Nos aposentos do Rei de Lanthanor havia uma mesa em uma extremidade da sala com 3 blocos de metal decorados com padrões fluidos.
Os blocos estavam no centro da mesa, com mecanismos com os quais podiam ser destacados quando necessário.
Todos os dias era aqui que o Rei de Lanthanor passava alguns minutos de seu tempo várias vezes durante o dia para verificar se havia algo que precisava ser resolvido.
Cada um deles representava cada uma das principais divisões do governo: segurança, finanças e bem-estar.
Quando Daneel tocou em cada uma, toda e qualquer informação considerada no nível “importante” seria mostrada a ele.
Claro, as informações verdadeiramente cruciais, que precisavam de atenção urgente, ainda seriam fornecidas por seus Comandantes ou pelo Grande Mago da Corte.
Aparentemente, esta era uma configuração que existia desde a época do primeiro Rei.
Em Angaria, como os Reis também tinham a responsabilidade de serem poderosos o suficiente para serem um símbolo de força para seu povo, o tempo era limitado. Assim, o objetivo da mesa era que o Rei pudesse analisar todas as informações importantes e decidir se havia necessidade de uma Corte Real.
Hoje, na seção de ‘Bem-Estar’, Daneel encontrou uma nova mensagem que o surpreendeu um pouco.
“Uma mulher e uma menina da Vila de Burberry, que se estabeleceram na cidade de Lanthanor solicitam uma audiência com o Rei. Elas dizem que querem trazer à tona um problema que assola o Reino.”
Como Lanthanor foi governado por década por Reis que tratavam seus súditos como formigas, a própria prática de abordar diretamente um governante com problemas foi quase esquecida pelo povo.
Ainda assim, após sua ascensão ao trono, houve alguns pedidos em que algumas pessoas queriam mostrar sua gratidão ao Rei.
Não era possível ao Rei encontrar todos e cada um de seus súditos para coisas triviais como essa. Portanto, Kellor ordenou que tais pedidos fossem gentilmente negados, citando que o Rei estava ocupado treinando.
Quanto a outras solicitações, como as de empresários, elas foram redirecionadas para outros departamentos após o envio de uma mensagem para o bloco apropriado.
Pelas suas experiências na Terra em Angaria, Daneel sabia que uma das coisas mais tolas que um Rei poderia fazer era ignorar seus súditos.
Assim, ele havia dado a ordem de enviar diretamente a ele qualquer solicitação, caso se tratasse de um indivíduo querendo falar sobre seus problemas.
Na verdade, ele também fez planos para colocar ferramentas de comunicação onde qualquer um pudesse fazer reclamações.
Esses planos foram colocados em segundo plano devido à guerra. Agora que a guerra havia passado, Daneel decidiu colocá-los em movimento, antes de ordenar aos funcionários do governo abaixo dele que enviassem imediatamente aquelas duas para a Corte Real.
Ao entrar sozinho na Corte vazia, ele ficou surpreso ao ver um par de olhos verdes brilhantes olhando para ele adoração queimando dentro deles, antes de desviar o olhar timidamente como se estivesse envergonhado.
Vendo tal coisa pela primeira vez em sua vida, Daneel errou um passo e quase tropeçou, antes de felizmente recuperar o equilíbrio antes de perder sua imagem na frente das duas.
Na verdade, essa adoração claramente beirava o fanatismo, já que a garota a quem aqueles olhos pertenciam teve que ser cutucada pela mulher ao lado dela antes que percebesse que estava olhando descaradamente nos olhos do Rei, sem nem mesmo se curvar a ele em respeito.
Com uma expressão de leve pânico aparecendo em seu rosto sardento, Dália rapidamente se curvou sobre os dois joelhos e escondeu a cabeça entre as pernas.
Vendo isso, Helena, que acabara de se ajoelhar, ficou pasma.
Sua filha havia congelado pela primeira vez quando o Rei entrou, e agora ela estava enrolada no chão como um porco-espinho.
Pensando que elas, definitivamente, seriam expulsas por indecência, ela secretamente tentou levar sua filha à sanidade sem que o Rei percebesse.
Enquanto isso, Daneel já havia se sentado no Trono.
Vendo a garota no chão que parecia que não iria se desenrolar, não importa o que acontecesse, ele se divertiu antes de dizer: “Levante-se.”
Embora Dália estivesse se sentindo mais envergonhada do que nunca em sua vida, ela ainda atendeu ao comando de seu ídolo.
Levantando-se, ela fez questão de manter o olhar baixo enquanto corava fortemente.
“Você disse que tem um problema que precisa da minha atenção?”
