Est, Ian e Isaac seguiam em direção à Divisão de Classe Marcial. Não eram apenas eles — vários outros das Divisões de Magia e de Espíritos também caminhavam na direção da Casa dos Heróis.
Todos os anos, os nobres pertencentes a essas Divisões procuravam subordinados capazes para recrutar sob sua proteção. Isso já era uma tradição na Academia Real, e os instrutores permitiam essa prática.
A maioria dos que pertenciam à Classe Marcial era formada por plebeus. Alguns deles desejavam ser empregados por nobres para poder levar uma vida melhor. Sendo assim, a Academia Real não impedia esse tipo de recrutamento.
A única exigência era que aqueles recrutados da Classe Marcial fossem bem tratados por seus empregadores.
“Não é a Ella ali?” Isaac perguntou, apontando para uma Cabra Angoriana ao lado de um garoto delicado de cabelos cinza-prateados.
“É mesmo a Ella,” Est concordou. “Vamos até lá.”
Os três garotos se aproximaram da segunda mãe de William com expressões curiosas. Ella notou a chegada deles e soltou um balido suave em saudação.
“Olá, você está cuidando da Ella?” Est perguntou ao garoto de cabelos grisalhos ao lado da cabra. “Somos amigos do William e viemos ver se ele participou da competição pelo cargo de Monitor-Chefe. Meu nome é Est, Est Wells Newmont.”
Est estendeu a mão para um aperto de mão. O garoto de cabelos prateados olhou para a mão estendida e, com certa relutância, levantou a sua.
“Kenneth,” ele se apresentou. “Kenneth Xin Ashleigh. Sou colega de quarto do William.”
“Prazer em conhecê-lo.” Est assentiu com a cabeça e encerrou o cumprimento. Em seguida, passou a avaliar o garoto à sua frente.
“Por favor, não fique me encarando assim,” Kenneth pediu, dando um passo para trás. “Fico desconfortável quando as pessoas me cercam ou me encaram por muito tempo.”
“Desculpe se te ofendi.” Est se desculpou. “Só fiquei curioso por você ser colega de quarto do William.”
“E-eu não fiquei ofendido.” Kenneth desviou o olhar. “É só que… essa foi a segunda vez que alguém tomou a iniciativa de apertar minha mão. A primeira foi com o William.”
O clima ficou imediatamente constrangedor, pois Est não sabia como continuar a conversa. No fim, ele decidiu olhar para o cristal de exibição à sua frente para ver o que o garoto ruivo estava fazendo.
“O que ele está fazendo?” Ian perguntou, inclinando a cabeça, confuso. “Por que ele está sentado num tronco assobiando com uma folha ao invés de juntar pontos? Ele não sabe que precisa acumular pontos pra se tornar Monitor-Chefe?”
“Talvez ele esteja esperando até o último dia para agir?” Isaac sugeriu. “Um dia dentro da Floresta Encantada equivale a oito horas aqui no mundo real. A competição mal começou, então ainda tem tempo de sobra para o William virar o jogo.”
“Mesmo assim, por que ele está com essa cara despreocupada?” Ian franziu a testa. “Dá até vontade de socar a cara dele.”
Est, Kenneth, Isaac: …
“Meeeeeeeh!” Ella abaixou a cabeça e apontou os chifres na direção de Ian.
“F-foi só uma piada! Eu só estava brincando, Ella,” Ian tratou de se explicar rapidamente. Tinha esquecido o quanto Ella era superprotetora com o irritante garoto ruivo.
“Meeeeeh!”
“Ok, não vou mais comentar isso.”
“Meeeh.” Ella ergueu a cabeça e voltou sua atenção para seu filhote.
Ian suspirou aliviado, pois sabia o quão mortais os chifres de Ella poderiam ser numa batalha de verdade.
A Cabra Angoriana havia passado muito tempo com William e sabia exatamente o que ele estava pensando. Embora as quatro crianças ao redor dela não soubessem quais eram os planos do garoto, Ella percebeu no instante em que William se sentou no tronco e começou a assobiar com uma folha.
Dez minutos depois, os “quatro garotos” notaram que um único cervo se aproximava da localização de William. Ele cheirava o ar, como se tentasse detectar algum perigo nas redondezas. Após confirmar que não havia nenhuma ameaça por perto, caminhou calmamente na direção do garoto sentado no tronco.
