Cho-Yul se sentiu envergonhado por não notar algo que até Ramphil notou, o menos emocional de todos, sabia.
Agora que eles descobriram sobre a Maldição da Magia Negra, Leona e Ramphil sabiam que SoSeoLan não odiava Cho-Yul. Claro, Leona entendeu emocionalmente e Ramphil descobriu através de especulação baseado na quantidade de riscos que SoSeoLan estava disposta a correr.
Apesar de seus processos de pensamento serem diferentes, eles chegaram na mesma conclusão.
— Eu consigo entender. O que você passou na sua infância te marcou, então é compreensível.
Era possível que ele não conseguia nem pensar na possibilidade por causa dos dias em que era espancado e quando não era capaz de respirar por causa do medo. Às vezes, medo gravado impossibilitava o pensamento racional da pessoa.
— É porque… ela acredita que eu não tenho a coragem de usar magia negra.
Confuso, Cho-Yul começou a balbuciar, mas Ramphil cortou ele.
— É uma questão simples de correr o risco ou não, e a escolhe é óbvia. E até onde eu entendo, Asura não parece ser do tipo de pessoa que corre riscos.
Ramphil adivinhou as emoções através de uma perspectiva de julgamento racional e benefícios práticos. Em alguns jeitos, Ramphil estava se esforçando para entender. Zin achou engraçado e riu.
Então, ele se virou para Cho-Yul, que estava confuso e disse.
— Para simplificar, você é o único risco que SoSeoLan está correndo.
Se ele ainda não tivesse entendido, haveria um problema sério com sua inteligência. Claro, parecia ter um pouco de problema já, mas não havia como ele não entender.
Zin sabia desde o começo que Asura não odiava Cho-Yul.
— Qual seria o motivo para deixar a única pessoa que pode te matar a qualquer hora, qualquer momento, viva? Porque vocês treinaram juntos? Se ela levou seu treino a sério, ela teria se curvado na minha frente quando nos vimos.
Mas SoSeoLan foi rápida em mencionar que ela odiava caçadores de malignos.
Zin continuou.
— Para sua grande missão, ela está disposta a usar o feitiço Espírito Morto, que poderia destruí-la. Ela está disposta a fazer o que for preciso, então por que ela te deixaria vivo? Ela nem teria que usar magia. Ela poderia ter simplesmente te esfaqueado.
— Ma-mas… ela… ela ficou me vigiando…
— Ah, véi! Você é lerdo demais.
*Thump!* *Thump!*
Leona bateu em seu peito como se dissesse que ela nunca viu uma pessoa tão lerda. Vendo Leona desse jeito, Cho-Yul não sabia como reagir.
— Você realmente achava que aquilo era vigilância?
— …
Cho-Yul não conseguia falar nada.
— Bem simples, ela queria provavelmente se certificar de que você estava bem. Mas você aceitou isso como ela te vigiando.
Sempre que SoSeoLan tentava monitorar a área ao redor de Cho-Yul usando sua feitiçaria, Cho-Yul conseguiu sentir e ficou com medo. Porque ele achava que sua vida corria perigo, ele continuou se enfiando em seu casulo.
— Você ainda acha que SoSeoLan te odeia? — Zin perguntou de novo como se dissesse que ele realmente devia conseguir ver agora.
— Vá lá, admite. Todo o terror e medo que você sente por ela são ilusões causadas por memórias assustadoras da sua infância.
Cho-Yul não conseguia responder. Todas as dúvidas e medos com os quais ele lutava eram na verdade ilusões causados por seu trauma.
Ele viveu como um bêbado quando não havia a necessidade.
— Claro, eu concordo que a escolha de SoSeoLan é péssima. Eu estou certo que há muita ganância e inveja vindo dela. Mas estou certo de que os sentimentos que ela tem por você não são o que você pensa, não importa o que eles costumavam ser no passado.
— Oh…
Cho-Yul precisaria de um tempo para se acalmar.
— Então, se você decidir trabalhar para ela, com certeza ela vai aceitar.
No fim, Zin estava tentando se livrar do mal entendido de Cho-Yul a fim de dizer isso para ele.
— Es-espera…. espera um pouco. Deixa eu pensar.
Cho-Yul ficou em silêncio e os outros três não tentaram falar com ele. Entretanto, Zin não ficou muito feliz de se livrar do mal entendido de Cho-Yul.
Zin sabia muito bem que fazer isso pode acabar sendo a coisa mais cruel para ele.
