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The Divine Hunter – Capítulo 128

O Romance de um Cavaleiro

Os cavaleiros ficaram em silêncio por um momento, até que o jovem que havia patrulhado com Simon se pronunciou. “Eu costumava ser amigo de Simon, senhor Roy. Conheço ele e a família dele muito bem, então posso te levar lá.”

“Obrigado, então.”

“Salvatore ao seu serviço. Por favor, venha comigo, bruxo.”

***

A residência dos Patrigadin estava localizada na área noroeste da cidade. Nela havia um quintal de tamanho moderado, onde ervas daninhas cresciam e os portões estavam enferrujados. O chão estava cheio de folhas caídas, fazendo com que o local parecesse mais desolado. Conforme andavam ao longo do caminho principal, Roy avistou uma fonte seca no centro do jardim, além de um prédio de três andares atrás dela.

Os muros da construção estavam descoloridos, a tinta se enrolando e restos de hera grudados nela. Havia duas estátuas de pedra em formato de leão em cada lado da porta da frente, ambas com datas esculpidas em suas placas.

‘1240, mês da colheita’

“Essa é a data do estabelecimento dessa mansão.” Salvatore explicou.

Roy olhou ao redor da gigante mansão, clicando sua língua. “Simon viveu nessa mansão sozinho? Nem mesmo contratou um servo? Ele não ficaria solitário?”

“Ele nunca reclamou, ou pelo menos nunca escutamos qualquer reclamação dele. Sua família inteira provavelmente gostava de paz e silêncio.”

Quando eles foram até a porta da frente, Roy olhou para cima e percebeu que havia uma janela no segundo andar deixada entreaberta. Sem nem mesmo pensar, ele levemente se agachou antes de saltar no ar, para que então pudesse alcançá-la.

‘Esses movimentos não são humanos’ Salvatore pensou ao vê-lo subindo a parede como um lagarto. Antes que pudesse seguir o caminho do rapaz, ele repentinamente se lembrou de algo, o que fez com que seu rosto caísse e ficasse parado por um tempo; quando decidiu a segui-lo, saltou para alcançar a sala, ainda que por pouco conseguisse.

A área residencial estava no segundo andar, tendo mais de dez quartos espaçosos, não havia nada além de uma cama neles. Não tinha nem mesmo uma penteadeira, um armário ou um simples acessório à vista. “Eu esperava que o Simon não fosse minimalista, mas…” Assim, Roy fez uma pergunta: “A família dele têm vivido na cidade por décadas, então por que eles ainda são pobres?”

Salvatore suspirou. “Você não deve saber disso, mas… não somos bem pagos, então o dinheiro não é o suficiente para manter essa mansão, e Simon usava uma parte do seu pagamento para ajudar os menos afortunados. Ele era o mais generoso entre todos nós.” Salvatore demostrou um olhar de gratidão em seu rosto. “Isso é vergonhoso, mas eu costumava ter uma vida selvagem. Gastei quase todo o dinheiro da minha família, mas então uma emergência bateu na porta. Se não fosse pelo Simon, não sei como minha família estaria agora.” Ele sorriu. “Lembro que Simon teve que comer um mês de pão preto comigo depois disso. Nem mesmo o mais pobre dos pobres come algo assim. Mal era comestível.”

“Entendo.” Roy estava perplexo. “Mas agora que Simon morreu, e Patrigadin não tem mais nenhum descendente, quem vai herdar esse lugar?”

“Vamos enviar alguém pra Nazair para encontrar algum parente dele para herdar, mas pelo que ouvi, pra esse lugar só resta más notícias.”

‘Bem, é. Já que está perto de Cintra e Sodden. em dois anos, as tropas Nilfgaardianas estabelecerão a base deles lá antes da guerra’, Roy pensou. É claro que essas são más notícias.

***

Roy arrastou a palma aberta sobre a cama e depois rolou nela, para a grande surpresa de Salvatore. “De qualquer forma, por que tem tantas camas aqui?”

“É por causa da família morta dele.” Salvatore respondeu seriamente. “Simon convidou todos uma vez. Ele disse para nós que as salas foram ocupadas pela família dele quando ainda estava viva, e ele as limpava a cada dois dias ou algo assim.”

Roy olhou para Salvatore em silêncio, e então se levantou da cama. “Não acho que vou conseguir alguma coisa aqui. Vamos para o primeiro andar.”

O primeiro andar estava totalmente mobiliado e parecia mais vivo. Roy vagueou por ele sem rumo, tocando em tudo no lugar, e algumas vezes até ‘pisando forte’ no chão, para o espanto de Salvatore.

Roy estava tentando encontrar uma pista, mas não conseguiu nada, enquanto Salvatore, curioso, continuava a segui-lo. Quando chegaram ao escritório, Salvatore começou a ficar nervoso e se aproximou do rapaz. “Esses livros são caros.”

Em resposta ao comentário, ele começou a olhar para a prateleira enquanto passava sua mão através das lombadas dos livros, passando então a olhar atenciosamente para cada expressão de Salvatore.

“Livros são as coisas mais valiosas da coleção de Simon.” Ficando tenso, Salvatore segurou sua bainha com força e se aproximou de Roy, que passava a questionar: “O que é isso?”; se virando de repente, Salvatore rapidamente soltou-a, forçando um sorriso.

“Que livro é esse? ‘O romance de um cavaleiro’? Ele tinha esse tipo de livro em casa? Parece que que ele não era tão sem luxúria quanto parecia. Estranho. As palavras não parecem impressas. Simon escreveu isso sozinho? Vejamos. As páginas estão quase rasgadas. Parece que ele folheou bastante o livro.”

Roy murmurou algo baixinho e voltou a atenção de volta ao livro, olhando-o atentamente. “Todas as páginas estão datadas. Este é um diário feito para parecer um livro.”

