— Espera, o quê? — disse um cara vestindo o uniforme da Caixa Vertigem, olhando para outro sujeito no escritório.
— Por que é tão difícil me entender?! — gritou o outro, furioso. — Eu disse que devíamos entrar numa batalha total contra a Abismo em Espiral agora mesmo! Vamos simplesmente ignorar toda essa tramóia idiota!
O primeiro e um terceiro homem olharam completamente chocados para o segundo.
— Você tá maluco, Alvin?! — gritou o primeiro. — A gente não pode simplesmente lutar com eles! Qual é o seu problema?
Alvin ficou surpreso, e os outros dois puderam ver que o comentário o havia magoado profundamente, o que os deixou ainda mais confusos.
— Eu não tô maluco, Martin — disse Alvin. — Você não precisava falar assim. Podia simplesmente dizer que não concorda com a minha ideia. Você é o Diretor Executivo. É você quem decide o que a gente faz, de qualquer forma. Não tem motivo pra ser tão agressivo.
Martin e o terceiro, Sten, se entreolharam.
— Tá tudo bem com você? — perguntou Sten. — Você tem agido de forma estranha nos últimos dias. Aconteceu alguma coisa naquela reunião esquisita?
Alvin franziu as sobrancelhas. — Não vejo como estou agindo de forma estranha, e não, só conversamos normalmente. Tentamos alinhar nossas ideias sobre um conflito, mas, como era de se esperar, não conseguimos.
Os outros dois encararam Alvin com expressões preocupadas.
Esses três eram os líderes da Caixa Vertigem.
Os três eram Heróis Iniciantes.
Martin era o Diretor Executivo.
Sten era o Chefe Extrator Zephyx.
E Alvin era o Diretor financeiro.
— Tem certeza? — perguntou Sten.
— Claro que tenho! — Alvin respondeu, irritado.
— Dá pra parar de gritar por um segundo, Alvin? — pediu Martin.
— O quê? Agora a culpa é minha? — Alvin rebateu, sentindo-se insultado. — Vocês é que ficam me criticando o tempo todo. Agora nem posso me defender?
— Ninguém tá te atacando! — disse Sten, incomodado. — A gente só tá conversando normalmente.
— Assim como eu! — Alvin gritou. — Eu também só tô conversando normalmente!
— Chega! — gritou Martin, antes de inspirar fundo.
— Alvin — disse Martin lentamente, o que fez Alvin estremecer desconfortável. — Acho que você tá um pouco estressado com esse conflito. Acho que seria melhor pra todos nós se você tirasse uns dias de folga. A gente vai cuidar de tudo.
Alvin parecia prestes a explodir de novo, mas apenas respirou fundo.
— Talvez você tenha razão. Talvez eu tenha levantado a voz um pouco demais — disse. — Vou lidar com algumas finanças nos próximos dias antes de voltar a focar no conflito.
Os outros dois assentiram.
Depois de um tempo, Alvin saiu da sala de reuniões, e os dois restantes se entreolharam.
O que tinha de errado com ele?
Enquanto isso, a alguns quilômetros dali.
— Nergel, o que você acha disso? — perguntou um cara usando o uniforme da Abismo em Espiral.
— Hm — resmungou Nergel, entediado. — Parece arriscado demais.
Silêncio.
— Eeee? — disse o primeiro cara. — E por que seria?
— Nossos Extratores podem morrer — respondeu Nergel casualmente.
— É, eu sei — disse um terceiro sujeito, incomodado. — Isso sempre pode acontecer numa emboscada. Mas, como já foi explicado, as chances de a emboscada falhar são, no máximo, 30%. Não vejo como isso é arriscado.
— Então vai lá e faz, Thor — disse Nergel com um suspiro irritado.
Os outros dois franziram o cenho.
— Nergel, dá pra levar isso a sério, por favor? — perguntou Karl, o Diretor Executivo da Abismo em Espiral. — Você tá respondendo com evasivas e frases curtas a reunião inteira.
— Eu tô levando a sério — respondeu Nergel com um revirar de olhos. — Só não vejo por que correr esse risco. Eu não apostaria minha vida com 70%. É desnecessário.
— A gente não tá apostando a vida — respondeu Thor, o Chefe Extrator Zephyx da Abismo em Espiral. — Se fosse a sobrevivência da empresa, sim, 70% seria muito baixo. Mas o pior que pode acontecer é dois Veteranos morrerem.
— Ok — respondeu Nergel.
Silêncio.
Thor e Karl se entreolharam antes de olharem novamente para Nergel.
— Só isso? — perguntou Karl.
— É — respondeu Nergel.
Karl suspirou.
— Nergel, a gente te ofendeu de alguma forma? — perguntou.
— Não — respondeu Nergel.
Silêncio.
— Maaaas? — disse Thor.
— Mas o quê? — perguntou Nergel.
— Você não ia dizer ‘mas’? — perguntou Thor.
— Não, não ia — respondeu Nergel.
Silêncio.
— Ok, o que tá pegando, Nergel? — perguntou Karl. — Você tá agindo diferente. O que tá passando pela sua cabeça? Qual o problema?
— Nenhum — respondeu Nergel com um dar de ombros.
— Isso é por causa da reunião da semana passada? — perguntou Karl. — Você tem agido estranho nos últimos dias.
Nergel deu de ombros. — Não, tá tudo bem. Só conversamos sobre um conflito, mas não conseguimos entrar em acordo. Nada demais aconteceu.
