Jaehwan viu as pessoas. Ou melhor, ele viu aqueles que antes eram ‘humanos’ até pouco tempo atrás. Ao contrário do <Caos>, eles não pareciam cadáveres. Em vez disso, foram substituídos por árvores podres e secas. Árvores que sabiam que a terra não tinha nutrientes, mas não podiam sair da terra. Eles estavam olhando para Jaehwan.
“Eu vejo agora. Eu finalmente vejo.”
Jaehwan então se lembrou das palavras de Mulack. Ele disse que não havia Grande Irmão no Pesadelo do Início.
Este mundo não tinha olhos, porque os olhos estavam por toda parte. Todas olharam diretamente para Jaehwan. Ele olhou para todas e sorriu.
“Se eu posso vê-las, posso lutar contra elas.”
Havia incontáveis olhos dentro daquelas árvores, e Jaehwan olhou para eles. Ouviu-se o som de raízes sendo arrancadas, como uma árvore puxando suas próprias raízes. Jaehwan andou e caminhou. As outras árvores ficaram horrorizadas.
Como? Como isso pode ser?
Como pode uma árvore… Andar sozinha?
As árvores tremiam — especificamente suas raízes, troncos e galhos. Elas ficaram apavoradas com Jaehwan, que não tinha medo de encarar todos aqueles olhos. Elas desejavam que alguém castigasse aquela árvore ambulante e a queimasse. No entanto, ninguém se ofereceu e simplesmente saiu do caminho. E Yoonhwan estava entre aquelas árvores.
“Ah…”
Ele não tinha certeza do porquê Jaehwan parecia estar brilhando em meio a todo aquele caos. Ele acabou de salvar um homem e estava voltando. Era isso.
Mas por que parecia que ele havia testemunhado aquela cena várias vezes?
Yoonhwan chorou com uma emoção que não conseguia entender ou explicar. Ele se virou e lá estava Seoyul, chorando. Eles sorriram um para o outro como se soubessem que algo assim já havia acontecido antes. E então olharam para Jaehwan novamente.
— Bem, nós também ficamos esquisitos?
— Talvez…
— Isso me lembra algo. O livro que ele escreveu uma vez…
Por entre as árvores, Jaehwan caminhava na direção deles.
Assim como as pessoas que encontraram a saída de um longo pesadelo, Yoonhwan e Seoyul correram em direção a Jaehwan.
A porta para o novo mundo estava começando a abrir a menor e mais escura caixa de um homem.
Mundos únicos existiam neste mundo. Não era um universo paralelo. Sempre existiram juntos no mesmo mundo que as pessoas podiam ver. Às vezes era rotulado como ilusão, mas a possibilidade sempre existiu.
Claro, este mundo único era diferente do mundo único que Jaehwan conhecia.
Neste lugar, ter um mundo único não permitia que ele fizesse uma [Configuração] ou a utilizasse. Mundos únicos se moviam de maneira mais complicada neste mundo.
—Jaehwan, por favor…
O médico deu a ele um caderninho que tirou da roupa enquanto era levado ao hospital. Era o registro da história de Jaehwan. Estava tão descolorido que mostrava o quanto havia sido lido. Jaehwan entendeu como o médico conseguiu alcançar seu mundo único.
—Jaehwan, só há uma maneira de derrotar a realidade. Não é como no <Caos> ou no <Abismo>. Você não pode lutar contra o mundo sozinho agora.
Mesmo neste lugar, as pessoas podem entrar no mundo único de outra pessoa e acreditar na mesma coisa para viver. Eles poderiam aproveitar o mundo livre lá fora ou a mecânica clássica e outras opressões, mas…
—Eu sou apenas o primeiro. Você deve deixar as pessoas saberem sobre o seu mundo.
Isso só era possível quando muita gente acreditava naquele mundo. Na última página do caderno, havia o pequeno livro do médico que Jaehwan uma vez rasgou. O livro havia sido colado de volta com os pedaços de papel.
“Ele não jogou fora.”
Jaehwan leu novamente. Era um livro chato e desinteressante. Mas talvez o médico quisesse mudar o mundo com isso. Talvez ele quisesse mostrá-lo ao mundo e convidar as pessoas para o Mundo Após o Fim. Jaehwan tocou nos parágrafos do livro por um longo tempo.
“Doutor, se é isso que deseja…”
Jaehwan ligou seu computador. Havia um livro não editado em que ele estava trabalhando antes de sair. Ele abriu o documento, apagou tudo e começou a digitar outras palavras.
Pouco a pouco, o documento branco logo foi preenchido. As memórias lentamente começaram a voltar. Da mesma forma que ele iria estocar ou cortar, Jaehwan continuou digitando. Histórias começaram a passar de sua cabeça. Assim como quando ele conseguiu realizar sua [Estocada Mundial] pela primeira vez, ou quando ele adquiriu o [Fim], sua cabeça explodiu com incontáveis realizações.
Os parágrafos eram ásperos e fracos. Ele não tinha boas metáforas e tinha muitos erros gramaticais.
Mas ele continuou. Assim como não desistiu das estocadas, continuou escrevendo. Mesmo quando um parágrafo grosseiro o fazia pensar mais, ele não desistia e continuava digitando tudo. Ele fez como se esta fosse a razão de viver naquele mundo, como se esta fosse a razão da história da sua vida. Ele ficou desconfiado, entendeu, esqueceu, criou outra teoria, provou e editou.
Ele escreveu e escreveu novamente.
Depois de um tempo incerto, Jaehwan finalmente terminou o prólogo de seu livro. Ao ler o prólogo completo e corrigir quaisquer erros, uma certa pergunta veio a ele.
“Oh, a propósito, qual era o nome do médico?”
Era estranho. O nome que até pouco tempo atrás era claro, o nome que aparecia em várias emissoras de mídia, agora estava vago. Jaehwan então encontrou o nome do médico escrito abaixo do título de seu pequeno livro.
“Você só pode estar brincando.”
Jaehwan sorriu ao olhar para o nome. Era um nome engraçado.
Jaehwan abriu o site de livros na internet e havia inúmeros livros esperando para serem lidos. Jaehwan via todos eles sob uma nova luz agora. Ele pensou que talvez todos esses livros tivessem seus próprios mundos únicos. Alguns eram grosseiros e alguns eram ótimos, mas todos tinham vários mundos únicos para criar este universo como um todo.
Jaehwan digitou o nome do médico como pseudônimo e criou uma página para o livro com o mesmo nome que o médico deu. Em seguida, uma mensagem apareceu para adicionar uma descrição para o trabalho.
Descrição?
Jaehwan pensou muito sobre isso como se fosse um deus mostrando seu mundo único pela primeira vez. Ele não poderia fazer isso soar muito grandioso ou então as pessoas iriam evitá-lo. Mas ainda não poderia ser muito fraco, porque as pessoas também não iriam querer lê-lo.
Jaehwan abriu a nota novamente.
Nessa nota, Jaehwan leu os parágrafos que o médico havia deixado muito lentamente. E em algum momento, uma frase chamou sua atenção. Ele sorriu. Sim, talvez esta fosse a única frase adequada para o início desta história. Era isso. Jaehwan posicionou as mãos sobre o teclado. E se deu bastante tempo para digitar cada palavra com cuidado.
-Esta é a história de um homem que não voltou, enquanto todos os outros voltaram ao passado.