Salvatore se acalmou e segurou sua espada novamente. “Por que você não o lê em voz alta? Estou interessado na história também. Vamos ver como o impecável Simon Patrigadin escreveu a história dele.” Roy concordou e abriu o livro. 

“Meu amigo, eu, Simon Patrigadin, já vou ter deixado de existir quando você ler esse livro. Por favor, entregue isso para ela, não importa o quê.”

E então, Roy começou a ler o conteúdo em voz alta. 

“Eu te conheci no mês de brotação, em 1258. Você era tão nobre e digna quanto o mais puro branco da neve. Acredito que o nosso encontro deve ter sido trabalho do destino. Você é o meu amor, minha rosa. Seu sorriso, mais brilhante que toda a primavera por si só; seus olhos, mais vivos do que qualquer coisa que já vi; seus lábios, brilhando mais do que a rosa mais sedutora; você derreteu meu coração congelado como se fosse o próprio sol o atingindo. E assim, tentei encontrar tudo que pude sobre você.”

***

“Isso começou naquele dia. Ele te insultou, te chamou de cadela estéril. Isso quebrou seu coração, e eu vim para te confortar, enquanto você teve pena de mim.” 

Os olhos de Roy se alargaram em choque. “Ei, tem algo estranho aqui.”

Ele puxou algo com o seu dedo indicador e médio. Era uma calcinha de renda carmesim. Uau. Apimentado. O jovem bruxo virou sua cabeça.

“Você parece nervoso, Salvatore. Por que está suando? Algo aconteceu?”

A expressão dele se manteve mudando conforme Roy continuava com o diário. Seu rosto tremia, como se estivesse tendo espasmos, e as veias de sua mão pulavam. Salvatore fechou os olhos e respirou fundo, se mantendo quieto por um momento. Então, com uma voz esganiçada, ele falou: “Estou bem. As patrulhas estão sendo constantes e eu não prego os olhos há dois dias.”

“Por que você não tira um cochilo no segundo andar então?” Roy fez a sugestão por preocupação. “Vou continuar com a investigação.”

“Não. Quero escutar mais. Isso deve estar relacionado ao caso.”

“Tá.” Roy olhou sério para o Salvatore e folheou até as últimas páginas.

“Dezembro de 1260. Você se disfarçou antes de sair do templo. E então, nos escondemos nos arbustos na margem do rio Wigan, continuando com nossa diversão de sempre, mas um pescador nos viu. Para manter nossa vergonha em segredo, eu quebrei o credo mais uma vez. Derramei o sangue de um inocente, mas você me culpou por não ter o matado no local. Você estava assustada, mas esse medo era infundado. Dois dias depois, o pobre corpo do garoto foi enviado de volta para a cidade. Vi o pai dele, e a tristeza e desespero no rosto dele quebraram minha alma mais do que qualquer coisa poderia.”

Roy suspirou. “Eu estava com dor e desejei conforto de você, mas fui recusado. Desde então, você me vê como nada além de um mero estranho. Mesmo quando passo direto por você, nem mesmo olha para mim, muito menos me dá um sorriso. Eu estava envergonhado por tirar a vida de um jovem inocente, e odiei seu eu cruel e frio, mas meu amor triunfou sobre meu ódio. Desde o dia em que dormimos juntos, jurei nunca sair de seu lado.”

Roy repentinamente se virou, dando às costas para Salvatore.

“Vou provar meu amor inflexível por você com um ritual. Um ritual de sacrifício. Um que demanda como pagamento a minha crença e a minha vida. Além das cinzas dos sete pecados capitais, a mais bonita flor nasce, e vou dedicá-la a você, minha amável rosa. Esse é o fim, então adeus.”

***

As pupilas de Roy se tornaram nada mais que fendas, chocado pela revelação. ‘Então, Simon era o assassino e o sacrifício. Ele se apaixonou por alguém que não devia – uma mulher casada – e isso faz dele a personificação da luxúria.’

No momento que Roy parou de ler, sons de metal colidindo um contra o outro reverberaram pela sala, e o tempo parou por um segundo. Salvatore havia desembainhado sua espada, visando atingir a nuca do rapaz, mas antes que pudesse atingir o bruxo, ele já havia puxado seu Gwyhyr e bloqueado o ataque com a bainha e o guarda-mão dele.

Um momento de impasse depois, Salvatore sentiu uma grande força vindo da ponta da sua espada, forçando-o a cambalear para trás, apenas parando ao bater na parede. “Você–“

Roy cruzou os braços, balançando sua cabeça. “Eu te dei um monte de aberturas, mas você jogou todas elas de lado.”

Salvatore não disse nada. Em vez disso, ele segurou sua espada, a colocando de forma horizontal através de seu rosto na tradicional ‘Posição de Janela’¹. Sua determinação de aço estava expressa em seu rosto, a qual dizia que ele não iria cair sem lutar.

“Eu sabia que havia um traidor dentro da ordem.” Roy suspirou, finalmente desembainhando Gwyhyr completamente. Ele segurou o cabo com ambas as mãos, deixando a lâmina apontar para o chão. “Sabia que estava mentindo, e você é um péssimo mentiroso. Seu rosto não dizia nada, mas seus olhos, eles sim entregaram tudo. Estava me perguntando o porquê de você parecer tão nervoso desde que entramos aqui. Até pensei que o Simon não faria nada com si mesmo, já que ele era o principal suspeito. Algo estava faltando, mas agora sei qual é o elo perdido. Ele tinha um cumplice, e esse é você.”

Notas do capítulo:

Posição de janela: posição de janela ou ‘Posta Finestra’ é uma posição que busca atingir velocidade com malícia e engano. Segue exemplo abaixo:


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