Os Chal são um povo perdido, e o conhecimento de sua sociedade, sua maneira de falar, até mesmo sua aparência, é um conhecimento há muito abandonado. Não adianta muito se apegar ao passado em Pangera. Apesar do que as pessoas ricas que vivem em cidades enfeitadas dentro do quarto estrato podem pensar, elas estão presas em uma luta sem fim para sobreviver com todos os outros. Nunca há paz entre a Masmorra e as raças sapientes, e a queda dos Chal é apenas um exemplo do terrível custo do fracasso.
Escondidos em vários lugares, é possível encontrar especialistas em Chal, aqueles que dedicaram suas vidas a preservar o pouco que resta de seu outrora poderoso império. Se você perguntasse a eles, eles descreveriam os Chal como sábios, pacientes, pacíficos e chocantemente poderosos. Eles foram os primeiros a erguer um poderoso império no quarto estrato, e então arriscaram tudo em uma missão virtuosa para livrar o mundo da praga que infestava o quinto.
Obviamente, eles falharam.
– Trecho de ‘Povos Perdidos do Calabouço’, de Lalo
[Um Chal?] Coolant se perguntou. [Devo confessar, não sei muito sobre eles. Isso é algum tipo de monstro?]
Rathwyn se viu mal conseguindo falar. O que ele viu diante de seus olhos simplesmente não podia ser. Era impossível! E ainda assim… o caracol estava lá, plácido, calmo, olhando para eles com um nível de paciência que parecia quase surreal para uma criatura que tinha acabado de nascer.
[Bem… posso ver que vocês precisam de um momento para se recompor,] Coolant observou, notando que um dos acadêmicos parecia ter desmaiado. [Vamos reunir esses pequenos e levá-los para o santuário que preparamos. Vocês podem vir se quiserem.]
Outra formiga entrou na câmara com um prato grande e redondo preso em suas mandíbulas. Coolant e Propellant se aproximaram da bacia da qual mais e mais caracóis estavam emergindo e, por algum motivo, se curvaram. Os caracóis viraram os olhos para o par e, então, sem exceção, se curvaram de volta.
[Não sei por que, mas eles parecem gostar desse gesto], explicou Coolant antes de usar suas antenas para atrair os filhotes de caracóis para o prato.
Rathwyn observou tudo acontecer em um estado de branco, ainda incapaz de processar. As implicações estavam impossivelmente fora de alcance, não importa quantas vezes ele as alcançasse. Ele se virou, lembrando que o Professor Englebert era bem lido sobre o assunto dos Chal, apenas para encontrá-lo espumando pela boca e vibrando enquanto olhava cegamente para o espaço.
Com alguma dificuldade, os magos da Torre se apoiaram para andar atrás do prato enquanto se moviam por várias câmaras semelhantes àquela de onde tinham acabado de sair. Durante todo o tempo, os pequenos caracóis permaneceram calmos, observando tudo o que acontecia ao redor deles com um senso de curiosidade reservada.
[Se você souber algo sobre esses pequenos, será útil para nós,] disse Propellant. [Não sabemos o suficiente para poder ensinar a eles algo sobre sua própria história ou cultura. Espero que você esteja disposto a compartilhar.]
[C-claro,] Rathwyn conseguiu, reunindo um pouco de sua habitual desenvoltura. [Peço desculpas por… minha falta de clareza. Estamos todos apenas… um tanto surpresos.]
‘Para dizer o mínimo!’
Finalmente, eles entraram na sala que as formigas deviam ter criado para abrigar os caracóis recém-nascidos. Considerando que ela só poderia ter sido construída nos últimos dias, eles foram notavelmente meticulosos. Era maior do que Rathwyn esperava, vinte metros quadrados, e cheia de todos os tipos de coisas que a Colônia parecia ter assumido que os jovens moluscos iriam querer. Piscinas de água rasa, plantas verdes e vibrantes, com superfícies de várias texturas que subiam e desciam, permitindo que os jovens Chal deslizassem e escalassem por todo o lugar se assim decidissem.
O prato foi colocado no chão e o último grupo de Chal foi introduzido na sala, deslizando para o quarto. Curiosamente, sempre que encontravam outro caracol que não tinham visto antes, eles abaixavam suas cabecinhas, um gesto respeitoso que parecia ser instintivo para eles.
Uma dúzia de formigas de uma variedade que Rathwyn nunca tinha visto antes andava pela sala, posicionando cuidadosamente as pernas enquanto interagiam com os recém-nascidos, limpando-os, incitando-os a irem em direção à comida ou catando pedaços de detritos do chão.
[Cuidadores de Ninhada,] Coolant respondeu à sua pergunta não dita. [Normalmente, você nunca os verá fora de uma das academias de formigas ou de uma câmara de criação, mas sentimos que sua experiência seria necessária para cuidar adequadamente dos pequenos. Alguns foram trazidos aqui em cima da hora. Felizmente, os caracóis parecem receptivos aos cuidados das formigas.]
[E o que você pretende fazer com esses Chal?] Nemis, ou Kathy, para usar seu nome falso, perguntou incisivamente. [Qual razão você tem para se importar com eles?]
Coolant e Propellant pareceram confusos com a pergunta, virando-se um pouco um para o outro e balançando suas antenas de maneira confusa.
[Bem, não temos planos nenhum. Como poderíamos? Não tínhamos ideia do que sairia dos ovos até alguns dias atrás. Foi por acaso que os encontramos em primeiro lugar. Já que nasceram aqui na fortaleza e sob nossos cuidados, pretendemos cuidar deles e criá-los da melhor forma possível. Por que faríamos menos?]
[Acho que meu associado só está preocupado que os jovens Chal estejam sendo cuidados. Já que você claramente tem toda a intenção de cuidar deles, tudo bem,] Rathwyn interrompeu, olhando fixamente para ‘Kathy’.
‘Ela realmente acha que a Colônia estava planejando levantar um exército poderoso de Chal? Há algumas dezenas de caracóis nesta câmara, e eles mal nasceram! Reconstruir o império Chal para qualquer tipo de força seria o trabalho de centenas de anos!’
[Vamos deixar os jovens descansarem], sugeriu Rathwyn, [e podemos ir para outro lugar e contar tudo o que sabemos sobre os Chal.]
[Isso seria ótimo], disse Propellant.