No meio da noite, enquanto todos estavam dormindo, Cho-Yul estava sentado sozinho no topo do veículo armado, organizando seus pensamentos.
Seus companheiros estavam certos. Agora que ele percebeu que seus medos eram só ilusões, as peças começaram a se encaixar.
Ele pensava que SoSeoLan o deixou viver porque sua atuação foi perfeita. Como resultado, ele tentou ainda mais viver como um bêbado imprestável.
Na verdade, seus sentimentos por ele eram a única razão plausível para ela mantê-lo vivo. Por que mais alguém com uma missão grande para cumprir correria tal risco?
A magnitude do risco que SoSeoLan estava disposta a encarar deve ser equivalente a quantidade de sentimentos que ela tinha por ele.
— Eu pensei que fui treinado para saber muitas coisas, mas eu não consegui notar isso.
Não era um bom sentimento saber que ela, que só deu memórias ruins para ele, tinha sentimentos por ele.
Espera, eram só memórias dolorosas mesmo?
— Meu senhor, seu idiota. Se você não aprender isso, nós vamos ter que repetir a lição amanhã! Ouça com cuidado.
Às vezes, quando ele fingia não entender algo que já sabia, ela ficaria muito brava com ele, mas ela o ensinaria mesmo assim. Mais especificamente durante as lições de artes marciais, ele pensava que só tinha memórias de ser espancado, mas isso não era verdade.
— Seu maldito! Não consegue nem fazer isso? Preste atenção! Assim e assim!
— Sim, é isso! Sim sim. Oops! Seria mais rápido ensinar um cachorro a abrir uma noz do que te ensinar algo.
— Ah! Oh, isso dói!
Ele foi acertado várias vezes, mas ela nunca deu a ele uma lição falsa.
— Por que você fez tanto arroz? Nós temos o bastante?
— Bom, is-isso é…
— Eu não quero comer tudo isso, então você pode comer.
Agora que pensava nisso, ele podia se lembrar de momentos de trocas delicadas entre eles. Conforme o véu de terror e medo se levantava, Cho-Yul começou a ver as coisas com mais clareza.
Pode ter sido porque ela era estranha. Ela pode ter sido gananciosa e invejosa. Mas sem sombra de dúvidas, humanos eram complexo e agiam agressivamente quando muitas emoções se misturavam.
Provavelmente, era porque ela era jovem.
Quando se tornou adulta, ela manteve seu jeito provavelmente porque estava acostumada com eles, mas ela se arrependia provavelmente de agir daquele jeito. Pessoas agiam de jeitos que elas não queriam a todo momento.
Cho-Yul sabia que seu destino estava ligado ao dela. Ele lamentou isso sem saber o que isso significava exatamente.
Ele sentiu um pesar profundo, sem saber de onde, mas estava começando a entender o que era.
Se os sentimentos de SoSeoLan por ele não eram de ódio, mas algo mais afetivo…
E se ele tinha que fazer algo sobre isso.
Algum dia, ele teria que matar ela com suas próprias mãos e tomar tudo que ela construiu. Então, o que Zin contou para ele foi a verdade mais cruel de todas.
SoSeoLan perderia sua mente e ele teria que matar ela. A fim de fazer isso, ele teria que se juntar ao Grupo. Ele precisava aprender o feitiço Espírito Morto ou se juntar ao Grupo, o resultado era claro.
— Por que você só não foi mais legal comigo? — Olhando para o céu noturno enquanto sentia tristeza, Cho-Yul falou com alguém que não podia ouvi-lo. — Irmã…
Assim como SoSeoLan não podia evitar amá-lo, Cho-Yul não conseguia não sentir pena dela enquanto sentia medo dela.
E ele sabia melhor que qualquer um que a compaixão que ele sentia por ela parecia com outro sentimento. No final do dia, eles só tinham um ao outro naquele mundo solitário, cruel.
Cho-Yul sentiu pesar por muitas coisas. Entre elas, o destino cruel que ele recebeu era o mais triste de todos.
— Eu vou ficar aqui. — Cho-Yul disse aos seus companheiros no próximo dia. Já que ele não pediu para Zin a localização do livro da Morte, ele estava essencialmente dizendo que se juntaria ao Grupo.
— Ok.
Agora que eles tinham o Orbe Selado, eles não precisavam do poder de Cho-Yul mais. Era melhor que ele ficasse com SoSeoLan.
Cho-Yul não iria simplesmente se juntar ao Grupo, mas ele também estava concordando com tudo que precisava fazer depois de se juntar ao Grupo, o que incluía sua intenção de resolver o problema com suas próprias mãos, não importando o que acontecesse no futuro.
