Jake e Hade ficaram surpresos, mas estavam curiosos sobre o que ela ia dizer.
“É simples, a resposta está no nome deles. Divindades.” Lúcia revelou com um sorriso.
‘Divindade?’ Jake obviamente refletiu sobre essa possibilidade. Se o fundador desta facção não era absurdamente arrogante, então provavelmente era considerado um deus em algum lugar de seu universo natal. O fato de ele ter escolhido recrutar apenas Jogadores com um status tão prestigioso como o seu também não foi tão surpreendente.
No entanto, havia uma diferença entre ser considerado um deus e realmente ser um. Se bastasse ser anormalmente poderoso e ter grandes poderes, então Jake poderia ser tratado como um deus aos olhos dos terráqueos de alguns anos atrás.
Com suas habilidades, poderia facilmente aniquilar toda a Terra se quisesse. Ao compartilhar sua Vitalidade, podia curar, era invencível, podia comandar os elementos e até produzir metais preciosos como ouro, platina ou mithril de seu próprio corpo.
Se alguém usasse essa definição, então ele era de fato um deus. Mas um deus mortal. Não explicava como aqueles Jogadores da Divindades Perdidas sobreviveram a seus ataques depois de serem aniquilados até a última célula.
Suas outras suposições eram mais arriscadas e muito mais difíceis de verificar. Foram baseadas na natureza enigmática do Éter Perfeito, o que implicava que todos os seres estavam interconectados. Seus pensamentos se misturaram ao tecido do Éter Perfeito, acumulando-se até que finalmente ganharam vida.
Foi por isso que Xi disse a ele desde o início: Tudo o que pode ser imaginado existe em algum lugar no Universo Espelhado. Isso poderia ser interpretado em sentido amplo, mas também literalmente.
Se a última teoria prevalecesse, então poderia haver todos os tipos de deuses reais, mais ou menos poderosos dependendo de quantos pensamentos os trouxessem à vida. Isso pode incluir conceitos vagos como Amor, Guerra ou Dinheiro, bem como divindades reais ou imaginárias, como as divindades do panteão grego ou escandinavo. Também poderia incluir personagens fictícios imaginários, desde que Evoluídos suficientes acreditem em sua existência no Universo Espelhado.
“Vejo que você já tem uma pista.” Lúcia riu ao ver suas sobrancelhas franzidas em uma expressão pensativa. “Para resumir, há aqueles que são percebidos como deuses, aqueles que fingem ser deuses e aqueles que são deuses porque foram imaginados como tais ou incorporam idéias ou conceitos que lhes deram vida. A divindade é a fonte de energia divina e conceitual que esses deuses imaginários baseados em crenças usam para colher a Energia da Fé de seus crentes. Enquanto a Divindade existir, ou uma pessoa acreditar em sua existência, esse Deus não pode realmente morrer. Para estar no lado seguro, eles podem colocar sua Divindade em um local seguro não muito longe de seu corpo, anulando as chances de derrotá-los permanentemente.”
‘Xi, você sabia sobre isso? Jake sondou com uma expressão sombria.
A AI confessou em uma voz angustiada e um pouco culpada.
Não parecia provável em uma Provação de baixo nível, porque geralmente é necessária uma alta densidade de Éter Perfeito para que esses tipos de milagres ocorram. Tal densidade de Éter não deveria existir em Mundos Semente inferiores como aquele onde a Terra costumava estar, nem mesmo este onde Quanoth está. Eu acho que esse tipo de deus natural só pode ser gerado em mundos avançados como os da Oitava Provação ou superior.
Jake ficou imóvel por um longo momento, antes de experimentar uma epifania repentina.
‘Ainda existe a possibilidade. Divindades Perdidas é uma facção antiga pertencente a algum sistema antigo, certo?’
Hmm, esse é realmente o caso. Não me lembro muito disso, mas também existe uma facção famosa chamada Divindades Perdidas no Sistema A0. Diz-se que seu líder é capaz de enfrentar diretamente o Oráculo e seus Antigos Designers. Diz-se que sua Divindade é Onipotência. Basicamente, qualquer pessoa no universo que acredite firme ou subconscientemente na existência de um deus todo-poderoso fornece Energia da Fé à sua Divindade e seus poderes divinos correspondem às suas expectativas.
Jake ficou atordoado quando soube da existência de uma entidade tão absurda e poderosa. Se tal coisa era possível, então apoiava ainda mais sua hipótese.
‘Se sim, uma Divindade pode ser compartilhada, ou pelo menos seu poder?’
Eu não sei, mas em toda lógica… Sim.
“Eu descobri como a Divindades Perdidas fazem isso para sobreviver aos meus ataques.” Jake suspirou cansado. Claro, o mistério pôde ter sido resolvido, mas não lhe disse como derrotá-los.
“Ainda bem que pude ser útil.” Lúcia deu-lhe um sorriso radiante.
“Eu acho que eu percebi isso também.” Hade assentiu. Ele também estava conversando com sua IA Oráculo.
