Orgulho olhou para a parede por um bom tempo.
À primeira vista, parecia feita de metal ou algum tipo de quitina, mas, ao observar de perto, percebia-se que o material era estranho.
— Não há buracos — Orgulho transmitiu ao Caído.
— Os buracos só aparecem quando eu toco na parede — respondeu o Caído.
— Consegue entrar? — ela perguntou.
— Consigo alcançar cerca de cinco metros, mas esse é o meu limite — respondeu o Caído.
— Há algo diferente nessa profundidade? — perguntou Orgulho.
— A atmosfera fica mais rarefeita, e a gravidade parece diminuir.
— A gravidade está diminuindo? — perguntou Orgulho.
— Acredito que sim — respondeu o Caído.
Orgulho franziu a testa enquanto observava a parede.
Naturalmente, Nick não ouvia nenhuma parte da conversa entre eles.
— Quão resistente é? — Orgulho perguntou.
— Não consigo danificá-la — respondeu o Caído.
Os olhos de Orgulho se estreitaram.
Nem mesmo um de seus servos mais poderosos conseguia danificar aquela parede?
Isso significava que ela era tão resistente quanto a sede da Égide, o que era insano.
Essa parede só poderia ser danificada por Escudos ou Adversários.
— Está viva? — Orgulho perguntou.
— Não, nenhum sinal de vida — respondeu o Caído.
— Então, deve ter sido feita pelos humanos — concluiu Orgulho. — Humanos são os únicos seres que constroem coisas tão grandes e tão resistentes.
O Caído não respondeu.
Era apenas um servo, e só falava quando sua mestra ordenava.
Aprendera, ao longo dos séculos, que o melhor era só falar com Orgulho quando ela queria ouvir algo.
Falar sem ser solicitado frequentemente era interpretado como uma tentativa de se colocar em pé de igualdade com ela.
E isso muito rapidamente levava a receber tarefas mais perigosas.
Orgulho exigia exibições constantes de respeito.
— Quero que procure por uma entrada de verdade — ordenou Orgulho. — Se encontrar uma, chame-me novamente.
— Sim — respondeu o Caído.
Então, a conexão foi encerrada.
Um momento depois, o Caído olhou para Nick.
Orgulho não dissera o que ele deveria fazer com Nick.
— Espere aqui — ordenou o Caído.
Como Nick não podia ter certeza do que haviam dito, ele não sabia o que o Caído estava prestes a fazer.
— Ok — respondeu Nick.
Esperar parecia ser a melhor opção por enquanto.
O Caído imediatamente se enterrou no chão.
E então, Nick esperou.
E esperou.
E esperou.
Finalmente, após mais de dez minutos, o Caído reapareceu diante de Nick.
— O que há no buraco? — perguntou ele.
Nick apenas repetiu o que havia dito para Orgulho antes.
Enquanto Nick explicava o que vira dentro do buraco, o Caído enfiava alguns de seus braços minúsculos nos buracos.
Infelizmente, não conseguia ir muito longe.
No entanto, as coisas que Nick dizia pareciam fazer sentido.
O Caído não tinha olhos, mas podia perceber o ambiente ao redor com um sentido de tato extremamente sensível.
Quando esticava parte do corpo para dentro do buraco, conseguia sentir o fim do buraco a apenas alguns metros de distância.
Normalmente, não acharia isso estranho e nem pensaria em verificar duas vezes se havia realmente uma parede ali, mas com as informações de Nick, pôde perceber que a posição da parede não fazia sentido espacial.
Era como se o fim do buraco recuasse levemente conforme o braço avançava mais fundo.
Junto à estranha ilusão do lado de fora da parede, que ocultava todos os buracos, o Caído pôde perceber que havia algo muito estranho ali.
— Entre no buraco — ordenou o Caído.
— Buraco perigoso — respondeu Nick.
O Caído aumentou a pressão sobre Nick.
BANG!
Uma das garras do Caído atravessou o corpo enevoado de Nick, dispersando-o pela caverna.
— Entre no buraco ou eu vou te matar — transmitiu o Caído.
A névoa se reuniu novamente.
— Ok — respondeu Nick enquanto se movia lentamente para um dos buracos.
“Então, ele não tem uma habilidade que suprime Espectros de Força”, pensou Nick enquanto entrava no buraco.
Essa constatação acalmou Nick consideravelmente.
Naturalmente, estar na presença de um Caído ainda era um perigo imenso para Nick, mas ele havia apostado no fato de que descobrir qualquer informação sobre aquele buraco era simplesmente difícil demais.
Quando Nick inspecionou o salão com a máquina, não viu nenhum tipo de entrada.
Nem mesmo o topo parecia fazer sentido, já que ainda havia centenas de metros de rocha e terra acima.
Isso significava que aquele lugar provavelmente não tinha uma entrada tradicional.
Se os construtores daquilo queriam acessar a máquina, provavelmente entravam da mesma forma que a luz do Sol entrava.
