta, ficou fascinado no local. Seus olhos… Duas jóias inimitáveis. A esquerda superando a perfeição da mais sublime safira, a direita, uma ametista mais preciosa que todas as auraes de Quanoth. Ele nunca tinha visto algo assim.
“Que mulher esplêndida…” Ele elogiou com admiração.
Vindo de um elfo do amanhecer, isso não era um pequeno elogio. O anão Bhammod era muito menos sutil e gritou alto,
“O que, ela ainda não desistiu? Ela realmente acha que pode nos recrutar de graça!”
“Nós concordamos em nos juntar ao grupo de aventureiros dela. Nosso antigo grupo já foi dissolvido.” O homem à frente do grupo, um guerreiro no auge com sobrancelhas grossas e um corte de cabelo militar, disse friamente.
“QUE?!” O elfo e o anão gritaram ao mesmo tempo, completamente chocados.
A jovem sublime apenas lançou-lhes um sorriso inocente e sua incredulidade instantaneamente se desvaneceu pela metade. Se fosse ela… eles poderiam aceitar.
“O que você está fazendo debruçado sobre a varanda?” Seu ex-líder perguntou abruptamente.
“Ah… tanto faz. Veja você mesmo.”
Naquele momento, os outros guerreiros de armadura dourada se inclinaram para a sacada, e sem nada melhor para fazer, a jovem de cabelos brancos fez o mesmo.
Quando seu olhar melancólico finalmente pousou no humano abaixo, seus olhos mais brilhantes que joias se arregalaram de espanto.
“Jake!”
