Esses três guardas não pareciam estar em boas relações um com o outro. O bestial de armadura cinza nunca mostrou as costas para os dois mortos-vivos e eles se recusaram a ceder quando ele ordenou que recuperassem seus cartões de identificação. Só depois de um grunhido gutural sinistro o Draugh caminhou pesadamente em direção a eles para fazer seu trabalho.
“Paaareee.” A criatura humanoide articulou com dificuldade em uma voz lenta.
Este era claramente uma telha a menos de um telhado, mas seu temperamento era atroz. Quem teve a terrível ideia de postá-lo aqui era um gênio ou um idiota terminal.
De acordo com o Sistema Oráculo, os Draughs primitivos eram cadáveres de guerreiros que voltaram à vida para defender seus túmulos. Sua decomposição era avançada, mas haviam se modificado para serem maiores e mais massivos do que seus corpos originais. Eles eram mais frequentemente criados por outra pessoa ou por uma energia especial e só podiam ser mortos espalhando suas cinzas aos quatro ventos. Esse tipo de morto-vivo era amaldiçoado e geralmente podia ser exorcizado forçando-os a voltar a dormir em seus túmulos.
‘Ugh, eu sinto que esses vagabundos vão ser um saco de lidar…’ Jake se encolheu por dentro enquanto entregava sua identidade e cartão de aventureiro.
Com uma lentidão e falta de jeito enervantes, o guarda Draugh pegou seus cartões de identificação um por um, então com um andar desajeitado voltou para seu companheiro Wight e confiou os cartões a ele no lugar do bestial cinza, que deveria ser seu superior.
O capitão bestial soltou um bufo descontente, mas o Wight já havia coletado as carteiras de identidade e começado a passá-las contra o dispositivo mágico que parecia um grande tijolo prismático.
O Wight era muito mais afiado e hábil do que os outros mortos-vivos, mas sua aparência era tão horrível quanto. Quando estava vivo, ele era um homem de cabelos escuros de cerca de 185 cm, mas sua decomposição já estava bem avançada e sua pele estava tão enrugada, que se podia ver suas órbitas vazias e o esqueleto amarelo abaixo.
Um Wight também era um morto-vivo que rastejou para fora de sepulturas ou cemitérios, mas tinha uma natureza territorial e era capaz de acordar outros monstros, bestas ou humanos mortos para formar seu próprio pequeno exército. Algumas pessoas se referiam a eles como fantasmas especiais, embora tivessem corpos físicos. Em termos de ameaça, esses mortos-vivos eram uma calamidade dez vezes pior que os Draughs, mas eram vulneráveis à prata.
Sabendo de tudo isso, Jake observou calmamente os movimentos desses dois mortos-vivos. Cheirando o ar, ele não sentiu cheiro de podridão. Apesar de sua aparência repulsiva, esses dois mortos-vivos estavam limpos.
O Wight passou os cartões de identificação um por um com seus dedos magros enquanto estalava suas mandíbulas sem parar até que ele congelou lendo os dados de Ruby. O morto-vivo estremeceu involuntariamente, relutante em compartilhar o resultado com seu superior.
Azar o dele, o bestial já estava de mau humor e com um empurrão o mandou esparramado no chão, não esquecendo é claro de recuperar o aparelho e as carteiras de identidade.
“Afaste-se!” Ele latiu enquanto empurrava o outro Draugh, que estava pronto para atacar, com uma pancada no ombro.
O Wight ficou de pé com incrível agilidade e sacou um cutelo, ansioso para lutar, mas quando os olhos laranja predatórios se fixaram nele, ele cedeu.
“Isso é melhor.” O bestial zombou enquanto verificava o conteúdo dos cartões de identificação por sua vez.
Como o Wight, ele se enrijeceu momentaneamente ao ler as informações de Ruby e Jake, especialmente as de Jake, mas seu autocontrole era muito melhor do que os mortos-vivos e então ele devolveu suas identidades como se nada tivesse acontecido.
“Meu senhor, senhorita, posso perguntar qual é o motivo de sua estadia aqui?” O bestial perguntou humildemente, com uma deferência oposta à que ele acabara de mostrar a seus dois subordinados recalcitrantes.
Jake semicerrou os olhos ligeiramente.
“Isso importa?” Ele rebateu.
“Sim.” O capitão respondeu sereno. “Se você estiver aqui a negócios, estará sob os cuidados da Facção Humana, que o ajudará em suas transações. Assim que atingir seu objetivo, será escoltado para fora da cidade imediatamente.”
Bhammod assentiu. Foi assim que suas missões anteriores foram. Quando o negócio foi feito, seus clientes foram escoltados com seus carrinhos vazios de volta à entrada de Laudarkvik. Ele nunca tinha passado mais de três noites consecutivas nesta cidade.
“Nós estamos aqui para ficar.” Jake explicou seriamente.
“Nesse caso, você absolutamente deve se juntar a uma das nove facções em Laudarkvik. Para fazer isso, você terá que visitar a fortaleza correspondente da facção que serve como sede. Elas são muito fáceis de encontrar, pois cada uma tem seu próprio identificador também. Não me importo se suas identidades foram forjadas ou não, mas ninguém aqui se importa. Contanto que você não ameace a lei e a ordem ou os interesses de Laudarkvik e suas 9 facções, você pode fazer o que quiser.”