O raciocínio foi o seguinte. Se Evoluídos suficientes no Universo Espelhado acreditassem na existência de Batman, então em algum lugar um Batman poderia existir. Por outro lado, este Batman, se tivesse uma Divindade, não poderia compartilhá-la com outras pessoas. Por que não? Porque isso equivaleria a diluir sua própria existência. Só poderia haver um Batman.
Foi diferente para as Divindades conceituais. Amor e Guerra eram conceitos universais. Cada civilização provavelmente acreditou em algum momento de sua história em deuses incorporando esses conceitos. Ares, Freya, Anat, Ishtar, Chiyou, Seth, Hachiman, Indra, Athena, Taranis, Marte, Sekhmet etc…
Só na Terra havia dezenas. Embora fosse altamente improvável que os crentes da época fossem suficientes para trazê-los à vida como indivíduos, na escala do Universo Espelhado era mais que suficiente para criar uma Divindade da Guerra. A primeira pessoa a colocar as mãos nesta Divindade tinha que ser mais do que poderosa o suficiente para compartilhar sua Divindade com seus subordinados, concedendo-lhes poderes divinos semelhantes aos seus.
Levando o conceito ao extremo, Ares, Seth e esses outros deuses conhecidos poderiam até ser Evoluídos a seu serviço enviados à Terra em uma época em que a tecnologia ainda não era muito avançada para pregar a boa palavra e fornecer cada vez mais Energia da Fé.
Dando um passo adiante, pode-se até imaginar que alguns desses deuses tiveram filhos, sua Divindade afetava suas linhagens e seu potencial de maneiras imprevisíveis.
“Por mais irrealista que pareça, vamos considerar o pior cenário.” Jake sugeriu, esfregando as têmporas.
“Ok.” Hade concordou. “O pior cenário seria que todos os jogadores nesta facção são verdadeiros deuses com sua própria Divindade única que os define. A maioria seria espíritos, divindades ou deuses em seus mundos de origem das crenças locais mais populares, mas de acordo com o princípio de nascimento das Divindades e o fato de que elas vêm de mundos inferiores como nós, teriam que ser extremamente fracos, pouco mais tangíveis do que miragens. Enquanto tiverem um seguidor em algum lugar no Universo Espelhado ou B842 eles não podem realmente ser mortos, mas devem levar tanto tempo para se regenerar que não representam ameaça para nós.”
“Isso nos leva ao segundo componente do pior cenário. Essas divindades menores tornaram-se Evoluídos como nós e usaram seus ativos para obter excelentes resultados em suas primeiras Provações. O Oráculo sempre dá recompensas apropriadas para aqueles que as merecem. Se eu fosse um deus baseado em crenças e o último crente que acreditasse em minha existência estivesse prestes a morrer, a primeira coisa que eu desejaria seria obter um corpo real, uma linhagem que combinasse com minha identidade e essência, mas que não dependesse dos pensamentos e crenças fugazes de qualquer um. Se tais linhagens relevantes existem, então elas devem ter habilidades específicas para maximizar o uso desta Energia da Fé e da Divindade correspondente.”
“Isso nos leva ao terceiro componente deste pior cenário. Cada um desses jogadores seria uma divindade menor com sua própria divindade, sua própria linhagem, E eles teriam recebido um pedaço de poder de outra divindade muito mais poderosa. Nesse caso, podemos destruir seu corpo e alma, mas matá-los para sempre será quase impossível.”
“Mas podemos feri-los mortalmente.” Lúcia respondeu com um brilho de luta em seus olhos. “Duvido que muitos membros da Divindades Perdidas tenham duas Divindades como você descreve, uma própria e outra emprestada. Pela descrição de Jake, a maioria era apenas bucha de canhão. Além disso, você deixou de fora outra grande possibilidade.”
“E qual?”
“Descendentes e jogadores comuns que obtiveram uma linhagem divina que os qualifica para receber uma Divindade ou criar a sua própria.”
Jake lançou um olhar conhecedor para a jovem.
“Isso me lembra, você ainda não nos contou como descobriu sobre as Divindades Perdidas…” Ele brincou calmamente.
“Eu estava esperando você fazer a pergunta, hehe.” Ela riu presunçosamente. “Graças à minha linhagem. A linhagem Neithnikidian é uma combinação da minha linhagem Myrmidiana e duas outras linhagens divinas baseadas no modelo de uma deusa demiurga e outra deusa da vitória. Este fato por si só não teria sido suficiente para despertar minhas suspeitas, mas você vê, depois que eu peguei essa linhagem na minha Terceira Provação, eles me contataram para me recrutar. Eu não sei como descobriram, mas os fatos estão lá. Eu perguntei por aí procurando outros Nerds Myrtharianos que receberam um convite semelhante e encontrei alguns.”
“Asfrid, por exemplo, assimilou uma linhagem chamada Nereid, que para simplificar são ninfas do mar consideradas divindades menores. Divindades Perdidas também a contataram.”
Enquanto Hade se perguntava sobre o propósito mais profundo de tal recrutamento em massa, Jake e seu narcisismo estavam indignados com algo completamente diferente.
‘Esses deuses baratos apenas tentaram recrutar meus subordinados bem debaixo do meu nariz?’
Agora ele estava chateado.
