Nick levou um tempo para aceitar o que estava vendo.
Havia um espaço livre considerável à sua frente, com a máquina caótica na parte inferior.
Era como se o chão daquele espaço amplo fosse feito de partes móveis de insetos.
Enquanto isso, no centro do espaço aberto, havia uma placa branca de dez metros de largura. Era difícil para Nick dizer de que tipo de material aquela placa era feita.
A parte mais surpreendente era que a grande placa estava iluminada por um feixe de luz branca extremamente brilhante, que vinha do centro do teto.
E no teto…
“O Sol?!”, pensou Nick em choque ao olhar para cima.
Nick conseguia ver o Sol!
Mas como?!
Apesar de estar perto do teto, ainda deveria haver centenas de metros de terra e pedra acima daquele ponto.
Além disso, por que a luz era branca e não laranja escura?
Mais ainda, o próprio Sol também parecia diferente do normal.
Aquele Sol parecia menor.
Além disso, não estava diretamente acima de Nick, mas sim acima da abertura. Normalmente, o Sol sempre estava acima da pessoa que o percebia, o que significaria que Nick não deveria conseguir vê-lo, já que não estava diretamente sob a abertura no teto.
Por fim, o Sol era branco em vez de laranja escuro!
E era tão brilhante!
Ao olhar para o Sol, Nick sentiu como se estivesse encarando a Luz Cegante novamente.
Aquela luz parecia ser brilhante o bastante para danificar a visão de uma pessoa comum se ela olhasse por tempo suficiente!
Naquele momento, Nick sentiu como se algo dentro de sua mente tivesse se partido, e partes de seu corpo começaram a se transformar em pó preto.
Nick imediatamente se virou e disparou de volta para as profundezas escuras da máquina.
Depois de um tempo, o pó preto desapareceu, e o corpo de Nick começou a se recuperar.
“O que foi aquilo?”, pensou Nick. “Tenho tantas perguntas!”
“Por que o Sol estava tão diferente?”
“Por que meu corpo estava se transformando em Prephyx?”
“O que era aquela luz?”
“Por que o Sol não estava acima de mim?”
“O que está acontecendo?!”
A única vez em que Nick tinha visto qualquer mudança no Sol havia sido quando o novo Campeão da Luz surgiu.
Todas as outras vezes, o Sol sempre tinha sido consistentemente o mesmo.
Mas agora, o Sol parecia muito diferente.
A sensação era tão diferente.
Na mente de Nick, a sensação do Sol normal era calma, sombria e constante.
Mas a sensação daquele Sol brilhante havia sido agressiva, dominante e caótica.
Parecia quase como se o Sol odiasse Nick e quisesse matá-lo.
No entanto, isso não podia ser verdade.
Se o Sol realmente quisesse matar Nick, ele já estaria morto.
Ele não teria como resistir a algo tão poderoso quanto o Sol.
“É a luz?”, pensou Nick. “É a luz que atacou meu corpo?”
“Não acho”, pensou Nick. “Já me sentia desconfortável e fraco antes de ver a luz. O efeito degenerativo não aconteceu quando vi a luz. Ele só foi intensificado.”
“No entanto, a luz provavelmente está relacionada à minha condição.”
“Tem que haver uma força secundária que causa dano ao meu corpo ao redor da luz.”
“Esse não é um lugar para Espectros.”
Os filtros tinham armadilhas de Espectros de Força.
A máquina usava um líquido que transformava Espectros em pó branco assim que entrava em contato com eles.
A parte superior da máquina estava coberta por algum tipo de força que transformava Espectros em Prephyx.
No entanto, tirando a Armadilha de Espectro, todas essas outras coisas não pareciam ter sido projetadas especificamente para destruir Espectros. Caso contrário, Nick já estaria morto.
Essas coisas simplesmente existiam, e isso era o mais aterrorizante.
Apenas por existirem, essas coisas colocavam a vida de Nick em risco.
Era como se Nick fosse um pássaro de papel em uma casa em chamas.
“Essa força é o combustível do Prephyx?”, pensou Nick. “Não acho que haja outro lugar na máquina por onde o combustível para a conversão em Prephyx possa ser fornecido. A luz branca parece ser aquilo que, eventualmente, será transformado em Prephyx pela máquina.”
“Talvez a luz branca seja apenas um indicador visível da força. Afinal, eu já me sentia fraco antes mesmo de ver a luz, o que significa que a força já estava presente.”
“Tem que ser o Sol”, pensou Nick.
“O Sol é quem está fornecendo essa força misteriosa à máquina, que produz o Prephyx.”
A mente de Nick estava a mil.
“O Sol não é apenas o Espectro mais poderoso.”
“O Sol pode ser a razão pela qual os Espectros existem em primeiro lugar!”
“O Sol fornece combustível à máquina para produzir Prephyx.”