“No entanto, com base em suas informações, as duas escolhas mais óbvias são a facção Humana ou Mutante. No entanto, se você deseja se juntar à minha facção Bestial, posso prometer que você não será maltratado e até será bem pago. Os benefícios não serão inferiores aos de outras facções.”
Vendo que o capitão bestial já havia começado a convencê-los a recrutar, o Wight também cerrou os dentes para listar as muitas vantagens de se juntar aos mortos-vivos, mas o benefício final aparentemente era “vida eterna”.
Certamente teria sido tentador se não envolvesse “morte imediata” primeiro. Jake e os outros, sem hesitação, riscaram essa opção de sua lista. Olhando para o rosto abatido do Wight e seu amigo Draugh, o grupo ouviu educadamente os argumentos do capitão bestial antes de recusar temporariamente com um sorriso de desculpas.
“Minha mente não está decidida no momento, mas preciso saber um pouco mais antes de tomar minha decisão.” Jake acalmou com tato os três guardas. “Se surgir a oportunidade, nos encontraremos novamente.’
Os três guardas ficaram desapontados com o fracasso de seu recrutamento, mas mantiveram sua fachada respeitosa até que foram embora. Ao sinal deles, a porta levadiça foi levantada e Jake e seu grupo se misturaram à multidão nas ruas escuras da cidade.
Assim que eles saíram, o bestial e o Wight imediatamente contataram seus superiores usando uma espécie de walkie-talkie mágico pendurado em seus cintos. Então, como se nada tivesse acontecido, voltaram a vigiar a porta, brigando e xingando uns aos outros.
Algumas horas depois, em Laudarkvik, Jake e os outros finalmente chegaram a um cruzamento. O que eles viram no caminho foi uma revelação. Se a miséria e a escuridão da aldeia anterior eram doentias, então Laudarkvik era praticamente a personificação artística do inferno na terra.
Laudarkvik foi construído como um bolo de casamento com os pobres, servindo como suprimento de comida, agrupados nas favelas da cidade externa. Os bairros mais pobres estavam literalmente envoltos em miasma negro que os cidadãos residentes não conseguiam perceber. Só de ouvir, Jake já havia apurado sete assassinatos, vinte e sete assaltos e outros crimes de natureza ainda mais vil.
A estrada principal pela qual Jake e seus companheiros caminhavam era a única devidamente pavimentada e limpa, e era larga o suficiente para acomodar três ou quatro diligências lado a lado. As margens das estradas eram salgadas para impedir os maus espíritos e muitas runas enigmáticas foram esculpidas em cada pedra para algum propósito misterioso.
Foi justamente por causa dessas runas que levaram quase 3 horas para chegar ao primeiro cruzamento, que ficava a apenas 800m da porta levadiça. Na verdade, o culpado era Jake.
O efeito colateral de sua Classe Espiritual foi acionado assim que seus olhos avistaram a primeira gravura e sua obsessão compulsiva o forçou a memorizar todas elas, depois tentar interpretá-las e desvendar todos os seus segredos. Alguém poderia supor que Elduin e os outros pensariam que ele estava louco, mas exceto por Ruby que mostrou sinais óbvios de impaciência, os outros acharam seu comportamento bastante normal.
Em Quanoth, distúrbios de personalidade e comportamentais relacionados às Classes Espirituais foram amplamente documentados, e todos, exceto os nativos mais ignorantes, aprenderam a não reagir exageradamente a mudanças repentinas de comportamento.
Em última análise, Jake memorizou todas as runas e entendeu o básico com a ajuda de Jeanie, mas sem Mana ele não poderia fazer muito com o conhecimento. Usar Éter como fonte de energia também não funcionou. Era como usar urânio puro em um motor de carro a gasolina. Não era para ser usado dessa maneira, embora houvesse alguns paralelos.
No entanto, a compreensão dessas runas ampliou seus horizontes e ele ganhou alguma inspiração. Ele tinha grandes ideias para sua formação futura.
“Fale com franqueza, qual é a sua classe espiritual?” Rubi perguntou curiosa. “Inspetor de ruas?”
Jake ignorou a provocação e respondeu apaticamente,
“E você? Cadela Cósmica?”
“Não. Anjo Caído.” Ela respondeu calmamente.
Jake brevemente pensou que era uma piada, mas quando ele encontrou seus olhos frios e claros, percebeu que era a pura verdade.
“Você não está brincando… essa Classe Espiritual se encaixa em você como uma luva.” Ele encerrou decisivamente a troca de informações e depois se concentrou na placa de sinalização.
“Onde estamos indo?” Elduin perguntou tenso segurando o punho de suas cimitarras.
Ao longo dessas poucas horas, eles se sentiram espionados por centenas de olhares hostis e até avistaram várias dessas criaturas. Vampiros delirantes, Ghouls, Zumbis, espíritos, Bestiais incapazes de assumir a forma humana e outras abominações…
Um passo para fora da estrada principal e a cidade se transformaria em um verdadeiro degolador.
“Seguiremos o plano.” Jake respondeu com determinação. “Vamos ao QG dos Mutantes.”