Provavelmente era um portal ou algo do tipo.
Além disso, a força destrutiva da energia estranha perto do topo da máquina já teria vazado para os arredores se não estivesse isolada, e alguém teria notado.
O fato de o Caído ter retornado para interrogar Nick significava que ele não havia obtido nenhuma informação significativa.
Isso queria dizer que Nick era o único que conseguia extrair informações daquele buraco.
Bem, talvez não fosse o único, mas era o mais próximo.
Podia haver alguns Espectros Físicos muito pequenos, mas eles teriam que chegar até aquele lugar primeiro.
Portanto, Nick era a melhor opção para investigar aquele buraco.
Foi por isso que ele não fugiu imediatamente depois que o Caído saiu para procurar uma entrada.
O fato de o Caído não ter um ataque que pudesse atingir adequadamente um Espectro de Força o tornava ainda menos perigoso para Nick.
Esse Caído não chegava nem perto do Manto em termos de ameaça.
A única coisa que ele conseguia fazer era dispersar o corpo de Nick.
Claro, ter seu corpo dispersado consumia Zephyx, e se o Caído impedisse Nick de se reunir ao atacar constantemente cada partícula de névoa, poderia, de fato, matá-lo.
No entanto, isso levaria tempo e só funcionaria se Nick tentasse se reunir como uma nuvem, como um Espectro de Força comum.
Mas, obviamente, ele não faria isso.
Apenas se dispersaria em direções diferentes, forçando o Caído a escolher, e ao contrário do Manto, o Caído não podia destruir a vontade de Nick em cada uma das nuvens.
Isso significava que ele não saberia qual era a verdadeira até que a verdadeira estivesse a quilômetros de distância, com tempo suficiente para desaparecer ou recuperar Zephyx.
Nick estava relativamente seguro.
A cerca de cinco metros dentro do buraco, Nick olhou para trás, onde o Caído bloqueava a entrada.
— Estou dentro — transmitiu Nick.
— Vá mais fundo e relate o que vê — ordenou o Caído.
Nick obedeceu, e o Caído o viu ultrapassar o ‘fim do buraco’.
Alguns segundos depois, Nick voltou.
— Parede em todo lugar — relatou Nick.
O Caído continuou interrogando Nick, e ele apenas repetia que o buraco era confuso.
Nick foi enviado para dentro do buraco repetidas vezes.
Após quase 30 minutos, ele saiu novamente.
O buraco continuava tão confuso quanto antes.
Dessa vez, o Caído contatou Orgulho e contou suas descobertas.
— Isso parece uma armadilha antiga para Espectros de Força — disse Orgulho. — Provavelmente foi construída por alguma das civilizações destruídas.
Orgulho olhou para Nick. — A única razão para ela não ter funcionado com essa nuvem é que ela é estúpida, mas não tão estúpida quanto um Espectro de Força normal.
— Não há nenhuma maneira de descobrir mais sobre essa construção verde? — perguntou Orgulho.
— Tentei tudo que estava ao meu alcance — respondeu o Caído.
Orgulho torceu o rosto em desgosto.
Inútil!
Então, Orgulho lançou um olhar para a nuvem.
— Mate-o — transmitiu.
— Sinto muito, mas acho que não consigo — respondeu o Caído. — Ele sabe que está seguro comigo ao entrar no buraco, e não consigo matá-lo rápido o suficiente. Também parece estar mais cauteloso comigo. Não acho que vá expor seu Núcleo.
Orgulho olhou para o Caído com desprezo.
— Está me dizendo que não consegue matar um Espectro dois níveis abaixo de você? — perguntou ela.
— Sim — respondeu o Caído.
Orgulho ficou em silêncio por um tempo enquanto observava a nuvem.
Ela não tinha nenhum servo poderoso o suficiente para matar aquela nuvem de névoa.
Enquanto a observava, pesava suas opções.
E se não conseguisse matá-la?
Que dano isso causaria a ela?
Ela já havia registrado a nuvem como um de seus servos, o que significava que nenhum Corruptor a aceitaria.
A nuvem também não podia se comunicar com humanos e, mesmo que pudesse, mal sabia algo sobre Orgulho.
Simplesmente deixá-la ir não causaria nenhum dano real.
Aquela coisa só continuaria vagando por aí, matando pessoas.
No entanto, Orgulho não estava nem um pouco satisfeita com essa ideia.
Aquela nuvem idiota e fraca havia causado mais prejuízo a ela do que qualquer outro servo até hoje.
E nem sequer era um Demônio!
E agora, ela estava impotente para colocá-la em seu devido lugar?!
O desrespeito daquela coisa!
Ela se recusava a aceitar que aquela criatura poderia deixá-la, uma das Sete Corruptoras, impotente!
— Eu mesma vou lidar com a nuvem — transmitiu Orgulho ao Caído antes de encerrar a conexão.