“Se o Sol for destruído, a máquina deixará de receber combustível, o que significa que a produção interminável de Espectros vai parar!”
“É assim que o Sol causa sofrimento à humanidade?”
“O Sol é um Espectro, e Espectros se tornam mais poderosos ao causar sofrimento à humanidade.”
“Então, se o Sol cria Espectros que se tornam mais poderosos ao causar sofrimento à humanidade, o Sol seria o responsável por causar sofrimento à humanidade.”
“Todo Espectro representa um aspecto do sofrimento humano, mas nenhum deles, exceto eu, se torna mais poderoso apenas por causar sofrimento.”
“E se o Sol for como eu?”
“E se o Sol se tornar mais poderoso ao causar sofrimento em geral, e estiver usando os Espectros para causar esse sofrimento?”
Nick teve uma ideia.
“Isso não significa que todo Espectro é tecnicamente um lacaio do Sol?”
“Mas então, o Sol é realmente um Espectro?”
“E se o Sol for outra coisa?”
Nick refletiu sobre isso por um tempo.
“Não tenho informações suficientes”, pensou Nick com a testa franzida. “É possível, mas também é possível que eu esteja errado. Isso também pode ser algum tipo de Meta-Espectro ou apenas um Espectro extremamente poderoso.”
Nick permaneceu em silêncio por um tempo enquanto pensava em tudo o que havia visto naquela máquina.
O líquido se comportava normalmente, mas transformava Nick em pó branco.
A arquitetura estranha.
O fato de que o Prephyx era produzido ali.
O Sol parecia diferente.
A força que danificava Nick apenas ao tocá-lo.
Havia muitas pistas, mas Nick não conseguia conectá-las.
Naquele momento, uma imagem de um passado distante surgiu na mente de Nick.
Cerca de cinquenta anos atrás, Nick viu algo que não compreendia na época.
Na Cidade Carmesim, Nick havia encontrado uma ruína dos Antigos, e lá, ele vira diagramas em diferentes monitores em uma espécie de sala de controle.
Ele quase havia se esquecido daquela imagem.
Uma esfera cercada por um círculo.
Uma segunda esfera menor ao lado do círculo redondo.
Algum texto que piscava continuamente na tela.
Nick agora conhecia o idioma dos Antigos, mas não se lembrava de como era o texto.
Na verdade, aquilo era tudo o que Nick lembrava sobre os visores.
Parecia que a maior parte das memórias de Nick a respeito daquela ruína havia sido perdida na purgação de memória durante seu Consumo.
Nick segurou a cabeça com o braço direito enquanto cerrava os dentes em frustração.
“Por que eu tive que perder justamente essa parte da memória?!”
Se havia alguém que poderia dizer de onde os Espectros vinham, seriam os Antigos.
“Droga!”, pensou Nick com raiva enquanto sacudia a cabeça. “Não adianta! Sinto que tem algo importante lá, mas está tudo embaçado demais!”
A essa altura, Nick havia chegado ao filtro por onde havia entrado, e olhou para a máquina por um tempo.
Ela continuava funcionando.
Nada havia mudado.
Nick olhou para a membrana de onde havia tirado o líquido.
Ela havia se regenerado.
“Isso com certeza é uma vantagem das máquinas orgânicas”, pensou Nick. “Elas conseguem se reparar sozinhas.”
Então, ele olhou para o líquido no chão.
Estava opaco.
“Parece que esgotou toda a sua energia.”
Nick se aproximou lentamente do líquido e se agachou.
Então, tocou-o com muito cuidado.
…
Nada…
Nick observou o líquido enquanto o movia entre dois dedos.
Era bastante viscoso, mas essa era a única característica digna de nota.
Parecia e se sentia apenas como água mais viscosa.
“Consigo tocar agora sem nenhum problema. Isso prova que não era o líquido em si que danificava meu corpo, mas sim a energia armazenada nele.”
“A energia desaparece em poucos minutos, e não consigo dizer para onde vai. Vi a iluminação, mas não senti nenhuma energia entrando no ar ao redor.”
“É como se a energia simplesmente desaparecesse.”
Nick olhou de volta para a máquina.
Aquela máquina levantava tantas perguntas e oferecia quase nenhuma resposta.
No entanto, Nick tinha certeza de uma coisa.
Aquela máquina era uma pista importante para o segredo mais importante deste mundo.
A existência dos Espectros.
A origem do Prephyx.
O propósito de tudo isso.
Por que o Sol criou o Prephyx?
Quem construiu a máquina?
Por que o Prephyx se transforma em Espectros?
O que era essa força estranha?
“Não consigo aprender mais nada aqui dentro”, pensou Nick.
Então, olhou para o filtro.
“Preciso voltar para a Égide e relatar ao Técnico.”
Nick franziu a testa.
“Só espero que o Manto tenha morrido em uma das Armadilhas de Espectros de Força.”