E claro, terror e medo não desapareceriam tão fácil.
— Está certo de que consegue resolver isso?
— Não estou confiante, mas eu preciso.
Eles tomaram café da manhã juntos pela última vez.
— Que tristeza que essa vai ser a última ração-C que eu vou comer. — Cho-Yul riu levemente, pensando que essa poderia ser sua última refeição boa.
— Quando o Grupo tomar uma das Fortalezas, você terá um banquete. — Quando Zin disse isso, a cara de Leona azedou.
— … eu acho que você esquece às vezes, mas eu sou um soldado Armígero. — Ramphil deu uma olhada de soslaio para Zin e resmungou, se perguntando se o caçador precisava dizer essas coisas.
Zin sorriu de volta.
— Ainda um soldado leal? Eu achei que você tinha trocado para a caçada.
— Sem chance. Eu sou um soldado. — Ramphil murmurou resignadamente e Leona respirou aliviada.
Na verdade, Ramphil não pertencia a lugar algum. Ele sabia disso e foi por isso que resmungou em vez de discutir mais com Zin.
Depois da refeição, Cho-Yul empacotou suas coisas para ir embora. Se ele esperasse em Shane, Asura viria e, então, ele poderia se juntar ao Grupo.
O tempo deles juntos foi curto. O destino de Cho-Yul mudou drasticamente por se encontrar com Zin e, apesar deles se separarem aqui, Cho-Yul era um homem mudado.
— É melhor que a gente não se veja de novo.
— Que pena. Eu estava esperando que nos víssemos de novo.
— Vou te falar, eu irei te ver se você vier sozinho.
Quanto mais curto as despedidas, melhor.
— Parece que algo está faltando… — Leona sorriu estranhamente como se estivesse desapontada por deixar um companheiro ir. A expressão em seu rosto, nem chorando nem sorrindo, era de uma criança que não cresceu ainda.
— Se cuida. — Ela disse e Cho-Yul sorriu de volta.
— Leona.
— Sim.
— Seja feliz. Por favor.
— Eu estou bem. — Normalmente Leona teria reclamado do comentário por ser brega, mas ela deu sorriso largo, mostrando seus dentes e adicionou, — Eu já sou feliz.
Cho-Yul sorriu de volta.
Cho-Yul se despediu e assistiu o veículo armado ir embora. O grupo voltou de quatro para três.
Na opinião de Zin, Cho-Yul estava destinado a trabalhos de alto nível, não para a jornada curta deles, além disso, havia um número limitado de coisas que poderia fazer. Dessa forma, ele ficar com o Grupo como um tipo de medida de segurança era a decisão correta para prevenir sacrifícios maiores.
No veículo armado balançando, Leona fez uma pergunta a Zin com um rosto triste.
— Você acha que nós o veremos de novo.
— É possível se o Grupo tomar toda a Ásia e for para o sul.
— Eu não sei do que você está falando, mas você quer dizer que não é muito provável.
— Sim.
Zin concordou. Mesmo se eles tomassem toda a Ásia, a direção que Zin estava indo era em direção a arena da luta entre os poderes do mundo.
Dessa vez, Ramphil, que estava dirigindo, perguntou.
— Caçador, na sua opinião, como o poder do Grupo se compara ao do Armígero?
— Bom… no passado, eu teria apostado que o Armígero era superior..
Se o Grupo fosse simplesmente uma organização de Salteadores, a diferença entre o Grupo e o Armígero seria enorme, mas a história mudaria quando o feitiço Espírito Morto entrasse na jogada. Além disso, agora que eles tinham mais um feiticeiro de alto nível na jogada, era seguro dizer que os poderes deles aumentaram.
Lutar numa guerra onde os mortos se levantavam para se tornar seus inimigos era difícil de imaginar a menos que você tivesse experiência. Em situações como essa, quando um único aliado morria, você não só perdia um aliado, mas você ganhava um novo inimigo.
— Não estou certo.
Mesmo assim, o Armígero tinha uma vantagem esmagadora no quesito armamento então era difícil dizer que o Grupo era superior.
Entretanto, era um mal sinal que outra organização poderosa apareceu na cena quando eles esperavam um guerra interna do Armígero.
A Ásia se tornaria um mar de chamas com certeza, mas havia uma possibilidade crescente de que a guerra seria entre três organizações.
Leona ficou triste quando pensou na possibilidade de Cho-Yul ser uma peça chave na guerra. Apesar da viagem ser curta, ela passou a gostar dele.