Nick decidiu que aquele era o melhor momento para descobrir mais sobre a Sabor que Dá Felicidade ;).
Pela primeira vez em vários dias, Nick saiu da parede da cidade e se aproximou dos quatro indivíduos.
Os dois assistentes caminhavam atrás dos dois líderes da Sabor que Dá Felicidade 😉 e anotavam algumas diretrizes ocasionais.
— Você falou com a Jeanny? — perguntou o Diretor Executivo.
O CEZ balançou a cabeça. — Ela não aparece no escritório há um tempo. Diz que está ocupada demais.
O Diretor Executivo franziu a testa. — De novo? Qual é a desculpa dela dessa vez?
— Emergência familiar — respondeu o CEZ de forma neutra.
O bom humor do Diretor Executivo pareceu desaparecer.
Então, ele parou e se virou completamente para o CEZ. — Não acho que ela tenha o espírito da Sabor que Dá Felicidade ;).
O CEZ franziu a testa e caiu em reflexão.
Parecia estar lutando com algo, mas no fim apenas suspirou. — Infelizmente, pode ser verdade. Ouvi alguns colegas dela comentando sobre algo que ela disse. Aparentemente, depois do último Retiro Saboroso 😛 do mês passado, ela disse que todas as nossas Horinhas Divertidas xD existem apenas para prender os funcionários à empresa, para que eles não saiam por causa dos nossos, supostamente, baixos salários.
O Diretor Executivo pareceu ficar genuinamente irritado. — Por que não me contou isso antes? Você sabe o quanto as Horinhas Divertidas xD são importantes para a Família Feliz :). Qualquer um que não viva o Espírito da Sabor que Dá Felicidade 😉 é um perigo para a Família Feliz :).
O CEZ pareceu um pouco abatido. — Eu não tinha certeza se era verdade, já que apenas ouvi os colegas comentando. Eles podem simplesmente ter tentado banir ela da Família Feliz :).
O CEZ suspirou. — Infelizmente, fui ingênuo.
— Posso confirmar isso — disse o Diretor Executivo. — Você continua confiando demais nos funcionários. Sim, somos a Família Feliz :), mas também temos que proteger nossos Gostosinhos de más influências.
Os dois continuaram conversando enquanto se aproximavam de um portão gigantesco que levava a uma grande caverna.
Nick flutuava atrás deles.
“Mesmo que não estivessem envolvidos com isso tudo, eu ainda odiaria eles”, pensou Nick, irritado, enquanto continuava lamentando o fato de ter ouvidos.
Um dos dois assistentes correu rapidamente na frente dos dois líderes e abriu o portão para eles.
Os dois continuaram conversando enquanto entravam nos terrenos da empresa.
Nick entrou facilmente com eles.
O interior da Sabor que Dá Felicidade 😉 era surpreendentemente colorido.
Enquanto a maior parte da cidade era cinza e preta, os corredores ali dentro exibiam cores vivas por todos os lados.
As paredes eram de um amarelo brilhante, com várias pinturas de doces verdes, vermelhos, brancos e azuis cobrindo-as.
Cada um dos doces tinha um sorriso escancarado no rosto.
Os móveis eram irregulares e pareciam doces parcialmente derretidos.
Slogans e cartazes motivacionais também cobriam as paredes.
Nick quis respirar fundo, mas estava em sua forma de névoa no momento.
Depois de observar por um tempo, Nick voltou a olhar para o CEZ e o Diretor Executivo.
Surpreendentemente, suas expressões haviam mudado.
Embora antes parecessem preocupados e irritados, agora pareciam felizes.
Sorrisos brilhantes tomavam seus rostos, e Nick conseguia dizer que os sorrisos eram genuínos.
Não era fácil forçar um sorriso verdadeiro sob comando.
Os dois assistentes atrás deles também sorriam, mas os sorrisos não pareciam completamente sinceros.
— Você poderia, por favorzinho, terminar as planilhas da reunião? — pediu o Diretor Executivo à sua assistente, com uma voz adorável.
Nick notou desconforto e constrangimento nos olhos da assistente, mas ela se esforçava para esconder.
No instante seguinte, ela levantou um dos polegares e piscou com um olho só. — Okey Dokey, Papi!
— Obrigadiiiinho! — disse o Diretor Executivo com um sorriso radiante.
Logo depois, a assistente saiu correndo como uma garota envergonhada que acabou de entregar uma carta de amor para o ‘crush’.
Enquanto isso, o CEZ apenas assentiu para seu assistente, que se afastou sem dizer nada.
— Irmãozão, vamos para os Pensamentos Felizes — disse o Diretor Executivo.
Nick também notou certo incômodo nos olhos do CEZ, mas ele era extremamente bom em esconder isso.
— Tô dentro, Maninho! — disse o CEZ, tentando soar positivo, mas sua voz era bem mais baixa que a do Diretor Executivo.
No momento seguinte, o Diretor Executivo saltou sobre uma espécie de prancha encostada ao lado do corredor.