Esse cervo era um dos Cervos de Cauda Branca que habitavam a Floresta Encantada. Quando estava a apenas quatro metros de distância de William, começou a emitir sons semelhantes a miados, como se falasse com ele em sua própria linguagem.
Para surpresa das crianças, William respondeu com os mesmos sons que o cervo fazia. Eles assistiram, maravilhados, enquanto os dois conversavam entre si.
William conversou com o cervo por dois minutos antes de se levantar do tronco em que estava sentado. O Cervo de Cauda Branca então começou a caminhar para o lado Leste da Floresta Encantada, e William o seguiu logo atrás.
Meia hora depois de caminhada, William chegou a uma clareira cercada por gramados exuberantes ao lado de um rio. Havia centenas de Cervos de Cauda Branca pastando na grama, e todos levantaram a cabeça ao sentir a presença do novo visitante.
Os olhos de William se fixaram em um cervo branco gigante no centro do rebanho, que o observava com uma expressão serena. O cervo gigante tinha mais de quatro metros de altura, e seus majestosos chifres brilhavam como lâminas afiadas sob a luz do sol, destacando ainda mais sua imponência real.
O garoto ruivo então usou sua habilidade de avaliação para entender melhor aquela criatura orgulhosa, que era uma Besta de Nível Supremo dentro da Floresta Encantada.
< Espira >
– Criatura Nobre
– Lutador de Poder Ancestral
– Nível de Ameaça: C (Alto)
– Pode ser adicionado ao rebanho.
– Taxa de Sucesso: 20%
– O nobre protetor dos Cervos de Cauda Branca. Esta criatura é gentil por natureza. No entanto, quando algo ou alguém ameaça a segurança de seu rebanho, ela investe com a intenção de matar.
– Possui a habilidade de tornar seus chifres tão afiados quanto lâminas, capazes de cortar qualquer inimigo em seu caminho.
– O Espira possui a habilidade chamada “Guardião Eterno”, que lhe permite dobrar de tamanho e triplicar sua força por um curto período de tempo.
– O Espira também possui a habilidade chamada “Chamada para a Batalha”, que aumenta a força de seu rebanho em 50%.
– Esta criatura não possui fraquezas conhecidas.
‘Como eu suspeitava. É forte’, William pensou ao ler a descrição do Espigão.
O mar de cervos se abriu à medida que o Espira caminhava na direção de William. Os Alfas do rebanho andavam ao lado dele. Embora os níveis de ameaça desses Cervos Alfa fossem apenas Grau D, William não ousava subestimá-los, pois tinham a vantagem dos números.
Mesmo assim, William não estava com medo. Ele não veio ali para lutar. Veio pedir um favor.
‘Fale, qual é o motivo da sua vinda, Pastor?’ disse o Espira com um tom autoritário. Ele estava se comunicando com William por telepatia, e esse ato pegou o garoto ruivo de surpresa.
‘Você consegue falar? E também sabe que eu sou um pastor?’ William perguntou. ‘Como?’
‘Eu não costumo “falar” com os humanos. No entanto, abri uma exceção para você. Quanto à sua outra pergunta, você realmente não sabe, ou só está fingindo que não sabe?’ o Espigão rebateu. Seu tom estava carregado de incredulidade.
‘Você, que foi tocado pelo Deus Guardião Eterno dos Rebanhos, deveria saber o motivo desta conversa. Se não fosse por isso, eu já teria te matado.’ acrescentou de forma firme.
William coçou a cabeça. Ele não tinha ideia de que sua Classe de Trabalho “Pastor” era tão mais profunda do que ele imaginava. Já havia suspeitado disso quando notou que algumas criaturas pertencentes à categoria de rebanho podiam ser adicionadas ao seu próprio grupo.
Depois de ouvir os comentários do Espira, ele passou a acreditar que seu palpite estava certo.
‘Vou perguntar novamente, Pastor’, o Espira abaixou a cabeça e olhou diretamente nos olhos de William. ‘Qual é o seu propósito ao vir aqui?’
William decidiu ser sincero e revelar sua intenção.
‘Eu vim pedir um favor.’
‘Um favor?’
‘Sim. Há algo que preciso lhe pedir, Ó Grande Guardião.’
O Espira fitou William antes de, com relutância, assentir com a cabeça.
‘Fale. Quero saber que tipo de favor você vai me pedir, Pastor.’
William respirou fundo antes de dizer o que estava em sua mente.
‘Peço humildemente que me permita…’