Foi só depois que o Rei fez essa pergunta, após alguns segundos de silêncio, que ela finalmente ergueu os olhos.
Ao fazê-lo, Daneel finalmente percebeu que ela era apenas uma garotinha de 10 a 12 anos.
Sabendo que essa era, geralmente, a idade em que as crianças se apegavam a ídolos que as afetavam de alguma forma, Daneel percebeu o que estava acontecendo.
As informações básicas sobre as duas já haviam chegado a ele, então ele sabia que suas ações haviam ajudado tremendamente esta pequena família.
Assim, o olhar que a menina tinha em seus olhos antes fazia sentido.
Ainda assim, vendo a mudança real que ele havia causado, Daneel sentiu-se verdadeiramente feliz e grato por ter decidido seguir este caminho.
Gravando em seu coração a linda expressão de timidez da garotinha, Daneel esperou pela resposta.
No entanto, mesmo depois de alguns segundos, não havia nenhuma.
Por fim, foi a mulher quem falou, que parecia ter desistido de esperar que a menina falasse, pois esta ainda estava muito ocupada olhando para os dedos dos pés.
Começando com elas se estabelecendo na Capital, a mulher explicou tudo o que havia acontecido enquanto apontava para a caixa preta que trouxera consigo.
Enquanto Daneel ouvia, uma carranca apareceu em seu rosto quando ele percebeu que este era, de fato, um problema que precisava vir à tona.
Sem perder tempo quando decidiu que algo precisava ser consertado, ele imediatamente convocou o Comandante da Polícia com quem raramente interagia desde que assumiu o Trono.
Assim como o Grande Mago da Corte anterior, o Comandante da Polícia era um indivíduo da administração anterior que ainda não havia feito nada para ganhar sua confiança.
Embora ele fosse um Guerreiro Humano Exaltado, não havia uma situação antes em que um único indivíduo desse tipo faria a diferença, fazendo com que ele quase nunca precisasse ser chamado, exceto para executar suas responsabilidades.
Ainda assim, Daneel percebeu que ele era outro recurso que precisava ser bem aproveitado.
Mantendo esse pensamento em mente para mais tarde, ele perguntou: “Por que o caso contra reivindicações falsas não foi registrado?”
Com isso, o Comandante da Polícia, que era um homem barbudo com uma cabeça careca e brilhante, suspirou antes de responder: “Meu Rei, é porque não temos como confirmar ou negar qualquer reclamação. Este é um dos tipos de caso em que ambas as partes alegam sob juramento que estão dizendo a verdade, meu Senhor.”
Ao ouvir isso, Daneel ficou perplexo. Se o vendedor dissesse que a máquina de bordado funcionaria por 6 meses para fazer uma venda, como ele poderia evitar admitir o mesmo sob juramento?
“Você se lembra exatamente do que ele disse? Ele disse expressamente que funcionaria por 6 meses?”
Diante da severa pergunta do Rei, Helena só conseguiu gaguejar enquanto procurava uma resposta.
Ela não conseguia lembrar das palavras exatas do vendedor, mas era fato que ela saiu da venda pensando que a máquina duraria 6 meses.
Por fim, foi Dália quem abriu a boca e respondeu com voz hesitante depois de finalmente superar o choque e a surpresa de conhecer o ídolo que sempre aparecia em sus sonhos.
“Ele disse… que definitivamente duraria por 6 meses… se o que ele disse fosse verdade. Mas a última parte foi passageira.”
Redação. Era tudo uma questão de redação.
Ao deixar espaço de manobra suficiente para o que diziam, esses vendedores estavam claramente explorando pessoas pobres como as duas à sua frente.
Percebendo isso, Daneel foi realmente lembrado dos “Termos e Condições” na Terra, que quase ninguém lia. Usando esse fato, as corporações muitas vezes incluíam cláusulas que faziam as pessoas que assinavam perderem seus direitos sem que percebessem.
Embora esse problema tivesse sido trazido à tona, pela primeira vez, Daneel não conseguiu descobrir como resolvê-lo imediatamente.
Este negócio estava decididamente enraizado no Reino, fazendo com que exigisse um expurgo radical para o qual ele atualmente não tinha fundos. Na verdade, a agenda de Daneel para hoje era finalizar os planos para resolver a dívida de Lanthanor.
Assim, deixando esse problema de lado por enquanto, Daneel concentrou-se em outro diferente que lhe veio à mente.
Por que Helena não tinha outras opções a que recorrer?
Por que não havia uma maneira de ajudar e encorajar pessoas como ela, que tinham talento, mas não garantia para obter empréstimos de credores?
Com esses pensamentos, nasceu uma das organizações mais revolucionárias de Angaria.