— Então o que tá rolando com você? — perguntou Thor.
— Como assim? — perguntou Nergel.
— Isso! — gritou Thor. — Você mal fala alguma coisa. Fica dando de ombros como se nada importasse. Não mostra nem um pingo de emoção. Tá agindo como se não ligasse mais pra nada.
Nergel deu de ombros. — Não faço ideia do que você tá falando. Pra mim, tá tudo como sempre.
— Isso é algum tipo de jogo? — perguntou Karl, irritado. — Você obviamente tá agindo diferente.
— Como assim? — perguntou Nergel em um tom entediado.
Karl respirou fundo.
— Nergel, por favor, saia da sala — disse Karl. — Não sei o que está acontecendo com você, mas não conseguimos fazer progresso de verdade quando um dos nossos mais fortes está agindo assim.
— Por favor, saia da sala e reflita sobre sua conduta hoje. Estou aberto a conversar depois, de homem pra homem.
Nergel revirou os olhos. — Claro — respondeu, levemente incomodado.
Então, caminhou até a porta da sala de reuniões. — Até mais — disse com um aceno antes de sair.
Depois que ele saiu, os outros dois se entreolharam com expressões fechadas.
Parecia que ambas as Fabricantes tinham problemas com um de seus líderes.
Por sorte, por causa do conflito entre elas, nenhuma sabia dos problemas do outro lado.
Cerca de uma semana depois, as duas Fabricantes receberam uma mensagem importante.
A Governadora queria conversar com os Diretores Executivos sobre a definição de mais leis relacionadas ao conflito.
Eles ainda poderiam se matar, mas ela queria minimizar os danos causados à população em geral.
Apenas os Diretores Executivos tinham permissão para comparecer, para manter as chances de uma luta repentina no mínimo.
Afinal, se estivessem apenas os dois Diretores Executivos, a Governadora teria vantagem significativa na situação, já que era mais forte do que qualquer um deles.
Um dia depois, os dois Diretores Executivos se encontraram em frente à sede da cidade.
— Ah, que bom te ver de novo, Martin — disse Karl com um sorriso, estendendo a mão para seu inimigo.
— Ora, quanto tempo, Karl! — respondeu Martin com uma risada, apertando a mão de Karl.
Mesmo tentando matar um ao outro, pareciam velhos amigos naquele momento.
— Por que não entramos? — perguntou Martin, gesticulando para o prédio.
— Claro — respondeu Karl com um sorriso.
Então, os dois entraram no prédio enquanto trocavam algumas palavras triviais.
A Governadora já os esperava no saguão principal e olhou para os dois.
— Karl, Martin — cumprimentou ela.
— Serna — responderam com um aceno de cabeça.
Serna, a Governadora, gesticulou em direção às escadas, e os três subiram até o sétimo andar do prédio.
Serna parou diante de um enorme portão, e sua Barreira foi ativada.
No momento seguinte, o portão começou a se abrir lentamente, revelando o interior da sala.
— Esse material é bem caro — comentou Karl, olhando para o material negro-abissal que compunha a sala.
— Esta é nossa nova sala de reuniões para encontros sensíveis — explicou Serna. — A sala é completamente isolada, como uma Unidade de Contenção, e é feita de um material capaz até de conter um Demônio. Só uso essa sala para reuniões extremamente importantes.
Os dois Diretores Executivos examinaram a sala atentamente.
De fato, era completamente isolada.
Eventualmente, os três entraram, e o portão começou a se fechar lentamente.
BANG!
O portão se fechou, e os três ficaram sozinhos na sala.
— Muito bem então — disse Serna. — Vamos começar?
E então…
Ding!
Todas as luzes se apagaram!
Karl e Martin entraram em pânico imediatamente e sacaram suas armas.
BANG!
Um tiro foi disparado, e a sala foi iluminada por apenas um instante.
Karl viu Serna e Martin avançando em sua direção.
Martin viu Serna e Karl avançando em sua direção.
Serna viu Martin e Karl apontando um para o outro.
BANG! BANG! BANG!
Os dois começaram a lutar imediatamente, enquanto Serna recuava.
Ao mesmo tempo, uma névoa negra surgiu atrás de Karl.
A névoa negra tomou a forma de um humano com uma lâmina.
CRK!
A lâmina rompeu a Barreira de Karl.
Ao mesmo tempo, uma figura de três cabeças apareceu atrás de Martin.
As três cabeças tinham cabelos longos e negros, e expressões diferentes.
A da esquerda chorava.
A da direita ria.
A do meio parecia desinteressada.
Em seguida, seis braços surgiram da figura, e começaram a arranhar a Barreira à sua frente com uma velocidade aterradora.
BANG!
A Barreira de Martin também foi rompida.
Ambos entraram em pânico, mas sem nenhum Zephyx restante, a influência do Pesadelo os dominou completamente.
Nick controlou a influência do Pesadelo e os fez perder a consciência.
Ao mesmo tempo, Nick também protegia Serna da influência do Pesadelo.
— Faça — disse Nick à figura de três cabeças.
A figura de três cabeças se posicionou entre os dois inconscientes e começou a mover os braços de forma mística.
Um momento depois, um gás colorido saiu de Karl e entrou no corpo de Martin.
A figura começou a chorar e rir ao mesmo tempo.
— Mais alimento para o Senhor! — gritou.