Nick nem tinha notado aquela prancha antes, já que parecia irrelevante.
Logo depois, rodinhas engraçadas surgiram da prancha e se conectaram a um trilho minúsculo no chão.
Então, a prancha disparou para frente com velocidade absurda.
— WHEEEEE! — gritou o Diretor Executivo.
Nick viu alguns funcionários olhando para ele.
Alguns pareciam envergonhados, mas outros olhavam para o Diretor Executivo que passava com inveja.
Infelizmente, apenas Adultos e Pais podiam andar na Prancha Divertida.
Adolescentes, Crianças e Bebês tinham que caminhar.
O CEZ silenciosamente pegou outra prancha, subiu nela e também desceu o corredor.
— Wheee…
Seu grito não foi nem de longe tão entusiasmado quanto o do Diretor Executivo, mas Nick pôde perceber que o CEZ genuinamente se divertia um pouco enquanto andava na Prancha Divertida.
Nick flutuava atrás deles, fazendo o possível para reprimir seu ódio e raiva.
Ele odiava profundamente aquela empresa.
Tudo que faziam ia contra sua personalidade.
Nada daquela baboseira de felicidade era genuíno.
Era ainda pior por causa do contraste com o lado de fora.
Na cidade, as pessoas pobres sobreviviam colhendo larvas dos cadáveres de crianças famintas, enquanto ali dentro todos tinham que sorrir e gritar frases idiotas.
Era importante lembrar que era aquela empresa que produzia o chocolate, e o chocolate era o motivo de tudo estar tão desesperador lá fora.
“Essa empresa é uma carcaça podre usando uma máscara sorridente.”
Nick continuou seguindo os dois.
Depois de um tempo, chegaram diante de um elevador irregular. Uma mão boba e torta, usando uma luva, apontava para um número.
O Diretor Executivo apertou um botão enorme, e um som de pum saiu da parede.
O Diretor Executivo deu uma risadinha, e a mão começou a percorrer os números de tamanhos desiguais.
Aquele era o Elevador de Endorfina.
Os dois entraram e subiram até um dos andares mais altos.
Assim que o elevador se abriu, Nick viu o corredor mais ridículo que já tinha presenciado.
Tudo estava coberto por objetos que pareciam doces derretidos.
Uma das assistentes de antes estava sentada a uma mesa ao lado de uma grande porta, escrevendo algo em uma folha de papel.
— Bem-vindos de volta, Papais! — ela gritou com um sorriso brilhante, olhando para os dois líderes.
— Obrigadiiiiiinho, Docinho! — respondeu o Diretor Executivo.
O CEZ disse a mesma coisa, mas bem mais baixo que o Diretor Executivo.
Um momento depois, os dois abriram a grande porta e passaram por ela.
A porta se fechou atrás deles e, quase imediatamente, toda a vibração mudou.
Os sorrisos em seus rostos desapareceram.
O Diretor Executivo agora parecia sério e irritado, enquanto o CEZ parecia estressado e exausto.
O corredor também era o completo oposto do anterior.
Aquele era completamente cinza, e tudo era uniforme e simétrico.
— Você precisa trabalhar sua atuação — disse o Diretor Executivo com voz fria. — Não está convencendo ninguém.
— Eu sei, desculpa. Tô fazendo o meu melhor — respondeu o CEZ com outro suspiro.
Então, os dois caminharam em silêncio até uma das salas de reunião naquele andar.
Depois de entrarem, sentaram-se e pegaram uma folha de papel que já estava sobre a mesa grande.
A atmosfera absurdamente doce havia desaparecido por completo, substituída por um clima de corporativismo frio e eficiente.
Nick também estava na sala de reunião e, aos poucos, conseguiu se acalmar.
Percorrer o prédio da empresa tinha sido muito mais desgastante mentalmente do que imaginava.
Nas horas seguintes, os dois líderes discutiram vários números.
A maior parte do que diziam não tinha importância para Nick.
Depois de um tempo, um terceiro homem apareceu.
Os dois o cumprimentaram casualmente, e os três conversaram sobre mais alguns assuntos.
O novo homem parecia bastante sério, mas assim que se juntou à conversa, o tema mudou para a cultura corporativa.
Aparentemente, esse sujeito era o responsável por projetar e impor a cultura da empresa, além de cuidar das contratações e demissões.
O Diretor Executivo mencionou Jeanny novamente e mandou o terceiro cuidar disso.
O homem apenas assentiu em silêncio, e depois de mais alguns minutos de conversa, foi embora.
“Isso pode demorar”, pensou Nick, enquanto continuava ouvindo coisas irrelevantes.
Bem, irrelevantes para ele, mas não para a empresa.
Nick só queria saber quem era o financiador deles.
“Só preciso esperar até algo acontecer.”
“Em algum momento, algum Extrator ou Fabricante vai tentar fazer alguma coisa, e eventualmente, eles vão falar sobre quem os apoia.”
“Por enquanto, é só esperar mais um pouco.”