— C-conversarmos… sobre o quê…?
— Claro que sobre os seus crimes. — Zich marchou em direção às forças militares até ficar bem na frente das lanças, deixando os cavaleiros e soldados sem saber o que fazer — Sua alteza, poderia pedir para que colocassem isso no chão primeiro?
— Abaixem as armas.
Eles cumpriram a ordem, embora não tenham diminuído a guarda.
“Que eficaz.”
Zich deu uma olhada em Lubella. Ele esperava que ela viesse, pois, por ser a próxima santa, precisava se encontrar com grandes oficiais de muitas nações. Não havia lugar melhor para cumprir essa responsabilidade do que na celebração do aniversário do rei de Cronon.
— Quem é você? — questionou Albus, se aproximando dele.
— Agora que mencionou, esqueci de me apresentar. Este sou eu. — Pegou um broche e o pendurou no peito.
— Cavaleiro karuwiman honorário — murmurou alguém.
Era o título dado apenas àqueles que realizaram várias grandes obras aos karuwiman. Se exercesse a fé a Karuna, poderiam ser aceitos como cavaleiros sagrados de imediato. Em termos de honra, possuíam o mesmo respeito que um nobre de alto escalão em um reino, ainda mais em um com influência deles.
— Um cavaleiro honorário…
A voz do conde, que havia rejeitado a conexão com Zich, expressava confusão e constrangimento. A condessa e o seu filho, Greig, também ficaram sem palavras. Não achavam que Zich alcançaria tal posição após deixar a família com desdém.
— E então? Me tornei digno de conversar?
Albus não conseguiu responder. Em suma, “autoridade” era o poder de controlar outra pessoa como quisesse. O fundamento para isso poderia ser o status, honra, carisma, riqueza, eloquência e assim por diante. Dependendo da fonte, havia uma diferença clara; a fonte de Zich era uma das mais fortes: a religião. Quando ele pendurou o seu broche, olharam para Weig e Lubella sem responder.
— Então, permitam-me primeiro explicar o que está acontecendo.
Quando começaram a prestar atenção às palavras…
— Esperem!
A porta do salão se abriu, dando origem a cavaleiros com ares pesados guardando um casal. O homem usava um cetro e uma coroa.
— Pai! Mãe! — Ao vê-los, o príncipe se moveu, e todos se curvaram ao rei e à rainha — Por que veio tão cedo, pai?
Não era hora de eles aparecerem. Além do mais, a festa estava uma bagunça. O príncipe havia planejado conversar com Zich e Evelyn um pouco em consideração à santa e encerrar a situação, por isso, ficou surpreso.
— Por favor, aguarde mais alguns minutos, pai. Como há uma pequena perturbação na festa, resolverei logo o assunto e te acompanharei.
— Está tudo bem, não tem necessidade de fazer isso. Vim mais cedo porque estava curioso a respeito do que aconteceu aqui.
Tum!
— Faz tempo que não te vejo, Evelyn Rouge. — O rei atingiu o centro do salão com o cetro.
— Já faz um tempo, sua majestade.
— Ouvi dizer que você está alegando ter sido falsamente acusada. É verdade?
O olhar dos reis não passava um ar muito amigável. Nenhum pai pensaria bem do suspeito de tentar matar o seu filho. Contudo, ela reprimiu a ansiedade e assentiu.
— Sim, sua majestade.
— Ha!
“Ele ficou impressionado?”
Ela, nervosa, apertou a mão num babado do vestido. Lyla pôs a mão no ombro dela. Como ainda não havia dissipado o seu disfarce, tinha um rosto desconhecido. Graças ao incentivo, Evelyn ganhou forças e relaxou um pouco.
— Vou dar uma explicação detalhada, sua majestade.
— Zich Steelwall, faz bastante tempo. Me lembro de te ver quando era da altura da minha cintura.
— Estou muitíssimo honrado em ouvir que a sua majestade se lembra de mim, mas joguei fora o meu sobrenome. Sou somente Zich agora.
O rei deu uma olhada no conde. Não era todos os dias que o nobre bruto usaria uma expressão tão indefesa, o que divertiu a realeza.
— Tudo bem, Zich. Devo me dirigir a você como cavaleiro karuwiman honorário?
— Eu agradeceria se você pudesse, sua majestade.
— Então, por que não começa a sua explicação? — Cruzou os braços.
— Sua majestade, quero primeiro dizer que o instigador de tudo é Albus Windpool, que está de pé na nossa frente.
— Que absurdo…!
Albus estava prestes a gritar, todavia, fechou a boca. Se ele interrompesse Zich, seria o mesmo que ignorar a ordem do rei. A sua ação não satisfez as pessoas ao redor, e ele abaixou a cabeça. O rei aceitou as desculpas.
— Continuando… Ao usar a sua posição como noivo da senhora Rouge, Albus fez dela o seu fantoche. Essencialmente, ele a “controlava”. O seu objetivo era fazê-la atacar vossa alteza, o príncipe, e depois se jogar no meio para “salvá-lo” e obter o favor do príncipe e o poder que vem com ele.
— Hmm… — O rei colocou as mãos no queixo, pensando — Albus Windpool, o que acha das acusações?
— Sem sentido. Não é nada mais do que uma farsa criada sem fundamentos. Já não foi revelado como Evelyn planejava matar a vossa alteza e a sua motivação? Foi encontrado na própria casa dela!
— Ele também plantou essas evidências.
— É tudo mentira!
— Zich, eu entendo o seu lado, mas receio que você não tenha evidências para que eu acredite. Independentemente do que diz, não muda o fato de que Albus salvou o príncipe.
— Como sabe, o ataque não matou o Windpool. Por coincidência, o ferimento foi tão leve que ele sobreviveria caso recebesse tratamento.
Era verdade. Apesar de Albus ter sobrevivido com uma poção, demorou um pouco para que ela chegasse. Se tivesse sido apunhalado em qualquer área crítica, não sobreviveria.
— Você não pode usar isso como evidência. Não podemos concluir que ele é o suspeito só porque ele não morreu no local. — O rei balançou a cabeça.
A expressão de Albus ficou mais relaxada ainda.
— Como eu disse antes, sua majestade, ele “controlava” a senhora Rouge.
— Sim, você disse isso.
— Ei, senhor Windpool, você deve ter aprendido tal coisa com pessoas estranhas usando vestes pretas, certo?
— Isso nunca aconteceu.
“Esse desgraçado sabe demais!”
A ansiedade começou a encher o coração dele. Já que percebeu que o seu oponente sabia quase toda a verdade, havia uma necessidade de ele ser um mais cauteloso.
— Claro que você vai negar. O que te fez confiar tanto neles? — Zich estalou a língua — É por isso que algumas evidências foram deixadas para trás.
— Evidência? — Uma leve carranca apareceu na expressão calma de Albus.
— Continuo dizendo isso, mas a senhora Rouge foi “controlada”. Há muitas formas, como lavagem cerebral, que eu poderia usar para descrever o que aconteceu, mas usei outra familiar em específico. A palavra “controlar” pode significar transformar pessoas em fantoches. — Inclinou com exagero a cabeça em direção a Lubella e bateu palma — Senhorita Lubella? Me lembro de ter ouvido essa palavra em algum lugar quando nos conhecemos.
A santa observava em silêncio, diferente de Weig, entusiasmado. Ambos se enrijeceram, porém, e ela deu um passo à frente e estendeu a mão.
— Peço desculpas, mas posso examinar o seu corpo um pouco?
— S-sim? Faça o que você precisa fazer. — Evelyn pôs a mão sobre as de Lubella.
— Obrigada.
A santa usou os seus poderes e assumiu uma carranca logo depois. Ela detectou uma sensação fraca e podre e, ao soltar a mão da nobre, caminhou até Weig.
— Como foi?
— O senhor Zich está certo — disse ela, a voz cheia de desgosto — É a energia suja dos bellids.
Aquilo bastou para fazer todos se surpreenderem. O rei, a rainha e o príncipe herdeiro também ficaram chocados, incluindo Albus.
— Com isso, acho que é evidência o suficiente. Albus, não percebeu que a habilidade era dos bellids? A sua mãe não te disse para não andar com estranhos? Bem que eu disse que você era um idiota.